Já fazia algum tempo que não viajava. Aliás, "algum tempo" é eufemismo! Há quase 14 anos que não viajava. Não por falta de tempo, mas, dentre as muitas razões, por falta de dinheiro e por ter sempre uma companhia, digamos, pouco agradável querendo me acompanhar. Não que fosse chato viajar com alguém, mas admita: quando se é jovem, o que mais queremos é pegar um ônibus com destino bem longe de casa e, de preferência, sem parentes na cidade que é pra aproveitar "tudo o que a vida pode oferecer"... E com "o que a vida pode oferecer", entenda: "aprontar bastante, fazer loucuras sem medo de ser feliz e voltar pra casa com a maior cara de santo dizendo que ‘foi legal, descansou e curtiu bastante'". Estou errado?
Como sabemos, nosso povo adora um descanso, até mesmo se for apenas o feriado de um dia. Quando acontece de emendar com outros dias então, é a alegria completa. Porém, a maioria das pessoas tem a estranha preferência de fazer o que mais detesta: pegar um trânsito do caramba pra ficar, se muito, dois míseros dias numa praia abarrotada de gente, disputando o metro quadrado de espaço na areia, pegando micose, dividindo o único ventilador num quarto abafado com mais de 4 pessoas, pra enfrentar mais trânsito para voltar pra cidade. Então, no fim, o que seriam dias relaxantes e revigorantes num local calmo, se transforma num estresse desnecessário de fácil solução: não-vá-pra-praia-nessas-épocas! Será que é tão difícil de entender ou chegar a essa conclusão?!
Por isso tudo e aliado à minha falta de paciência pra filas em padarias litorâneas, à falta de água nas casas em época de férias e outros problemas típicos da temporada, sempre pensei e repensei milhares de vezes sobre a idéia do "viajar". Até porque, pra mim, viajar é sair do estado. Ir para outra cidade em busca de campo ou praia é passeio (claro, se é pra ficar apenas alguns dias). É uma visão estranha eu sei, mas sempre fez (e ainda faz) sentido pra mim.
Se notou bem, as razões que me faziam desistir de viajar eram mais numerosas do que as prós.
Mas, quando atingi a maioridade, algumas vontades estranhas despertaram em mim, entre elas o desejo de viajar. Especificamente: sozinho, para longe e podendo fazer o que sempre tive vontade.
E a oportunidade de realizar algumas destas vontades veio alguns anos depois, numa viagem com alguns colegas mais chegados de faculdade.
Nessa viagem organizada por eles, iríamos de ônibus para não ter que gastar muito tempo em trânsito, embora eu duvidasse muito que, na metade das férias de Janeiro, encontraríamos algum trânsito que não fosse o normal. Ficaríamos hospedados num hotel mediano e com preço "em conta", já que ninguém estava a fim de gastar tanto dinheiro. Rachando tudo entre nós 5, ainda teríamos algum dinheiro sobrando no fim da viagem. Dinheiro esse que, ao menos no meu caso, foi muito bem gastos.
Estava fora de cogitação um quarto para cada um, iria detonar nosso suado dinheiro. Porém, como não haviam tantos quartos ocupados por não estar mais na "alta" da temporada, pudemos nos dar o luxo de escolher as opções de "quartos e camas".
Por serem duas moças e 3 rapazes — contando comigo— , a divisão ficou da seguinte forma: eu dormiria no mesmo quarto que elas, onde havia uma cama de casal e onde eu, consequentemente, iria dormir num colchão no chão; e os outros caras em um outro quarto com duas camas de solteiro.
Na cidade, fizemos alguns programas juntos, mas nada que necessite de grande atenção. E foi num destes programas que conheci a outra pessoa desta história.
Meus colegas e eu, depois de conhecermos as áreas turísticas da cidade e tirarmos um monte de fotos em poses bonitinhas e com um sorriso no rosto — nem sempre de tanta felicidade —, estávamos numa praia da qual não me recordo o nome, mas consigo me lembrar de algumas características como a areia branca e fofinha, e a água do mar azulada. Enquanto meus colegas tomavam alguma coisa alcoólica como se fosse água e conversavam sobre seus planos para a noite, eu me perdi admirando o horizonte e o mar azul.
Uma das muitas figuras fazendo manobras nas ondas me chamou atenção. Não porque era muito bonito — como se pudesse ver tal coisa à distância — ou porque arrasava nas manobras, mas porque estava sozinho em seu próprio "mundo". Estava parado, sentado na prancha, esperando a onda perfeita — soube disto depois —.
De longe era apenas um ponto no meio do azul predominante do mar, mas era interessante vê-lo. Talvez por curiosidade em saber o que ele faria.
Fui tirado de meus pensamentos com um toque no meu braço.
— O que você tanto olha? — uma das meninas perguntou.
Confesso que fiquei com vergonha. Para eles não era novidade que eu era gay. O engraçado disto é que não fui eu a contar, e nenhum deles jamais me questionou sobre isso. Talvez o convívio e/ou algo que eu disse ou fiz tenha "denunciado" minha verdadeira sexualidade, ou ainda, me analisando, chegaram a essa conclusão. Enfim.
O fato é que não houve a pergunta constrangedora: "Você é gay?". Eles aceitaram e respeitaram minha opção de não tornar isso público. Continuávamos nos tratando e conversando normalmente. E ainda hoje sou extremamente grato a eles por isso.
Na verdade, o motivo de ficar envergonhado foi justamente o "ser pego!" Não era do meu feitio deixar que alguém percebesse meu interesse... Ou será que eu dava tanta bandeira assim e nem percebia? Até hoje não perguntei se tal coisa acontecia. Talvez por achar isso irrelevante, ou porque sempre esqueço de perguntar...
