Sobre a mesa de madeira sem brilho estava o copo com conhaque pela metade e o revólver 38 com duas balas já encaixadas no tambor. Eu olhava para essa última peça mortífera, sentindo ainda na boca o gosto impactante do conhaque, e pensava comigo que o exagero de meu pai em me presentear com aquela arma quando vim para S. Paulo estudar não era agora inteiramente inútil.
Morrer num inicio de noite fria e escura seria diferente de morrer no calor, em pleno dia? Nao sabia. Mas porque raios eu tinha essas duvidas tao irrelevantes na hora derradeira?
Entornei o resto do conhaque que desceu como agua fervente. De fato, o namoradinho nao era o pior. Poderia ser outro, mais novo ou mais velho do que eu. Ou ninguem. A questao central, o ponto fulminante da merda toda era que ele me odiava e tinha nojo de mim. Incapaz do desejo, da entrega, do arrebatamento de antes, apenas repugnancia e rancor. Essa constataçao cruel acabava com tudo. Me reduzia a nada. Eu tinha morrido ali mesmo, morto pelo olhar de odio e repulsa dele. The End.
O revólver era pesado. Nenhum mistério atirar com ele, e era estranho pensar que meu pai, que tivera a intençao de armar a mão de seu filho contra possiveis ladrões, na verdade armava-a para o suicídio de seu primogênito... Agora? Na boca ou na cabeça? Olhei o relógio de parede: seis e vinte. Linda morte! Um professor fedendo a conhaque, sentado à mesa duma cozinha, explodindo os proprios miolos porque o coraçao havia muito que tinha ido pelos ares, esmagado pelas mãos impiedosas de um loirinho endiabrado que me mandava para o inferno mais cedo.
Na hora, achei melhor fazer a coisa em pé. Coloquei a cadeira no lugar, peguei na arma, fascinado com seu brilho, sentindo seu peso... Agora? Hesitar seria estupidez.
- Edu! _ gritou Jonas num tom assustado, entrando na cozinha e avançando feito um louco em mim, ainda todo sujo de graxa, suor e óleo, vindo da oficina _ Seu burro!
O soco dele parecia ter me quebrado a cara, literalmente. Senti gosto de sangue na boca, cheguei a cuspir um pouco no chão onde cai de gatinhas, arquejando. A arma caiu ao pé da mesa e Jonas chutou-a contra a parede, furiosamente. Ergui-me devagar, ainda perplexo e agora com dor.
- Voce enlouqueceu? - bradei.
- Eu? Nao ainda ao ponto de me matar por um guri malcriado - resmungou ele, pegando o revolver e saindo para a àrea de serviço nos fundos da casa; cada vez mais espantado eu o segui, tocando devagar meu rosto que pulsava como uma bexiga de sangue fresco e quente.
Estava quase que completamente escuro ali fora, uma noite cujo frio crescia, quase insuportavel. Ao menos dava para ver o Jonas parado em frente ao tanque cheio de àgua, levantando o revolver e o deixando cair là dentro com um som baixo de "ploc", inundando de àgua suja todo o mecanismo interior da peça.
- Maldito! Veja o que fez! - gritei, incredulo, tentando esmurra-lo.
Ele era mais àgil, mais forte, esquivava-se com facilidade, e numa dessas me segurou pelos ombros, empurrando-me contra a parede limosa ao lado do tanque, num baque agressivo que me fez gemer abafado. Espremeu seu corpo contra o meu, ofegante, naquele cheiro acre e intenso de oleo de motor em suas roupas, colocou uma mao no lado do meu rosto e afinal sua boca na minha, quente e um pouco àspera.
Sua barba por fazer raspava um pouco. Saliva forte, de homem adulto, molhando minha boca entreaberta, quase imóvel e ainda dolorida do murro dele. No escuro, atônito, eu mantinha os olhos abertos fixos nele, sentindo sua ereçao se erguendo dentro do macacão sujo de mecânico. Tão diferente do Gui, tão mais intenso, mais masculino... Uma virilidade amarga e poderosa.
Afastou-se, respirando com esforço. Parecia tão ou mais assustado do que eu .
- Porque fez isso? _ sussurrei.
- Eu não sei _ disse ele em voz baixa, suspirando e seguindo para dentro de casa.
