Pagando a dívida do papai
Eu caminhava, envergonhado e cabisbaixo olhando para os meus pés, entre aquele bando de autoridades e seus convidados com a sumária tanguinha vermelha, quase uma calcinha, e um pequeno avental branco rendado que, pela transparência, deixava entrever meu sexo mal acomodado. As bebidas distribuídas nos copos que estavam sobre a bandeja que eu carregava, chacoalhavam até entornar, pois meus braços e mãos tremiam como se eu estivesse sob o efeito de uma febre terçã. Meus olhos estavam úmidos, e eu me esforçava para engolir o choro, temendo que minha atitude voltasse a provocar a ira daquele homem.
E pensar que esse meu calvário começou a pouco mais de duas semanas, num final de manhã de domingo, bastante quente para aquele início de primavera, depois de um simples acidente de trânsito onde, infelizmente, meu pai colidiu nosso carro, já bastante rodado, contra o para-choque traseiro da picape do delegado regional da pequena cidade do interior onde moramos. Talvez o desfecho tivesse sido outro se meu pai, na ocasião, não tivesse acabado de sair de um bar onde costumava jogar pebolim com os amigos, e tomado uns copos de cerveja. Ele não estava embriagado, pois seu caráter não se coadunava com esse tipo de comportamento, mas para dar importância aos pequenos estragos que a colisão provocara, mais no nosso carro do que no para-choque da picape e, querendo fazer valer todas as prerrogativas que seu cargo lhe atribuía, o delegado elevou aquele incidente banal ao nível de um crime atroz, ao perceber que o hálito do meu pai rescindia a malte fermentado. Fomos notificados do ocorrido por meio de um policial civil que apontou na entrada da rua com a sirene da viatura ligada, numa velocidade compatível ao de uma perseguição a criminosos, chamando a atenção de toda a vizinhança. Quem o recebeu no portão foi minha mãe, que voltou para dentro de casa aos prantos. Como o mais velho dos três filhos, coube a mim acompanha-lo até a delegacia, na mesma pressa com que aportara em nossa casa, cruzando as principais ruas da cidade com a estridente sirene ligada, e o policial efetuando manobras como se estivesse numa pista de corridas.
- Infelizmente seu pai alcoolizado abalroou um veículo, num acidente que poderia ter tido consequências funestas. Por isso foi necessário detê-lo. Estamos instaurando um inquérito e será estabelecida uma fiança para podermos liberá-lo, até que ele responda ao processo em liberdade. Além disso, há a necessidade de reparar o dano causado ao outro veículo. – discursou o delegado, depois de me deixar aguardando por mais de uma hora.
Enquanto desenvolvia as frases com a mesma lentidão em que se organizavam seus pensamentos, aquele homem de meia idade, de aspecto asqueroso, que os fios de cabelo emplastado restantes, cobrindo a nuca, e um acúmulo de saliva nos cantos dos lábios, deixava ainda mais repugnante, seu olhar malévolo me escrutinava de cima abaixo, quase sem mover aqueles olhos pardacentos profundamente alojados nas órbitas e cercados por grandes olheiras escuras. Os valores estipulados, tanto para a fiança, quanto para os supostos danos a seu veículo estavam muito acima do razoável. Um riso irônico moldou a expressão de sua boca quando eu argumentei que não tínhamos condições de fazer estes pagamentos.
- Então deixaremos seu pai curtindo umas férias atrás do xadrez, isso o ensinará a não dirigir bêbado por aí, expondo nossos cidadãos aos perigos de um trânsito tão violento. – proclamou, querendo dar por encerrada a discussão.
- Não seria o caso de fazer-se um teste com bafômetro e verificar se ele está realmente alcoolizado? – voltei a insistir, achando abusiva a conduta adotada.
- Estas modernidades ainda não chegaram ao distrito. Ademais, a lei me faculta enquadrá-lo apenas pelo odor etílico. – respondeu, sem olhar em minha direção. – Se você não tem como pagar a fiança, acho melhor procurar um meio de fazê-lo longe daqui, estamos entendidos? – acrescentou carrancudo.
- Mas ele é um pai de família! É um homem honesto e nunca foi preso! – exclamei inconformado. – Deve haver algo que eu possa fazer para tirá-lo daqui, e assim poderemos dar um jeito de juntar a quantia pedida e consertar seu veículo. – emendei, com a voz suplicante.
- Ele que pensasse na família antes de encher a cara por aí. – grunhiu lacônico. – Arranje um advogado e talvez ele consiga tomar as providências para libertá-lo. – adicionou sarcástico.
Havíamos nos mudado há pouco mais de dois anos, depois que meu pai foi aposentado precocemente devido a uma obstrução pulmonar crônica adquirida ao longo dos anos em que trabalhou numa siderúrgica. O valor da indenização trabalhista permitiu que comprássemos a casinha onde morávamos e a aposentadoria nos obrigou a procurar uma cidade menor. Para completar a renda familiar minha mãe passou a aceitar encomendas de costuras, e eu ao acabar de completar dezoito anos consegui um emprego no cartório da cidade. Não sobrava grande coisa para qualquer tipo de luxo ou extravagância, mas vivíamos dignamente com os parcos rendimentos que conseguíamos. Não tínhamos parentes ou conhecidos na cidade que nos pudessem amparar, e eu me preparei para conseguir um empréstimo, junto a algum banco ou financeira, na segunda-feira, durante meu horário de almoço.
Apesar do movimento intenso no cartório, o expediente matinal parecia não ter fim. Eu consultava as horas repetidas vezes, e constatava que os ponteiros do relógio na parede atrás da escrivaninha do tabelião, mal haviam se movido. O tabelião me encarava toda vez que eu consultava o relógio, e chegou mesmo a mencionar minha desconcentração nas tarefas. Ao meio dia em ponto saí correndo em direção às duas agências bancárias da cidade, que distavam pouco mais de dois quarteirões do cartório na avenida principal que cortava a cidade.
Os baixos rendimentos e a pouca garantia que eu tinha a oferecer foram os motivos alegados para a não concessão do empréstimo. Não conformado com as negativas, procurei a única financeira da cidade, que tinha a fama de conceder os pequenos financiamentos a juros escorchantes que, no geral, e ao fim de algum tempo, obrigavam a pessoa a refinanciar a dívida. Mas eu não estava em condições de abrir mão de qualquer possibilidade que se apresentasse. Eu perdera completamente a fome quando saí da loja com a mesma recusa a tilintar nos meus ouvidos, e caminhei apressadamente de volta ao cartório, ignorando o sol esturricante e o calor úmido, que fez gotas de suor brotar nas minhas têmporas e nuca.
Retomei o trabalho mais distraído do que pela manhã. Eu me sentia mergulhado num abismo profundo e sufocante do qual não conseguia sair. Enquanto eu procurava uma solução para obter o dinheiro necessário para a fiança e o conserto, o tabelião me chamou até uma sala nos fundos do edifício, usada normalmente para acomodar aqueles livros que já estavam completamente escriturados e compunham o arquivo histórico das atividades do cartório. Ao entrar na sala me deparei com o delegado sentado numa poltrona ao lado de uma mesa atrás da qual o tabelião balançava o espaldar de uma cadeira giratória. A conversa entremeada de risadas que podiam ser ouvidas do corredor que levava até a sala, se interrompeu assim que entrei no recinto.
- Feche a porta e sente-se! – disse o tabelião, apontando para uma banqueta sem espaldar que estava diante da mesa onde ele se encontrava. – O doutor delegado está precisando ter uma conversa com você. Espero que você preste muita atenção nas palavras dele. – acrescentou, dando à voz um tom autoritário, que a expressão facial contradizia, ao esboçar um riso apaspalhado e contido.
- Bem! Eu vim aqui comovido com a sua situação, quero dizer, a situação da sua família. – começou, depois de limpar a garganta com um pigarrear estridente. – Sei que vocês terão dificuldade para levantar o montante necessário para corrigir a cagada do seu pai. E por isso, estou disposto a ajuda-lo, permitindo que você parcele esse pagamento com um trabalhinho extra, fora do seu expediente no cartório. Esse trabalho será feito em finais de semana que eu mesmo agendarei e te comunicarei com antecedência. – recitou, naquele mesmo tom modorrento que usara na delegacia.
- Fico muito grato por sua bondade, pois acabo de voltar dos bancos onde me rejeitaram um empréstimo, e assim fica mais fácil para eu pagar o que devemos. – articulei aliviado, na inocência dos meus poucos anos de vida e da total ignorância da crueldade humana.
- Depois de você ter liquidado suas dívidas, esse trabalhinho pode até servir para você contribuir com mais alguma coisa na sua casa. – intrometeu-se o tabelião, como se estivesse sabendo de todos os detalhes do ocorrido, mesmo eu não tendo mencionado uma palavra sequer a respeito.
- Exatamente! Essa ajuda pode ser muito benvinda para sua família. – corroborou o delegado, enquanto os dois se entreolharam numa cumplicidade aterradora.
- E que tipo de trabalho seria esse? – perguntei interessado, como se os céus tivessem me enviado a solução do que me afligia e oprimia o peito.
- É algo bastante simples. Tenho a certeza de que você se sairá muito bem no desempenho das funções. Você é um garoto novinho, pelo que seu chefe me disse muito responsável e prestativo, o que aliado a sua índole gentil vai fazer toda a diferença. Trata-se de servir uns coquetéis e umas comidinhas, vez ou outra pode aparecer um trabalhinho um pouco diferente, mas sempre nessa linha, durante umas festas. – esclareceu, medindo as palavras que empregava, como que para omitir uma realidade não tão frugal quanto a que ele queria deixar transparecer.
- Uma espécie de garçom! – exclamei ingênuo.
- Isso mesmo, uma espécie de garçom. – repetiu, sentindo-se aliviado por eu mesmo ter conseguido definir o trabalho. – Além de você ter o transporte gratuito até o local destas festas, ou melhor, encontro entre amigos, vamos chamar assim, também não vai precisar se preocupar com a alimentação. A grana é livre de qualquer – continuou, agora mais confiante.