— Nada. Só estava olhando os surfistas e me perguntando como é que se equilibram naquelas pranchas — inventar algo não seria uma boa idéia. Já que fui pego, não tinha porque mentir... Embora tenha omitido a parte do carinha que eu estava olhando. Mas... Isso não é uma mentira, ou é? Eles só não precisavam saber deste detalhe.
— Hmmmm entendo. Realmente, é incrível como eles conseguem se equilibrar em uma superfície tão instável. Praticamente ninjas...
— Vocês mulheres se equilibram em cima de um pedacinho de ferro fino e comprido, e algumas vezes até dançam com aquilo. Quem é mais ninja? — ri do comentário de um dos meninos.
— Mas então, o que vocês pretendem fazer pra aproveitar a noite?— tentei desconversar.
— Você quer dizer "nós".
— Não, "vocês" mesmo. Provavelmente vão querer ir numa boate e vocês sabem que eu detesto sair à noite.
— Deixa de ser chato, Artur.
— Não sou chato. Só não gosto de baladas. Aceite.
— Nem vem. Você vai. Não pegou ninguém até agora, está na seca.
— E você que vai me arrastar pra lá? — desafiei— Não acredito que vocês me trouxeram pra cá! — eu reclamava na porcaria fila da boate, lotada de pessoas estranhas.
— Não falei que você vinha? — uma das meninas questionou de maneira vitoriosa.
— Já vou avisando: fico estressado quando fico com sono, então é melhor me deixar num canto e nem chegar perto de mim pra conversar.
—Pode dar uma de velho ranzinza o quanto quiser, mas você já está aqui mesmo. Ao menos tente se divertir.
"Ahhhhhhh, mas eu vou me divertir, vocês não perdem por esperar". Pensei comigo mesmo.
Aquela noite pode ser resumida desta forma: esperei por uma hora até aqueles "traíras" começarem a beber, puxei conversa com um estranho qualquer e inventei pra eles que ia embora pra "aproveitar a noite". E claro que não fiz isso. Peguei um táxi e fui pro hotel onde estava hospedado e dormi gostoso a noite toda... Na cama! Me esparramei nela, fiz cosplay de estrela-do-mar, e nem lembro se sonhei algo.
No outro dia, os 4 estavam de ressaca e não saíram de casa. Já eu fui dar uma volta e fui pra mesma praia do dia anterior pra saciar minha curiosidade sobre o surfista misterioso.
Ele ainda não tinha chegado. Sentei no murinho que separa a orla da areia e fiquei observando o mar enquanto o "esperava", mas pouco tempo depois já estava cansado de ficar ali. Embora a paisagem fosse linda e o barulho do mar gostoso de ouvir, a curiosidade por vê-lo não me deixava aproveitá-los. Percebi então que uma figura, de neopreme cinza e preto com detalhes azuis nas laterais das coxas, se encaminhava para o mar com uma prancha de surf amarela. Era ele. Parou e se "aqueceu". Aquelas coisas típicas de filme americano.
Pouco tempo depois ele já estava "remando" e aguardando a onda. Aquele dia estava difícil, o mar estava calmo, então ele não demorou e nem conseguiu fazer manobras. Para um surfista isto é extremamente frustrante.
Naquele dia apenas observei-o, e ainda bem que não tentei uma aproximação, pois seria bem frustrante ser mal-tratado por um desconhecido estressado por ter seus planos arruinados.
Minha rotina seguiu quase a mesma: eu saia, dava uma volta pela orla — em horários diferentes para não dar muita bandeira — e seguia pra fazer alguma coisa.
Numa das poucas vezes em que sai à noite com meus colegas de faculdade, fomos a um lual. Ok, cafona e tudo mais, mas...
Saímos os 5, tendo mais dois acompanhantes com seus respectivos pares.
— Então... — uma das meninas puxou conversa comigo. — Sozinho, hã? O que não deu certo?
Ela estava se referindo àquela noite da boate.
— Nada. Nunca disse que teria compromisso.
— Ahãn, sei.
Enquanto caminhávamos na areia, conversávamos algumas amenidades, e ao chegarmos perto da festa, pude perceber que esta estava bem cheia.
Uma das meninas se afastou do grupo para comprar umas bebidas, e só voltou para entregar, porque já tinha arrumado alguém.
E durante aquela noite as coisas seguiram assim, e acabei ficando “sozinho”, encostado num cantinho, olhando alguns casais se formando, outros se beijando, uns poucos mais animados dando uma escapulida para um “local mais sossegado”.
Fiz amizade com algumas pessoas que vieram puxar conversa comigo, e entre elas o surfista. Já estava alegrinho, falando mais alto que o necessário, mas ainda tinha controle sobre seu corpo — não estava abraçando desconhecidos e dizendo o quanto os “considera” e ama —.
— Ei. Você é o carinha que ficou me olhando surfar — ele disse.
— E-eu não estava te vendo surfar. Estava olhando pro mar...
Ele não respondeu nada, apenas riu. Já eu queria cavar um buraco na areia para me esconder.
— A propósito, sou Pedro. Como você se chama?
— Artur.
— Então Artur, de onde você é?
— São Paulo, mas como você soube que eu não morava por aqui?—
— Seu sotaque — ele riu. — Mas me conta: o que achou da cidade?
— Legal. Embora eu não goste muito de praia.
— Se não gosta, então por que veio?
— De repente tive vontade.
— Entendi. Veio sozinho?
— Não. Vim com uns colegas de faculdade.
— Você faz faculdade de quê? — ele perguntou.
— Administração.
— É legal?
— Não é algo que eu goste muito, então...
— Então por que você não muda de curso?
— Ahhhh, já estou na metade, agora vou até o final.
