Violentos

Um conto erótico de Senhor Ninguém
Categoria: Homossexual
Contém 1715 palavras
Data: 31/12/2014 00:32:00
Última revisão: 01/01/2015 06:19:01

Sou tímido. Não muito tímido, mas digamos que perdi valiosas coisas na minha vida por causa da timidez. Mas de algo você pode ter certeza, não sou tão tímido para salvar a vida de um criminoso.

O cigarro ainda estava entre os lábios de Rafael mesmo após tê-lo fumado até o talo, deixando apenas as cinzas do que antes era um comprido cilindro de nicotina com o filtro de algodão queimado. Sabia nitidamente da morte que o perseguia, mas de fato a vida dele parecia tão tensa que a morte seria apenas uma pequena brincadeira para ele.

Estava deitado sob o capô de seu Ford, seus cabelos escuros caiam sob a testa, e por causa dos óculos escuros não consegui dizer se ele estava acordado ou dormindo. Suas calças jeans azul estavam sujas de graxa, provavelmente ele havia mexido no câmbio do carro antes de o estacionar ali. Anna se aproximou dele, abraçando seu dorso. O garoto ainda deitado parecia não ter se importado com ela ali, não havia tirado o óculos para nos receber muito menos para conversar.

Ouvi falar muito de Rafael, ele não saia da boca de Anna, a atual namorada dele e minha atualíssima melhor amiga, que agora corria em direção a ele abraçando seu dorso. O rapaz mal educado não haverá de se mover, ficou apenas ali, deitado com o olhar perdido por trás do espelho do óculos. Seu corpo mole, caiu para o lado, e depois deslizou pela polida lataria do carro, chocando o rosto contra o chão duro de concreto.

Anna gritou. Rafael estava inconsciente. Seus óculos agora quebrados voaram pela calçada até a porta da loja à frente.

Corri para ajuda-lo. Eu era o único que poderia de fato ajuda-lo. De todos os três amigos de Anna, eu era o único que poderia ajuda-lo. Pois um deles faz direito, outra Arquitetura e eu faço Medicina.

Costumo me sentir extremamente bem nesses momentos. Enchia a boca para dizer o nome do meu curso, enchia ainda mais para esclarecer que era na AMCA (Academia de Medicina da Cidade de Ansuala), a melhor faculdade de medicina do país.

Mas dificilmente isso acontece. Logo, quando algumas pessoas se juntaram em volta dele, me aproximei e declarei que se afastassem, disse que estava para me formar em medicina. Pronto. Como em um passe de mágica todos fariam o que eu pedisse. Poderia pedir toalhas, água, gelo, suco e até uma massagem nas costas. Eles fariam por mim.

O rapaz caído ao chão tinha braços grossos, era de uma saúde bastante questionável, não haveria como ele ter desmaiado repentinamente sob o sol do meio-dia da nossa cidade. Logo então percebi que havia sangue escorrendo em sua camiseta azul escura. Gritei para ligarem para a emergência, só então toquei nele. Verifiquei os batimentos cardíacos, e depois percebi que o capô do carro estava manchado com uma vermelha marca já seca de sangue.

Ele estava tendo hemorragia externa. Virei-o de costas rapidamente, havia um furo em seu músculo oblíquo externa do abdômen. A hemorragia não iria para. Não havia sinal de tiros, fora uma facada. Sua arteria iria vazar até a morte.

Anna chorava ao meu lado, dizendo coisas que naquele momento eu não consegui prestar atenção. Virei o rosto para ela e disse:

—Anna, não adiantará de muita coisa você ficar aqui falando coisas para mim. Primeiro, ligue logo para a emergência.

Ela limpou as lágrimas do rosto e fez que sim com a cabeça, sacando o telefone do bolso e discando os números com os dedos trêmulos.

O garoto estava quase morrendo. Segurei a cabeça dele para que não batesse no chão, em caso de convulsão. O observava questionando-me com que tipo de pessoa Anna havia se envolvido. Provavelmente ele não havia levado uma facada nas costas por nada, e mesmo que houvesse sido, por que não havia ido ao hospital?

—Alguém traga toalhas, alcool 90% etílico e se possível, traga gaze.

Automaticamente um rapaz alheio da roda que observava entretida com o desastre correu para a loja ao lado. Essa é a magia que eu disse que sinto gosto em possuir: Era o fazer e o acontecer. Tudo que eu queria fariam naquele momento. Tudo pela vida do rapaz sobre minhas mãos.

Enquanto esperava os produtos pude analisa-lo melhor. Automaticamente entendi o porquê de Anna gostar tanto dele. Seus olhos escuros pareciam dois mares negros de puro prazer sádico. Seus castanhos cabelos oleosos estavam penteados para trás, com gel o bastante para lubrificar a palma da minha mão. Seus lábios entreabertos e pálidos eram igualmente sombrios, apesar de manter um contorno definido. Era algo relacionado à medo e desejo.

Me contive para não pensar nada malicioso do rapaz sob meus cuidados, seria um total desrespeito com o inconsciente. Mantive-me analisando o sangue, que escorria pela calçada como se fosse água da chuva, para que talvez assim eu me mantivesse apenas entretido com a tragédia, diminuindo o interesse quase que colossal no rapaz.

Coloquei a mão esquerda sob a ferida. Uma mão apertava o machucado, para que assim o ferimento fosse estancado provisoriamente, e a outra segurava a cabeça dele. Analisei seus batimentos cardíacos. Estavam demasiadamente baixos.

