Olá! Então, não tenho muito o que dizer, então se gostarem e queiram que eu continue, digam nos comentários e votem se for possível. Abraços e até o próximo, se quiserem, é claro.
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Os últimos flocos de neve caiam insistentes sobre os troncos congelados dos pinheiros selvagens da floresta. O vento gelado e cortante assobiava por entre os galhos secos e sem folhas, os animais começavam a sair de seus ninhos, e apesar de ainda estar frio, o inverno havia chegado ao fim. A neve, que começava a derreter, recebia passos rápidos e precisos, de quatro pés elétricos que insistiam em não usar calçados durante a corrida. Os dois jovens praticamente voavam por entre as árvores, saltando galhos sobre o chão, e escorregando por baixo de troncos grandes caídos sobre o chão. O menor possuía uma velocidade única, ninguém, absolutamente ninguém, conseguia o ultrapassar; nem mesmo seu maior adversário. Seus cabelos negros, longos e lisos, serpenteavam pelo ar, refletindo a claridade dos poucos raios do sol que se faziam presentes ali. O maior tentava alcançar as pernas miúdas e velozes que incrivelmente conseguiam burlar as suas, e isso era, e sempre foi fascinante para ele.
Então, em um movimento rápido e preciso, o maior se jogou contra o pequeno, fazendo ambos rolarem pela neve fofa, e em seus rostos surgirem sorrisos radiantes.
- Te peguei...- Disse o maior, fazendo o pequeno, que se posicionara abaixo de si, sorrir ainda mais grandiosamente.
- Foi sorte. Você sabe que se eu quisesse correria bem mais rápido!- Provocou o outro, deixando os braços caírem sobre o chão gelado, acima de sua cabeça.
- Hum... É mesmo?- O menor apenas assentiu brincalhão, e então foi surpreendido por um afago forte em sua cintura, que o fez extremesser dos pés à cabeça.- Mas se você não fizesse isso, talvez não ganhasse isso...- Então os lábios do maior se movimentaram, indo até os do menor e selando-os com ternura. Um beijo calmo. Então o pequeno abriu os olhos, fitando a face máscula e ao mesmo tempo delicada do maior sobre si, e afastou-o, quebrando o beijo.
- Precisamos ir.
- Sim, precisamos.- Respondeu o maior com um sussurro, que logo foi direcionado aos ouvidos do outro.
O garoto por debaixo ficou alguns segundos analisando a beleza à sua frente, assim como o outro, que muitas vezes, quase sempre, não acreditara ter em seus braços algo tão perfeito como o seu pequeno Delariel. Ariel, como todos o chamavam carinhosamente.
Delariel possuía cabelos incrivelmente lisos, de um negro tão intenso quanto a noite e que seguiam longos até abaixo da cintura. Seus olhos tão negros quanto, e os lábios eram inebriantemente vermelhos como sangue; suas bochechas rosadas e sua pele de um branco que lembrava a mais espessa neve. Seu corpo delicado e cheio de curvas, uma personalidade doce mas feroz. Era a perfeição em forma de um ser humano. Izuna, o rapaz mais belo da aldeia, cobiçado por todas, invejado por muitos, era um rapaz de personalidade forte, corpo robusto e cheio de músculos; cabelos castanhos e olhos azuis. Alto, forte e belo. Era perfeito para o posto que conseguira em sua aldeia, guerreiro. O terceiro mais forte. Ficando atrás apenas do Chefe, e de Kay, seu irmão mais velho.
Os jovens nutriam uma grande amizade, desde pequenos, quando o Chefe, também conhecido como pai de Delariel, ordenou ao jovem rapaz que lhe protegesse e cuidasse de seus desejos, sendo assim, seu guarda costas particular. Com o passar dos anos ambos cresceram, assim como a amizade, e aí, veio a paixão. Delariel sempre foi um garoto doce, gentil e atencioso, diferente de Izuna, que era encrenqueiro e adorava fazer bagunça por onde passava. Os anos passaram, a juventude veio, e com ela, a paixão, que até então era tudo apenas desejo, se tornou amor. Um amor tão forte,mas que chegava a apertar em ambos os peitos. Izuna amava o seu pequeno Ariel. Amava tanto que daria sua vida por este, sem exitar, sem recuar ou temer. Pois, a necessidade e vontade de protegê-lo era maior que tudo.