— Lógica estranha. Mas, como a vida é sua...
— É, é minha.
Ficamos calados por um tempinho.
— Desculpe. Acho que falei demais. É que pra mim não faz sentido fazer algo que você não gosta.
— Tudo bem. E você, o que faz?
— Faço faculdade e trabalho.
— Ahhh. Faz faculdade de quê?
— Música.
— Hmmm. Você canta? Ou toca algum instrumento?
Pedro riu.
— Olha, prefiro nem dizer o que pensei agora. Mas respondendo a pergunta, toco violão.
— Hmmmmmm. E você curte que tipo de música?
— Sou bem eclético. Gosto de tudo um pouco.
— Tipo...
— Gosto de tudo um pouco — e me olhou de uma maneira... estranha. Como se estivesse sendo indelicado por perguntar demais.
— Entendo.
Pedro era uma pessoa intrigante. Se mostrava meio reservado, entretanto gostava de conversar e expor idéias. Por algum motivo eu tinha que "pisar em ovos" enquanto conversava com ele, pois tinha medo... Não, medo não. Tinha certo receio irracional de falar algo que soasse errado e que pudesse, de algum modo, retraí-lo.
Sempre tive isso com as pessoas, mas com indivíduos como ele, por algum motivo estranho, isso era amplificado. Talvez fosse culpa de suas frases, que em alguns momentos me pareciam vagas e me deixavam num dilema de "tentar aprofundar o tema e correr o risco de ser indelicado devido a uma grande curiosidade", ou "não aprofundar e dar a impressão de que não me interessva pelo que disse". Em ambos os casos, porém, uma coisa era certa: não havia como criar uma boa impressão. E é justamente isso que me deixava desconfortável.
Logicamente ele não sabia disso, aliás, ninguém sabe, é uma coisa minha então não posso culpar ninguém. EU é que devo aprender a lidar com isso, e não tentar mudar a frase ou jeito dos outros, não é?
Ainda conversamos mais algumas coisas naquela noite, mas nada que eu lembre —infelizmente!. Só posso dizer que naquele dia, e posteriormente, cada vez que conversava com ele, mesmo não pessoalmente, tinha o mesmo medo de errar e dizer algo que o magoasse ou que soasse estranho. Por isso mesmo não deixei que ele conhecesse "partes" minhas mais "profundas" e íntimas. Não fui desonesto, só não queria que ele tivesse a impressão errada de mim. E, mesmo hoje, acho que fiz o certo.
Os dias que se seguiram não tiveram muitas novidades. Meus colegas de faculdade já se preparavam para voltar para nosso estado porque voltaríamos na semana seguinte, então faziam tudo o que tinham direito: saíam para festas, enchiam a cara, ficavam de ressaca, os que tinham acompanhantes passeavam por aí com eles, — e todos tivemos uma vida sexualmente ativa naquelas férias. Já eu, aproveitava a companhia do "meu" surfista quando ele podia, pois mesmo que sua faculdade estivesse de recesso, ele ainda trabalhava. Sempre nos encontrávamos na praia, onde eu ficava na areia olhando-o fazer suas manobras — quando havia ondas — me perguntando como "cargas-d'água" um ser humano consegue se equilibrar sobre uma prancha enquanto enfrenta a força das ondas. Para pessoas como eu, que andando em linha reta num corredor conseguem, misteriosamente, se desviar e bater em numa parede, aquilo ali desafiava as leis da física — mesmo tendo consciência de que ali a física age livremente.
No fim, eu ia para aquela praia por gostar olhá-lo, admirá-lo. Era como se ele fizesse parte no mar, como se seu nicho fosse a água e não a terra e suas construções. Quando ele saia da água, com sua prancha na mão e cabelos molhados, era perceptível sua felicidade. Seus olhos brilhavam, seu sorriso era largo, seu humor melhorava e ele se tornava mais brincalhão.
Ver uma pessoa neste estado não tem preço, é algo que jamais se esquece.
Se pudesse, teria tirado fotos e eternizado momentos como aquele milhares de vezes. Não só dele, mas de outros também. Daí reuniria isso tudo numa obra chamada "Alegria Pura", onde estariam centenas de fotos de pessoas realmente felizes. Quem sabe essa obra não fizesse sucesso, não é mesmo?Quando os dias de férias já estavam se esgotando, Pedro resolveu me levar para um lugar que ele gostava muito. No dia combinado ele me pediu para colocar uma roupa leve e um tênis, pois para chegar lá era necessário pegar uma trilha. Me prometeu que o lugar valia a pena.
Eu detestava — e ainda detesto — mato, mas resolvi ceder e fui com ele. Pedro era uma dessas pessoas que te passam confiança instantânea. Então, se ele me dizia que valia a pena, eu acreditava.
Admito que, a cada passo que dávamos, eu ficava cada vez mais apreensivo. Ir para o meio do nada com alguém que você conheceu há pouco tempo não é a idéia mais lógica e inteligente que se pode ter. Mas, como disse, quando menos esperasse, você já estava confiando em Pedro. Felizmente ele não tinha nenhuma intenção ruim, ou quem sabe se estaria contando essa história. Creio que tive sorte.
— Não disse que valia a pena? — ele disse ao chegarmos ao local.
E realmente valeu. De onde estávamos, era possível ver toda a praia. O mar era uma imensidão azul para onde quer que se olhasse. Era uma cena digna de uma pintura, já que a linha do horizonte que separava o mar do céu quase não existia. Estávamos num lugar alto, com uma cerca velha impedindo que alguém se aproximasse demais da beirada e caísse.
Pedro sentou num pequenos banquinhos de concreto que lá havia, e eu o acompanhei, sentando no banquinho a seu lado, logicamente.
— Quase ninguém vem mais aqui.
