Cauê chegou em casa e encontrou sua mãe lhe esperando.
- Oi, mãe.
- Oi, Cauê.
Já ia em direção ao quarto quando ela continuou:
- Senta aqui. Precisamos conversar. - dizia com uma voz seca.
Cauê assustado obedeceu.
- O pastor veio aqui hoje.
- Meu Deus! Eu havia me esquecido. - Cauê lembrara da confusão em que Abel havia lhe metido.
- Por que você fez isso? Roubar a igreja?
- Mãe, eu não fiz nada! O Abel, ele que roubou pra colocar a culpa em mim.
- Não minta, meu filho, esse menino já está muito encrencado na igreja e agora vai ter a vida virada de pernas pro ar.
- Como assim?
- Não está sabendo? A avó dele acabou de morrer.
- O quê, mãe? Como?
- Não sei ainda! Parece que foi assalto e um dos bandidos atirou nela.
- Meu Deus! Agora faz sentido. Pra mim isso não foi assalto, foi um acerto de contas. O Abel devia estar endividado por isso ele roubou a igreja e colocou a culpa em mim.
- Mas por que justo em você?
- Por que eu sou... - Cauê ia involuntariamente confessar sua sexualidade para a mãe, mas se controlou e continuouidiota bobão e de muita confiança na igreja. Por favor, mãe, acredita em mim! Eu não roubei nada.
- Eu acredito, meu filho! Mas você anda estranho, não conversa mais comigo, não me conta nada, como essa confusão toda que fiquei sabendo pelo pastor.
- De qualquer forma eu vou pagar, mãe. Deixa comigo.
- Não, eu já paguei.
- Não acredito. Mãe! Era meu assunto.
- Mas você ainda vive sob o meu teto e é responsabilidade minha.
- Ok. Tudo bem, eu pago depois. Eu preciso dizer, vou viajar esse final de semana.
- Não.
- Oi?
- É isso mesmo. Te dou muita liberdade e isso só tem te afastado de mim. Quando você voltar a me incluir na sua vida eu penso melhor.
- Mas, mãe, é importante. Além do mais, eu já sou quase maior de idade.
- Isso mesmo! É quase maior de idade, ainda vive sob o meu teto e me deve dinheiro, então, não vai a lugar nenhum, ponto final.
Dona Geovana se levantou e saiu enquanto Cauê ficara sem saber o que fazer. Precisava dar um jeito.
***
Abel estava transtornado. Com passos furiosos avançava por entre as pessoas esbarrando nelas. De repente parou numa esquina com lágrimas nos olhos. Não era justo. Havia perdido sua mãe logo cedo e agora a sua avó. Pensava no que havia lhe restado para amar. Nada. Agora o ódio reinava por todo o seu coração. Não pensava em consequências, apenas queria preencher aquele vazio sem se importar como e agora ele já sabia.
Continuou a sua caminhada. Próximo destino. A casa do Doidera.
***
Doidera ainda corria. Havia entrado numa floresta. Pegou o celular e tentou contatar Abel, mas estava sem área.
- Doidera! Aparece, porra! Fim da linha, cara! Você já era. – um dos capangas de Mangalô, Enzo, gritava.
- Merda! Meu Deus! Só um pouquinho de sinal, por favor.
- Enzo, vamos vazar, cara! Acho que ele não está aqui. – Heitor, o outro capanga sugeriu.
- Você tem razão, vamos em bora. – disse Enzo.
Doidera esperou mais um pouco até não ouvir mais os passos, saiu do esconderijo e foi caminhando devagar pela floresta. Ligou o celular mais uma vez em busca de sinal quando:
- Tá avisando pro capeta que você está chegando no inferno? - disse Enzo dando-lhe uma coronhada que o fez desmaiar.
***
Cauê ligou para Janaína:
- Temos um problema, minha mãe não me deixou viajar.
- Não pode ser! Meu pai tá uma fera, tá uma guerra aqui em casa. Se eu pedir pra viajar ele me mata. Por favor, Cauê! Convença sua mãe, pelo menos você precisa ir e encontrar o Joaquim. Olha, até te empresto o meu carro.
- Mas eu não tenho carta. Posso ir de ônibus.
- Não tem ônibus direto pra lá, você vai gastar muito. Pega meu carro mesmo, ninguém precisa saber que você não tem carta. Se você dirigir direitinho não tem problema.
- Ok. Vou pensar.
- Pensa com carinho, tá?
Cauê desligou o telefone. Questionava-se por que queria ir nessa viagem. Estava mais do que evidente que sua única intenção era reencontrar Joaquim. Não sabia ainda o que ira fazer quando acontecesse, provavelmente lhe daria um soco, mas depois lhe afogaria em beijos. Ah, o amor! Não teria graça se não fosse tão difícil.
Enquanto pensava seu telefone tocou:
- Oi, Felipe! Tudo bem? Aconteceu tanta coisa de ontem pra hoje, nem sei por onde come... Ei, Lipe, você está chorando?
- Cauê, eu fiz uma coisa horrível. - Felipe chorava.
- O que foi?
- A avó do Abel morreu e a culpa foi minha.
- Calma! Não tô entendendo, foi um assalto!
- Eu sei, mas eu tava com um cara que ia pra casa do Abel. Ele disse que precisava chegar logo e eu dei o caminho errado de propósito. Meu Deus, eu não sabia que era tão sério.
