Eduardo Freire chegou no Aeroporto de Guarulhos pontualmente às 20:05 h. Ele rapidamente passou pelo desembarque e seu motorista já esperava com uma placa com seu nome...
Ele entregou sua bagagem ao rapaz e logo perguntou:
_ Onde esta o Azevedo?
_ Meu pai me mandou em seu lugar, por conta de problemas de saúde, Senhor.
_ Entendo. Você sabe que ficarei no apartamento do Morumbi, certo?
_ Sim senhor. Todo o roteiro de sua permanência aqui em São paulo, já me foi passado. Devo acrescentar que farei o melhor.
Esse pequeno diálogo foi travado enquanto Dudo seguia pelo saguão do Aeroporto, até o local onde o carro estava estacionado. Já no interior do veículo, ele tornou a falar com o rapaz...
_ Desculpe rapaz, qual seu nome?
_ Jano Sales, Senhor.
_ Um nome realmente incomum... Teria algum significado?
_ Meu pai disse que é o nome de um deus da mitologia romana... Papai me explicou que trata-se de um deus que cuida das portas do céu tendo dois rostos, um virado para o passado e outro para o futuro.
_ Poxa que coisa surpreendente. Parece até providencial sua vinda no lugar de seu pai. Você seria capaz de ver meu futuro? E Dudo deu um riso meio nervoso.
_ Não senhor, eu faço faculdade de jornalismo, nada seu sobre isso.
_ Bem que eu gostaria de saber o que me acontecerá nos próximos dias.
_ Se interessar, posso levar o senhor uma mulher que dizem ser uma bruxa que sabe da vida de todo mundo e você nem precisa falar nada, só em bater o olho, a velha já vai dizendo tudo...
_ Não Jano, deixa quieto. As vezes é melhor ter uma certa cautela, a boa e velha dose de paciência...
_ Perfeito Senhor. E o jovem motorista limitou-se a dirigir até o Bairro do Morumbi, enquanto seu patrão voltava a se perder em pensamentos.
Finalmente Eduardo se viu na segurança da sua cobertura e foi dar uma olhada no lugar. O apartamento estava tal qual ele lembrava desde a última vez que estivera ali... Era bem amplo, ricamente mobiliado sem exageros, tinha uma vista privilegiada, e com certeza era um verdadeiro oásis naquele selva de pedra.
Após o banho ele ligou para alguns amigos avisando que estava na cidade e de imediato vários convites para sair eram feitos... Ele educadamente recusou todos e após comer um excelente jantar, fez a ligação que passara o dia todo no seu pensamento e na sua vontade.
_ Boa noite, posso falar com o Rick?
_ Boa noite... O Rick deu uma saída. Posso te ajudar?
_ Acho que sim, se pudesse me dizer onde posso encontrá-lo... Você saberia dizer?
_ Sim, ele com certeza esta numa academia aqui perto, pois quando ele não ta atendendo algum cliente, ele procura se cuidar cada vez mais.
_ Então nesse caso ele volta pra casa e talvez fique por aí?
_ Isso pode acontecer sim. Quem esta falando?
_ Apenas um amigo.
_ E devo dizer algo, caso ele chegue por aqui? Você quer deixar algum recado?
_ Eu gostaria de saber o endereço da tal Academia.
E uns quinze minutos após falar com Nilo, Dudo já estava juntamente com Jano a caminho da tal academia no bairro da aclimação.
O lugar era bem localizado e bem equipado. Para o horário, ainda estava cheio de praticantes de várias modalidades esportivas e ao entrar na recepção do lugar com roupas apropriadas, Dudo foi interpelado por uma linda jovem...
_ Boa noite. Sou Aline, posso te ajudar?
_ Boa noite Aline, me chamo Eduardo, e estou a procura de uma amigo que me informaram esta aqui.
_ Você então pode entrar e após subir esse primeiro lance de escadas, entrará no amplo salão onde fica a área de musculação, boa sorte Eduardo.
_ Obrigado Aline.
Com o coração já começando a acelerar, Dudo subiu as escadas e deu no salão que Aline falara e nada de encontrar Heitor. O prédio tinha três andares e em nenhum deles, seu garoto foi visto. Ele refez o caminho e quando já estava quase desistindo, Heitor estava olhando pra ele através do grande espelho do segundo andar.
O momento inicial para Heitor, foi de incredulidade. Já o momento seguinte, trouxe um sentimento de raiva que ele julgava estar no passado e morto, só que na verdade tinha sido trazido para o presente uma vez que apenas adormecera.
_ Olá, Heitor. Disse um Dudo cheio de expectativa.
_O que você esta fazendo aqui?
_ Será que não esta bem claro o que estou fazendo aqui? Vim atrás de você... Isso responde à sua pergunta? Ou você prefere que eu diga, te amo e volta pra mim, assim no seco? Eu juro que não me incomodaria em dizer, mas, será que você acreditaria em mim?