— E como você conhece?
— Vinha aqui quando era mais novo.
— Ahhhhh...
— Mas mesmo naquela época o movimento de pessoas não era tão intenso.
— Que bobas. A vista é tão linda.
— Realmente. Mas a trilha afasta muita gente.
— Com certeza. Eu mesmo só vim por sua causa.... — “Droga! Falei demais!”.
— Por minha causa? — Pedro riu.
— Não! Quer dizer... Se não fosse você, eu jamais iria saber da existência desse lugar.
— Você é bem engraçado quando fica com vergonha.
— Quem disse que eu estou com vergonha?
— Seu corpo. Quando fica com vergonha, você gagueja, e acaba falando tudo muito rápido na esperança de que isso sirva de explicação.
— Sério?
— Sim. Mas relaxe, todo nós temos certas ações involuntárias quando isso acontece.
— E qual é a sua? Se não for muita curiosidade.
— Eu? Deixar as pessoas com vergonha, tirando a atenção delas de mim.
— Ahãn, e é involuntário isso?
— Talvez sim... Talvez não — riu.
— Você é bem engraçadinho, surfista.
— Se você soubesse disso, talvez tivesse coragem de chegar em mim naquele dia?
— Que dia?
— Da praia, oras.
— Já falei que não estava te olhando!
— Não entendo o motivo de você ficar na defensiva. Eu só disse que você estava me olhando não que queria meu corpo.
Não disse nada. E como poderia? Ele estava com razão. Não havia dito nada tão estarrecedor... Talvez eu estivesse exagerando na minha reação.
— Ok, vai. Admito. Estava te olhando, mas não pelo motivo que você está imaginando...
— Eu não disse nada.
— Mas sugeriu. De uma forma bem “inocente”,... — fiz as aspas com os dedos —... mas sugeriu.
— Certo, então qual o motivo de você estar me olhando?
— Curiosidade. Queria saber como é que pode uma pessoa se equilibrar numa prancha sobre uma superfície tão instável.
— Somos ninjas! — Pedro riu alto.
— Isso lá é explicação que se dê?!
— Ahhhh, sei lá. Com o tempo você começa a pegar o jeito e passa a se equilibrar. Não consigo explicar direito.
— Tudo bem, vai... Deixa pra lá.
— Mas vai, não é por causa disso que você estava me olhando. Você me viu e me achou bonitão. Admita.
— Claro. Eu tenho visão de águia e te vi perfeitamente mesmo há metros de distância.
— Você é chato, sabia?
— Sim — foi minha vez de rir.
— Você vai ficar por mais quantos dias?
— Não sei. Por quê?
— Só pra saber.
— Estava pensando, deve ser legal morar numa cidade litonârea, né?
— Eu gosto. Além do mais, o cheiro da maresia e o barulho do mar me fazem bem — ele fechou os olhos e respirou lentamente. — É relaxante — completou.
— E com essa vista...
— Realmente. Essa vista faz valer tudo. Além do mais, é uma cidade bem sossegada quando não está na época da temporada, e eu gosto disso.
— Não sei como você consegue. Eu mesmo não conseguiria ficar numa cidade tão tranquila.
— E eu não conseguiria ficar numa cidade que não tem mar, por exemplo. Nossas cidades tem tudo o que gostamos. Talvez tenhamos nascido nos lugares certos.
— Nahhhh, se fosse assim você teria nascido da água. Nunca vi alguém gostar tanto de mar.
Pedro riu alto.
— Também gosto de piscina.
— Tem água não tem? Então é a mesma coisa.
— Não é.
— Me corrige mais uma vez e te jogo daqui de cima.
— Ahãn. E daí você se joga junto, porque você não vive sem mim.
— Quem disse?
— Eu. O jeito como você me olha...
— Não fala besteira.
— Vai me dizer que você não tem vontade de se tornar minha prancha só pra que eu deite em cima de você?
— Agora eu te jogo daqui! — levantei.
— Vamos ver se você consegue.
Pedro se levantou, deixando evidente a diferença de nossas alturas. Ele me olhava de cima, com jeito arrogante, e mesmo que ele estivesse brincando, me senti inferior. Pedro sorriu, e colocou suas mãos em meus ombros, me forçando a sentar. Me sentei, e ele fez o mesmo. Voltamos a conversar.
Desta vez sobre expectativas e sonhos. O que ele pretendia fazer quando acabasse a faculdade. Conversamos um pouco sobre nossas famílias, coisas que fazíamos quando éramos crianças, os filmes e músicas que gostávamos, e etc.
Na verdade, ele falou mais dele do que eu de mim. Eu fiquei ouvindo o som de sua voz, e olhando-o, percebendo coisas que eu provavelmente não tinha percebido, como alguns fios de seu cabelo que se eriçavam quando havia vento, e sua mania de passar a língua no lábio inferior cada vez que arrumava sua postura.
Conversamos ainda sobre nossos medos, e foi assim que descobri que ele tinha medo de decepcionar sua família, em especial sua mãe e seu irmão mais novo. Pedro, ao contrário de mim, era ligado a sua família. Tanto, que quando decidiu que faria música, ficou com medo de que desaprovassem.
— E você desistiria de algo por sua família?
— Não sei. Eles são importantes pra mim, mas...
Percebi que o clima ficou estranho, então tentei mudar de assunto para algo mais leve. Pedro, porém, foi mais rápido, e não me deixou mudar de assunto.
— E você? Tem medo de quê?
— Ahhhhh... O meu é mais normal, só tenho medo de altura.
— Ahhhh, valeu. Me chamou de complicado.
— Não falei isso.
— Mas “sugeriu”.
— Tá, parei...
— Brincadeira —. Ficamos em silêncio. — Arthur, posso fazer uma coisa?
