CAPITULO ÚNICO
TRILHA PRINCIPAL- TALKING TO THE MOON- BRUNO MARS & BEIJO ROUBADO EM SEGREDO- MARCELO CAMELO
O MIO BABBINO CARO- TRECHO
O mio babbino caro
Mi piace, è bello, è bello
Vo' andare in Porta Rossa
a comperar l'anello!
Lá estava eu, cantando essa opera histórica. Era realmente corajoso, pois poucos homens o fazem. Eu sou um brasileiro sonhador. Sonhei demais, acabei vindo parar na Itália. Sempre elogiaram minha voz, diziam que eu seria cantor de opera facilmente. Acabei conseguindo espaço em alguns concertos, mas isso não era muito frequente. Tinha 25 anos. Estava em Milão. Estava super feliz, porque havia conseguido entrar naquele concerto. E agora fazia as pessoas irem aos prantos cantando esta musica que ficou eternizada em musas como Montserrat Caballé e Maria Callas. A grande realidade é que eu não sabia fazer outra coisa na vida. Meu dom era cantar, meu dom era divertir as pessoas com boa música.
" Babbo, pietà, pietà!
Babbo, pietà, pietà!"
Era aplaudido de pé logo após essa frase. A felicidade estava estampada em meu rosto. A tanto tempo eu não via uma platéia tão grande se render ao meu talento. Era o fim do show. Desci as escadas e caminhei lentamente ao camarim. Recebi o Abraço de Diana, outra brasileira sonhadora.
- Parabéns, você foi muito bem- ela falou, me acompanhando até o camarim com aquele super sorriso.
- Muito obrigado. Você não sabe o quanto eu tô feliz, o quanto eu me preparei pra esse momento, e agora sou aplaudido assim, é quase inacreditável.
- Ainda acredito que mais portas se abrirão pra todos nós.
- Deus te ouça
Comecei a tirar a minha roupa, e parte daquela maquiagem que eu costumava usar para esconder aquelas marcas inoportunas, resultado da adolescência. Me observei no espelho. Eu nunca me considerei lindo, mas também não era feio. Tinha um cabelo loiro ligeiramente enrolado, que fazia cachinhos nas pontas. Era bem branco, com olhos verdes, alto, e tinha um corpo aceitável. Tinha boca pequena, mas que combinava perfeitamente comigo. Meus olhos eram também proporcionais. Estava feliz comigo mesmo.
- Você conseguiu de novo- falei pra mim mesmo
- Pois é- quase morro de susto quando vejo uma pessoa escorada na porta. Ele era um desconhecido.
- Quem é você ?- falei, rapidamente vestindo a camisa.
- Um fã- arregalei os olhos e me acalmei.
- Um fã ?- fiquei impressionado, pois geralmente não tinha muitos fãs. Na verdade ele era o primeiro que tinha vindo falar isso pra mim.
- É. Na verdade, eu acompanho seus shows a muito tempo. Você canta muito bem- me impressionei com ele. Me impressionei com seus traços firmes e másculos, seu português perfeito, seu corpo marcante embaixo da camisa, seus azuis bem claro, quase cinza. Ele era fascinante. Tinha uma pele bronzeada, cabelos castanhos e exalava beleza.
- Tem certeza que sou eu mesmo o cantor que você está falando ?- continuava incrédulo
- Sim, é você, eu nunca me engano- vi ele acender um cigarro e tragar. Eu detestava cigarros, mas ficava tão charmoso nele.
- Como se chama ?
- Daniel. Você eu nem preciso perguntar, sei que se chama Mariano Silva- sorri- muito prazer.
- O prazer é meu.
- Você poderia cantar uma música pra mim ?
- Qual ?
- Eu Vou Seguir- ri
- Bem, não é muito minha área mas eu vou tentar.
EU VOU SEGUIR- TRECHO
Eu vou seguir Sempre Saber que ao menos eu tentei E vou tentar mais uma vez Eu vou seguir...
TEMPO DEPOIS
O tempo era mais curto. Havíamos engrenado uma turne pela Itália. Passamos por Nápoles, Roma, Torino, dentre outras cidades, até voltar pra Milão. Fazia dois meses que ali eu não pisava. A minha imagem no cartaz a frente do teatro era sinal de orgulho. Talvez aquela profecia dita por Diana 60 dias atrás estivesse realmente funcionando.
- É, aqui estou novamente- falei, voltando pro mesmo camarim que havia ficado da outra vez.
HALLELUJAH-TRECHO
...The minor fall, the major lift The baffled king composing Hallelujah Hallelujah Hallelujah Hallelujah Hallelujah...
Após mais um concerto proveitoso, voltei pro meu camarim, dessa vez sozinho. Tirei rapidamente aquela roupa, e a joguei sobre a cadeira. Foi quando percebi que havia algo sobre ela. Era um envelope.
