Aquele meu estado de alheamento, de vago torpor, foi uma situaçao prolongada que começou a me atrapalhar no trabalho. Varias pessoas comentavam sobre o quanto eu estava "distraido", e Guto julgava que isso era ainda por causa do Leandro.
- Nada disso - eu respondia, confuso - Estou cansado, apenas isso. Preciso de ferias.
Isso seria muito bem-vindo, claro, porem deixar de ir à casa velha dos granfinos, deixar de ver o novinho... Talvez nao agora. Esse merecido descanso poderia esperar.
Era uma tarde de quarta-feira abafada, encoberta com seu ceu pardacento que prometia chuva, principiando a escurecer para o leste. Cheguei à uma hora da tarde e o fedelho nao estava na piscina, como eu esperava, mas no quarto, com um "colega", conforme me informou a mae dele.
Subi, pois jà sabia o caminho. Outra vez vinha um som alto là de dentro do quarto dele, e era Beatles, que eu particularmente nao gostava. Bati na porta, nao responderam, tornei a bater e girei a maçaneta polida: trancada. Bati mais forte.
- Guilherme! - chamei mais alto.
O som foi desligado abruptamente e houve um dialogo baixo, do qual apenas compreendi palavras soltas e pedaços de frases ditas pelo Gui e uma outra voz mais grossa do que a dele.
- Ele chegou - dizia o Guilherme, parecendo cansado.
- Me deixe ficar... - o outro garoto sussurrou algo mais que nao compreendi.
Continuaram discutindo em voz baixa e bati outra vez na porta, chamando. Levaram mais um tempo ate abrir, e entao passou por mim, bufando de raiva, um garoto da idade do Gui, porem um pouco mais forte e moreno, com olhos pequenos e ferozes que se pudessem teriam me assassinado na hora. Entrei no quarto e o Gui parecia atarantado, um pouco vermelho no rosto e na boca, os cabelos em desalinho, as roupas claramente amarrotadas. O odor de cigarro, de suor, de pele nua e quente era evidente no aposento. Na verdade a situaçao toda era evidente, e isso me causou uma sensaçao estranha, misto de desagrado com excitaçao.
- Tudo bem? - fingi que nada tinha visto.
- Sim, sim - respondeu ele depressa, trancando a porta e abrindo a janela para arejar o ambiente.
- Seu amigo? - meus olhos deram com a cama revirada, o lençol branco caindo feito uma onda de espuma pelo chao de madeira lustrosa; parecia que ali tinha ocorrido uma luta corporal violenta, espalhando ate mesmo aquelas bonitas almofadas indianas, jogadas pelo quarto.
- Sim, o Flavio... Meu amigo là da escola - ele mordeu os labios, contariado, vendo que nao podia esconder de mim toda a "cena do crime" - Mas isso nao lhe interessa!
- Com certeza, nao - respondi, frio.
Guilherme nada disse, entrou no banheiro contíguo ao quarto e saiu depois de alguns minutos, de cabelo penteado e rosto lavado, pois recendia a sabonete de rosas quando se sentou perto de mim para a liçao. Perguntei se tinha estudado a matéria que passei e me respondeu que "mais ou menos". Pacientemente, comecei a lhe explicar os pontos principais daquela disciplina, passando para a Geografia. Pedi que anotasse no caderno o que eu ia dizendo e, irritado, ele o fez. As vezes, contudo, enquanto eu falava, ele esquecia as anotaçoes e com a caneta cutucando o queixo, ficava me olhando com aquele jeito analítico dele, penetrando-me até à medula com aqueles belos olhos claros, onde dançava tudo junto, como em uma quadrilha estranha: a malícia, a curiosidade, o divertimento e o desejo. Os dentes brancos e separadinhos na frente mordiam devagar o canto dos seus lábios rosados.
- Acho voce tão bonito, professor _ disparou ele de súbito, em voz baixa.
Se eu pudesse, teria me enfiado num buraco ou fugido correndo dali. Mas meu rosto apenas esquentou como uma chapa no fogão e meus olhos nao conseguiam desviar dos dele.
- Bem... _ gaguejei_ Obrigado... eu acho.
Era ridículo. Parecia que quem tinha quinze anos ali era eu. Ele agora ria de mim, sem o menor constrangimento. Arrastou a cadeira mais para perto e seu cheiro quente e doce me invadiu como o ondear de um vento de verão passando por ramagens de madressilvas.
- Eu sou bicha, Edu _ disse ele baixinho, agora sério, me olhando de muito perto.
O que eu poderia responder? Que eu também era? Que aquele nao era o termo correto, porém homossexual seria a melhor colocação? Fiquei calado, respiraçao curta, esperando.
- E então? _ indagou ele, segurando minha mão devagarinho, num toque morno, leve como a pata de um pombo.
- Então o quê? _ sussurrei.
Guilherme chegou mais perto, se inclinando e sussurrando em meu ouvido uma breve rajada de ar úmido.
- Estou com vontade de te beijar.
O contato quente, molhado e suave da boca dele no meu pescoço deve ter produzido o efeito de uma explosão atômica em mim. Perdi totalmente a cabeça, segurando-o pelos braços magros, puxando-o para meu colo que doía de tão duro, e no qual ele se sentou deliciado. Fechou os olhinhos, mordendo os lábios, se remexendo e eu o segurei, louco, afundando minha lingua furiosa na boca tenra dele, doido por seu cheiro de coisa nova, macia, seu gosto brando, a saliva limpa como a seiva de um broto.
Feito um ladino experimentado, sua mao abriu o fecho de minha calça enquanto nos beijavamos, numa voracidade ensandecida, e quando me dei conta ele jà "tocava" com a maestria tipica do apogeu de sua puberdade. Olhava para baixo, entre os beijos, maravilhado, sorrindo.
- Pare... eu vou te sujar todo - murmurei num tom sofrido, apos alguns minutos.
- Espera - disse ele, saindo do meu colo e empurrando um pouco a mesa; se agachou diante de mim, pegando o membro inchado e o levando à boca numa avidez de faminto.
Agarrei os cabelos macios dele, e o suor escorreu por meu rosto quando sufoquei o gemido. Em guerrilha nenhuma do mundo existiam disparos mais prazerosos do que aqueles, e eu pensei que o mundo seria um lugar melhor se ao inves de os homens atirarem estupidamente uns contra os outros, optassem por atirar em bocas alheias, mas daquele jeito.
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Obrigadinho, espero que estejam curtindo!
Beijao em todos. Respondo vcs nos coments, tà?
Ate! :D