Izuna se remexeu em cima do menor, acariciando levemente seus longos cabelos até as pontas, e em seguida, passou os dedos para os ombros do rapaz, subindo e chegando até seus lábios vivos, chamativos e pelos quais ele mantinha um desejo inexplicável. Delariel, então, com seus delicados dedos, emaranhou-os por entre os curtos do maior na parte da nuca, que começavam a ficar grandes o suficiente para começarem a formar pequenos cachos soltos, que por enquanto eram apenas ondulações. Os cabelos de Izuna caiam suavemente sobre a testa, formando uma franja bagunçada e que o deixava muito sexy ao ver do menor. E de fato deixava.
- Você me deseja?- Perguntou o menor, mordendo o lábio inferior.
- Você sabe que sim...- Respondeu Izuna, começando a se aproximar do rosto de Ariel.
- Então... Vamos fugir?- O maior sorriu com a idéia, que achava deveras maluca, mas interessante.
- E para onde iríamos?
- Não sei. Qualquer lugar. Qualquer lugar seria perfeito ao seu lado, e eu não me importo onde seja...- O maior estão franziu o cenho, mirando desolado os olhos escuros do menor.
- E o quê eu teria para lhe oferecer? Eu não tenho nada. Não possuo riquezas, não tenho posses...- Izuna desviou os olhos por um segundo dos do pequeno, fazendo o mesmo suspirar.
- Eu não preciso de posses para estar com você. Eu o amo, Izuna, e iria até o fim do mundo com você.- O menor segurou gentilmente no queixo do mais velho, que deixava a barba começar a crescer levemente, e o fez olhá-lo bem dentro de seus glóbulos negros.- Eu morreria com você.
Izuna sentiu seu peito formigar com a última frase; estava prestes a dizer um sonoro "sim", quando lembrou-se da promessa que fizera a seu pai no leito de morte.
- Ariel... Eu... Você sabe que eu também o amo, mas eu não posso. Eu prometi a meu pai, e não posso quebrar minha promessa...
O pequeno bufou e então fez força para se levantar, afastando o maior para o lado e permanecendo sentado com o mesmo ao seu lado, o fitando apreensivo.
- Você acha mesmo que algum dia herdará o posto de meu pai?- O menor encarava o nada à sua frente, esperando por uma boa resposta do maior.
- Sim.
- Mas você sabe que ainda tem o Kay disputando o cargo. E entre você e o Kay, me desculpe, mas você está cansado de saber que ele é o mais forte e mais qualificado para tal.- Izuna sabia. Desde que eram apenas crianças Kay sempre foi mais forte. Mais veloz. Mais ousado e corajoso que o irmão mais novo. Apesar de não ser o mais bonito, era o mais sortudo dos dois. A única sorte que Izuna acreditara ter em sua vida era Ariel, seu Ariel. O garoto, que mesmo sendo um garoto, era mais cobiçado pelos rapazes da tribo do que qualquer mulher, o que causava inveja em todas elas. Na tribo onde viviam, as crenças ainda não haviam mudado muito. A Xamã dizia que não importava o sexo ou aparência, os espíritos sempre sabiam o que faziam, e quando alguém se apaixonava, não importava se era homem ou mulher, todo tipo de amor era bem vindo. E por isso pessoas iguais se casavam com iguais, assim como com o sexo oposto. Não havia a palavra "preconceito" nesses tempos remotos.
- Eu já disse que eu serei o líder um dia. Eu prometi isso não só ao meu pai, mas a mim mesmo. Eu irei superar o meu irmão, nem que para isso eu precise me esfolar até sobrar apenas os ossos do meu corpo.- Delariel virou o rosto de leve, olhando os olhos azuis profundos do outro, que aparentava ter toda certeza do que dizia.- Eu farei de você o meu esposo. Você será a minha força, a minha coragem. Eu serei o líder, mas só conseguirei se você estiver ao meu lado... Eu preciso de você, meu doce e pequeno Ariel...- O maior se aproximou rápido, e sem dar espaço para qualquer ação do outro, tomou seus sábios junto aos seus, e logo rompeu as barreiras, adentrando sua língua pela boca do menor, que retribuiu com vontade.