" Ainda continuo sendo seu fã. Vamos beber alguma coisa ? Te espero no bar Broadway. Daniel"
Ergui a cabeça e sorri involuntariamente. Ele não tinha esquecido. Mas o que será que ele queria comigo. Uma pessoa como ele não parecia ser gay. Ou parecia ?
MINUTOS DEPOIS
- Entao quer dizer que você voltou pra cá ?- perguntava ele, erguendo a sobrancelha de modo sensual.
- Sim, voltei. Mas não pra ficar. Nossa turnê ainda não terminou. Ainda há muito a se conquistar e pouco tempo. Queremos que a Itália toda nos conheça- ele riu.
- Que projeto ambicioso- ali, a beira daquele lago, eu conseguia pensar melhor em tudo o que se passava, no que poderia vir, pensava em mim, pensava em tudo.
- O que você mais gosta de fazer ?
- Hum, ler, ir a concertos, me divertir- ri. Ele ficava cada vez mais interessante.
- Então você gosta de música clássica ?
- Me fascina- seu sorriso me fez perder os sentidos aquele momento. Como ele era sensual e leve ao mesmo tempo.
- O que eu mais gosto de fazer é cantar, acho que eu não viveria sem música- o silêncio reinou por alguns segundos.
- Você poderia cantar eu vou seguir de novo ?- ri.
- Já disse que não é o meu forte, mas tudo bem, eu canto- comecei a cantar. Fui levando. Quando cheguei ao refrão, a surpresa. Seus lábios haviam tocado os meus. Foi incrível. Um sentimento forte e mágico aflorou em mim. Apenas o abracei e retribui aquele beijo como se não houvesse amanhã. Sua boca era voraz, e fazia eu me arrepiar por completo. Suas mãos me faziam perder o fôlego, e o sentido por segundos milimetrados. Nunca tinha sentido algo parecido. Era sublime. Senti ele me soltar.
- Vamos pro meu apartamento
TEMPO DEPOIS
Ao chegar lá, sua mãos foram ágeis e tiraram minha camisa rapidamente. Que pegada ! Eu já estava ofegante, e nem havia rolado nada. A porta foi trancada e senti sua aproximação. Sua mão foi de encontro ao meu sexo, que já pulsava debaixo da cueca. Ele tirou e começou a me masturbar. Fiz o mesmo com ele. Os beijos no meu pescoço arrepiavam todos os pelos do meu corpo. Que momento incrível ! Senti sua boca tocar meu pênis, me levando as nuvens. Eu nunca imaginei que estaria fazendo aquilo com ele. Ele tinha segurança, sabia o que fazia, nunca deixava cair no óbvio. Mordi os lábios quando seus dedos percorreram meus ânus. Algumas chupadas consagradoras em seu sexo foi o suficiente pra lubrificar. Senti como se algo me rasgasse quando ele iniciou a penetração. Em pouco tempo, o prazer me fez ter mais certeza de que nunca me arrependeria de ter feito aquilo. De que aquele momento estaria eternizado pra sempre, e que sempre estaria em nossas memórias. Gozamos ao mesmo tempo. Cai exausto, ao seu lado.
- Eu quero estar do seu lado, pra sempre.
TEMPO DEPOIS
E foi assim que ele decidiu que me acompanharia nas turnês. Largaria tudo pra viver a minha vida de aventuras. Ele foi irredutível.
- Eu não quero mais ficar longe de você. Eu vou e pronto- e assim arrumamos as malas. Inventei uma história mirabolante de que ele seria meu irmão órfão, e todos caíram. Partiríamos de ônibus em direção a Lecce. Eu não me sentia muito bem aquele dia.
- Pode me ajudar com essa mala Dani, eu não estou muito bem- ele começou a me ajudar. Fomos andando lentamente, mas na metade do corredor, senti uma tontura. Vi tudo ficar escuro, apaguei.
TEMPO DEPOIS
Não sei quanto tempo se passou. Acordei em um hospital. Quando me espertei de verdade, pude ver Daniel ao meu lado.
- Oi meu anjo- ele falou, arrancando um sorriso meu.
- Oi- minhas memórias foram sendo ativadas aos poucos- já estamos em Lecce- agora ele riu. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Não amor, ainda estamos em Milão.
- O quê estamos fazendo aqui ?
- Você se sentiu mal e viemos pra cá.
- E o que eu tenho ?- o médico entrou em seguida.
- Vejo que o nosso paciente já acordou.- o sorriso dele era contagiante.
- Como ele está ?
- Bem, ele tem problemas cardíacos.
- E vai ficar tudo bem ?- perguntei eu. O médico ficou em silêncio, preocupando-me- fale doutor.
- Bem, a realidade é que o problema é grave- me assustei- e a única resolução é o transplante.
