A chuva batia no vidro liso e empoeirado da janela, produzindo tristes làgrimas sujas, enchendo de àgua os caixilhos e fazendo rodar ciscos e restos de fuligem. Desde a vespera aquela chuva, e agora, provavelmente, os alunos precisariam sair abrigados sob guarda-chuvas, pois era quase o horario do final da aula: cinco da tarde.
Um problema pequeno. A maioria deles iria embora em automoveis dirigidos por motoristas da familia, e as babàs segurariam seus guarda-chuvas para que nao se molhassem. Eram filhos de gente rica, de "burgueses", como dizia Leandro. Uns respingos de àgua nao os derreteriam.
Jà eu tomei um onibus assim que sai da escola, me molhando um pouco. Isso, entretanto, parecia tao irrelevante... Meus pensamentos todos ainda estavam no dia anterior, naqueles minutos freneticos nos quais o Gui se revelou de uma lascividade impresionante para um garoto tao jovem como ele.
Foi de certo modo uma cena impactante para mim, uma sensaçao aguda de irrealidade e loucura quando ele acabou de me limpar com a lingua e mostrou là dentro da boca a gosma branca, revirando-a antes de engolir e lamber os beiços como um filhote de onça saciado com uma suculenta mamada.
Ele nao quis, mas recolhi às pressas meu material da mesa e falei em ir embora, aturdido, culpado, envergonhado. Minha consciencia era um mosquito inoportuno ferroando sem parar.
- Em que rua voce mora? - falou o Gui, segurando meu braço, impedindo minha passagem - Qual?
Falei o nome da rua e o numero da casa, atropeladamente, afastando o garoto de mim com certo horror. Porem eu sabia porque ele queria o endereço, e eu sabia porque tinha cedido. A questao era: quando ele apareceria?
Para a mae dele dei a desculpa de estar me sentindo mal, o que nao era inteiramente mentira, e deixei a minha obrigaçao mais cedo, sem sequer testar o que ele tinha aprendido da materia. Sai de là apressado, fugindo como um bandido.
Na rua eu acabei tomando uma chuvarada que me molhou ate os ossos, e com a pasta me protegendo a cabeça, cheguei com muita dificuldade em casa, fatigado, incredulo. "Nao posso, nao posso", eu pensava repetidamente, me despindo na sala e seguindo nu e friorento para o banheiro. Antes, entretanto, de abrir o chuveiro, estava pra là de excitado, e dessa vez a lembrança da boca macia dele, do peso leve e cheiroso de seu corpo, da sua pele tenra, foi um combustivel forte para mais de meia hora ali debaixo da àgua quente.
Ele nao veio naquela quinta chuvosa, como eu supunha, porem na sexta, no principio da noite. Eu ouvia um pouco de Beethoven ( na minha opiniao a unica musica que merecia ser ouvida era a clàssica) , ainda umido do banho, de calçao e camisa sem passar, quando tocaram a velha campainha de latao da porta. Levantei com o coraçao na boca, e devagar abri.
Gui me olhava, rindo e mordendo o lábio, maravilhoso no seu penteadinho "Beatle", de jeans escuro e camiseta vermelha, que o tornavam ainda mais branco e louro. Entrou sem ser convidado, olhando muito a minha sala, o tocador de discos, as pilhas de livros pela mesa de centro e no aparador, o abajur de luz fraca e suja, coberto de poeira.
- Uma típica casa de homem _ sentenciou ele, dando a volta no sofá_ Prática e descuidada.
Virou-se e me olhou.
- Não mora com ninguem, né? _ indagou _ Aliás, está esperando alguem, agora?
- Moro sozinho _ murmurei, trancando a porta _ E eu estava...esperando por voce.
- Que bom _ ele sorriu, olhando para o corredor curto que levava aos quartos _ Seu quarto? Posso vê-lo?
Hipnotizado por aquele pequeno diabo branco, acompanhei-o na sua curiosidade, mudo, vendo-o mexer nas minhas coisas do quarto: nas roupas no armario, nas gavetas da comoda, nos cadernos e livros que Leandro tinha deixado numa especie de caixa de madeira com o fecho quebrado. Quando Gui se cansou dessa investigaçao estranha, nao disse nada, me olhou fixamente, sentou-se na minha cama e descalçou os sapatos e as meias devagar, erguendo-se um pouco e se livrando do jeans e depois da camiseta, colocando tudo na poltrona gasta ali ao lado. Deitou-se de costas na cama, e com um gesto lento, experiente, aterrorizantemente excitante, livrou-se da cueca branca que vestia, descendo a peça com os dois dedos indicadores presos como ganchos em seu co's. Abriu entao as pernas ao maximo, me encarando obstinadamente, sorrindo. Rosado. Sem pelos. Ereto e ainda em desenvolvimento. Coxas finas. Molhou um dedo na boca, devagar, de um jeito altamente sensual e penetrou a si mesmo, gemendo baixo e fino, fechando os olhos. Fedelho vagabundo. Cadela. Minha cueca estava molhada na frente, eu queimava. Arranquei minhas roupas, furioso, e avancei sobre ele com um bote de tigre.
Estar dentro dele era como ser arrebatado por uma onda forte de morneza, torpor e maciez. Era, na verdade, o prazer estranho e novo que eu sentia de, sendo um homem de quase trinta anos, poder possuir um garoto que ainda nem tinha os primeiros fiapos de barba na cara. Seria uma pederastia, talvez, como os gregos antigos, e aquilo ainda mais me acendia o desejo, somado ao fato de ele me receber com um apetite extremo, delirando debaixo de mim, gemendo dum jeito manhoso feito um animalzinho delicado experimentando o primeiro cio.
- Ai, Edu... Vai... Vai... Mais, Edu... - sussurrava arqueando o corpo, me beijando e vertendo um suor limpo e sem cheiro.
Ejaculou rapido umas gotas esbranquiçadas, poucas. Nesse ponto estremeceu numa agonia, respirando pela boca e mordendo o labio, de olhos fechados no seu prazer extremo de anjo sodomita. Nao aguentei ver aquilo, tirei o pau depressa de dentro dele, nervoso, e com a mao terminei o serviço, lavando-o dum esporro denso e abundante que impregnou o ar com um cheiro forte. Me deixei cair extenuado. Estava acabado. Leandro foi um revoltado filho da puta que preferiu gozar com um velho em plena selva. Adeus, para sempre.
- Queria isso mesmo, bem assim -sussurrou o Gui, engatinhando sobre meu corpo suado e ainda tremulo - Queria um homem completo, adulto, e nao aqueles moleques sem pelo no saco.
Passei a mao por seu rosto enrubescido, por seus cabelos cujas pontas molhadas pelo suor colavam-se à testa e nas temporas.
- Dormiu com muitos, entao? - perguntei.
- O que voce acha? - ele me olhou com deboche.
- Acho que agora, comigo, isso acabou - falei serio.
O sorriso que se iniciou sutil em seus labios avermelhados se expandiu enquanto ele me olhava com uma expressao que era ao mesmo tempo de pena, desprezo e escàrnio. Terminou com uma risada alta, na minha cara.
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