Portas Fechadas II

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 1488 palavras
Data: 30/12/2014 17:17:16

Recuei do abraço de meu irmao que parecia realmente feliz em me ver, saudando-me na sua voz meliflua, no aperto de maos que tive de aceitar, envolvendo seus dedos compridos, brancos e nodosos, cujas lembranças me reviravam o estomago.

- Ate que chegou cedo! Esse trem costuma atrasar... Tudo bem com voce, meu irmao? Fez boa viagem?

- Sim _ respondi secamente, acompanhando-o sem demora em direçao ao seu automovel que nos aguardava mais a frente, passando pela estaçao apinhada de gente.

Um moleque pago por Rodolfo se encarregou de transportar minhas malas ate o Buick Roadmaster preto e brilhoso. Enquanto explicava que Yedda nao pudera vir por conta da gravidez avançada, meu irmao, num gesto ate mesmo distraido, tocou meu braço de leve, fazendo com que eu me esquivasse brutalmente, num nojo subito e invencivel.

- Nao toque em mim! _ sibilei apenas para ele ouvir.

Sua expressao efusiva e ate mesmo descarada desapareceu, cedendo lugar à uma mascara de surpresa e severidade. Entramos calados no automovel, e dessa forma a pequena viagem ate o casarao seguiu.

Era ele o meu unico irmao, representante do que restara de minha familia. Durante toda minha infancia tive orgulho dele, de seu talento magistral ao piano, sua eloquacidade e senso de humor, amando aquele apego extremo que ele sempre teve comigo. Eu estava longe de entender, à epoca, porque Rodolfo gostava tanto de dormir abraçado comigo, porque se deleitava me fazendo cocegas com a boca em meus pes, barriga e costas, geralmente altas horas da noite, quando os outros jà dormiam.

- Perninhas gordinhas... deliciosas _ sussurrava ele, rindo, me olhando dum jeito fixo, como se tivesse fome.

Eu tinha, entretanto, cinco anos de idade, enquanto ele jà era um adolescente alto, começando a encorpar. A brincadeira me parecia divertida, eu nao via maldade nenhuma nela, nem quando ele me sentava em seu colo tentando me ensinar a tocar piano. Aprendia muito pouco porque nao prestava atençao e Rodolfo subitamente ficava silencioso comigo ali, resfolegando em meu ouvido, apertando-me contra seu ventre que incomodava, como se ele escondesse um cabo grosso e quente de escova de cabelo em seu bolso. Se uma das empregadas se fazia ouvir, chegando à sala, Rodolfo rapidamente me tirava de seu colo com um tapinha em minha nadega.

- Chega _ dizia, respirando fundo _ Voce nao aprende nada, mesmo.

Antes de ele ir para o Exercito, aquilo era frequente, apesar de nao avançar. Conforme eu crescia, passava a ver como eram estranhas aquelas brincadeiras, como me feriam a dignidade num breve clarao de lucidez que me mostrava o grave absurdo daquilo tudo.

Passei a evita-lo, e ele claramente se revoltava, me acusando de nao gostar dele como eu deveria e que iria embora de casa muito magoado e decepcionado comigo. E de fato partiu para se alistar sem se despedir de mim, o que me fez chorar sozinho muitas noites seguidas, pois gostava dele.

Um ano depois, ele voltou, dispensado por ter tido dois ataques epilepticos em seis meses. Bem que ele tentou esconder a doença, da qual padecia desde os treze anos, mas foi impossivel. Seu utopico sonho de servir a patria teve de ser interrompido para seu desgosto e frustraçao de meu pai.

Todo o afeto que eu tinha por Rodolfo estava agora depositado em Paolo, e apenas para ele convergiam meus pensamentos e emoçoes. Assim, mesmo me percebendo mais distante, meu irmao tentou retomar aquelas brincadeiras estranhas, com a diferença de que agora elas passaram a ser mais serias. Esperava o nosso pai dormir e vinha bater no meu quarto, querendo se deitar comigo. Se eu recusava, ele ficava exasperado, ameaçava bater em mim e em Paolo.