Heitor apenas virou e olhou de frente para Eduardo...
_ Nada que disse a você no passado mudou. Eu morri no dia em que você me entregou pra polícia, e acredito ter deixado isso bem claro pra você da última vez que tive o desprazer de falar com você uma última vez na casa de minha Vó Rosália.
_ Eu ouvi sim, e é por isso que estou aqui e estarei em qualquer lugar que me leve até você. Será que a gente poderia conversar em outro lugar? Acho que esse lugar não é muito conveniente.
_ Você tem razão, só que não tenho mais nada a acrescentar ao que já disse...
_ Heitor, olha pra mim... Entende o meu lado, por favor. Quantas vezes eu terei de pedir perdão a você? Só te peço que saia comigo daqui e a gente converse pelo menos uma última vez se essa for realmente a sua vontade.
_ A minha vontade é que você saia daqui e me deixe em paz, me deixe seguir minha vida longe daquele lugar que apesar de lindo, se mostrou tão feio no final...
_ Eu posso levar você pra qualquer lugar do mundo, basta dizer...
_ O lugar feio não é Recife, cara. O lugar feio foi estar ao seu lado no final e ser acusado por você de algo que jamais imaginaria em praticar. Isso é que foi feio, horroroso, terrível. Você não sabe os horrores que passei naqueles quatro dias dentro daquele lugar fedido e quente, junto de pessoas que já haviam perdido a própria dignidade, tendo que me humilhar pra poder beber água...
_ Me deixa reparar esse erro, Heitor.
_ Não há nada pra reparar, Senhor. O que foi feito e o que vivi, não voltarão mais. Eu me sinto um cara marcado.
_ mais você não é. Eu amo você. Vou sair agora e vou te esperar lá fora. O meu carro ta aqui na frente e leve o tempo que for, só saio daqui ou só vou embora daqui depois de falar com você.
Dudo não esperou a resposta de Heitor, virou e rapidamente desceu a escadaria e logo passou pela recepção onde voltou a cumprimentar Aline...
_ Encontrou o seu amigo, Eduardo?
_ Encontrei sim Aline. Ele logo virá, vou esperar lá fora. Obrigado... E após a jovem responder, ele saiu da academia e ficou esperando encostado ao carro, onde Jano já estava.
Heitor demorou apenas uns vinte minutos, tempo em que tomou um rápido banho e vestiu uma outra roupa, calça jeans clara, camiseta vermelha, tênis e como único adereço, a mochila nas costas.
Dudo havia pedido para que Jano esperasse dentro do carro enquanto ele voltava a falar com Heitor...
_ Me deixa te dar pelo menos uma carona... E já foi abrindo a porta traseira do lado direito do carro, dando passagem ao garoto.
_ Me diz apenas o que você quer de mim, cara.
_ Entra e te darei qualquer reposta que estiver a meu alcance.
E os dois finalmente entraram, e o carro saiu pela noite fria da capital paulista.
Jano já sabia que tinha que retornar ao Morumbi e nada falou com o patrão. Os dois no banco de trás, nada falavam. O silêncio era quase palpável. Quase uma hora depois, finalmente chegaram ao apartamento de Eduardo.
A subida até a cobertura foi mais silenciosa ainda. Heitor andou ao lado de Eduardo durante todo o percurso e assim que os dois entraram, Heitor deu cinco passos, parou e girou para encarar Eduardo que o olhava com verdadeira adoração.
_ Obrigado por você ter vindo, melhor, ter aceitado vir falar comigo. Você quer beber alguma coisa? água, suco, refrigerante ou qualquer outra bebida?
_ Não senhor, não quero nada, obrigado... Quero apenas saber o que realmente você quer de mim...?!!!
_ Seria verdade se dissesse em uma palavras o que quero... Você. Só que faz tempo que sei, que perdi esse direito. Você me fez ver, que eu mesmo perdi esse direito... Mas eu preciso fazer você entender que todas as pessoas merecem uma segunda chance e se houver verdade naquilo que você se propor a fazer, você merece uma terceira, uma quarta, uma quinta, até mesmo uma milésima chance...
_ Pra você é simples assim? Ou só foi simples no meu caso por conta do que sou?
_ E o que você é? Ou julga ser?
_ Eu sou um Garoto de Programa que...
_ NÃO HEITOR, você é apenas um garoto lindo, que viu nesse tipo de atividade, um caminho pra poder sobreviver e que faz disso um escudo por temer sentir o que você sente aí dentro... por mim...
_ Sentir por você? Não seria melhor você dizer o que senti há muito tempo por você?
_ Não faz tanto tempo assim não, meu...
_ Meu??? Do que você me chamaria? Amor? Amado? Amigo?
_ Amor seria a única palavra que caberia ao final de minha frase, pois é exatamente assim que eu vejo você em minha vida, sendo o meu amor...