— Não me jogando no chão e deitando em cima de mim pra me fazer de prancha.
Pedro riu. E lentamente se aproximou, colando sua boca na minha. Ao sentir o toque de nossos lábios, Pedro colocou sua mão em minha cintura, puxando meu corpo contra o seu. Timidamente passei meus braços em suas costas, sentindo seus músculos sob sua camiseta.
Não era a primeira vez que eu beijava alguém, mas eu me sentia apreensivo. E se ele não gostasse?
Com jeito, Pedro foi conduzindo o beijo da maneira que queria — com meu consentimento, óbvio. Não era bruto, mas nem tão delicado. Sua boca explorava a minha sem pressa, aproveitando o momento.
Colocou sua mão em minha nuca, enquanto coloquei minha mão esquerda em seu cabelo, sentindo seus leves cachos pretos se desfazendo entre meus dedos.
Ao pararmos, fiquei olhando para seu rosto quadrado, mas de traços leves. Seu nariz fino, suas sobrancelhas um tanto grossas, mas delineadas, serviam de moldura para seus olhos verdes, e mesmo que eu não gostasse de pessoas de olhos claros, admito: nele, ficava muito harmônico.
Mas o que eu mais gostava era de sua boca. Seja dos lábios ou seu sorriso.
Passei minha mão por seu rosto, acompanhando com o dedo cada traço, e registrando cada pequeno detalhe.
Pedro era, sem dúvidas, o tipo de cara que você apresentaria para sua família como namorado, ou como um amigo muito querido, e todos iriam gostar dele.
— Seus lábios são macios, sabia? — eu disse.
— É? E você gostou deles?
— Poderia viciar — ri.
— É mesmo?
— Sem dúvidas.
E entre conversas e beijos, a tarde passou rápido, mas foi muito divertida. Posso dizer que aquela tarde foi um dos pontos altos das minhas férias.
Voltamos por outro caminho mais “curto”, caminhando despreocupadamente descalços pela praia, segurando os tênis nas mãos. Pedro fazia questão de andar bem perto da água, para que as ondas molhassem seus pés.
“É gostoso. Geladinho. E também, é bom para tirar a areia do pé” segundo ele.
“Ou pegar uma micose”, pensei comigo mesmo.
— Pedro... Posso te perguntar uma coisa?
— Diga.
— Errhh... Você se considera gay, ou bi, ou hétero...
— Acho que sou bi. Por quê?
— Nada. Só curiosidade.
— E você? Se considera gay, bi, hétero...
— Gay.
— Hmmmmm.
Caminhamos por mais uns minutos em silêncio, com Pedro parando de vez em quando para olhar o mar. E eu também parava pra olhar, só que para ele. Era bonito olhar para seu rosto, principalmente seus olhos, que graças à luz laranja do sol, que se preparava para se pôr, adquiria uma cor muito bonita.
— Arthur, vamos passar num lugar pra comer algo?
— Tudo bem, também estou com fome.
— Ok. Depois eu te levo pra “casa”.
Fomos num fast-food, onde ingerimos muita gordura-trans e refrigerante. Pedro me levou de volta até o hotel e seguiu para não sei onde. Ele até me disse o nome do lugar, mas como não conhecia, não prestei tanta atenção.
No outro dia, quando acordei, acabei pensando no dia anterior. Foi divertido, e eu estava bem ligado a Pedro. Só que no dia seguinte eu voltaria para São Paulo, e quem sabe se iria vê-lo novamente. Um beijo não parecia ser o suficiente para me lembrar dele.
Depois de me certificar de que não havia mais ninguém no apartamento, liguei para Pedro, perguntando se ele tinha tempo para vir até o hotel.
— Claro. Daqui há algum tempinho estou aí — ele disse.
Para o que estava planejando, precisava de uma higiene completa. Mais íntima. E foi isso que fiz.
Ele não demorou. Assim como minha higiene.
Assim que chegou, com certo ar de preocupação, não me contive e ri.
— Relaxa. Não é nada tão grave.
— Tem certeza? Sua voz parecia estranha no telefone.
— Pedro, eu estava pensando... Amanhã eu volto para São Paulo, então, eu queria fazer uma última coisa
— O que você tem em mente?
Me aproximei e o beijei. Pedro correspondeu o beijo, mas ficou um tanto tenso quando comecei a tirar sua camiseta.
— Arthur... Você tem certeza?
— Sim.
Pedro puxou meu corpo contra o seu, pousando gentilmente uma de suas mãos em minha cintura e colando nossos corpos. Eu o queria tanto quanto ele me queria.
Passei meu braço por seu pescoço, e me deixei levar pelas sensações que ele me proporcionava.
Com jeito, o deixei conduzir o beijo.
Sentia sua ereção em minha barriga, enquanto Pedro ficava mais afoito, aprofundando o beijo e suas mãos ficavam mais atrevidas.
Tentou tirar minha camiseta, o que permiti sem muita resistência. Assim como quando tirei sua camiseta, revelando seu dorso esbelto.
Embora fosse magro, Pedro tinha alguns músculos devido à prática do surf. Em seu pescoço havia um colar com um pingente tribal que ia até seu peitoral. O tronco se afunilava, contendo alguns gominhos na barriga, formando um leve tanquinho. Havia algumas pintinhas tímidas em sua pele. Seus braços tinham um volume nos bíceps.
Passei minha mão do pescoço até seu tronco, sentindo a textura da pele. Me aproximei e beijei seu pescoço, sentindo o gosto salgado em meus lábios.
— Você estava surfando?
— Tentei. Mas o mar está calmo. Daí fiquei na areia pensando.
— Sobre...?
— Só pensando — sorriu.
