Acordei e continuei com os olhos fechados, em alguma tentativa de tentar saber se eu havia sonhado um pesadelo terrivel, ou se tudo era verdade. Silencio no meu quarto, as 6:30 da manhã, eu ouvia no fundo, algum vestigio de que a noite passada havia sido real, lá estava ela, a nossa música tocando baixo, me trazendo o pior dos sentimentos já sentidos, abri os olhos, olhei em volta, tudo era calmo, mais era a calmaria ambiente, porque dentro de mim existia uma dor batendo como uma bateria, uma dor de haver perdido muito mais do que alguem, ou alguma coisa, a for era de saber que à partir daquele momento, eu havia me perdido de quem eu era, havia me perdido no caminho de guerra, e em todos os momentos em que eu corria dos monstros antes de dormir, agora, eu já sabia que alguma coisa em mim entrava em mutação, não sabia dizer se era uma loucura, uma paranóia, ou um lapso qualquer.
Sentei-me para tomar café, sozinho, enquanto minha mãe e meus irmãos ainda dormiam, é a chuva caia lá fora, e era como se no meu teto houvesse um buraco enorme, porque eu me sentia enxarcado, totalemente só, como se não houvesse mais ninguém no mundo, apenas eu, eles, e o meu coração formando um mosaico, totalmente partido.
Fui andando ate o meu trabalho, o mercado não ficava mais de quinze minutos da minha casa, mais, durante o caminho, que parecia interminável com todas aqueles pingos de chuva me molhando, eu pensava em inúmeras coisas, e desculpas.
* Bom, foi tudo um mal entendido! Na hora do almoço o Vinicius vai chegar, e eu vou ir falar com ele, vamos voltar a ser tudo o que "éramos" antes."
Trabalhei a manhã toda imaginando o melhor jeito de falar com ele, as melhores palavras a serem ditas, e o melhor olhar para encara-lo diretamente nos olhos. A medida que a manhã passava, mais eu ficava nervoso, essa é a minha chance, não posso falhar-Pensei.
Depois de muito custo, chegou a hora! Tomei folego, repasei na minha cabeça tudo o que eu deveria falar, e rezava para não falar nada de errado, e ou, que o afastasse ainda mais de mim, porem, eu estava confiante, eu tinha quase certeza de que daria certo. Parei na ponta de cima da escada que vinha do depósito, e sabia que ele logo passaria por ali para ir pro açougue. Os funcionários começaram a subir, eu estava com o coração na mão, ate que, o havistei subindo lentamente os degraus, olhando para cima, e quando me viu na ponta da escada ligeiramente desviou o olhar para baixo, na intenção de me ignorar, e veio subindo lentamente os degraus, mais parecendo que queria evitar de chegar ao topo e me encontrar lá.
_ Vinicius, quero falar com você.
Falei, enquanto ele passava devagar na minha frente, inundando minhas narinas com o seu perfume. Ele agora olhava para baixo.
_ Vinicius?
Foram as palavras que eu disse ao ver ele virando de costas pra mim, e seguindo com mais pressa o seu caminho até o açougue, sem ousar olhar em mim, e menos ainda, olhar para trás.
_ Porque? Porque?
As palavras saíram baixas e emboladas, pelas lagrimas que caiam em linha reta pelo meu rosto, enquanto, eu sentia, que havia sido aberto um buraco abaixo dos meus pés, e eu estava caindo, no buraco mais fundo em que ele havia acabado de me jogar, sendo totalmente o oposto de quando ele me ergueu, nas mais altas nuvens, á dois dias antes.
Eu nunca previ ele chegando, eu nunca mais seria o mesmo. Quase que me rastejando, segurei nos corremãos da escada, e fui em direção ao banheiro, tremia minhas mãos, tremiam minhas pernas. Com muito custo cheguei no banheiro, tranquei a porta de um dos reservados, abaixei a tampa e sentei encima.
As lagrimas agora tomavam conta do meu rosto, os soluços eram interminaveis, eu novamente me lembrava de que eu jamais havia chorado desse jeito, eu jamais havia me sentido apenas um lixo, um qualquer, ou um nada. Sentado em meio á tantas lagrimas eu estava relembrando milhares de memóriase sobretudo, pensando em tudo que nós passamos nos últimos 12 dias, e era como se o tempo tivesse parado naquele momento, em que, eu tinha tudo, eu tinha as mãos dele nas minhas, eu tinha os beijos dele, porque quando o tempo parou eu tinha ele.
Eu não sabia em como fazer para me sentir melhor, as vontades se misturavam dentro de mim, vontade de te-lo, vontade de chorar, vontade de morrer, e vontade de não ter nenhuma vontade. Sequei as lágrimas, abri a porta do banheiro, e olhei para frente, mais, me supreendo ao olhar para o espelho. Aquele rosto, me fez dar um pequeno pulo pra trás, porque era um rosto branco, boca vermelha, pouca barba, e ali estavam os olhos que eu sabia que me tiravam todas as forças, sugando tudo o que eu era, tudo o que eu poderia ser, e também, tudo o que eu jamaia seria.
Ele me olhou pelo espelho, e dentre todas as coisas que eu poderia fazer, achei que o melhor a fazer era, não falar nada, por enquanto, alias, eu não estava tão preparado para falar com ele, porque eu sabia o quão vulnerável eu estava, eu sabia que naquele momento eu era uma linha frágil, e se ele me ignorasse novamente, eu não aguentaria mais nada.
Sai do banheiro, com a maior cara de choro do mundo, com as pernas tremendo, coração na mão, mais eu sabia que eu não desistiria assim,e ele não podia me deixar assim, e tudo era uma questão de faze-lo entender, eu via que alguma cousa havia dado terrivelmente errado, ele não vai terminar o que começou? Mais eu não consigia respirar quando quando ele não estava perto. Eu estava assombrado.