O TAXISTA – Parte Cinco
Já passava da meia-noite quando ele voltou. O pivete passara parte do dia pedindo uns trocados aos taxistas que faziam ponto junto a mim e ninguém dava dinheiro a ele. Eu não o conhecia. Nunca o havia visto por ali. Mas os meus colegas de profissão diziam que ele era assaltante ou, pelo menos, vivia metido com alguns. Só aparecia de vez em quando, sempre com algo roubado para vender. Se alguém desse uma bobeira ele levava o celular. Por isso eu também não dei nenhum trocado a ele, apesar de ter o hábito de dar esmolas. Fui acostumado a isso por meu pai, assassinado com um tiro no peito poucos dias atrás. Todos os taxistas tinham ido dar um giro à procura de passageiros, mas eu decidi contar com meus clientes que contratavam a corrida por celular. O trombadinha se aproximou do meu carro e pediu uns trocados para comer. Disse que estava morrendo de fome. Ainda não comera desde o almoço.
Eu também estava com fome. A noite tinha sido movimentada e não tive tempo para jantar. Meu celular estava no bolso, longe das vistas do pivete. Por isso convidei-o a ir jantar comigo. Ele exibiu um sorriso maior do que a cara e abriu a porta, sentando-se ao meu lado. O menino devia ter uns doze ou treze anos e fedia bastante. Reclamei. Ele pediu para eu esperar um pouco e saiu do carro, indo em direção a uma torneira de jardim que tinha bem no meio da Praça do Derby, que ficava bem próximo ao centro da cidade, onde eu fazia meu ponto. Tirou toda a roupa e tomou um rápido banho, esfregando-se com as mãos limpas. Eu tinha um pedaço de sabonete usado dentro do meu porta-luvas e chamei-o, entregando a ele. Ficou mais ainda agradecido. Demorou se asseando e tive que chamá-lo para irmos embora. Quis me devolver o resto do sabonete. Eu disse que podia ficar com ele. Guardou no bolso da surrada bermuda que vestia e sentou-se de novo ao meu lado. Aí vi que o mau cheiro vinha de suas roupas e não do corpo. No entanto, resolvi não comentar nada.
Rodei alguns minutos procurando um boteco qualquer, entramos e nos sentamos. O garçom não queria atender-nos, mas o dono do bar já me conhecia de outras vezes que jantei lá e deixou-nos ficar. O garçom saiu resmungando e xingando o pivete de ladrão. Ele olhava para mim, esperando que eu fosse repreendê-lo também. Dei de ombros. Estava com fome e pedimos cada qual um prato diferente. Ele queria uma macarronada e eu uma dobradinha. Pedi um refrigerante de um litro e dividimos o conteúdo. Aí ele começou a falar sem parar. Falou de economia, de política, de futebol e até de mulher. Notava-se que repetia algum papo ouvido de alguém, mas sabia escolher bem as opiniões.
Perguntei se já havia frequentado uma escola e ele me confessou que sua cultura era como a de um papagaio: aprendeu ouvindo as pessoas nas ruas e repetia o que escutava. Sabia ler algumas coisas pelos “desenhos” das palavras. Apontava para os cartazes no bar e lia: Sprite, Hollywood, Antarctica, Schincariol. Rabisquei em letras de forma, num guardanapo, meu nome e ele não soube o que estava escrito. No entanto, reconheceu algumas letras e me pediu que eu dissesse as outras que não conhecia. Quando eu fiz isso, ele formou rapidamente a palavra e adivinhou como eu me chamava. Mostrou que conhecia números muito bem e leu algumas milhares escritas num quadro de Jogo do Bicho. Fiquei espantado com a sua esperteza.
Terminamos de comer, paguei a conta e cedi-lhe o troco. Cerca de dois reais. Ele me agradeceu felicíssimo. Afirmou que seria o dinheiro do pão do dia seguinte, que levaria para casa. Disse ter cinco irmãos menores que ele. A mãe morrera de AIDS e o pai foi morto praticando um assalto. Ele e uma irmã de dez anos cuidavam dos outros menores. Despediu-se de mim quando eu falei que iria demorar-me mais um pouco para fazer a digestão. Foi embora se mostrando muito agradecido. Uns dez minutos depois eu voltei para o táxi e retornei ao meu ponto na praça. Só então dei pela falta do meu celular, que estava no bolso da minha calça. O filhodaputa pegara e eu nem sentira. Dei umas voltas pelas redondezas à sua procura. Havia rapidamente sumido do mapa.
Fiquei desolado. O celular continha a agenda de toda a minha clientela. Parei num lugar qualquer e fiquei maldizendo a minha idiotice com o fedelho. Nem percebi um casal que se aproximava do meu táxi. Quando vi, o cara já apontava uma arma para a minha cabeça. Gelei. Era muito azar para uma única noite. O sujeito de tez negra abriu a porta de trás e empurrou com violência a mulher dentro do carro. Ela implorou-lhe, chorosa, que não a machucasse. O negrão mandou-a calar a boca e sentou-se ao lado dela, no banco traseiro, apontando o revólver para a minha nuca. Ordenou que eu seguisse para a zona norte da cidade. Percorremos a Agamenon Magalhães, entramos na Rosa e Silva, desembocamos na Av. Norte e enveredamos pelas ruas da Macaxeira até chegarmos à área de matagais da Guabiraba. Durante todo o percurso, torci para encontrar uma viatura policial sem, no entanto, ter êxito. Tremi quando o cara me mandou enveredar por uma trilha deserta e escura no meio do mato. Depois de alguns minutos, chegamos a uma clareira. Aí ele nos mandou descer do táxi.
