Vesti uma legging preta, uma sapatilha rosinha, e uma blusa molinha, parecida com jeans. Dobrei as mangas até o cotovelo, um cinto preto marcava bem minha cintura. Minha mala era gigante. Dessa vez ficariamos lá 10 dias, então tinha que caprichar nas coisas. Coloquei 212 New York *-* e me olhei no espelho. Um sorriso grande dava um toque todo especial àquele look. Olhei no relógio e eram 5:15 da manhã. Fiz os cálculos e estaria chegando no aeroporto de Recife por volta das 8:40. O vôo dela era previsto para às 9:20, então tudo certo. Sai de casa e cheguei na parada de ônibus. Estava vazio. Sentei numa das últimas poltronas, como sempre. Estava visivelmente nervosa e brilhantemente feliz. Como diz uma música dos Los Hermanos: "Até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei". Dentre esse mundão de gente, eu havia encontrado o amor da minha vida, e agora ela finalmente estaria ao meu lado. Mesmo que eu relate tudo aqui de maneira corrida, na real não foi assim. Os dias se arrastaram. Houve dias em que eu precisei muito dela, assim como ela de mim, e a ausência pesava bastante. Mas saber que tudo aquilo estava acabando, fez toda espera valer a pena, e eu esperaria tanto quanto fosse necessário. Sim, aquela menina que um dia me deu um "oiiiiii" todo tímido pelo telefone na primeira vez que nos falamos, agora era minha namorada, era minha mulher, era meu amor - opa, ela é! Vida, te amoooo. Lembrar da nossa história multiplica as borboletas.
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Dei uma pausa enquanto escrevia só pra ligar pra ela e lhe dizer o quanto a amo.
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Coloquei os fones e tocava Adriana Calcanhoto, Lugares Proibidos.
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Eu gosto do claro
Quando é claro
Que você me ama
Eu gosto do escuro
No escuro com você
Na cama
Eu gosto do não
Se você diz
Não viver sem mim
Eu gosto de tudo
Tudo que trás você aqui
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Eu gosto do nada
Nada que te leve
Para longe
Eu amo a demora
Sempre que o nosso beijo
É longo
Adoro a pressa
Quando sinto sua pressa
Em vir me amar
Venero a saudade
Quando ela está
Pra terminar
Baby, com você já, já
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Mande um buquê de rosas
Rosa ou salmão
Versos e vídeos
E o seu nome
Num seu nome
Num cartão
Me leve
Café na cama amanhã
Que eu finjo
Que eu não esperava
Gosto de fazer amor
Fora de hora
Lugares proibidos
Com você na estrada
Adoro surpresa
Sem data
Chega mais cedo, amor
Que eu finjo
Que eu não esperava
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E a única falta
Quando falta
Mais juízo em nós
E de telefone
Se do outro lado
É sua voz
Adoro a pressa
Quando sinto sua pressa
Em vir me amar
Venero a saudade
Quando ela está
Pra terminar
Baby, com você já, já
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Preciso dizer que chorei? Mas era um choro feliz, dessa vez. Um choro de saudade, de uma espera que havia chegado ao fim, de ansiedade, de amor, de todos os sentimentos bons que cabiam dentro de mim. Às 8:45, pontualmente, cheguei ao aeroporto de Recife. Minha sogra me ligou.
Eu: Oi.
Ela: Mah, tá onde, filha?
Eu: Acabei de chegar, sogrinha.
Ela: Estou no portão de desembarque.
Eu: Estou indo. Me espere aí. Bjoo
Desliguei e antes dei um pulinho no banheiro pra retocar a maquiagem.
Andei um pouco e encontrei minha sogra, quem me deu um super abraço. Junto dela estava a irmã do Alan. Falei dela bem rapidamente, uns contos atrás. Era a Aline. Eu não a conhecia, sabia apenas que ela era lésbica assumida. Apertei sua mão e a abracei. Ela riu da minha cara e disse que eu estava muito nervosa.
Eu: É tão visível assim? Rs...
Ela: É. É sim, rs...
Andava de um lado para o outro, já estava impaciente. Queria ver meu amor sair logo por aquela porta. Às 9:14, minutos antes do previsto, o avião dela aterrissou em Recife. Eu estava uma pilha de nervos. Minha sogra se adiantou, e disse que o primeiro abraço era dela. Eu disse que o primeiro era dela sim, mas todos os outros seriam meus, rs... Todo mundo saiu do avião, e nada dela. Meus olhos estavam cheios de lágrimas já. Até a tripulação já saia, e nada dela. Até que minha sogra a viu, eu já estava de costas, chorando. Quando ouvi minha sogra dizer que ela estava vindo, senti o sangue voltar a correr nas minhas veias. Meu coração palpitava acelerado. Ela estava mais loira que da última vez, vestia uma calça de tecido social e uma blusa meio branca, de tecido levinho e transparente. Minha sogra prontamente a abraçou, e ainda nos braços da mãe dela, ela já me olhava. Abraçou a Aline, e mais uma tia que estava lá. E finalmente chegou minha vez. Eu tinha os olhos marejados, ela se aproximou e seu cheiro invadiu minhas vias respiratórias, me fazendo quase flutuar pela multiplicação das borboletas que haviam no meu estômago. Nos abraçamos como se quiséssemos ser uma só, nossos corações quase se tocavam, pela força que batiam nos nossos peitos. E claro, não tivemos como não nos beijar ali mesmo. Eu já nem lembrava onde estávamos, muito menos que minha sogra estava ali. Sempre a respeitei, mas naquele momento nós quebramos todas as "regras" e nos beijamos. Nossos lábios se tocaram, e foi como se fosse a primeira vez. Um beijo casto, calmo, mas cheio de sognificados. Como a coroa de um campeão, que termina a corrida em primeiro lugar. O mundo inteiro poderia ter acabado ali, e eu sequer teria percebido. Nos afastamos e ela falou.
Ci: Eu te prometi que voltaria, não foi?
Eu apenas balanceia a cabeça, ainda estava chorando.
Ela: Então aqui estou eu. Vim para te fazer a mulher mais feliz do mundo.
Eu: Você já faz, meu amor. Eu te amoo e teria esperado o tempo que fosse necessário para viver esse momento com você. Obrigada por estar aqui.
Nos beijamos outra vez e ela pegou na minha mão. Todo mundo que estava no aeroporto já nos olhava. Alguns com curiosidade, outros com cara de assustados, mas uma coisa estava visível para todos: Nós nos amávamos.
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Gente, desculpem a demora. Fiquei feliz de ter mais leitores. Prometo responder todos os comentários em breve. Vou tentar escrever mais um conto a noite. Obrigada por não me abandonarem e torcerem pela chegada desse momento. Beijos para vocês ^^