O rapaz havia chego com o álcool, as toalhas e o gaze nas mãos. Pedi à Anna que segurasse a cabeça dele, enquanto eu limpava a ferida e estancava. Tinha de saber se algum vidro ou algo parecido havia sido alojado nos músculos dele.

Primeiramente passei o álcool na mão, limpando todos os resquícios de germes. Depois passei sob a ferida que agora, um pouco mais limpa, pude analisar pressionando os dedos sob ela. Não havia nada tão externo, se algum caco de vidro houvesse sido deixado, provavelmente se encontrava enterrado bem fundo na pele. Então eu o cobri com gaze e mantive pressionadas as veias que ali passavam.

Nenhuma gota de sangue haveria de sair.

Logo a emergência chegou e o rapaz foi levado. Anna insistia para que eu fosse junto, porque segundo ela, Rafael não tinha convênio, e eu sendo um estudante de medicina poderia fazer com que eles o aceitassem provisoriamente no estabelecimento.

Assim eu fiz.

Quando chegamos o rapaz foi levado à emergência e logo sumira de nossa visão e cuidados.

Ficamos ambos aguardando na sala de espera. Depois de cinco minutos conversando com o diretor do hospital, pude convencê-lo de deixar Rafael internado até sua melhoria de graça.

Rafael sobreviveria, a propósito. Mas apesar disso, na sala de espera, Anna ainda permanecia com os olhos baixos e lacrimejando feito um cozinheiro cortando cebola. Ela virou para mim e disse baixo:

—Você foi um ótimo amigo, Sérgio.

—Que nada, qualquer um teria ajudado.

—Não... — Ela disse encostando as mãos na minha perna —Você é um ótimo amigo mesmo!

No mesmo momento percebi, diante dela, suas segundas intenções com aquele toque. Ela me abraçou e sussurrou no meu ouvido:

—Eu te amo. Quero ficar com você.

Como assim? Ficar? Eu não posso! Eu sou gay, e estava tão óbvio. Ela não poderia ter falado aquilo, estava muito óbvio. O jeito que ando, como falo e me comporto. É óbvio que sou gay! Ela já me viu, posso jurar que ela já me viu beijando o meu ex na porta da faculdade.

—Não, Anna. Somos amigos. E além disso, você está namorando o Rafael.

—Sabe!? O Rafael não é nada para mim, tudo que fizemos até hoje foi transar e transar. Ele nunca me amou. Eu não quero isso. Eu iria contar para ele no final do passeio, iria dizer que não daria mais para manter nossa relação... —Foi interrompida por mim, que falei com rapidez.

—E por que não falou antes?

—Porque eu tenho medo! — As palavras dela, por mais artísticas que fossem, pareciam mentira. Um grande teatro que ela fazia todos os dias, eu sempre virá —Você já viu esse garoto? Já viu a tatuagem de cobra que ele tem nessa parte... —ela passou a mão no dorso, na região um pouco abaixo da áxila, não sabia o nome dessa importante parte da anatomia humana —Eu tenho medo dele me seguir e me matar!

—Cala a boca! —Eu disse, nervoso. Tive que respirar fundo por várias vezes para não perder o controle e gritar na sala de espera. Um desrespeito total, eu seria uma vergonha eterna para a Medicina brasileira. —Você falava tão bem dele até hoje. Só porque me viu em ação acha que está apaixonada por mim. Mas não está.

Tudo que ela queria ela tinha... Era manipuladora, egoísta e cruel. Por vezes usava de sua sedução para que os garotos pagassem um jantar para ela na faculdade. Era uma bela garota, e provavelmente pelos modos com que a sociedade a trata, tivera tudo que queria desde a infância.

—Por que não posso? —Ela sussurrou, aproximando o rosto da minha orelha —Você pode fazer o que quiser comigo, Serg... Pode cuidar de mim. Não pode?

—Não! —Disse rapidamente, quase como um reflexo.

—Por quê?

—Eu sou gay!

Silêncio.

Interminável silêncio. Ela me encarava com seus olhos verdes claro. Vi a decepção se alastrando em sua pequena alma pela janela dos seus olhos. Senti suas mãos sendo arrastadas pela minha coxa até ela tira-la de cima de mim. Jogou o cabelo para trás, aquele belo cabelo cor de cobre reluzente e natural foi jogado para trás com apenas um gesto de cabeça.

—Me desculpa, eu não gosto de meninas. Isso dói mais em mim que em você —Eu disse.

—Tudo bem. É como você mesmo disse, ninguém é cem por cento nada. —Ela disse, enquanto pegava a bolsa que descansava sob a mesinha da sala de espera e limpava as lágrimas falsas que desancava em sua bochecha branca.

Uma memória ressurgiu rapidamente, lembrei dos dias de sol em que mantive-me perto de Anna durante nossa infância. Sim, éramos crianças quando nos conhecemos. Ela sempre tivera aquele cabelo, e quase sempre a mesma voz. Até quando crescera permaneceu com a voz suave e doce de uma criança. Lembrei quando disse, no ouvido dela perto do bosque no quintal de nossas casas "Ninguém é cem por cento nada!".

Fui acordado da memória. Ela dissera, enquanto colocava a bolsa no ombro e mandava um sorriso largo e branco:

—Quando Rafael tiver alta, diga a ele que terminamos.

(Digam se quiserem a continuação. Obrigado <3)

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Comentários

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Precisamos de historias boas,então continua...

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So um detalhe... Nao existe veia arterial... Ou e arteria ou e veia

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Continua, descreve eles, um bad boy e um médico bonzinho...

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