Não respondi. Não estava ali pra conversar mesmo. Pedro se arrepiava com cada toque meu, suspirando, e às vezes fechava os olhos. Voltei a beijar sua boca, enquanto o encaminhava para o quarto puxando-o pelo colar.
Tranquei a porta, assim não seríamos interrompidos.
Pedro passou a fazer o mesmo que eu havia feito. Passava suas mãos em meu tronco e peitoral, enquanto me olhava nos olhos. Minha boca semi-aberta implorava pela sua, o que não tardou a acontecer.
Lentamente suas mãos foram seguindo para baixo, enquanto ele apertava minha bunda com vontade.
Abri meu shorts, ficando apenas de cueca, e ele fez o mesmo.
Estávamos seminus, e agora eu podia ver seu corpo. Um pouco magro, é verdade, mas combinava com ele. Acendia minha vontade para conhecer o conteúdo daquela cueca.
E pelo que percebia, a curiosidade era recíproca.
— Sabia que você queria meu corpo desde o dia que me viu.
— Você também não fica muito atrás. Ou você só veio conversar comigo por reconhecer o cara que estava te olhando?
— Você se acha, né?
— Não. Só estou sendo lógico.
— Entendo.
Acabei com a conversa. Puxei seu corpo para o meu colocando uma mão em sua cintura, e colando nossos corpos. Por ser mais lato que eu, meu rosto ficava em seu peito. Olhei para seu rosto, e mantendo contato visual, mordi seu peito de leve, o quem o fez gemer. Comecei a me ajoelhar, beijando sua barriga, e sentindo o gosto do sal na minha língua.
Finalmente cheguei a sua cueca, onde seu pênis se marcava indecentemente sob o tecido. Tinha um tamanho mediano, do jeito que gosto. Mordi seu pênis ainda por cima de sua cueca, e olhando em seus olhos, tirei sua última peça de roupa com as mãos.
— Deita na cama, agora.
Deitado na cama e com as mãos atrás da cabeça, Pedro me olhava com desejo. Me dava permissão para me aproveitar de seu corpo. O que o fiz sem moderação. Lambi sua pele salgada, sentindo seus músculos com a ponta da língua. Beijei com paixão seu peitoral, lambi seus mamilos escuros, que contrastavam com seu tom de pele, enquanto brincava com o outro em minhas mãos.
E então, finalmente coloquei seu pênis na boca, sentindo seu gosto. Lambi a cabeça e seus contornos, retirando algumas gotinhas de pré-gozo que saíam da uretra e que eu fazendo questão de masturbar seu pênis para conseguir mais. Passei minha língua por toda a extensão de seu pênis, sentindo além do gosto, a textura de sua pele e o calor. Desci por seu saco, onde lambi e coloquei uma bola por vez na boca.
Pedro suspirava, e contraia os músculos da barriga, além de empurrar timidamente minha cabeça em direção a sua virilha. Mas eu não o deixaria foder minha boca. Por hora, quem controlava as preliminares era eu.
Quando já estava cansado do chupá-lo, segui meu caminho por suas coxas em direção a seus pés. Seus pés não eram tão grandes, mas eram bonitos. Me atraíam. Reparava neles há algum tempo. E como não reparar, já que Pedro tinha um cordão no tornozelo o que fazia com que as pessoas reparassem em seus pés.
Tive vontade de lamber a sola de seu pé e seus dedos, mas fiquei com medo do que ele poderia achar. Por isso, só beijei seus pés, e voltei a dar atenção a seu pênis, que estava sendo masturbado.
Porém, Pedro tinha outros planos. Virou-me de barriga pra cima, primeiramente beijando minha boca, depois pescoço, peito, abdômen, até que chegou a meu membro, e colocou-o na boca, me fazendo sentir sua boca quente e úmida. Mas seu objetivo estava um pouco mais pra baixo. Lambeu meu saco, depois períneo, e abriu um pouco minhas nádegas, e enfiou um de seus dedos, já lubrificados por sua saliva, em mim. Primeiramente um, e massageou gentilmente.
Pedro endireitou seu corpo, estendendo seu braço e erguendo uma de minhas pernas, e voltou a me beijar. Agora eu estava quase de frango assado, com um dedo dentro de mim, enquanto me masturbava. Com jeito, Pedro tentou colocar outro, o que me incomodou.
— Relaxa — ele disse.
Quando eu já estava mais relaxado, e quando sentiu que eu já estava pronto, Pedro perguntou se tinha camisinha. Indiquei a gavetinha do criado mudo, onde geralmente sempre havia e com pressa Pedro a abriu e de lá tirou o preservativo. Ele mesmo colocou em seu membro e se deitou em cima de mim, erguendo um pouco minhas pernas.
— Isso vai doer um pouco. Posso continuar?
— Seja gentil.
Pedro sorriu.
— Eu serei.
Lentamente fui sentindo a glande me invadir, seguida do resto de seu pênis. Pedro voltou a me beijar e a fazer carinho em meu cabelo para me ajudar a relaxar.
Doía, não nego. Era incômodo, ardia, mas não havia volta. E eu não queria parar.
Pedro continuava com seus carinhos, e eu fui relaxando, passando minhas mãos por suas costas e sentindo seus músculos. Aos poucos fui ficando mais a vontade, e passei minhas mãos por seu cabelo.
Enquanto minhas mãos tocavam e registravam a textura de seu cabelo, meu rosto estava em sua clavícula e eu lhe dava curtos beijos no local. Eu registrava cada pequena parte de seu corpo. Sentia o cheiro gostoso do perfume que ele sempre passava quando saia do mar. Seu gosto salgado em meus lábios. Seus braços ao meu redor e o peso de seu corpo sobre o meu.