- Agora vive para todo canto com esse italiano sujo _ dizia ele, jà se despindo _ Devem estar aprontando alguma coisa juntos. Seus devassos!

Ele voltara do Exercito mais bruto, forte e viciado em cigarro. Seu corpo desenvolvido de homem de dezenove anos queria fundir-se ao meu, onde apenas despontavam as primeiras penugens claras da puberdade. Eu chorava baixo enquanto ele se satisfazia, beijando-me inteiro numa devoçao estranha, psicotica, me forçando a masturba-lo, enfiando seu penis grosso em minha boca, onde ejaculava e me obrigava a engolir. Varias vezes vomitei no quarto, enojado daquele gosto, chorando, com o corpo todo marcado pela boca e o esporro dele. Por duas vezes Rodolfo tentou me penetrar, mas aquilo doia demais, parecia uma faca me rasgando devagar; ele tapava minha boca para que eu nao gritasse, percebendo entao que aquela outra violencia seria mais dificil de ser escondida, e felizmente, desistindo daquilo. Foram dois meses vivendo naquele pesadelo, sem deixar ninguem perceber, nem mesmo Paolo. Era uma desolaçao que eu me empenhava para que ficasse restrita a dentro de minha casa, onde eu podia chorar livremente no quarto, na biblioteca ou no jardim, sem ser incomodado e, claro, sem trazer sofrimentos a ninguem, muito menos ao meu pequeno carcamano.

O internato veio, de certo modo, como uma tabua de salvaçao que me tirou daquele calvario. Claro que Rodolfo tentou interferir, procurando persuadir meu pai a deixar que eu estudasse ali mesmo na cidade, mas o velho foi irredutivel: queria-me advogado, como ele proprio. Nao fosse por Paolo, eu teria embarcado muito alegre para S. Paulo.

Agora, eis-me de volta ao casarao onde passei minha infancia. Estava reformadinho, todo branco, de dois andares com sacada e amplo jardim com o chafariz em formato de magnolia. Logo Yedda surgiu à porta me receber, imensa na sua gestaçao adiantada, envergando um vestido cor de vinho sem adornos. Ao lado dela, Laura, a filha de seis anos. Quando sai do carro, vieram muito alegres me cumprimentar, e as abracei com um contentamento genuino; sempre gostei muito das duas, me enviavam lindas cartas comoventes no periodo em que cursei a Universidade. Guardava ainda todos os desenhos que Laura me mandou.

Conduziram-me ao meu quarto, que era ainda aquele antigo onde dormi por onze anos. Estava praticamente igual, excetuando a roupa de cama e a cortina. Lavei as maos e o rosto, tirando da cara o cansaço da viagem e penteando meus cabelos, que eram iguais aos de Rodolfo e Laura, abundantes, lisos e de cor fulva.

Eu pretendia ainda mudar meu terno preto e pesado de viagem, mas, fechando a porta, notei um detalhe que me chocou: a fechadura nao trancava. Fechava-se no trinco, mas nao à chave. No banheiro, a mesma coisa.

- Algum problema? _ indagou Rodolfo, vindo de seu quarto.

- A porta nao tranca. Onde estao as chaves?

- Mandei tirar esta manha. Estao comigo _ respondeu ele tranquilamente.

Fitei-o com assombro, sem acreditar.

- E porque fez isso? _ murmurei numa onda de enjoo sufocante _ Acha que eu... Eu nao sou mais aquele menino medroso de onze anos!

- Serà que nao? _ disse ele num sorriso enviesado.

Era demais! Nem meia hora naquela casa e me armam uma daquelas. Nao, eu nao ia suportar ficar ali por muito tempo. Passei furioso por Rodolfo, empurrando-o.

- Aonde vai? _ ele exclamou _ Atras dele? Continua tao pobre quanto um santo!