_ Bonita essa sua história, né? E os dois viveram felizes para sempre, terminaria assim também?
_ Se você acreditar que ainda é possível, sim, terminaria exatamente assim...
_ E o que eu faço com o passado que também não esta tão distante? E como poderei te encarar pela manhã, sentindo o cheiro daquele maldita delegacia de polícia lá em Boa Viagem? E como acordar a seu lado numa bela manhã de sol, depois de uma noite péssima de sono depois que varias baratas e alguns ratos caminharam sobre mim durante três dias? Como tomar banho na sua piscina, sentindo uma sede insaciável? NÃO, SENHOR... NÃO DÁ PRA APAGAR NADA DISSO... ENTENDA...
Eduardo apenas olhava o belo rosto do garoto que agora chorava olhando fixo em sua direção...
_ Eu não nego que amei você, não nego que estava muito feliz a seu lado... Por alguns momentos deixei de me sentir como um pedaço de carne no açougue. Você causava tudo isso em mim, só que... Só que suas palavras ainda falam comigo toda santa noite... Toda maldita noite em que me deito com outro homem, em cada momento em que sou usado por alguém em troca de dinheiro...Sempre que meu telefone toca e sou contratado por algum cara afim de trepar... E vejo que você estava certo em pelo menos uma coisa, eu era e sou um maldito, nojento e imundo Garoto de Programa.
_ NÃO... Dizer aquilo foi insano... Entenda o meu momento Heitor... Se coloca em meu lugar... Será que você não faria o mesmo? Não diria o mesmo? Não duvidaria do mesmo jeito que duvidei de você? Olha pra mim agora e me diz o que você vê...
Heitor nada dizia e isso de certa forma angustiou mais ainda Eduardo...
_ Pois vou lhe dizer o que você vê... Um cara infeliz... Um cara que por ser tão imaturo, deixou escapar uma bela história com alguém que ele amava por conta de uma tragédia pessoal... É inegável que você também não me veja como uma vítima que sofre duas vezes o mesmo infortúnio de uma mesma tragédia... Perdi um irmão que apesar dos pesares era alguém que um dia me ajudou muito no passado e perdi você, o garoto mais formidável e legal que tive privilégio de encontrar nessa vida... E você vê também que ele esta arrependido do que fez, do que disse, só que por alguma razão ele terá que sofrer um pouco mais ou mesmo pra sempre ou mesmo até aprender que certas coisas não devem ser feitas ou ditas... Só que ele já sabe disso há muito tempo, com certeza, desde o dia em que ele deixou o amor ir embora tornando o riso muito mais triste.
_ Eu não consigo ver nada disso... Eu só consigo ouvir você dizendo aquelas malditas palavras uma, duas, três, quatro...
_ Por favor pára com isso, não precisa você se magoar mais ainda... Eu já entendi o que você mesmo sem dizer, já disse... Acabou, né mesmo? Eu jamais terei direito a uma segunda chance, né mesmo? E agora, Heitor? O que será que eu tenho que fazer agora? Quando é que você vai enxergar o grande mal que esta me causando agora mesmo? Você acaba de empatar o jogo... Sabia disso? E agora, o que a gente faz? Você vai embora e eu volto pra casa? Simples, assim? Choramos cada um num canto qualquer dessa vida e foda-se todo o resto?
Eduardo andou até o bar, voltou com um drink na mão, bebeu um bom gole do copo e olhando para Heitor, disse:
_ De hoje em diante você pode estar certo de que nunca mais voltarei a te importunar. Que você faça bom proveito da sua vida e do seu corpo, afinal de contas, eu também lembro das palavras que você me disse lá na casa da sua Vó Rosália... Não vou desejar nada de bom ou de ruim a você, só espero que você faça a coisa certa e consiga tudo o que sempre sonhou... Agora se você me der licença, eu tenho que dormir pois amanhã bem cedo, estarei voltando para o lugar de onde jamais deveria ter saído.
Eduardo andou novamente até a porta, abriu, e deu passagem ao lindo garoto que um dia, havia lhe conquistado eque num piscar de olhos, havia mandado ele pra puta que pariu sem escala e sozinho...
_ Eu apenas, queria...
_ FORA DAQUI...
Após o susto inicial, Heitor respirou fundo, ergueu a cabeça, ajeitou a mochila nas costas, e a passos largos, saiu da cobertura de Eduardo Freire.
Eduardo foi até a varanda após fechar a porta e contemplou a noite... Ela estava escura, tal qual sua alma.
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OLA MEUS QUERIDOS... AMANHÃ TEM MAIS... NOS FALAMOS ASSIM QUE TIVER UM TEMPINHO A MAIS... O AMOR CONTINUA IGUAL POR CADA UM DE VOCÊS... BEIJOS, NANDO MOTA.