- E depois que sua dívida estiver paga, esse bico pode complementar o salário que você recebe aqui, tanto para ajudar sua família, como para seus próprios gastos. – incentivou meu chefe, não deixando nenhuma dúvida de que estava mancomunado com o delegado nesse negócio.
- Está bem, sendo assim eu concordo. – anuí, mesmo por que eu não via outra possibilidade de arranjar essa grana. – E quando devo começar? – perguntei, diante de um sorriso de satisfação estampado nos semblantes dos meus interlocutores.
- Eu mando avisar quando seus serviços serão necessários. – falou o delegado, antes de dar a conversa por encerrada e me dispensar com um gesto de anuência por parte do tabelião.
Os dois permaneceram trancados na sala por mais uns vinte minutos depois que eu voltei para minha mesa. Embora eu me sentisse um pouco mais aliviado por uma solução ao meu problema ter surgido, ainda não conseguia sentir aquela tranquilidade de antes daquilo tudo começar. Mas tratei de me concentrar no trabalho, deixando para a hora certa as preocupações com essa nova atividade, afinal de contas, o próprio delegado dissera que se tratava de um serviço simples.
Os dois finais de semana seguintes vieram e assinalaram o final daquele mês de setembro. No meio da primeira semana de outubro, meu chefe me chamou pouco antes do final do expediente, comunicando que o delegado havia ligado, deixando o recado para eu ficar de prontidão por volta das dezoito horas do sábado, pois o transporte viria me apanhar na porta de casa.
Eu estava um pouco ansioso, por isso logo depois das dezessete horas do sábado eu já aguardava a carona, de banho tomado, um jeans e uma camiseta descompromissados, e um devotado esforço para domar meus cabelos lisos num penteado casual. Menos de dez minutos depois do horário combinado, um carro da secretaria municipal de assistência social, como se lia nas portas dianteiras do veículo, estacionou em frente ao portão. O motorista, um sujeito pardo, um pouco acima do peso, de óculos escuros, desceu para tocar a campainha. Ele respondeu ao meu cumprimento com um grunhido indecifrável, e abriu a porta traseira, atrás do próprio assento, para que eu entrasse. No carro já estava outro rapaz, mais ou menos da minha idade, no banco do carona; e duas mulheres, uma mais jovem de olhar arregalado, cuja fisionomia não me era estranha, e a outra na casa dos trinta e poucos anos, cujos trajes sumários restritos a um curtíssimo short jeans bordado com lantejoulas, e um bustiê amarelo cítrico que mal continha suas imensas tetas estriadas. Um linguajar chulo e uma voz que mais parecia um cacarejo, não deixavam dúvidas quanto à profissão desta última. O perfume pesado, que não combinava com o ar denso e quente daquele final de tarde, invadiu minhas narinas quando a prostituta escorregou para o centro do banco deixando o lugar ao lado da janela livre para eu me acomodar.
Rodamos cerca de quinze quilômetros por uma estrada de chão batido, até uma chácara nos arredores da cidade, que já ouvira falar, era de propriedade do prefeito. O motorista estacionou numa lateral da espaçosa casa avarandada, cercada por arbustos fechados, espatódeas e acácias mimosas floridas. Uma mulher, já passada dos cinquenta, nos aguardava junto à soleira da porta que dava na cozinha, e com um gesto teatral dos braços nos indicou a passagem como um cerimonial de boas-vindas.
- Meu nome é Zuleika. – apressou-se a dizer, depois que o grupo se enfileirou a sua volta num semicírculo. – Você Jaqueline e você Viny, já conhecem o esquema, e é bom que se lembrem de tudo direitinho para evitarmos problemas, certo? – emendou, com seu vozerio rouco, de quem cultiva o hábito de fumar desde há muito. – E, quanto a vocês dois novatos, quero que prestem muita atenção no que vou explicar, pois não tenho tempo, e nem saco, para ficar repetindo as instruções. Estamos entendidos? – concluiu, lançando um olhar que me pareceu um misto de pena e desprezo, em minha direção e na da moça que veio calada todo esse tempo.
Depois disso seu discurso se voltou exclusivamente para nós dois, como se fossemos os mais imbecis do grupo. Além de mostrar o que devíamos fazer, e como se comportar, sem jamais revidar a algum comentário dos hóspedes, e determinou praticamente até a maneira pela qual estávamos autorizados a respirar. Exatamente quando ela falava dos uniformes que deveríamos usar, já estando inclusive com eles nas mãos, o delegado entrou na cozinha por outra porta que dava para o interior da casa. Ela imediatamente deixou a postura arrogante que vinha usando conosco, para se desfazer em mesuras servis diante dele.
- Boa tarde, doutor! Eu estava explicando o serviço para os novatos. O senhor deseja alguma coisa? Quer que lhe sirvamos alguma bebida? – inquiriu, num tom de voz melífluo e adulador.
- Isto é para você! Quero que use agora! – sentenciou o delegado, me entregando uma caixa envolta num discreto papel turquesa e arrematada com uma fita prateada. Ele nem sequer se dignou a olhar para a Zuleika e os demais, ignorando inclusive as palavras dela, apenas me encarou com um olhar estranho.
- Ai bicha! Você começou bem, querida! – miou Viny, entre um risinho maldoso, assim que o delegado desapareceu pela mesma porta em que entrara. – Quisera eu que um desses bofes me desse um presente! – exclamou invejoso.
- Cale-se, seu idiota! – Mal chegou e já quer arrumar confusão. – ralhou Zuleika, reassumindo sua postura autoritária. - Agora se mecham seus molengas! E você, entre naquele quartinho e vista-se, é evidente que você está dispensado do uniforme. – falou, dirigindo-se a mim com mais complacência.
Antes que eu desse o primeiro passo em direção ao quartinho que ela me apontou, vi que uma perua da secretaria municipal da educação estacionou ao lado do carro no qual viemos, e dela desceram mais quatro jovens, um pouco mais discretas do que a prostituta que viera conosco, mas que pelo comportamento, compartilhavam da mesma profissão. Eu me perguntava que tipo de ambiente seria aquele, e me intrigava ao tentar adivinhar que tipo de serviços aquele grupo bizarro faria naquele lugar, temia que minhas suspeitas se concretizassem, enquanto refletia sobre a facilidade com que esse trabalho me fora oferecido, e desembrulhava o pacote que o delegado me entregou. Cheguei a fechar e abrir os olhos umas três vezes, para me certificar que eles não estavam me enganando, que o conteúdo daquele pacote era realmente destinado a mim. Envolta num papel de seda branco, uma calcinha vermelha, no formato de um biquíni fio dental, exibia uma borboleta de asas abertas bordada sobre um triangulo ínfimo de uma espécie de tule transparente na parte da frente, do qual saiam duas tiras estreitas que se uniam num outro triangulo, bem mais cavado, na parte traseira da peça.
- Dona Zuleika! Acho que o delegado me entregou o pacote por engano. Tem uma calcinha dentro dele. – falei, enfiando a cara pela fresta da porta entreaberta.
- E você espera um fraque. Ande logo com isso, temos que começar a servir dentro de alguns minutos. – berrou ela, com uma expressão de preocupação transfigurando seu rosto.
- Mas eu não vou usar uma coisa dessas. É melhor a senhora me arranjar o uniforme! – exclamei, indignado.
- Olha aqui, seu bosta! Eu já disse que é para você terminar logo com essa enrolação. Não me faça chamar o Everaldo para te enfiar essa merda no cu. – exasperou-se, esbugalhando os olhos de irritação. – Se o delegado quer que você desfile por aí de calcinha, você vai desfilar de calcinha. Eu não frisei bem que não quero ouvir vocês revidando a qualquer coisa que os hóspedes disserem? – continuou, como se soubesse das consequências de uma ordem não cumprida.
- Deixe-me falar com ele, eu mesmo vou esclarecer esse engano. A senhora não precisa se preocupar com nada! – insisti, inconformado por ter que usar uma coisa daquelas.
- Puta que o pariu! ... Evaldo! – gritou, na direção da porta, onde a figura do motorista que nos trouxe, se materializou segundos depois. – Esse babaca está demorando a cair na real, e daqui a pouco sou eu que vou pagar o pato. – ganiu em desespero. – Veja se o convence a vestir essa porra antes que sobre para todo mundo. – acrescentou, virando as costas, e dirigindo-se ao grupo que já estava envolvido com bandejas, copos, bebidas e mais uma infinidade de coisas.
- É o seguinte meu chapa! Tu vai vestir essa porra e não vai mais abrir essa boca, ou eu te dou uma porrada que não vai sobrar um dente para tu mastigar amanhã. – rosnou colérico, me arrastando pelo braço para dentro do quartinho e fechando a porta atrás de si. – Paga tuas contas que nada disso estaria te acontecendo. – emendou, prendendo o olhar sobre mim.
Eu senti a raiva tomando conta do meu corpo. Além do calor que brotava das minhas vísceras, um gosto amargo aflorou na minha boca, como se minha saliva repentinamente se transformasse em bile. Agora estava claro que tipo de trabalho me haviam arranjado. A incapacidade de reagir, o fato de sabe-se lá quantas pessoas estarem sabendo do meu infortúnio, e o compromisso ingênuo de empenhar minha palavra num acordo tão sórdido, fizeram com que lágrimas se formassem copiosas embaçando minha visão. Eu me despi diante do olhar famélico do Everaldo, examinei mais uma vez a lingerie para me certificar de como coloca-la no corpo, e fechei as mãos diante do meu sexo que se comprimia abaixo do triangulo de tule e da borboleta de asas abertas. Os pelos pubianos afloravam nas laterais que o tecido não conseguia tampar.
- Agora anda, mexa-se! – disse o Everaldo, ao praticamente me atirar porta afora. – Ficou um tesão! – escutei-o murmurar às minhas costas.
Sem saber como caminhar com aquela peça enfiada nas profundezas do meu rego, aproximei-me dos demais, corado e humilhado. Eles se entreolharam sem dizer uma palavra, cada um compenetrado com seus afazeres.