Então Ariel sentiu algo duro bater em suas costas, e rapidamente se virou, soltando dos lábios do outro e fazendo um "cloc", ao se distanciarem. Ariel fitou as suas costas por cima do ombro, e descobriu que se tratava de Nalah, o seu lince de estimação. Sim, Nalah era um lince. Um lince cinzento que chegava um pouco acima da altura de sua cintura , e que por conviver com o garoto e os outros habitantes da aldeia desde filhote, se tornou tão dócil quanto os cães de caça utilizados na aldeia.
O felino possuía o costume de encostar o dorso da cabeça no garoto quando queria alguma coisa, e se tratando da ocasião e de saber que Nalah até então estava em sua casa, Ariel já sabia o que ela queria.
- Vamos, o meu pai deve estar me procupando!- Disse o pequeno jovem, se levantando rápido e ajeitando suas vestes, depositando o casaco de pele sobre os ombros e saindo correndo na frente acompanhado pela lince, e deixando rapaz ainda no mesmo lugar.
- Nem me disse tchau...- O rapaz suspirou, e então sorriu, lembrando que o garoto sempre fazia aquilo quando estava com pressa. Sempre o abandonava e depois ele tinha que voltar sozinho apara a aldeia.
Mas ele não reclamava. Izuna amava demais o seu pequeno para se zangar com ele por algo tão banal, e de certa forma até se divertia pelos ataques repentinos que ele dava quando estava nervoso, era engraçado é fofo.
Ariel corria o mais rápido que podia pela floresta petrificada, e apesar de ser ótimo e incrivelmente rápido em desviar dos obstáculos, o garoto ainda se atrapalhava e muitas vezes se desequilibrava e quase ia ao chão. Nalah então se aproximou do garoto, e esse se jogou sobre suas costas, a montando como se fosse um cavalo. Nalah era um lince forte e mais desenvolto que a maioria dos outros de sua espécie, e por isso, carregar aquele pequeno corpo de apenas 1,62 era uma tarefa fácil e prazerosa, pois o lince adorava qualquer tipo de contato com seu dono doce e gentil, que cuidara dela com tanto carinho e amor. Nalah era tão inteligente quanto os cães da aldeia, ou até mais. Entendia a maioria das ordens dadas pelo garoto, e era uma certa cúmplice do mesmo, pois sempre estava em seu encalço.
Ambos atravessaram a floresta em questão de segundos, e ao passar por uma pequena ponte sobre o lago Ocaloo, finalmente chegaram a aldeia.
Ariel desceu do animal e correu em direção às pequenas cabanas, que pelo tempo estar evoluindo, as aldeias agora, ao invés de ocas de palha, viviam em cabanas feitas de madeira e suspensas dois metros acima do chão, por pilastra grossas e que os deixavam seguros de ataques de animais selvagens durante a noite.
O garoto passava apressado por entre os demais moradores, que sempre se encantavam com sua beleza e ficavam admirando aqueles cabelos negros balançarem pelo ar, e ao dar um encontrão em alguém que Ariel conhecia muito bem, o garoto lhe segurou os ombros e a ficou apreensivo.
- Honara, você sabe onde está o meu pai?- Perguntou exaltado para a jovem garota, que depois dele, era a segunda mais cobiçada da aldeia. Com longos cabelos castanhos e pele bronzeada, a jovem arrancava suspiros com um corpo de dar inveja também, e causar estalos em pescoços quando desfilava apenas com seu vestido de pele e suas pernas à mostra, que estavam cobertas agora pelo frio que se fazia nessa época do ano.
- O chefe está na cabana dele, com a Xamã e o conselho da aldeia.- Respondeu a garota, assustada pelos olhos arregalados do garoto, que sabia que se não chegasse o mais rápido possível até seu pai, mais tarde teria de a ouvir novamente a mesma ladainha de que o filho do chefe deve estar sempre presente e não enfiado na floresta fazendo sabe-se lá o quê.
