Guilherme nao foi tão mal no teste, como eu esperava. Suas maiores dificuldades eram em Geografia e Lingua portuguesa, de resto seu aprendizado era razoavel, quase baixo. Trabalhariamos primeiro nas suas dificuldades mais urgentes.
- Chega por hoje, nao?_ disse ele se espreguiçando depois que corrigi seu teste_ Fiquei cansado. Quase onze e meia da manhã, Edu!
Ouvi-lo me chamar assim, tao despojadamente, causava uma especie de arrepio estranho em meu corpo. Eu, sinceramente, esperava mais rebeldia dele durante nossa aula, mas para uma primeira vez ate que foi bom. Talvez tudo o que ele precisasse era de um pouco mais de paciencia e firmeza.
- Vou deixar marcado aqui no seu livro algumas materias para voce estudar, certo? - disse, marcando as paginas com um papelzinho dobrado - Na proxima vez quero a liçao na ponta da lingua.
- Minha lingua aprende rapido - disse ele com uma risada maldosa, me olhando.
Meu rosto esquentou na hora e ele, percebendo isso,segurou um risinho debochado, levantando -se e indo mexer no radio que chiava, acertando a frequencia.
- O que vai fazer depois que sair daqui? - indagou ele, sem me olhar - Esta um sabado bonito, bom para passear, ou namorar... Voce tem namorada?
- Nao. Voce tem?
- Certamente nao - respondeu o Gui, segurando o riso outra vez - Acho que a unica mulher que admirei em minha vida toda foi a Marilyn Monroe. Todas as outras ou sao feias,ou megeras ou vadias.
As vezes sua linguagem chula me chocava, ainda mais que pouco combinava com seu jeito suave, com seus movimentos de cisne ali no quarto. Ele todo delicado como uma flor branca de lagoa, e quando queria era agressivo, boca -suja, indomavel como um unicornio. Mas quando eu vi um unicornio? Em sonho? E se o Gui tambem fosse um sonho? "Em que estou pensando, Deus... ", refleti num susto.
- Sabe que aquela duvida do filme dela sempre me intrigou? - disse ele jogando -se na cama sem o menor pudor, abraçando uma almofada e me fitando - Os homens preferem mesmo as loiras?
"Os loiros", pensei num devaneio.
- Nao sei, Guilherme. Eu... bem... - me atrapalhei um pouco, olhando o relogio - Eu preciso ir, esta dando a minha hora. Espero que voce estude as materias... Nao farà isso por mim, ou por seus pais, mas por voce mesmo. Tente se esforçar.
Ele nao respondeu, continuava me olhando de um jeito estranho, como se estivesse me desvendando e achando a maior graça do que tinha descoberto. Colocou a almofada debaixo da cabeça e deitou de costas ,as pernas abertas, sorrindo quase que sutilmente. Outra vez aquela lingua vermelha dele dançou por seus labios, mas apenas a pontinha que ele mordeu de leve antes de recolher. Fogo. O braseiro aceso dentro de mim ganhava chamas de incendio.
- Volta quando, Edu? - indagou ele num tom baixo.
- Quarta -feira... - respirei fundo, pigarreando - À tarde, no horario da minha folga na escola... Esteja a postos aqui.
- Vamos ver. Nao prometo nada, jà disse.
- Tente, ao menos. - abri a porta, procurando nao olhar pra ele - Tchau, Guilherme.
- Tchau, Edu.
Desci meio apressado, querendo sair logo dali, porem na sala tive ainda de explicar à mãe do garoto sobre a situaçao do aprendizado dele. Ela me achou um pouco "desnorteado", e quis saber se nao era por causa de alguma malcriaçao do Gui, o que neguei, dando uma desculpa qualquer. Queria ainda que eu ficasse para o almoço e conhecesse o pai do menino (um diretor executivo de uma empresa da capital) ,mas agradeci o convite, me esquivando educadamente.
Demorei para chegar em casa. Minha cabeça rodava, parecia que eu tinha bebido um copo de rum ate à borda. Isso, contudo, nao impediu que eu me trancasse no banheiro e evocasse a imagem celestial daquele anjo caido, com sua sensualidade quase vulgar e extremamente envolvente. Devo ter gastado uma meia hora no banheiro, porque demorou a "esfriar" a coisa toda. Nunca senti um desejo tao forte, tao violento assim.
Aproveitei e tomei um banho, já que o ato solitario me deixou molhado de suor. A consciencia pesou: seria eu um tipo de pervertido? O moleque era pouco mais que uma criança, apesar de sua evidente malicia. Se insinuava quase que abertamente, feito uma vagabunda. Talvez fizesse aquilo com todos. Talvez fosse mais rodado do que o carrinho do sorveteiro.
Melhor esquecer. Meu negocio devia ser falta de homem, mesmo, falta de uma boa noite com algum. Ultimamente Leandro andava tao frio comigo, o sexo estava ficando coisa rara entre a gente. O desgraçado devia era estar bem alimentado pelo Raul, isso sim. Aquele velho... Era um coroa boa pinta, claro, mas eu era jovem, bonito com meus cabelos pretos e lisos, sem barba, sequer aquelas costeletas ridiculas que andavam usando agora. Vestia -me bem, tinha porte, bom corpo, bons dentes... Olhando por esse lado nao dava para entender a escolha dele. Se eu fosse comunista Leandro ainda estaria comigo? Ainda me amaria?
Passei a tarde corrigindo provas e elaborando liçoes para passar na segunda-feira. Depois disso feito, nao houve jeito: o menino nao me saiu mais da cabeça, num tipo de pensamento fixo, sem controle e insuportavel. Onde eu estava começando a me meter!
*
*
*
Cometi a "proeza" de, na pressa, errar meu proprio endereço de email. Foi mal, rs
aline.lopez844@gmail.com
Este e ' o certo. Quem quiser, me escreva que respondo *-*
Obrigadissimo, opinem e ate a proxima!