- Agora seque essa cara e trate de colocar um sorriso nela. Ninguém vai querer encarar essa fuça de moleque contrariado! – exclamou Zuleika. – Aqui está sua bandeja, já arrumei tudo para você, e vai andando que eu não quero ver mais a sua cara na minha frente! E não se esqueça de amarrar o avental! – emendou furiosa.
Deixei a copa onde peguei uma bandeja sobre a qual se distribuíam copos de vinho, uísque, e coquetéis e entrei num corredor largo que levava até as salas. Ao me ver naqueles trajes degradantes, a prostituta que veio comigo, fez um comentário dizendo que o delegado ia se refestelar naquele cuzinho de veado virgem, isso se a pica dele fosse conseguir dar um jeito naquela bunda carnuda. As palavras dela saiam por entre uma risada nada discreta, e sem que ela o percebesse, o delegado acabava de entrar na outra extremidade do corredor, ouvindo o disparate zombeteiro que ela me dirigia. Antes que ela conseguisse virar a cabeça da direção dele, ele a agarrou pelo pescoço, apertando seus dedos grossos ao redor dele, até que ficassem pálidos de tanta força que empregava. Enquanto isso, o rosto da puta ia de um vermelho vivo a um roxo azulado, enquanto ela se debatia desesperadamente, tentando se livrar daquela mão. Um ganido surdo assomou meus lábios arroxeados, antes da outra mão do delegado atingir seu rosto com um soco certeiro. O corpo da puta foi lançado contra a parede, e antes de cair inerte, outro soco atingiu seu estomago, vertendo seu conteúdo aquoso sobre o piso.
- Tirem essa puta daqui! – berrou na direção da Zuleika. – Manda o Everaldo dar um corretivo nessa vagabunda! – continuou colérico.
Eu que já sentia o corpo todo tremendo, depois dessa cena quase não conseguia mais segurar a bandeja. E foi assim que entrei numa das salas da casa, quando as luzes já estavam acessas e umas vinte pessoas, na sua totalidade homens, à exceção das putas, circulavam e falavam alto em rodinhas distribuídas aleatoriamente pelo ambiente.
Minha primeira parada foi na rodinha que estava mais próxima da desembocadura do corredor, e que, por coincidência, era aquela em que acabara de se juntar o delegado. Ele foi o primeiro a pegar um copo de vinho branco, que deixava a taça suando devido ao conteúdo gelado. Depois que os outros três homens pegaram cada um, um copo, ele voltou a pegar outra taça, e a colocou em minhas mãos. Enquanto eu tentava equilibrar a bandeja numa das mãos, peguei a taça e timidamente retribuí o brinde que ele propusera em minha homenagem, como ecoaram suas palavras, pronunciadas com uma calma que me espantou, depois de ter assistido aquele acesso de cólera há poucos segundos atrás.
- Obrigado por ter colocado o meu presente! – disse, me encarando, e pegando minha mão entre a sua, depois de tomar a taça da qual sorvi um gole que ainda não conseguira deglutir. A ternura da sua voz não foi suficiente para afastar o medo que passei a sentir daquele homem. Um sujeito capaz de migrar de um estado de ânimo para o diametralmente oposto numa fração de segundos, sem deixar transparecer seus sentimentos. Nessa frieza calculada residia o perigo, e eu tomei consciência disso naquele exato momento.
Depois de mais uma reprimenda da Zuleika que me advertira para não continuar caminhando cabisbaixo entre os convidados, fui tomando ciência de quem eram os tais convidados. Além do prefeito que circulava com ares de grande anfitrião, lá estavam o meu chefe, alguns fazendeiros da região que eu conhecia de vista, o dono do maior supermercado da cidade, o bispo da diocese regional, o presidente da câmara de vereadores, o diretor do departamento de estradas de rodagem que tinha sede no município, o dono da radio difusora local e mais uma dúzia de homens que eu nunca havia visto antes. Essa estranha confraria estava reunida ali para perpetrar as mais vis atitudes que o ser humano pode praticar. Isso eu viria a descobrir em seguida.
A planta da casa tinha seus cômodos distribuídos na forma de um U, num desses braços se perfilava uma fileira de quartos ao longo de um corredor, enquanto as janelas de uns se abriam para o pátio interno, as dos outros de abriam para uma das laterais da casa. Enquanto circulava apressadamente de um lado para o outro, verificando se tudo corria a contento, notei que a Zuleika usava seu corpo roliço para barrar a entrada desse corredor. Vez ou outra, algum dos convidados se aproximava da entrada, acompanhado ou pelas putas, ou pelo Viny, que nesses momentos rebolava sua bunda arriada, enquanto tentava empiná-la para a mão que a percorria desavergonhadamente. Zuleika abria um sorriso forçado para a dupla e olhava para dentro do corredor, permitindo a passagem da dupla. Acho que por meu olhar ter se fixado naquela cena, ela fez sinal para que eu me aproximasse.
- Pegue outra bandeja lá na copa e volte aqui, rápido! – disse secamente.
Quando voltei para junto dela com a bandeja recarregada, ela me deu instruções para verificar as portas dos quartos que eventualmente estivessem abertas, e oferecer as bebidas que eu transportava. Obedeci aliviado por poder me afastar das salas, pois o corredor estava vazio e, portanto, aquela sensação de um par de olhos estar grudado nas minhas costas desaparecera. A primeira porta pela qual passei estava fechada, e por trás dela emergiam gemidos femininos e um arfar grosso.
- Ai, ai, minha bucetinha! – gemia a voz feminina.
- Essa buceta já está mais larga que a porteira lá da fazenda. – exclamou a voz gutural, que mal conseguia conter a respiração.
A segunda porta estava ligeiramente entreaberta, e quando enfiei discretamente a cabeça para dentro do quarto a fim de perguntar se desejavam alguma coisa, uma cena provocou uma discreta vertigem, e eu tive que me segurar no batente da porta. O juiz da comarca, um homem baixinho, barrigudo, estava de quatro, apoiado na beirada da cama, completamente nu, e com a pica de um marmanjão parrudo atolada na sua bunda peluda. Ele gemia feito uma cadela sendo coitada por um cão ensandecido pelo tesão. Os dois viraram o rosto na minha direção, e minha voz mal conseguia articular as palavras, que saíram gaguejadas, e quase inaudíveis. A resposta negativa deles me fez afastar dali em passos ligeiros até a porta seguinte, também fechada.
Eu conhecia o rapaz que enfiava a jeba naquela bunda peluda. Era o Adão, um cara grandão e musculoso que morava com a mãe, viúva, e uma irmã na extremidade oposta da nossa rua. Eu o vira algumas vezes passando em frente de casa, carregando uma mochila e usando bermuda e camiseta, como se estivesse se dirigindo para a academia de musculação que ficava a uns quarteirões de casa. Uma vez ou outra ele me encarou, um olhar altivo, de quem olha para os caras menos musculosos como se fossem seres de segunda categoria. De uns tempos para cá ele passava com uma moto novinha em folha e eu me perguntei no que ele estaria trabalhando, pois segundo os comentários da minha mãe, que tinha algumas clientes em comum com a mãe dele, que fazia bolos sob encomenda com a ajuda da filha, para reforçar a minguada pensão deixada pelo marido, ele era funcionário da prefeitura e trabalhava como motorista de trator.
Então era assim que ele engordava seu salário, pensei antes de seguir para a porta seguinte. Em seguida me arrependi imediatamente desse pensamento. Talvez ele estivesse passando por um calvário semelhante ao meu, e me censurei por ter tido um pensamento tão mesquinho, e me achar no direito de julgar alguém, quando eu mesmo estava passando pelo pior momento da minha vida. Repentinamente me veio a imagem daquela jovem que seguiu calada no mesmo banco traseiro do carro que eu. Ela trabalha na padaria da avenida principal. Sempre tinha uma observação alegre a fazer enquanto servia os fregueses, e pelo que pude sentir, nas vezes em que a vi atendendo atrás do balcão, a clientela gostava dela, tanto que muitos esperavam numa fila para serem atendidos por ela. Quais teriam sido os crimes cometidos por essas pessoas, ou por seus familiares, que as levaram até aquele ponto?
- Você vai ficar parado aí feito uma estátua? – rugiu a voz da Zuleika nas minhas costas, ao mesmo tempo em que enfiava suas unhas envergadas, e chamativamente vermelhas, na minha cintura.
- Não, eu estou indo. Apenas parei para endireitar esses copos. – desculpei-me, voltando a focar no meu serviço.
As outras seis portas pelas quais passei, ou estavam fechadas, ou ligeiramente entreabertas, e de quase todas vinham arfares sufocados, gemidos estridentes e guturais, ganidos de dor e prazer, numa sinfonia anárquica e libidinosa. Senti um calafrio percorrendo minha coluna, quando me lembrei de que estava com a bunda de fora, e praticamente nu, naquele ambiente devasso.
- Venha me encontrar dentro de quinze minutos naquele último quarto à direita! – Exclamou a voz grave do delegado atrás de mim, fazendo com que meu coração quase saltasse pela boca. Ele quis imprimir um tom terno a sua voz, mas ela soou autoritária.
A Zuleika fingiu que não percebeu a abordagem dele, mas não desgrudava o olhar curioso que lançou de soslaio em nossa direção. Assim que ele voltou para a sala principal ela correu em minha direção e se prontificou a tirar a bandeja das minhas mãos.
- Anda logo, vá se aprontar! – disse afobada, repassando a bandeja para outra funcionária, que por sorte usava um uniforme.
- Me aprontar para que? Onde devo ir agora? – perguntei, diante da eufórica expressão de seu rosto.
- Passar uma água fresca nessa cara e fazer a duchinha o mais rápido possível, eles são muitos impacientes. – respondeu, voltando e percorrer os olhos no andamento da casa.
- Duchinha? Que duchinha? Eu tomei banho antes de sair de casa e não estou nem um pouco suado. – retruquei espantado.
- Valham-me todos os profetas! Você é virgem, garoto, ou é tonto mesmo? – protestou indignada. – Menina, localize o Viny agora mesmo e traga-o aqui, depressa! – falou, segurando pelo braço, a funcionária que havia pegado a minha bandeja, e fuzilando-a com um olhar que não admitia falhas.