Ali eu me esqueci de tudo. Por um momento me fechei pro mundo. Por um momento ele se tornou o único que merecia minha atenção. E eu, maravilhado, contemplava seu rosto de bom moço. Seus olhos... E principalmente seu sorriso. Ahhh se Michelangelo o visse. Ficaria com vergonha de seu "Moisés". Pra mim, as ruguinhas que apareciam do lado de seus olhos cada vez que ele sorria, eram a perfeição. Tudo nele fascinava, e ainda me fascina.
Ele me sussurrava, dentre muitas coisas, ao pé do ouvido, o quanto estava bom eu estar ali com ele, e o quanto meu corpo era quente.
Por um pequeno instante eu olhei para a janela, e enquanto a cortina branca se movimentava por causa do vento, vi as ondas quebrando na praia e nas pedras. Porém, voltei a olhar para seu rosto quando ele me disse para dar atenção apenas para ele.
Aos poucos Pedro começou a acelerar os movimentos de seu quadril. Ainda doía, não nego. Mas, naquela hora, com ele, no calor do momento e com tudo o que eu depositei nele, era suportável.
Meu corpo passou a se movimentar para frente e para trás no ritmo de suas investidas. Era muito prazeroso senti-lo dentro de mim, ainda mais podendo abraçar seu corpo, olhar em seus olhos, beijar sua boca e ver sua fisionomia aos poucos ganhar traços luxuriosos. Tais eram essas sensações de prazer que fechei meus olhos e joguei minha cabeça pra trás, apoiando-a no colchão e dando-lhe sinal de que poderia ir mais rápido, se assim quisesse, pois estava sentindo prazer. E foi exatamente isso que Pedro fez.
Ainda na mesma posição, tendo seu corpo sobre o meu, com seus braços ao meu redor, e minhas pernas cruzadas em suas costas impedindo que ele se levantasse ou endireitasse o corpo, numa perfeita posição "papai e mamãe", comecei a sentir seu saco "chicoteando" minha bunda mais ritmadamente. Comecei a perceber que ele começava a suar, pois seu abdômen começava a deslizar contra o meu. Eu também comecei a suar. Pedro endireitou um pouco o corpo, se apoiando nos dois braços, mas manteve a posição, e mantinha sua boca colada a minha. De olhos fechados, aproveitando as sensações que ele me proporcionava, eu sentia apenas o gosto bom de seus lábios... Doce nenhum era mais gostoso. Beijávamo-nos com paixão.
—Pedro... — deixei seu nome escapar por entre meus lábios, quando por um minuto ele os separou dos seus.
— Sim...
— Eu... — calei-me. Não diria aquela frase.
Ao perceber que eu não completaria minha frase, Pedro beijou minha testa, e olhando em meus olhos, me presenteou com o que mais gostava de ver nele; seu sorriso. Ele estava feliz. Verdadeiramente feliz. As ruguinhas nos olhos estavam lá, e seu sorriso era pleno. Passei minha mão por seu rosto, e beijei-o com ternura. Eu também estava feliz. Ainda mais por saber que EU era o motivo de tal sentimento nele.
Virou nossos corpos de lado, e nessa posição, continuou a se mover, sem pressa. Esta posição era um tanto dolorosa, mas aquilo estava perfeito. De frente pra ele, que segurava uma de minhas pernas enquanto deixava a outra livre, e começava a meter com vigor, enquanto beijava meu pescoço. Eu fazia o mesmo, e com meu braço por seus ombros, trazia-o para mais perto de mim, como se fosse possível.
Sem tirar de dentro, Pedro virou um pouco mais nossos corpos, me fazendo cavalgar de frente pra ele, o que fiz com gosto. Apoiei minhas mãos em seu peito, perto de seu colar, e iniciei os movimentos, acompanhado algumas vezes por seu quadril. Ao perceber que já estava ficando cansado, segurou minha cintura, e passou a meter, ora mais rápido, ora mais devagar, mas o suficiente para que as ondas de calor que sentia por todo meu corpo ficassem mais fortes.
Quando percebeu que já estava perto de gozar, parou de se movimentar e me pediu para me deitar de bruços. Deitou-se em cima de mim, esfregando seu corpo molhado de suor no meu, que não estava muito diferente. Com seus braços estendeu os meus, entrelaçando nossos dedos, e beijando minha nuca, tentou, com muito esforço, encaminhar seu pênis para meu cu sem usar as mãos. Agitei-me ao sentir seu pênis entrando, enquanto Pedro soltou o peso de seu corpo sobre o meu, impedindo que eu saísse dali.
Começou então a se movimentar, fazendo com que suas costas se arqueassem a cada movimento. Ele ia fundo, e aquilo ficava cada vez mais gostoso. Nossos gemidos eram a trilha sonora para aquele momento. O quarto era tomado por uma sinfonia erótica.
Intercalou novamente movimentos rápidos e demorados. Às vezes apoiava suas mãos em minhas costas, em meus ombros. Em outras mexia apenas o quadril, ora rebolando sensualmente, ora fazendo os movimentos de entra e sai.
Virei inúmeras vezes minha cabeça para que pudesse beija-lo. Sua boca era um vício que eu aproveitava sem moderação.
Acelerou mais seus movimentos, fazendo com que minhas ondas de calor aumentassem junto, e nossas respirações começaram a ficar descompassadas. Seu corpo tremia, e sentia seus pés por vezes esbarrarem em minhas pernas.
Em movimentos rápidos e brutos, começou a gozar, afundando seu rosto em minhas costas. Respirava forte, às vezes ria e era acompanhado por mim. Ficou alguns minutos ainda em cima de mim, quando saiu e se deitou ao meu lado.
— Você gozou? — ele perguntou.