Ignorei aquele verme, saindo dali com pressa, sem pensar muito que faria uma grande desfeita à minha cunhada caso nao estivesse presente em seu almoço. Peguei meu chapeu e sai para a rua alucinado, querendo distancia absoluta daquele infeliz que se dizia meu irmao.

Na casa de Paolo tudo parecia igual, a mesma pobreza, seus pais alegres como era de costume. Estavam morando sozinhos pois os filhos tinham casado e saido de casa. Fiquei com medo de perguntar sobre Paolo, porem eles pareciam tao felizes em me ver que naquele abundante falatorio iam me fornecendo pistas sobre o meu amigo de infancia: ele ainda morava na cidade, mas sozinho, e cuidava agora do armazem do padrinho. Nao perdi tempo e fui depressa para o tal lugar, com o coraçao aos saltos. Quando, porem, cheguei perto, me aproximei quieto do estabelecimento escuro, decadente e vazio àquela hora.

O rapaz alto, em mangas de camisa e suspensorios com calça preta, anotava algo numa prancheta, no ultimo degrau de uma escada dobravel, observando latas e vidros de conserva, de costas para a porta. Os cabelos negros como carvao, lisos e bem penteados pareciam ainda mais fortes, bem como os pelos abundantes nos braços expostos pela manga dobrada da camisa. Meu coraçao bateu tao depressa que me causou uma leve vertigem; entrei em total silencio no armazem, vendo o rapaz descer da escada devagar. De repente, sem olhar para tras, ele parou por alguns segundos, deixando a prancheta escorregar de sua mao, como se momentaneamente atingido por um reconhecimento subito.

- Paolo _ falei baixinho.

Entao ele se voltou e seus olhos, assim como os meus, jà transbordavam de lagrimas. Sorrimos um para o outro, mal acreditando, e a distancia foi pequena para conter aquele abraço apertado e hà muito tempo esperado no qual nos enlaçamos.

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Comentários

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Licença Irish, passando para avisar que postei mais um capítulo de Antes do Amanhã Ser ^-^ :***

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Nossa, sério que dá tanto trabalho? Lendo parece que você escreveu sem problemas, mas tudo bem, e eu já estava gostando desde a primeira frase do anterior. Agora aos negócios, sério que vai ter um vilão tão ruim (Quin) além desse Rodolfo? Meu deus, pra que tanta crueldade com o casal, tá difícil imaginar o que pode acontecer, mais só sei qie seja lá o que for, será incrível (digo isso com base no que li nesses dois primeiros capítulos)

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Eu já tava era com medo de ser o Rodolfo, quero não rsrs Quero ser o Quin do mal aqui rsrs espero ansiosamente pelo quinto capítulo! Aaaiiinnn fiquei com uma coisa ruim com esse incesto, pq não é incesto de amor (que eu apoio) é incesto de estupro. Mas tudo passou qnd o Paolo apareceu ^.^ Meu Natal foi bom, mas não gosto dessa época. Prefiro qnd estou no meu aniversário, mas não irei comemorar - não estou no clima. E você? Como foi o natal? Vai viajar no ano novo? Se vier a Fortaleza um dia, me procura. Beijos

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Gente como assim tem conto novo? Cara amei a história *---* posta logo e maior o conto

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Ola, pessoal! :) Meu muito obrigada a todos. Respondendo: •Lucas M., valeu! ,espero que goste deste capitulo, • Vitinho 66', poxa, que bom que um autor como voce gosta do que escrevo. Me sinto lisonjeada! , • Geomateus, Owl, Ru/Ruanito, thanks!, • Drago *-*, que legal te ver por aqui! :D Espero que goste, porque isso da trabalho, rs, • Zackzinho, ah, seu coment me deixou muito feliz, bom saber que alguem gosta a esse ponto do que escrevo! Abraço! • Quin, sossega, rs. Seu personagem aparece no quinto capitulo. Espero que curta, rs. E como foi seu Natal? Bacana? Abraçao, menino!!

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