Ele se materializou instantes depois, através de um caminhar cheio de trejeitos, com um risinho malévolo revestindo as palavras esganiçadas.
- O delegado quer ver esse perdido em quinze minutos e pelo que deu para perceber ele nem sabe o que é uma duchinha. Sumam da minha frente os dois! – disse, empurrando-nos pelo corredor.
- Bicha, me engana que você não sabe fazer uma duchinha! – exclamou, estridente.
- Claro que eu sei o que é uma ducha! Eu já disse para a Zuleika que tomei banho antes de sair de casa. – revidei, nessa altura, confuso por minhas palavras estarem sendo tão mal interpretadas.
- Bicha, tu é virgem, é? – desatou a gargalhar.
- Olha cara, eu não te conheço. Já é a terceira vez que você me chama de bicha, e quanto ao fato de eu ser virgem ou não, acho que isso não é da sua conta! – respondi, enfezado.
- Tu é virgem, não resta dúvida. E se não for bicha, daqui a pouco vai passar a ser. – afirmou, deixando a gozação um pouco de lado. – Junte os pauzinhos e você vai cair na real. O cara te dá essa calcinha, manda você encontra-lo no quarto, tudo a sua volta lembra mais um puteiro do que um acampamento infantil, o que você acha que ele está querendo? Se toca, ele vai traçar o seu cuzinho, é assim que vais pagar a sua dívida. – emendou, num ar professoral.
Embora toda aquela situação já tivesse feito com que isso me passasse pela mente, ouvir as palavras saindo da boca dele, não só me deram essa certeza, como confirmaram inequivocamente minhas suspeitas. Eu seria sodomizado até que aquele homem decidisse que a dívida estava paga, e para isso ele contava com minha anuência, dada na frente de uma testemunha, o meu chefe. Minhas vísceras começaram a se convulsionar, e precisei conter os engulhos.
Eu ainda estava embaixo do chuveiro, no banheiro anexo ao quarto, quando ele entrou e trancou a porta. A água tépida não conseguia lavar a vergonha que eu estava sentindo, e se misturava às lágrimas que eu não conseguia controlar. Ele apontou na porta do banheiro com um sorriso largo. Estava sem a camisa, e seus ombros largos, braços fortes e peito peludo, me recordaram a figura de um urso. Os olhos dele esquadrinharam meu corpo nu e molhado, e adquiriram um brilho que me causou um arrepio. Foi como se a visão do meu corpo produzisse uma mudança no dele. Eu podia jurar que os pelos do braço e do peito se eriçaram, que sua pele estava para pegar fogo, que o álcool que ele havia ingerido se mesclava aos hormônios em sua circulação sanguínea, e que isso chegava a seu cérebro e lhe tirava a racionalidade. Em instantes eu percebi que estava, não mais diante de um homem, mas de um animal. Tudo nele era regido por instintos e não pela razão. Foi a primeira vez que eu senti medo diante de uma situação que não podia evitar.
- Eu esperava encontra-lo usando o meu presente! – murmurou, aproximando-se do box.
- Eu estava..., quer dizer, me disseram que eu precisava... – balbuciei, não encontrando as palavras.
- Está tudo bem! Não se preocupe, eu pensava em tirá-lo eu mesmo de você, mas assim também está ótimo. – disse calmamente. – Você já terminou? – perguntou, e sem esperar pela minha resposta, deslizou a porta do box e me estendeu seu braço.
- Já! – respondi, enquanto ele me puxava de encontro ao peito.
Os braços dele circundaram meu corpo e a mão deslizou sobre as minhas nádegas. Eu quis protestar por estar molhando-o todo, mas isso parecia não incomodá-lo. A outra mão, grande e pesada, acariciou meu rosto, e eu senti que corei. Aos poucos ele foi aproximando a boca dos meus lábios e começou a me beijar com fúria, apertando minha nádega entre os dedos e segurando meu rosto com força. A boca dele tinha gosto de álcool, e quando a saliva quente entrou na minha boca, meu estômago quase aflorou. Ele me pegou no colo e me levou até a cama, onde foi me reclinando lentamente, deixando que seu corpanzil tombasse sobre o meu. Ele me encarava como se estivesse rezando diante do santo de sua devoção, e deslizava as mãos pelo meu corpo. Quando uma de suas mãos passou sobre meu mamilo ele desviou o olhar e ficou admirando e roçando os dedos nele. Meus batimentos cardíacos estavam tão acelerados que eu conseguia ouvir meu coração pulsando dentro do peito. Embora eu forçasse os movimentos para inspirar, parecia que não havia ar suficiente para encher meus pulmões. A língua úmida e fogosa dele começou a lamber meu mamilo e os biquinhos se intumesceram. Ele abriu um sorriso malicioso, quando sentiu aqueles biquinhos duros se erguendo sob o estímulo das lambidas. Ele se levantou e começou a despir as calças. Olhei aterrorizado para o membro potente que pendia entre suas coxas peludas. Ele já adquirira uma certa consistência, e apontava para o lado esquerdo, deixando a descoberto um sacão forrado de pelos negros, que balançava seu conteúdo pesado quando ele se movia. Quando ele voltou a se aproximar da cama, o fez próximo à cabeceira, onde minha cabeça estava reclinada sobre dois travesseiros. Caminhou de joelhos até quase encostar a pica no meu rosto.
- Abre a boquinha e chupa meu cacete, chupa, tesão! – balbuciou, puxando minha cabeça de encontro a sua virilha.
Havia um cheiro denso e quente saindo dali. Eu precisei forçar muito a abertura da boca para que a cabeça daquela jeba entrasse na minha boca. Subitamente senti um gosto salgado que eu sabia não ser da minha saliva, e imediatamente após, um cheiro de nozes invadiu meu nariz, percebi que estava escorrendo algo daquela pica para dentro da minha boca, e me vi obrigado a engolir aquilo, pois aos poucos a minha boca foi se enchendo desse líquido. Ele começou a estocar a pica na minha garganta, pois ela ia endurecendo cada vez mais. Depois de me foder a boca por um bom tempo, deixando minha garganta dolorida, ele me virou de bruços e começou a morder minhas nádegas. A barba áspera dele pinicava a pele sensível dos meus glúteos, e eu soltei um gemido quando a língua dele percorreu meu rego arregaçado por suas duas mãos.
- Tesão de rabo do caralho! Esse cuzinho vai ser meu, seu filho da puta! – resmungou, sem afastar a boca da minha bunda.
- Não, por favor. Deixe que eu pague o que lhe devo de outra maneira. – implorei choroso.
- Nem pensar! Naquele dia que você entrou na delegacia procurando seu pai, meu caralho começou a babar por essa bundona carnuda. Eu já bati uma dúzia de punhetas sonhando com esse rabinho, e agora você quer sair de fininho. Só depois de eu foder esse cuzinho da porra! – disse, tomado pela gana máscula que lhe afogueava a pica.
Ele deslizou o corpo para cima do meu e começou a se esfregar em mim. Meus olhos até então arregalados de medo, subitamente se encheram de lágrimas, que desciam pelo rosto, enquanto um silêncio tácito se formou entre nós. Seus braços envolveram meu tórax e eu me sentia encurralado. De repente, comecei a sentir a jeba dele deslizando no meu rego e quando ele sentiu meu cuzinho piscando desesperado, enfiou aquele membro bruto no meu cu. As pregas foram tão forçadas que se dilaceraram, espalhando uma dor pungente por toda minha pélvis. Eu gritei, enquanto ele afundava meu rosto entre os travesseiros, e a partir daí meu corpo sacudia com os soluços que eu não conseguia sufocar. Ele era um homem potente, seu cacete avantajado e o apetite desenfreado, iam ferindo minhas entranhas, enquanto eu gemia atiçando a sanha perversa dele. Aquele homem imenso preencheu minhas entranhas com seu mastro grosso e me estocou possuído por um tesão incontrolável. Meu cuzinho inexperientemente estreito, se apertava ao redor de seu caralho em espasmos involuntários que chegaram a deslocar a camisinha. Aquela borracha se embolando no cacete o incomodava, e num rompante de contrariedade, ele arrancou a camisinha e a lançou longe, voltando a atolar o falo escorchado no meu cuzinho tenro e úmido. Sem aquele invólucro a diminuir a sensibilidade da minha mucosa agasalhante sua vara deslizava impune, massageando a glande que se avolumou antes de eu começar a sentir o encharcamento da minha ampola retal. Urros grotescos assomaram até sua boca, liberando a tensão e o êxtase acumulados até então. Meu corpo jazia numa languidez submissa debaixo dele, e aguardando que seu caralho amolecesse, ele arfava procurando readquirir o ritmo normal da respiração.
- Porra de tesão, como você é gostoso! – murmurou com uma ponta de ternura na voz.
A luminosidade pálida da manhã que se aproximava, começou a entrar pela janela. Lá fora, um bem-te-vi chilreava solitário numa árvore próxima, como que anunciando um novo dia. A casa agora parecia estar mergulhada no silêncio. Eu estava deitado de lado quando acordei, o corpo dele ainda estava amoldado nas minhas costas, e eu sentia o peito dele pressionar minha coluna quando ele inspirava. Minhas nádegas estavam encaixadas na virilha dele, e aquela estrutura rija que eu sentia comprimindo meu rego, devia ser sua benga. Ele havia me penetrado mais duas vezes durante aquela noite, e o produto de todo seu prazer permanecia em mim. Deslizei para longe dele procurando não acordá-lo, e me enfiei debaixo do chuveiro. Minha mão se encheu de sangue quando lavei o rego, e uns grumos esbranquiçados pingaram do meu cuzinho sumindo pelo ralo, carregados pela água. Apesar da imensa tristeza que eu sentia, não consegui mais chorar, como se esta tristeza se incorporasse ao meu ser, não sendo mais necessário manifestá-la.
Duas portas do corredor se abriram quase que simultaneamente com aquela de onde o delegado e eu saímos. De uma delas saiu a balconista da padaria e o prefeito segurando sua nuca com uma das mãos. Seu rosto tinha um contorno inexpressivo, como a de um cadáver, enquanto o dele emplacou um sorriso quando piscou na direção do delegado. Da outra saíram o Viny e um homem que eu não conhecia, ambos com um olhar de cumplicidade. Antes do Viny se afastar com uns passos desengonçados, o homem lhe tascara um tapa na bunda, que o fez soltar um ‘ai’ esganiçado.
