Eu passei o resto da semana pensando no perfume do meu amigo, cheguei até a comprar um perfume igual só pra perfumar o meu quarto e ficar cheirando. Aquilo tudo era muito novo pra mim, eu nunca me apaixonei de verdade e parecia que agora tava acontecendo, só que pelo meu amigo hétero e aparentemente homofóbico.
Na segunda feira eu tava dormindo, nesse dia tínhamos aula apenas a noite, era umas 14 horas e meu celular começou a tocar: era o Neto.
- Bora almoçar? - ele perguntou
- Bora, onde tu tá?
- Relaxa que to passando ai daqui 5 minutos.
Eu só tive tempo de escovar os dentes e passar uma água no rosto. Me vesti correndo, passei perfume, avisei minha madrinha - que fez todo o seu ritual: me deu a benção e me deu uma quantia em dinheiro que eu nunca gastava - e me liberou pra sair.
Quando entrei no carro, ele ouvia sertanejo. Era Victor & Leo. Nisso acabei descobrindo que a dupla sertaneja favorita dele era justamente Victor & Léo.
- Então, onde a gente vai? - perguntei
- Vamos no mesmo restaurante daquele dia
- Tu curtiu o sushi né safado? - nós dois rimos.
Ao chegarmos ao local, vimos tudo muito silencioso, parecia sem graça. Na verdade, não se parecia nada com o ambiente que tinha conhecido.
- O que aconteceu por aqui? - perguntou Neto ao apertar a mão de um dos garçons.
- A banda que tocava acabou de se mudar pra São Paulo, tentar uma vida melhor... agora música ao vivo só aos domingos - disse o simpático garçom.
- Sabe o que tu devia fazer? Tocar aqui - eu dei a sugestão.
- O que? Tá louco? - ele riu.
- É sério. Tipo, tu gosta do lugar, todo mundo aqui gosta de ti, tu canta e toca muito bem e ainda pode descolar uma graninha extra sem precisar depender dos teus pais pra tudo - eu disse.
- E quem disse que eu dependo dos meus pais? Eu trabalho - ele estufou o peito.
- Ah é? De que?
- Bom, trabalho na escola dos meus pais... - eu ri - Mas mesmo assim é um trabalho e recebo por isso.
Depois de discutirmos sobre isso, a comida chegou e comemos. Definitivamente era um saco estar naquele lugar sem a música que era característica do lugar: o pagode.
Ao sairmos, ele me deixou de volta em casa e disse que ia dormir. Ele me convidou pra jogar vídeo game em sua casa, mas eu era uma negação e eu não queria passar vergonha. Acabei inventando que tinha que estudar, e na verdade, eu tinha mesmo.
A tarde as horas pareciam não passar, estava um tédio e um calor de matar na cidade maravilhosa. Aproveitei o tempo livre pra telefonar pros meus pais e contar as novidades pra eles.
Finalmente chegou a hora de ir pra faculdade. Como sempre, minha madrinha foi me deixar, mas ela estava diferente, mais sorridente...
- Ih, ai tem viu - falei.
- O que foi, Kadu? - ela ria
- A senhora, toda sorridente...
- Uma mulher não pode mais sorrir?
- Pode, mas não entendo como a senhora pode sorrir em plena segunda feira a noite - nós dois rimos.
- Em breve você entenderá, meu amor - ela me deu um beijo, me deu a benção, uma quantia em dinheiro e eu sai do carro em direção a minha sala no campus.
Ao chegar, me sentei com os meninos e começamos a conversar sobre um projeto que tínhamos que fazer, que consistia em montar um "foguete" que pudesse ser lançado e tudo mais. Era muito legal porque pela primeira vez a turma inteira estava empenhada em estar unida, porque nossa turma era completamente desunida. Na verdade, da até vergonha falar, mas os bolsistas eram revoltados com os que pagavam mensalidade, porque segundo eles, eles tinham mais capacidade, o que não era bem verdade.
Enfim, a semana passou sem grandes acontecimentos, porém, eu sentia a cada dia que passava a minha amizade se consolidando mais com o Neto. Nós almoçávamos juntos, assistíamos aos jogos de futebol juntos, íamos aos barzinhos juntos, essas coisas de amigos.
No sábado a noite, Neto teve que dormir no hospital dormir com um primo e eu acabei ficando em casa sem nada pra fazer. Minha tia estava completamente desacostumada de me ver em casa nos sábados e logo se surpreendeu comigo em casa as 9 da noite.
- Meu filho, não vai sair com o Netinho?
- Não, madrinha, vou ficar em casa... tenho matéria pra por em dia
- Não minta pra mim, Carlos Eduardo. Você não tem matéria atrasada, olhe pra você.
- Mas é sério, vou ficar em casa - eu ri.
- Não, você vem comigo. Vamos, vista uma roupa, vamos jantar.
Não tive nem tempo de argumentar, minha madrinha conseguia o que queria de mim. Tomei um banho caprichado, me higienizei, vesti minha melhor roupa e segui com ela até seu carro. No meio do caminho, percebi que ela estava meio nervosa.
- A senhora tá bem? - perguntei.
- Meu filho, tem uma coisa que eu quero lhe contar.
Naquele momento mil coisas passaram pela minha cabeça, e o engraçado que só coisas ruins.
- Eu estou indo te levar pra conhecer meu namorado - ela demorou pra dizer a ultima frase.
Confesso que me deu uma puta vontade de rir, mas me controlei e disse que achava super legal da parte dela arrumar um namorado, já que fazia muito tempo que seu ex marido havia morrido. Ela ficou visivelmente feliz com o meu feedback a respeito de seu namoro e ficou toda sorridente.
Chegamos ao restaurante chiquérrimo e logo avistamos um senhor de uns 52 anos, vestindo um terno que aparentava ser caríssimo também. Minha madrinha o cumprimentou com dois beijos no rosto e ele me olhou estranho. Ela me apresentou e eu me sentei a mesa.
Por coincidência do destino, encontrei meus amigos da faculdade lá e pedi licença pra ir até eles. Conversamos por um bom tempo, até que ouço alguém me chamar. Me dirigi até a mesa e me deparei com uma pessoa que ainda não tinha visto ali.
- Querido, esse aqui é o Pablo, filho do Rogério - disse minha madrinha.
O moleque era um puta partido. Corpo legal, nada extravagante, moreno, cabelo cortado na máquina curto, alto, aparentava ser bem educado.
- Prazer - apertei a mão dele que retribuiu apertando a minha com mais força.
O jantar prosseguiu e eu percebi olhares do Pablo pra mim. Será que ele curtia?E ai pessoal, esse capítulo ficou curtinho, né? Po, faltei dois dias com vocês e não podia deixar de escrever alguma coisa hoje, né? To indo pra uma colação de grau e to escrevendo contra o tempo pra não deixar vocês na mão.
Quero agradecer a todos os comentários, notas, caramba, 32 comentários no conto passado, isso foi demais <3 Continuem assim, de verdade, sintam-se abraçados.