Ordenou-nos tirar toda a roupa. Tentei argumentar algo que fizesse com que desistisse da sua intenção, mas ele não queria conversa. Ameaçou atirar em mim e levar meu táxi, caso eu dissesse mais alguma palavra ou tentasse qualquer reação. Mesmo no escuro, deu para eu ver melhor a mulher do que quando estava dentro do táxi. Ela era branca, ruiva e sardenta, bastante alta, pernas bonitas e seios empinados. Já estava totalmente nua. Escondia o rosto entre as mãos, talvez por vergonha, por isso não pude ver-lhe logo a face. Mas se despira assim que o negrão deu a ordem. Resolvi não contrariá-lo e me despi também. Ele empurrou-a com violência, derrubando-a no chão. Ela gritava apavorada, mas ele ameaçava com a arma mandando que calasse a boca. Obrigou-a se ajoelhar na minha frente e me chupar gostoso. Ela atendeu-o prontamente. Meu pau estava flácido, por causa da tensão, mas ela soube endurecê-lo em segundos. Lambeu minhas bolas e toda a extensão do meu cacete, antes de abocanhá-lo com muito gosto. Fechei os olhos, encabulado. Não queria me aproveitar da situação, mas aquilo estava muito bom. Quando abri os olhos, o cara botara o pau pra fora e estava se masturbando.
Antes que eu gozasse, ele mandou que ela ficasse de quatro na minha frente. Ordenou que eu metesse com força na bunda dela. Quis enrabá-la com cuidado, para não machucá-la, mas ele gritou comigo, me encostando a arma no ouvido, dizendo que queria ver entusiasmo da minha parte. Pedi desculpas à pobre coitada e empurrei meu pau de vez, até o talo, e comecei os movimentos de cópula. Ela gritava, pedindo que eu não fizesse aquilo. Chorava copiosamente e eu não conseguia diferenciar se era de dor ou de prazer. Pedi perdão a Deus por ter ficado mais excitado ainda. Novamente, antes que eu gozasse, ele pediu para ela deitar de costas e abrir bem as pernas. Exigiu que eu lambesse sua xoxota. Era uma boceta cheirosa, como se tivesse passado um longo tempo sendo lavada com algum sabonete especial. Ou talvez tivessem colocado ali algum desodorante ou colônia. Estava com os pelos cortados rentes e oxigenados. Mesmo no escuro, dava para ver o brilho dourado. E o seu grelo tinha sabor de cerejas, ou algo parecido. Porra, eu estava gostando daquilo!
Lambi com fervor e ela urrou de prazer, ao mesmo tempo em que me chamava de cafajeste e todos os piores tipos de impropérios. Mesmo assim, segurava minha cabeça entre suas pernas quando eu ameaçava parar de chupá-la. Finalmente o negrão ordenou que eu metesse na sua buceta, enquanto ainda se masturbava. Gozamos os três quase ao mesmo tempo. Ele ejaculou na cara e nos peitos dela, sujando-a toda de esperma. Eu caí de lado, exausto. A minha foi uma gozada intensa, poderosa. Ela ergueu-se rápido e mamou na minha pica, secando dali todo o resto do meu leitinho. Depois o cara agarrou a ruiva pelos cabelos e fez com que ela o chupasse também. Eu quis aproveitar sua distração e me atirei sobre ele, resolvido a dominá-lo. No entanto, levei um safanão tão violento que beijei o chão. Tentei me levantar e recebi um golpe na nuca, caindo desacordado.
Quando recobrei os sentidos, estava totalmente vestido e dentro do carro. Olhei em volta e percebi que estava no meu ponto de táxi, na Praça do Derby. A nuca ainda doía, atestando que não fora apenas um sonho. Aí tomei um susto danado quando olhei pelo retrovisor interno e vi o casal tranquilamente sentado no banco de trás. Estavam agarradinhos, no maior amor do mundo. Voltei-me furioso, mas ele me apontou a arma novamente. Mandou-me ficar frio que ele já ia embora. Olhei em volta e não tinha nenhum taxista por perto para me socorrer. O negrão puxou do bolso algumas notas e me entregou. O taxímetro marcava quase sessenta reais, mas o bolo de dinheiro que ele me deu continha muito mais que isso. Depois foi a vez de a moça ruiva entregar rindo meu celular que havia sido roubado. Disse-me que a foda doida tinha sido cortesia do pivete que jantara comigo. Precisou surrupiar meu telefone para ligar para eles, passando-lhes a placa do meu carro, de modo a encenarem o estupro. Eu não estava entendendo nada daquela história. O casal abriu a porta e foi embora, num instante se perdendo de vista.
Eu fiquei lá, embasbacado e contando o dinheiro que tinha no bolso e o que me deram antes de sair. Não estava faltando nem um centavo. Peguei o celular e conferi se tinha chamada perdida. Sim, o “Açougueiro” havia ligado para mim. Telefonei de volta. Ele pediu para eu apanhá-lo no bar onde trabalhava. Iria largar dentro de meia hora. Queria que eu o levasse em casa. Eu também queria encerrar meu expediente e voltar para a minha residência. Foram tantas as emoções que não conseguiria me concentrar de modo satisfatório para terminar meu turno...
FIM DA QUINTA PARTE