O Everaldo nos aguardava na cozinha. Segurava uma xícara de café fumegante nas mãos e grunhiu algo como um ‘bom dia’ em nossa direção. O único que retribuiu foi o Viny. Eu mal conseguia andar. Os passos até o carro desencadeavam uma dor difusa por todo baixo ventre. E com aquela sensação de que um túnel foi escavado entre as minhas pernas, eu apertava as coxas tentando conter meus órgãos internos. Eu a garota da padaria seguimos calados e com os olhos vermelhos, resignados com nossa sorte, como se fossemos bois enviados ao abatedouro. Eu fui o último e ser deixado em casa.
- Eu cumpro ordens! Quero que você saiba que eu não ia te machucar nem te agredir. Sinto muito pelo que estão fazendo com você – disse, o Everaldo quando abriu a porta do carro e me ajudou a sair. Um cuidado que ele só teve comigo.
- Obrigado Everaldo! – consegui murmurar, junto com um sorriso sofrido.
Na segunda-feira meu chefe me cumprimentou com um risinho sarcástico. E, no dia seguinte, encontrei o Adão quando voltava para casa no final da tarde. Dessa vez ele não me encarou, abaixou o olhar como se tivesse perdido sua dignidade no chão. Mas moveu a cabeça numa espécie de aceno, o primeiro que ele me dava.
O final daquela semana foi marcado pela inauguração da nova iluminação da praça da matriz. Boa parte das autoridades, que se esbaldaram na chácara no sábado anterior, estava lá. O prefeito, acompanhado da mulher e, de mãos dadas com duas garotinhas, com laçarotes prendendo seus cabelos, ocupavam um palanque improvisado. Ao seu lado o bispo e o presidente da câmara, aguardavam sua vez de discursar.
Quinze dias depois eu havia sido convocado para mais uma festa. Foi o próprio delegado quem veio me fazer o convite, quando eu regressava do meu horário de almoço. Anui com um lacônico ‘está bem’, mas suficiente para tirar um pouco da expressão carrancuda de seu rosto.
Eram poucas as caras novas que circulavam pelas salas vigiadas, como se fosse um cão de guarda, pela Zuleika. Desta vez não precisei circular seminu entre os convidados, embora não me sentisse confortável com os olhares de cobiça que me encaram toda vez que eu me aproximava com a bandeja nas mãos. Depois de determinada hora o delegado sussurrou um gracejo no meu ouvido, e eu me dirigi para o quarto indicado como um condenado subindo os degraus do cadafalso. Ele me usou com a urgência de quem não conseguira se satisfazer há dias. Mas desta vez me liberou depois de despejar sua gala no meu cuzinho. Saí entrelaçando as coxas, iludido de que meu serviço estivesse concluído naquele dia.
Pelo vão esquecido aberto da porta do quarto vizinho, duas silhuetas unidas formavam uma escultura do kama sutra, a que estava em pé era do Adão, tinha as pernas abertas e firmemente apoiadas no chão, como os troncos de uma árvore; a outra, do bispo da diocese, estava debruçada sobre si mesmo num dos cantos da cama, e gemia alucinada com a pêia que o empalava. O Adão se distraiu com a minha passagem, lançou-me um olhar extenuado sem interromper os movimentos de vai-e-vem de sua pélvis.
A Zuleika me encarou espantada quando cheguei à cozinha. Me ofereceu uma cadeira junto a mesa onde tomava um copo de cerveja, pedindo para que me sentasse. Minha face estava lívida, e meu andar cambaleante desenharam os traços de preocupação que eu vi em seu rosto.
- Você está se sentindo bem garoto? – perguntou o Everaldo, que partilhava a cerveja com ela.
- Estou. – respondi constrangido.
- Trate de comer alguma coisa, pois com essa cara pálida não vai demorar a se esborrachar no chão. – disse a Zuleika.
- Não consigo! Estou com o estômago embrulhado. – respondi, engolindo a saliva gosmenta que se formava na minha boca, sob os olhares de compaixão deles.
Uma das funcionárias que costumavam ajudar a Zuleika entrou apressadamente na cozinha. Despejou o recado que o prefeito me enviara num gorgolejo frenético.
- O doutor prefeito mandou chama-lo, está esperando no corredor. – disse, assustando-se com a palidez do meu rosto.
- Ande, recomponha-se e não pense em nada. Ou melhor, pense que sua dívida está diminuindo. – a Zuleika afobou-se a aconselhar.
O prefeito era um sujeito troncudo, ligeiramente acima do peso. Seu pescoço curto se unia aos ombros largos num grande triangulo musculoso. A barriga saliente se despejava sobre o cós da calça, e pelo espaço entre os botões da camisa deixava à mostra os pelos escuros. O olhar arguto esquadrinhava cada parte do meu corpo, como se estivesse se relembrando do dia em que o vira seminu singrando pelas salas. A concupiscência aflorou-lhe às faces quando me aproximei timidamente dele. Entramos pelo corredor até a porta do quarto onde o delegado acabara de me foder. Ali mesmo ele agarrou minha cintura e me empurrou para dentro do aposento. O cheiro denso do ar estagnado ainda rescindia aos humores dos corpos que coabitaram ali. Quando escutei a fechadura sendo trancada, meu corpo começou a tremer. Fiquei parado imóvel no centro do quarto, enquanto ele tirava minhas roupas. Sua barba por fazer roçava minha nuca e acelerava os batimentos do meu coração. As mãos dele eram gordas e os dedos curtos. Elas percorreram meu corpo nu embevecendo-se com minha pele branca e lisinha.
- Bem que o delegado me disse que você era um tesão! – gemeu no meu ouvido. – Como é que pode um homem não ter um único pelo ao longo do corpo, só esse tufinho discreto no púbis? – emendou, enquanto sua mão apertava minha nádega, e a minha imagem acuada se refletia no espelho à nossa frente, com ele grudado nas minhas costas.
Ele mandou que eu o chupasse assim que liberou a rola das calças. O pau dele era torto e fazia uma curva apontando a cabeçorra violácea para cima. O suco másculo que brotava da uretra deixava a glande lustrosa, e foi o seu sabor amendoado que eu senti assim que coloquei aquela carne rija na boca. Ele se contorcia com o estímulo da minha boca em seu falo latejante, e dava gemidos longos, que mais pareciam uivos de um lobo. Agarrou-me pelos cabelos e enfiou meu rosto na sua virilha peluda. As bolonas do sacão roçavam meu queixo enquanto eu lambia e sugava seu néctar viril. Ele mandou que eu me ajoelhasse sobre a cama, e enfiou um daqueles dedos grossos no meu cuzinho, sondando a textura macia da minha mucosa anal e a espasticidade dos meus esfíncteres. Depois começou a lamber e a enfiar a língua na porta do meu cu, fazendo com que eu começasse a gemer baixinho. Enquanto colocava a camisinha, cuspiu umas duas vezes no meu rego, e com a jeba numa das mãos, investiu contra as preguinhas que se contraiam em agonia. As estocadas se sucediam rápidas e profundas, mas não foram muitas. Eu só me dei conta de que ele já havia gozado quando um urro rouco saiu de sua garganta. Olhei para trás e ele já estava segurando a camisinha cheia de porra, que deixou cair no chão fazendo escorrer seu conteúdo. Subitamente ele voltou a agarrar minhas ancas e meteu outra vez o dedo no meu cu, que mesmo depois de ter abrigado aquela rola grossa, já estava novamente contraído e apertado. Ele brincava com aquela fendinha indefesa, enfiando e tirando os dedos, até que começou a colocar dois, e depois três de uma só vez. Eu comecei a gemer novamente sentindo-o dedar meu cu ferido. Sobre a mesa de cabeceira ele abandonara uma latinha de energético que trazia nas mãos ao entrarmos no quarto. Enquanto os dedos de uma mão me dedavam, ele entornou a conteúdo da latinha goela abaixo, e depois começou a esfregar a latinha no meu cu. O metal gelado contraiu minhas preguinhas, e o cuzinho travou num reflexo de autodefesa. As feições dele deixavam transparecer um clarão de ávida crueldade. Segundos depois eu soltei um grito quando o metal se alojara nas minhas entranhas. Tentei sair daquela posição submissa, mas ele me impediu. Num furor desmedido ele começou a movimentar aquela latinha no meu cuzinho, num vai-e-vem cadenciado e torturante. Meus gritos ecoavam pela casa como se eu estivesse ensandecido. Na ânsia de me arrombar ele deixou a latinha escorregar de seus dedos quando a atolara além da conta, meus esfíncteres se fecharam abruptamente engolindo a latinha. Uma gargalhada pérfida ecoou pelo quarto, juntando-se aos meus gritos.
- Êta cuzinho guloso! Não tem rola que escape desse cu! – debochou sarcástico. Ignorando meu desespero para tentar expulsar aquilo de dentro de mim.
Quando se deu conta de que eu não conseguia colocar aquilo para fora sozinho, e implorava por sua ajuda, ele me mandou calar a boca, e acrescentou:
- A bicha puta aqui é você! Quem sabe como tirar o que entra no próprio rabo tem que ser você!
O lençol começou a se tingir com os salpicos de sangue que gotejavam do meu cuzinho. Eu tentava desesperadamente tirar aquilo de dentro de mim, mas quanto mais eu me empenhava, mais profundo parecia que aquilo se entranhava. Suspeitando de que algo nefasto estava acontecendo naquele aposento, a Zuleika começou a bater na porta. O prefeito a abriu deixando-a entrar, e vociferando mandou que tirasse aquele viado histérico dali. Um pequeno tumulto se formou em frente a porta do quarto. O delegado e o juiz enfiaram suas caras preocupadas sobre os ombros das outras pessoas que bloqueavam a porta. A Zuleika tentava me acalmar dizendo que tudo estava bem e logo aquilo sairia do meu cuzinho. Mas as rugas em sua testa desmentiam suas palavras tranquilizadoras.