— Ainda não. Me ajuda? — sorri maliciosamente.
— Claro. — ele retribuiu o sorriso.
Me deitou de barriga pra cima, e levantou minhas pernas, me deixando de frango assado. Novamente colocou um dedo dentro de mim, sem dificuldade, afinal, algo maior já tinha passado por ali. Passou a me beijar, enquanto tirava e colocava seu dedo de meu cú.
Às vezes intercalava colocando um segundo dedo, rodando os dois juntos. Deixei minha outra mão livre em seu rosto, mas especificamente em sua bochecha, onde podia trazer seu rosto para perto e voltar a beijá-lo. Pedro também estava com sua mão em meu rosto para também me beijar quando quisesse, e às vezes, sendo malvado, me impedir de beijá-lo, só para ter o gosto de rir de mim quando frustrava meus planos.
Não demorou muito e eu já estava perto de gozar. Meu corpo tremia e os dedos dos meus pés se contorciam.
— Isso, Arthur. Goza pra mim. Tá gostando da minha massagem?
— Sim.
Pedro acelerou um pouco o movimento com seus dedos, e logo eu estava jorrando meu esperma em minha barriga. Diminuiu então seus movimentos, e colheu com dois dedos seus meu esperma e me deu na boca.
Chupei seus dedos como se fossem um pau, e ao deixá-los bem limpinhos, Pedro me recompensou com um beijo.
Depois de devidamente recuperados do pós-sexo, levantamos e tomamos um banho, onde novamente ele me penetrou. Em pé, de frente para ele, com uma de minhas pernas levantadas e eu me segurando na parede para não escorregar. Depois, de costas, com meu peito encostado na parede fria e escorregadia devido ao vapor d’água.
Quando Pedro foi embora, minhas colegas estavam entrando no apartamento, e passei por uma experiência bem constrangedora, afinal, mesmo que elas não tivessem dito nada, provavelmente sabiam o que e onde fizemos.
Ao sair, Pedro as cumprimentou rapidamente.
— Arthur, não esqueça de arrumar as malas, ok?
— Sim, senhora — rimos.
No outro dia, estávamos eu e Pedro em seu carro, enquanto eu reunia coragem para descer e tomar o ônibus para voltar para São Paulo. Meus colegas foram no ônibus anterior, por recomendação minha, que usei como desculpa “algumas coisas que eu tinha que fazer”. Acho que eles entenderam o que eu quis dizer, e sem comentários ou perguntas, aceitaram.
Seria difícil me despedir de Pedro. Em pouco tempo já me sentia apegado a ele, não sei se como amigo ou como algo mais íntimo, só sei que a despedida era difícil. Não poderia ficar já que não tinha onde morar, e nem paciência para a vida “sossegada” do litoral. Minha vida estava em São Paulo. Meus planos, casa, amigos, família, faculdade. Tudo estava lá. E eu não poderia desistir disso tão fácil, poderia? Poderia eu desistir de tudo por uma paixão de verão? E... E se ele não sentisse a mesma coisa por mim? O que eu faria?
Embora isso me preocupasse, não queria conversar sobre isso com Pedro. E ele também não parecia muito interessado nisso. No fim, não tinha o que ser resolvido.
Colocou uma de suas mãos em meu rosto, e ao me beijar com ternura uma última vez, sorriu. Sei disso, pois ouvi o barulho característico de uma risadinha e senti uma lufada de seu hálito em meu rosto. Sorri junto.
Descemos do carro, e ele me ajudou a tirar do porta-malas as poucas malas que levei no início da viagem.
Ajudou-me a coloca-las naqueles porta-malas de ônibus de viagem e ainda ficamos conversando, quando ele me entregou um papelzinho com seu e-mail.
— Você ainda vai me aguentar por um bom tempo — ele disse.
Guardei o papelzinho no bolso da camisa que estava usando, e prometi que adicionaria no Messenger assim que pudesse.
Com um singelo “Obrigado”, e um abraço forte, entrei no ônibus quando o motorista ligou o veículo e sentei no meu lugar. Quando o ônibus começava a se movimentar, com um aceno de mão dei tchau para Pedro, e o vi se virar e seguir seu caminho.
Depois que voltei pra minha cidade, ainda conversamos por messenger por meses.
Às vezes conversávamos sobre coisas bobas, e tentávamos fazer um ao outro rir com alguma brincadeirinha boba. Outras vezes, falávamos de coisas sérias, comentando acontecimentos; ou ainda, nos dávamos conselhos quando as coisas ficavam difíceis.
E as coisas seguiram assim até ele simplesmente sumir. Excluiu sua conta no bate-papo. Mandei um e-mail na semana seguinte, perguntando o que aconteceu e se estava tudo bem. Ele me retornou apenas dizendo que estava bem e que aconteceram algumas coisas que ele não gostaria de falar. Surpreso e incomodado, interpretei aquilo como o fim de um ciclo, mas respeitei sua decisão, e não voltei mais a incomodá-lo.
Nunca mais voltei àquela praia e nem mais visitei aquela cidade. Daquela época, deixei que restassem apenas as boas lembranças. Seu rosto, seu sorriso e do gosto salgado de sua pele por causa da água do mar. De andar descalço na areia ou ainda, de molhar os pés na água a cada onda.
Admito que às vezes sinto falta de conversar com ele e de saber como está, mas a saudade é algo que temos que aprender a lidar, não é mesmo?
Quem sabe, algum dia, não recebo um e-mail com notícias suas, e voltemos então a conversar, como se nada tivesse acontecido. Como se fôssemos amigos de longa data que apenas perderam contato.
Até lá, Pedro e tudo o que aconteceu naquelas férias continuarão num lugar especial apenas, como boas recordações para me recordar quando estiver velhinho.
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