- Mas que loucura! É claro que você não sabia, foi uma coincidência.
- Se eu tivesse mostrado o caminho certo talvez isso não tivesse acontecido.
- Disse bem, talvez. Talvez vocês tivessem salvado a Dona Carmen ou talvez teria sido pior. Não foi sua culpa!
- Eu não sei... Tô muito mal. Dorme aqui em casa.
- Não posso, tô de castigo. Mudando um pouco de assunto, adivinha quem vai ser mamãe?
- Quem?
- Janaína.
- O quê?
- É isso mesmo.
- Uau! Tô no chão.
- Pois é, agora não posso nem mais sonhar em ter algo com o Joaquim.
- Isso se o filho for dele mesmo, né?
- O que você quer dizer com isso?
- Nada. Olha, tenho que desligar agora, ok? Tchauzinho... Até.
- Eu, hein, tchau.
***
O telefone de Janaína tocou. Quando olhou no visor viu que era um número privado, pensando ser Joaquim logo atendeu:
- Alô?
- Alô, Janaína! - uma voz estranha, como que modificada por computador respondeu do outro lado.
- Quem é?
- Só uma pergunta: Será que Joaquim é mesmo o pai desse seu filho?
- Do quê você está falando? Como sabe que estou grávida?
- Sei de tudo sobre você.
- Mentira!
- Lembra daquele dia em que você e o Abel transaram no banheiro do seu trabalho? Não faz muito tempo, não é?
- Não havia ninguém além de nós dois lá. É você, Abel? Para de brincadeira!
- Não! Não sou o Abel... Eu vi vocês dois. Eu vi, Janaína!
- Quem é você? Ei, espera! - Janaína já falava sozinha, a pessoa misteriosa havia desligado o telefone.
- Inferno! - Janaína gritou jogando o celular na parede.
***
Doidera acordou em sua própria casa. Ainda tonto percebeu-se sentado à mesa diante de uma folha de papel e uma caneta sendo observado por Enzo e Heitor.
- E aí, dorminhoco? - disse Enzo.
- Vocês não me mataram ainda... Por quê?
- Porque você matou uma mulher e precisa confessar antes de morrer.
- Ele atirou! - disse Doidera apontando para Heitor.
- Era pra ter acertado você, não a uma mulher inocente! - Heitor estava nervoso.
- Calma, Heitor, você parece uma bichinha com medo da polícia! Você tá no crime, porra! - gritou Enzo.
- Tenho mais medo do Mangalô. Isso pode dar problema pra ele e ele vai querer eliminar a gente.
- Você sempre pensando no seu macho, não é, Heitor?
- O que você está querendo dizer, Enzo?
- Eu sei que você anda dando o cú pra ele! Você me traiu!
- Isso é mentira, Enzo, eu te amo! - Heitor estava quase chorando.
- Mentira, Heitor? Eu vi. Eu que te amo, cara! Eu faria tudo pra te proteger e você me trai com nosso próprio chefe!
- Eu queria conhecer o ponto fraco dele, Enzo! Não quero ser um capanga pra sempre, a gente pode tomar todo o comando do Mangalô, confia em mim!
- Você é uma putinha boqueteira! Não aguenta ver um pau! Traidor! - disse Enzo socando a cara de Heitor.
- Uma briga de casal, era tudo o que eu queria presenciar antes da minha morte. Seria cômico se não fosse trágico. - ironizou Doidera.
- É, mas a sorte se uniu a gente! - continuou Enzo - É só fazer a polícia pensar que foi o Doidera quem matou a velha e depois se matou. Agora, Doidera, você vai escrever exatamente o que eu disser.
Doidera aceitou escrever a tal carta acreditando estar ganhando tempo até que Abel viesse lhe procurar.
Quando terminou de escrever Enzo disse:
- Bom! Agora que você terminou de escrever a carta, está na hora de dizer adeus.
- Espera, Enzo! - disse Heitor com o rosto machucado - Eu quero terminar o serviço. Deixa eu matar ele.
- Tudo bem, traíra! É bom você usar a mesma arma que usou na velha. Vai lá.
Heitor foi em direção a Doidera, apontou para sua cabeça e atirou. Doidera caiu morto.
- Parabéns, Heitorzinho! Agora você pode contar pro Mangalô, quem sabe ele não te dá o pau pra você dar uma lambida?
Heitor riu:
- Ah, Enzo! Você acha que eu sou idiota? Sei muito bem que você me odeia por roubar o seu lugar. Sei que antes de eu chegar, você era a putinha do Mangalô e nunca admitiu perder o posto pra mim.
- Cala a boca! Eu amei aquele homem, você só está interessado em poder.
- E ele está interessado em mim, por isso não vai notar a sua ausência.
- É aí que você se engana. Mangalô me ama e se você fizer algo...
Heitor não deixou Enzo terminar sua frase, antes acertou uma bala em seu peito. Chegou perto do corpo de Enzo e disse:
- Acredito que isso doeu mais que um soco. Talvez o Mangalô ainda te ame, mas agora você não existe mais.
Heitor arrumou a cena do crime para que a polícia entendesse que Doidera havia matado Enzo e depois se matado e saiu.
O que ele não imaginava era que Abel havia chegado a tempo de ver todo o ocorrido por uma fresta na janela do cômodo onde estavam.
***
ESTAMOS VOLTANDO! AGUARDE! ;)