- Que maçada! Agora teremos que leva-lo até um pronto-socorro! – rosnou o prefeito, ciente de que as coisas haviam fugido do controle. – Chame o Everaldo aqui e mande-o levar essa bicha até o hospital. – acrescentou decidido.
- É melhor eu mesmo cuidar disso! Não podemos correr o risco nos vermos envolvidos com esse caso. – apressou-se a dizer o delegado.
Quando o Everaldo entrou no quarto a Zuleika terminava de me ajudar a vestir minhas roupas. Amparado por eles fui levado até a picape do delegado. Enquanto disparava rumo ao pronto socorro do hospital da cidade vizinha, ele ditava algumas instruções ao Everaldo, que só chegavam aos meus ouvidos como um sopro distante e ininteligível.
A meia quadra da entrada do hospital ele mandou que eu descesse. Aconselhou-me a não abrir a boca, e ter muita cautela com os meus comentários. Seu olhar era duro, mas a voz carregava em suas palavras o mais doce e enternecido tom que eu já ouvira de seus lábios. Quando me vi diante da entrada do pronto-socorro, achei que não conseguiria dar os passos que faltavam para chegar lá dentro. Um enfermeiro que conversava com uma moça atrás de um balcão, veio ao meu encalço e me amparou.
- Por favor tirem isso de mim! – implorei gaguejando, enquanto minhas palavras tentavam se esconder denunciando a vergonha que eu sentia.
Foi preciso me sedar para que meus esfíncteres relaxassem e permitissem a retirada da latinha. Uma endoscopia transanal permitiu cauterizar os ferimentos que a latinha causou, e uma sutura devolveu às preguinhas seu contorno original. Nos quatro dias que se seguiram eu precisei ficar internado convalescendo da barbárie a que fui subjugado.
- Aquele é o viadinho que enfiou a lata de energético no rabo? – perguntou curiosa a enfermeira que trocava de plantão com a que aplicara as medicações durante a noite. – Esses pervertidos não têm limites na escolha do que lhes entra nos fundilhos! – exclamou indignada.
Com mais ou menos ênfase, tanto nos comentários, quanto nos olhares discriminatórios que me lançavam, passei aqueles dias remoendo a má fase que atingira minha vida em total solidão. Na véspera da minha alta, no horário de visitas, o Adão enfiou a cara pela porta entreaberta.
- Como vai? – balbuciou, com um discreto sorriso exibindo seus dentes largos e brilhantes.
Eu o fitei estático, meus olhos inchados denunciavam o iminente regresso das lágrimas. Adão aproximou-se e, sem falar, apertou-me num abraço delicado. Eu me abandonei em seus braços, e liberando a garganta contraída, os soluços que havia horas comprimiam meu peito, explodiram num choro convulsivo, como o de uma criança. Ele sabia que não era a hora de conhecer os detalhes daquilo que correu de boca em boca, depois de eu ter sido levado às pressas para o hospital. Por isso refreou seu interesse mórbido por um incidente tão dramático. O meu desamparo o comoveu, aqueles soluços incontroláveis e sentidos, que chacoalhavam contra seu peito, não podiam ficam sem resposta. Um sentimento de raiva se instalou nele, pois não se conformava de alguém ser capaz de vilipendiar e estuprar um ser de olhar tão meigo e atitudes cuja doçura transparecia em cada gesto. Seu instinto protetor fez com que fosse me apertando com mais força entre seus braços musculosos.
- Desculpe-me! Deixei me levar pelas emoções, sinto muito! – balbuciei, quando consegui me controlar.
- Não há do que se desculpar! Queria poder ter te ajudado. Imagino o que animal deve ter feito você passar. – respondeu, pousando seu olhar protetor no rosto em que eu enxugava minhas lágrimas.
A mão delicada cujos dedos longos e afilados lembravam os de uma mulher, deslizando por aquela face imberbe e sedutoramente linda, fizeram-no compreender a gana que aquela súcia nutria por mim. Foi a primeira vez que ficamos tão próximos, e ele se encantou com a beleza daquele corpo que a esta pouca distância, lhe pareceu ainda mais bonito. Ele me perguntou se alguém viera me confortar e se estavam me tratando bem. Diante das minhas negativas às suas perguntas sua indignação crescia dando aos seus olhos um brilho estranho. Embora eu não o conhecesse bem, aquele olhar me pareceu vingativo.
Quis o destino que durante os dias em que permaneci internado, um repórter investigativo, vindo da capital, estava colhendo material e depoimentos sobre os serviços de saúde nas cidades do interior. Ao chegar ao hospital para uma entrevista com o diretor, não foi difícil ficar sabendo do meu caso. O próprio diretor exaltava os feitos da instituição que dirigia, destacando as complexidades e bizarrices dos casos que adentravam ao pronto-socorro.
- Desde as complexas cirurgias cardíacas, até o atendimento a pervertidos sexuais que não se contentam com as dimensões daquilo que introduzem no ânus! – declarou enfático, alvorando-se o direito de julgar o comportamento alheio.
O repórter, não menos interessado em se autoproclamar, valeu-se dos anos de experiência e da astúcia própria da profissão para conseguir uma entrevista comigo. Quando ele entrou no quarto, acompanhado de um enfermeiro, um sentimento de vexatório fez aumentar minha natural timidez. A minha reticencia em expor meu calvário e muito menos muni-lo de detalhes fez com que ele começasse a perscrutar algo muito maior do que minhas minguadas palavras diziam. Enquanto ele tentava angariar a minha confiança, o Adão apareceu. A princípio, desconfiando do repórter, tentou dar fim àquela entrevista, mas vendo nela uma oportunidade de engendrar uma vingança começou a me apoiar sugerindo que eu abrisse toda aquela sordidez. Este por sua vez, enquanto me ouvia desabafar, vislumbrou a chance de uma matéria muito além daquela que estava conduzindo.
- Proponho que você me acompanhe até a capital quando tiver alta. Conforme acertei com o chefe de redação, vamos acompanha-lo até as instâncias superiores da polícia e da justiça, para que esses criminosos sejam flagrados e punidos. – disse, após desligar o celular, em cuja ligação havia acertado o apoio que a rede de televisão me daria.
Na mesma tarde da alta segui rumo a capital em companhia do Adão e da equipe de televisão. Fomos alojados nu hotel e na manhã seguinte já estávamos diante de um juiz corregedor denunciando os fatos. O mesmo se repetiu naquela tarde com uma autoridade policial. Por sugestão deste último começaram a deliberar sobre a montagem de um flagrante, em cujo desenrolar o Adão teria um papel preponderante, ao municiar a policia com informações que permitissem o flagrante, ao mesmo tempo em que ele se isentava de qualquer vínculo com aquela corja.
O esquema foi montado dali a duas semanas quando a casa da chácara estava em pleno alvoroço com uma nova festa. Eu ainda estava de licença médica quando o plano foi posto em prática, resultando da prisão em flagrante do prefeito, do delegado, do juiz da comarca, do meu chefe, de meia dúzia de fazendeiros e outros convidados. O único que se safou foi o bispo, que após ter seu cu preenchido pela tora calibrosa de um garotão estilo bad boy, recém-incorporado ao staff da casa, já debandava pela estrada poeirenta que ligava a chácara à cidade.
O escândalo divulgado em rede nacional fez estragos não apenas na imagem dos presos, mas estendeu seus tentáculos sórdidos sobre as esposas e filhos dos envolvidos. A primeira dama da cidade evaporou como num passe de mágica. O bispo foi transferido por ordens superiores. A mulher do delegado amargou o desprezo das beatas. Meu chefe viu seu casamento tumultuado ruir como um castelo de areia tragado pela maré. O presidente da câmara de vereadores tomou um rumo ignorado, e nunca mais se ouviu falar dele na cidade. Eu temia que a lama daquela sujeira toda respingasse em mim ou na minha família, mas quis a providência que, a discreta delação que tive que confirmar em audiência reservada junto com a balconista da padaria, me mantivesse no quase total anonimato. Mesmo assim, a cidade subitamente me pareceu muito pequena e acanhada para os meus sonhos, e eu resolvi partir. Refleti que ninguém pode viver a vida do outro como se fosse a própria; ninguém deve se encarregar de suas responsabilidades e de seus erros, tomando-os para si. E, até então, era isto que eu estava fazendo.
- Para onde você vai? – perguntou o Adão, que apareceu lá em casa assim que soube por sua mãe que eu iria deixar a cidade.
- Vou para a capital. Acho que meu espírito é um pouco mais cosmopolita do que o provincianismo desta cidade. – respondi, com um sorriso discreto e um olhar triste.
- Quem vai ficar com você por lá? – inquiriu, temendo que eu pudesse ter alguma companhia.
- Ninguém, ora! De início vou ficar na casa de uma ex-colega que trabalhou comigo no cartório. – exclamei surpreso. – Sei que não vai ser fácil, mas quero continuar a estudar, e talvez consiga um trabalho melhor por lá. – emendei decidido.
- Eu vou com você! Posso? – falou; suas palavras saíram tão espontâneas e ágeis que o encarei estupefato.
- Que ideia! Você não pode deixar sua vida e mergulhar numa aventura sem destino. – exclamei sensato.
- Que vida? A mesmice que eu vivo aqui? A falta de perspectivas que emperram a vida da gente? Submeter-se a vilania imposta por quem pode mais? – questionou.
- Você tem sua mãe e sua irmã que precisam de você. Tem seu trabalho. Enfim, está fazendo as suas coisas. – retruquei
- Mas não estou feliz! – disse convicto.
- E quem disse que vamos encontrar isso na capital? Como eu mesmo acabei de dizer, é possível que eu tenha que voltar, se as coisas não derem certo. – argumentei.
- No entanto você está tentando mudar. E isso não é bom? – revidou. – A menos que você não queria minha companhia! – concluiu, enquanto estudava a expressão do meu rosto.
- Não é isso. Eu acho apenas que você deveria pensar mais sobre o assunto. Avaliar bem os senões. Tomar uma decisão mais equilibrada. – sugeri. – Sua companhia não é o motivo de eu estar dizendo isso. – acrescentei.