- Obrigado!- Gritou, já se afastando da moça e correu o mais rápido que podia até a maior de todas as cabanas da aldeia, subindo as escadas de madeira da mesma, passando pela pequena varanda e empurrando a porta com força, fazendo todos os presentes se assustarem.
- Papai, eu...- O garoto já ia começar a se desculpar, mas o olhar reprovador do homem de apenas trinta e poucos anos o fez recuar levemente e corar de vergonha pelo jeito que tinha entrado no local. O Chefe era um homem jovem, chegava quase a dois metros de altura e possuía o corpo forte e cheio de músculos, assim como a maioria dos guerreiros. Possuía a pele, assim como o resto dos aldeões, branca, mas levemente bronzeada; o rosto era incrivelmente másculo e lindo. Sim, o Chefe era um dos homens mais lindos que já nasceram na aldeia, e sua esposa, já falecida, também compartilhava dessa dádiva, o que explicava a beleza da cria dos dois. Apesar da aparência jovial, o homem era sério e responsável. Sempre pontual, não faltava a nenhum dos seus compromissos com a aldeia e quase nunca tinha tempo para o filho. Ótimo, ao ver de Delariel, ou não... O garoto sentia falta de seu pai. E se perguntava o porquê de ele ser o pai de todo mundo, menos dele. Ele era quem cozinhava em casa, ele quem fazia as tarefas domésticas, ele que servia de "correio" para o homem e o Chefe, nunca, nenhuma vez sequer perguntava se alguma coisa não agradava o menor. É claro que nada disso o agradava. Ele queria ao menos ouvir de seu pai, uma vez que fosse, que ele se importava mais com ele do que com pessoas que ele nem sabe de onde saíram.- Me perdoe, eu não devia ter entrado sem bater.- Disse o garoto, fechando novamente a porta e batendo, só então entrando novamente. Os anciãos riram da forma engraçada e desajeitada do garoto, e quando o menino lançou os olhos em um ponto um pouco mais à esquerda de seu pai, avistou Kay sentado ao seu lado. O rapaz, irmão de Izuna, o encarava como um animal encara a sua presa. Era sempre assim, o garoto não conseguia ficar mais de um minuto perto do mesmo, pois se sentia sufocado pelo seu olhar, que lhe causava calafrios. Kay era alto, praticamente um clone do Chefe, só que sem toda a beleza facial que o pai e Delariel possuía. Kay não era feio, mas também não era o mais lindo de todos, e perto do irmão mais novo a diferença era gritante. Mas a falta de beleza era preenchida pela forma de seu corpo, que certamente fazia a felicidade de todas as garotas da aldeia, pois Delariel sabia que o rapaz era o maior mulherengo que já existiu na face da terra.
- Ariel, onde você estava?- Perguntou o Chefe, sério como sempre e sua voz rouca ecoou por toda a sala, fazendo Ariel tremer. O garoto sentia medo do pai como não sentia de mais ninguém. Apesar de o homem jamais lhe tocar um dedo sequer para puní-lo, apenas sua voz grave já era o suficiente para fazer o menor se contorcer de medo.
- Eu... Ham...- Ariel não podia dizer que estava na floresta com Izuna, por mais que ambos fossem amigos desde sempre, o pai iria perguntar o que estavam fazendo, e ele, diferente de com os outros, não conseguia enganar seu pai.
- Deixe para lá, não importa.- Continuou o homem. Então se levantou do chão de madeira, onde se encontrava sentado junto aos outros em uma pequena roda, e foi na direção do filho, parando a centímetros dele e mostrando a todos o quanto o tamanho dos dois era incompatível, já que o pai parecia uma montanha perto do pequeno e delicado filho.- Eu preciso que faça uma coisa para mim.- Ordenou, olhando dentro dos olhos do pequeno, que esticava o pescoço todo para cima para poder olhá-lo de igual para igual.
- Sim, papai.
- Junte todos os guerreiros e moças solteiros da aldeia, a primavera está chegando e a época de casamento está próxima.- O garoto sentiu seu coração bater acelerado, ele sabia o que viria a seguir, ele já estava com a idade certa para isso.- E você irá participar desta vez.
CONTINUA...
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