TEMPO DEPOIS
Começamos a procurar doadores, mas estava difícil. Durante este tempo, minha única caminhada era da cama pro banheiro. Qualquer movimento maior poderia sobrecarregar o coração, e me levar a um infarto. Meu passatempo principal era cantar. Ficava horas cantando, alegrando os enfermeiros, que diziam que minha voz era como a de um anjo. Meu porto seguro foi Daniel. Ele me ajudou, ele me apoiou, ele me deu a vida.
LONGE DALI
Daniel havia marcado um encontro com o médico num bar longe do hospital.
- Olá Seu Daniel
- Olá Doutor
- Bem, eu estou bem curioso pra saber o que o senhor deseja e por que não me falou no hospital ?- Daniel baixou a cabeça.
- Doutor, você melhor que ninguém sabe o drama que o Mariano vive.
- Claro, e é por isso que estamos a procura do doador, mas ainda não o encontramos.
- É justamente sobre isso que eu quero falar com você. Bem, eu quero me submeter aos exames- o doutor arregalou os olhos.
- Mas porque ? Você está vivo, não pode doar.
- Se eu for compatível, eu abdico da minha vida pra que ele viva a dele. Tenho certeza que ele ainda tem um longo caminho a trilhar, e não vai cometer tantos erros quanto eu cometi.
- Mas, isso não é permitido pela medicina, seria homicídio.
- Doutor, ouça o pedido de um coração apaixonado. Faça os exames, e se eu for compatível, assino documentos atestando que estava ciente do que iria acontecer- ele respirou fundo-por favor.
- Ok, vamos fazer.
TEMPO DEPOIS
- E então doutor, o senhor já tem o resultado ?- Daniel estava aflito.
- Sim
- E então ?
- Por quase que um milagre, vocês são compatíveis- Daniel respirou fundo- e então ?
- Vamos fazer. Por favor, não conte nada ao Mariano.
- Ok
TEMPO DEPOIS
Eu continuava deitado na cama. Me sentia um pouco mal. Já estava necessitando mais tempo do aparelho. Vi a porta se abrir lentamente, era Daniel.
- Oi- ele falou, entrando.
- Oi Dani, tudo bem ?
- Sim- vi em seu rosto que não estava bem- tenho uma ótima notícia, os médicos encontraram um doador- arregalei os olhos.
- Sério ?
- Sim, você vai sair dessa - falou, me beijando em seguida. Vi ele se sentar ao meu lado e ficar acariciando meu rosto.
- O que houve ?
- Nada. Só estou te observando, voce é tao bonito- seus olhos estavam marejados- eu te amo, desde o primeiro momento que te conheci, naquele palco, cantando o mio babbino caro. Sabia que você era o homem da minha vida- sorri.
- Era ? Não sou mais ?
- É, desculpa.
- Eu te amo muito mais, você fez minha vida ser tão diferente, de um jeito que eu nunca pensei que seria
- Eu sempre farei tudo por você, aqui ou em qualquer lugar. Nunca esquecerei de você, espero que nunca esqueça de mim. Saiba que você é o único que eu amei. Acho até que eu nem mereço você, sempre fui uma pessoa tão ruim, pra ter alguém tão bom só pra mim- as lágrimas caiam sem parar- te amo- comecei a lagrimar também.
- Porque você está dizendo isso ?
- Deu vontade- ele sorriu- Você é a pessoa mais importante da minha vida, não esqueça.
- Ok, nunca vou esquecer- ele beijou meu rosto.
- Tchau, preciso ir- limpou os olhos- te amo- ele demorou pra soltar minha mão. Eu não queria que ele fosse, mas não consegui fazer nada. Foi a última vez que o vi.
7 ANOS DEPOIS
Cá estou eu, visitando o túmulo dele, depois de 7 anos sofridos sem ele pra me abraçar, me beijar e dizer que me ama. Todas as minhas sensações estavam certas. Nossa primeira e unica vez nunca mais saiu da minha cabeça. Nunca achei que sentiria tanto a falta de alguém. Ele foi enterrado do lado do lago que ele mais gostava. Fiz o transplante, estou ótimo. 1 ano atrás, o médico acabou me contando que Dani havia decidido fazer a eutanásia, pra me dar o direito de viver. Chorei, claro. Mas agora, só resta admiração, e amor. Um amor que nunca cessa. Admiração por ele ter sido tão corajoso. Por ele ter sido tão solidário. Dali em diante eu soube que era ele o amor da minha vida. Que mesmo longe, ele estava perto. Sentia isso, quando estava nos palcos. Quando fazia aquelas pessoas felizes. Acabei enfim, alcançando a fama. Adotei uma criança, e nela coloquei seu nome. Sempre disse a Daniel Jr. que ele tinha um outro pai, e que ele não estava mais com a gente por que tinha sido um herói que me fez o homem mais feliz do mundo. Sim, estava escrito. E só tem uma explicação pra ele ter feito tudo isso, amor. Nada mais que amor. Amor que move as pessoas boas. O bom e velho amor.
FIM
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