- Então está decidido. Eu vou com você. E não se discute mais isso. – falou resoluto.
O sol ainda não havia nascido, mas o céu já se iluminava com delicados tons coloridos, o suficiente para prognosticar um dia árido e calorento de verão. A paisagem que tinha diante dos olhos, a esta primeira luz da manhã, e que estava deixando para trás assim que o ônibus pegou a estrada, repentinamente me pareceu mais ligada a mim do que nunca. Ficavam as únicas certezas que eu tinha, e partir dali, tudo era uma incógnita. Meu olhar fixou um ponto distante da paisagem, e se perdeu nele. A perspectiva de perder o apoio da família, o medo de um futuro solitário, a renúncia a todas as aspirações que cultivava desde a infância, me fizeram mergulhar em um desespero ao qual só as lágrimas podiam dar vazão. A grossa coxa do Adão pressionava a minha, pois ele se acomodara na poltrona com as pernas bem abertas, única maneira de conceder ao que carregava entre elas o espaço necessário para não oprimi-lo. Só saí daquele torpor quando a mão quente dele pegou a minha que estava largada sobre o apoio que dividia os assentos. Tentei secar os olhos antes de ele perceber, mas ele foi mais rápido e segurou com o dorso do dedo a lágrima que rolava pelo meu rosto.
- Não se preocupe, tudo vai dar certo! Eu estou, e sempre estarei, do seu lado. Você não está sozinho nessa empreitada! – disse, com um sorriso terno.
Minha colega nos espera na rodoviária. Foi reconfortante ver um rosto conhecido naquela multidão. Eu já estivera na capital algumas vezes, mas por poucos dias, e não conhecia absolutamente nada daquela vida. Desde que se mudaram da nossa cidade, o pai dela juntava um modesto capital que aplicou na construção de uma edícula nos fundos do terreno onde moravam, com vistas a alugá-la. Tratava-se de não mais de quatro cômodos, distribuídos entre uma sala, quarto cozinha e banheiro, resguardados da casa principal por uma sebe de hibiscos amarelos e vermelhos.
- Se vocês pretendem mesmo ficar por aqui, talvez se interessem em alugar a edícula. – propôs quando nos mostrou sua casa, depois do almoço.
- Tenho que procurar um trabalho primeiro. – retruquei, contente com a oferta.
- Acho que até nisso consigo te ajudar. – disse ela. – Estou trabalhando no escritório de uma loja de material de construção, e conversei com o dono que está procurando mais alguém para ajudar no serviço que só está aumentando. Ele me pediu para leva-lo até lá para uma entrevista. – continuou, entusiasmada com a possibilidade de voltarmos a trabalhar juntos.
- É fantástico! Nem sei como te agradecer. – agradeci num abraço fraterno. – Se ele gostar de mim, já tenho como me manter aqui. – emendei esperançoso.
Na semana seguinte eu já estava trabalhando, com um salário melhor do que o do meu emprego anterior, e num ambiente muito mais dinâmico e alegre. O Adão também conseguiu um emprego como personal trainer numa academia badalada, primeira oportunidade em que seu diploma de educação física lhe valeu para alguma coisa.
Sem que eu me desse por conta, ele e eu fomos mobiliando aquele pequeno espaço, imprimindo a cada canto a nossa personalidade. Quando demos a tarefa por encerrada, já não havia mais a minha individualidade ou a dele dentro daquelas paredes. E sim, uma nova identidade que foi brotando aos poucos, e que se compunha da mescla harmoniosa dos nossos eus.
- Acho que somos amigos o bastante para eu poder te perguntar uma coisa. – disse minha amiga numa manhã em que seguíamos para o trabalho. – Uma coisa bastante íntima, que eu sei que não é da minha conta, mas você sabe como é curiosidade de mulher. Ferve mais que fogo de siderurgia. – emendou curiosa.
- Claro que somos amigos. Eu devo a você tudo de bom que está me acontecendo. E não sei se um dia vou poder retribuir tudo que você e sua família fizeram por mim. – respondi, também curioso por saber o que tanto a encafifava.
- Não se zangue comigo, e se não quiser responder, também não precisa, está bem? – titubeou, como se estivesse caminhando sobre ovos.
- Anda mulher, pergunta de uma vez. Até eu já estou curioso! – instiguei
- Você e o Adão ... bem, você e ele, vocês estão, como posso dizer, ... namorando? – desatou enfim, quase num sussurro.
- Que isso? De onde você tirou essa ideia? Ele era meu vizinho e acabamos nos conhecendo durante aqueles fatídicos episódios que me levaram a procurar outra vida. – respondi enfático.
- Sério? É que vocês se dão tão bem juntos. E eu poderia jurar que vocês sentem alguma coisa um pelo outro. – continuou ela.
- Existe, é claro. Nos tornamos amigos. Acho que situações difíceis tem o poder de aproximar as pessoas. É isso que você deve ter percebido. – acrescentei.
- Não sou dona da verdade, mas eu acho que você gosta dele e ele de você. Digo isso pelo jeito com que vocês se tratam. É muito nítido. Ele é tão protetor com você que chega a dar inveja. Será que um dia um cara vai ser assim comigo? – insistiu ela, começando a gerar um desconforto na conversa.
- Você quer dizer que estamos dando bandeira? Mas do que, se não rola nada entre a gente? E gostar eu gosto dele, senão não conseguiríamos dividir o mesmo espaço. – justifiquei, dando às palavras um tom mais contido.
- Não! Vocês não estão dando bandeira. É algo muito sutil, que precisa de um tempo vendo vocês para se notar. – falou convicta. – Acho que nem mesmo vocês perceberam que se amam! - segredou cautelosa.
- Que absurdo! Agora você viajou! – exclamei irônico.
Nem mesmo vocês perceberam que se amam. As palavras dela repercutiram nos meus ouvidos durante todo aquele dia. Será? Sim, o Adão é um cara muito boa gente. É um tipão, bonito, musculoso, tem um sorriso lindo, é cheio de cuidados comigo, mas daí a se falar de paixão, seria demais.
Pouco depois do jantar, enquanto ele assistia à televisão, e eu terminava de compilar, numa pasta do Excel, um resumo de visual mais fácil e amigável do estoque da loja, que eu pretendia submeter ao meu novo chefe no dia seguinte, percebi que o Adão tinha os olhos presos em mim, e não na tela da televisão. Eu já o flagrara com esse mesmo olhar outras vezes, retribuía com um sorriso, e não me questionava, ou a ele, o motivo desses olhares.
- O que foi? Por que está me olhando desse jeito? – perguntei repentinamente, percebendo que as palavras saíram da minha boca quase que espontaneamente.
- Que jeito? Eu estou vendo TV. – respondeu titubeando.
- Ora, desse jeito que você estava agora há pouco! E não foi a primeira vez. – respondi, um pouco áspero. Talvez, por que o efeito das palavras da minha amiga ainda me martelavam a cabeça.
- Vai me dizer que agora vai ficar zangado por que eu olho para você? – inquiriu desafiador.
- Não estou zangado. Só quero saber por que você estava me olhando? – revidei, mais brando.
- Por que te acho lindo! Por que a cada dia você fica mais importante para mim! Por que eu sou louco por você! – exclamou rindo, num tom provocativo.
- Tonto! Que brincadeira sem graça! – retruquei, lançando em sua direção uma bolota de folhas de papel amassadas, onde eu havia feito anotações sobre as intervenções que estava sugerindo ao meu chefe.
- Juro que é verdade! Você é que é um insensível, nem liga para o meu amor por você! – continuou espirituoso.
- Para de falar besteira! – revidei, fazendo cara de sério. – Sabe que tem gente achando que você e eu temos um caso, ou melhor, que somos namorados! Até já me perguntaram a respeito. – acrescentei zombeteiro.
- E o que foi que você respondeu? – inquiriu malicioso.
- O que mais? A verdade, que não, é óbvio! – respondi de pronto.
- Que pena! E eu achando que você estava apaixonado por mim! Que infeliz que eu sou, amando sozinho! – disse jocoso.
- Larga a mão de fazer piada de tudo! Eu estou falando sério, daqui a pouco vão achar que somos um casal! – exclamei indignado.
- E se fossemos? Ou melhor, o que estaria faltando para sermos um casal? A certidão? – questionou
- Não dá para falar com você! Você não me leva a sério! – retruquei desconsolado.
- Ou será que falta eu te levar para cama? – perguntou, já ao meu lado, cutucando minha barriga na tentativa de me fazer cócegas.
- Deixa disso! – respondi, fugindo do seu assédio.
Dormíamos no único quarto da casa, ele numa cama box próximo à janela, e eu numa ao longo da parede oposta ao armário. Naquela noite enquanto eu tomava meu banho, ele emparelhou as camas uma ao lado da outra, com as cabeceiras voltadas para a parede onde antes estava a minha cama. Além de liberar espaço no quarto, a circulação ficou mais funcional. Embora a nova disposição desse ao aposento um ar mais intimista e voluptuoso. Ao sair do banho enrolado na toalha, me deparei com aquele rearranjo mobiliário, e o Adão só de cueca esparramado sobre a cama.
- O que significa isso? – perguntei surpreso.
- Não ficou melhor assim? – disse, com um sorriso de satisfação. – Só falta você ao lado. Ah! E sem a toalha! – brincou, alisando a superfície da cama num convite sensual.
- Que saliência é essa? – perguntei. – Até que ficou bom, se fosse um casal a ocupar a cama. – acrescentei rindo.
- Mas nós podemos ser um casal, é só você querer! E, saliência? ... Deve ser a minha rola endurecendo imaginando o que essa toalha está escondendo! – brincou provocativo.
Antes que eu pudesse contra-argumentar ou interpor qualquer objeção, ele saltou em minha direção e me puxou para cima da cama. A toalha se desprendeu durante esse arroubo e ficou pelo chão. Meu corpo nu, ainda quente pela água tépida do banho, exalando um perfume fresco e cítrico, subitamente estava sob o dele. Uma inquietação se apossou de mim, aquela posição me trazia recordações nefastas, embora o sorriso doce dele conseguisse diluir essa impressão. Era a primeira vez que ele me sentia debaixo dele, e isso o excitou. Seu olhar adquiria uma expressão intensa, libidinosa, predadora. Eu fiz menção de me desvencilhar dele, empurrando, sem sucesso, aquele tronco pesado que colava minhas costas de encontro ao colchão. Eu riu da minha tentativa infrutífera ao segurar meus braços abertos, apertando-os sobre a cama.
- Aonde o senhor pensa que vai? – sussurrou
- Para! Não faça isso comigo. Você não, por favor! – implorei
- Olha bem para mim. Mas olha bem nos meus olhos, sou eu o Adão! – exclamou. Sua feição tranquila e amistosa me encarou certeira. – Ninguém mais vai fazer nada com você que você também não queira. Eu quero você para mim. – acrescentou sereno.
- Me sinto inseguro. Não em relação a você, mas ao que aconteceu. – argumentei, tentando me acalmar.
- Mas quem está aqui agora com você sou eu. E eu vou fazer tudo cuidando de você! – disse, no mesmo instante em que seus lábios se juntaram aos meus.
O beijo dele era firme e decidido, mas suave e excitante. A saliva dele entrou na minha boca e com ela o sabor másculo dele. Os humores que o corpo dele, tomado de tesão, exalavam fizeram meu cuzinho começar a piscar alucinadamente. Eu conhecia aquela exalação que os corpos dos machos emitiam quando seus hormônios injetavam em suas mentes o desejo de cópula e preparavam o caminho para sua consumação. E sob esse efeito os homens se abrutalhavam para satisfazer seus instintos primitivos e carnais. No entanto, a mão pesada e grande do Adão ia afastando esses temores, à medida que percorria sagazmente meu corpo nu. Meu tesão deixava a minha pele mais sensível e receptiva aos seus toques, e os biquinhos dos meus mamilos se projetavam salientes e impudicos, dando lhe a certeza da minha aquiescência. Arrebatado pela sedução daquele corpo quente que jazia sob seu jugo, ele liberou da cueca a jeba troncuda, inquieta e buliçosa, que saltou a centímetros do meu rosto, instigando-me a provar sua textura. Suas dimensões atemorizadoras me intimidaram, foi preciso que ele a roçasse no meu rosto liso, e lançasse um olhar suplicante para que eu lhe provesse os carinhos pelos quais aquele órgão ansiava. Num relance, me surgiu a imagem do Adão engatado ao cu do juiz, e eu agora podia compreender porque aquele homem gania feito uma cadela. Meu cuzinho se contorceu quando meus lábios envolveram a glande violácea e úmida, iniciando uma sucção delicada e constante que fazia o cacete pulsar e crescer. De súbito, aquela aversão que eu até então experimentara ao chupar um caralho se desvaneceu, e eu pude, pela primeira vez, sentir o sabor deleitoso de um falo suculento. Minhas papilas gustativas provavam milímetro daquela rola, enquanto minhas narinas eram inundadas pelo cheiro viril que ela emanava, numa simbiose que me provocava arrepios de tesão. Tudo o que ele queria era ver-me brincando tão folgançadamente com sua pica, criando intimidade com ela, dedicando-lhe todo meu afeto, excitando-o a gemer sob meus estímulos. Minha mão tentava segurar o cacete rompante enquanto eu lambia e chupava sofregamente, acariciando com as pontas dos dedos o púbis e o sacão densamente peludos. Eu me demorava naquela degustação primorosa, levando-o ao acme do prazer por diversas vezes, mas a persistência voraz dos meus lábios sedosos levou-o ao gozo, e ele não se preocupou em tirar a pica da minha goela, despejando seu néctar desopilador para que eu o engolisse. Nunca um esperma me pareceu tão deliciosamente saboroso, e eu sorvi até a última gota, que brotou solitária do orifício uretral, por onde antes eclodiram jatos espessos e cremosos. O Adão me tomou em seus braços e me apertou contra seu peito cheio de satisfação, e começou a me beijar como se quisesse me devorar. Eu me entreguei passivamente a seu afã.
A íris lapis lazuli dos meus olhos nunca esteve tão viva e brilhante. Ele se perdeu na imensidão mansa deles e sonhou. Um sonho que estava ao alcance de suas mãos, e que ele sabia estar se aproximando cada vez mais. Essa certeza arrancou dele um sorriso amoroso, e foi com ele que ficou me encarando. Seus pensamentos estavam por se afogar num vórtice de luxúria, era quase uma obsessão, ingurgitavam-lhe as gônadas e levavam-no a incontinência sexual. Resoluto, investiu outra vez contra aquele corpo languido que tanto lhe apetecia. Enfiou os dedos das duas mãos nas minhas nádegas, cravando-os na abundância rija. Mordeu e beijou a pele alva que as cobria, deixando as marcas da sofreguidão que sentia. Ao apartá-las o reguinho liso revelou o alvo que perseguia, um pequeno amontoado de pregas que pareciam chuchar o ar, fazendo com que o diminuto orifício rosado se movimentasse como os lábios de uma criança à procura da teta materna. Enfiou suavemente o dedo nele, e eu gemi, pois sabia o quão deletéria podia ser a cobiça masculina por aquele orifício. A língua dele lambeu meu cu, até meus gemidos se tornarem agonizantes. Ele me puxou pela cintura elevando minhas ancas até sua virilha. O mastro potente deslizava no meu reguinho lambuzando-o com o pré-gozo. Tudo que estava a volta do Adão deixou de existir, ele não ouvia mais nenhum som, seu olhar fixo se concentrava no cuzinho que estava na ponta de sua pica. Ele a forçou no introito apertado cada vez com mais vigor. O medo de voltar a ser dilacerado me fazia querer escapar, mas suas mãos puxavam meu quadril com força contra as coxas dele. O caralho me penetrou, o grito foi inevitável e pungente. Como que arrancado de um transe, e com a maciez acalorada das minhas carnes a lhe agasalharem o cacete, Adão sentiu-se mergulhando em mim. Um gemido prazeroso escapou de sua boca, e ressoou altaneiro pelo quarto. A paura que se seguira após as outras penetrações que eu havia sofrido, desta vez não veio acompanhada da dor lancinante que se espalhava pela minha pélvis. Talvez por que eu soubesse que aquele macho não queria me machucar, procurava apenas satisfazer suas necessidades, e eu anui, submetendo-me aos seus desígnios. Ao ímpeto de suas estocadas eu gemia complacente até que a penetração de todo aquele membro potente se completasse. A cirurgia para o reparo da mutilação que a latinha havia provocado no meu ânus deixara-o mais hipertrofiado e mais apertado. Mesmo o pau dele sendo tão grosso quanto a latinha e, igualmente, ter me rasgado as entranhas, o calor daquele homem dentro de mim me deu confiança. Depois de bombar meu cuzinho nessa posição por um bom tempo, e tentando protelar o gozo iminente, ele sacou a pica do meu cu e foi sentar-se recostado à cabeceira da cama. Suas mãos elevaram minhas ancas e eu me sentei sobre a jeba em riste, fazendo-a desaparecer entre meus glúteos. Contemplando seu olhar voraz, eu comecei a cobri-lo de beijos. A língua dele me penetrou tão profundamente quanto a pica no meu cu, e enquanto eu rebolava acariciando sua rola com o travamento ritmado dos esfíncteres chupava sua língua afoita. Nossos gemidos se fundiam como nossos corpos. Naquele instante eu me dei conta de que desde o dia em que ele me visitou no hospital, esse homem não me deixou mais sem a certeza de sua proteção. Todos esses meses ele esteve presente em cada movimento, cada decisão que eu havia tomado. Partilhara minhas angustias e minhas conquistas. Soube impor suas vontades com afeto e paciência. E agora, usufruía do meu corpo e de mim sem me causar sofrimento. Eu descobri que o estava amando. Quem sabe lá desde quando? Mas essa convicção me encheu de felicidade, e quando os jatos de porra explodiram mornos e pegajosos no meu cuzinho, meus olhos se encheram de lágrimas e esperança.
Quando ele me largou, um filete rubro escorria tímido por minha coxa. Um brilho de satisfação iluminou suas feições. Não fora dele o privilégio de arregaçar aquele cuzinho pela primeira vez, mas a cirurgia tornara-o mais apertado e arisco do que originalmente, e coube a ele resgatar a confiança para que outras penetrações pudessem ser perpetradas. E seria ele a conduzi-las, como bem lhe aprouvesse, pois a sua porra demarcava a posse daquele território.
- Você está me olhando daquele jeito outra vez! O que foi? – perguntei, sentindo entre as pernas o vazio que ele me deixara.
- Nada! Eu só estava pensando como você fez de mim o cara mais feliz desse mundo. Você é todinho meu agora! – exclamou, voltando a me puxar para junto dele. – Não tirei seu cabacinho, mas você me presenteou com mais esse sinal da sua inocência. – emendou, num sussurro que roçou meu ouvido.
- Nunca me senti tão protegido e seguro na vida! Quero que você seja meu homem, meu macho. – falei, me encolhendo em seus braços.
- Isso eu já sou! – afirmou convicto.
Beijei-o longa e carinhosamente. E quando ele deitou a cabeça no meu colo, deslizei minha mão entre os pelos do peito dele até que um ronronar calmo embalou seu cochilo. Me entreguei a ele mais uma vez naquela noite que nos pareceu a mais curta de nossas vidas, cheia de descobertas, repleta de amor.
Um ano depois o Adão inaugurava sua própria academia. Nada grandioso, mas charmosa e bem frequentada, o que nos possibilitou começar a construir nossa casa numa rua de paralelepípedos e resedás brancos e cor-de-rosa nas calçadas. O primeiro ano do meu curso de farmácia também já havia passado, e nos preparávamos para passar o primeiro Natal juntos, apenas ele e eu.
Compreendi que basta uma pessoa para transformar a sua vida, seja para o bem ou para o mal. Que a pessoa certa tem o dom de fazer você esquecer qualquer infortúnio, e que amá-la sem reservas vai iluminar os teus dias, mesmo que algumas vezes ele amanheça nebuloso.