Ate me esqueci do revolver dentro do tanque, a essa altura certamente imprestavel. Entrei e na sala ouvi que Jonas se trancou no banheiro e ligou o chuveiro. Depois de atrapalhar minha tentativa de suicidio, agora relaxava em banho quente! Grande imbecil.
Aquilo ainda fervia na minha cabeça, aquela atitude intempestiva, incomum nele que me parecera sempre calmo e cordato. Mas era um intrometido como o irmao, um bisbilhoteiro desgraçado, voyeur ainda por cima. Excitou-se ao me beijar. Seria virgem em contatos sexuais com outros homens? Que sujeito esquisito...
Saindo de meu quarto uns instantes depois, atarantado como estava com tudo, topei com Jonas no corredor, acabando de sair do banho, abrigado do frio por um roupao cor de ferrugem, velho e pegando fiapos. Parei em frente a ele, retribuindo aquele olhar grave com o qual ele me encarava. Nada foi dito. Ele arremeteu contra mim, feroz, empurrando-me contra a parede e outra vez enfiando sua lingua quente na minha boca. Mais embaixo o roupao se armou, duro na minha virilha. Acabei gemendo, sufocado, eletrizado com aquele jeito bruto dele; sem refletir muito levei-o para meu quarto. Que se lascasse tudo. Ele queria? Entao ia ter.
O abajur iluminava mal, a cama estava fria. Fiz com que Jonas se deitasse e, devagar, como quem tira a embalagem de um doce apetitoso, abri seu roupao, expondo aquele corpo forte, o peito amplo recoberto de pelos escuros, abndantes e macios. Um belo pau, proporcional ao seu tamanho, erigindo impaciente por entre uma selva de pelos pubianos grossos. Toquei em seu saco generoso, pesado, bem quente, e ele gemeu. Sem hesitar comecei lambendo seu corpo pelo pescoço, descendo, fazendo a lingua trabalhar nos mamilos, e depois onde mais importava. Sua expressao atenta e receosa logo cedeu espaço às caretas de prazer, e ele urrava recebendo o sexo oral, me fazendo suspeitar de sua completa virgindade. Levantei rapidamente e me livrei de minhas roupas, reparando no olhar dele sobre meu corpo, no meu pau que jà lubrificava. Que falta senti de um homem completo naquela cama, para mim. Pois meu desejo sempre tinha sido pelos tipos viris e potentes; desde adolescente fui assim. Surgiu, entretanto, um fedelho no meio do meu caminho.
Novamente sobre ele, beijos que asfixiavam, apertoes, pequenas mordidas. Sendo chupado Jonas gemia numa voz grossa, apertando com as maos o lençol, fechando os olhos como se nao suportasse mais nada. De subito se virou, passando por cima de mim e me prendendo entre suas pernas grossas. O frio que fazia nao estava dando conta do nosso calor e suàvamos como se estivessemos febris. Eu sentia naquele nosso codigo mudo que ele ainda receava por algo mais profundo, e nao insisti nisso por enquanto. Foi mais um sexo de fricçao, de roçar de corpos, muito suor e saliva, penis em guerra um contra o outro, e sobretudo o olhar fixo e austero de Jonas no meu, um olhar de quem nao acreditava em nada daquilo, mas que nao queria parar. Logo estremeci debaixo dele, agarrando com furia suas nàdegas umidas de transpiraçao e polpudas; suas maos enroscaram-se no meu cabelo, ele me deu um beijo cheio de saliva espumosa e urrou abafado como um urso, movendo o quadril sobre o meu e me banhando com seu esporro espesso, abundante e quente como sangue. Era tanto que senti escorrer dos dois lados de meu abdomem, num odor forte. Um grande produtor de hormonios masculinos aquele rapaz. Tinha de sobra, como um exemplar perfeito de macho.
Nos separamos na cama revirada, exaustos, meio desnorteados pelo gozo. Um descanso silencioso, quase constrangido, sem nos olharmos, nos entendendo sem palavras. Quanta diferença! Achava que o Gui era feito uma pluma branca voando da minha mao, sem que eu conseguisse segurà -la; Jonas seria como um potro manso, quieto, docil porem firme. Nenhum deles trazia sossego aos meus tormentos, e agora ainda menos.
- Ele me odeia, Jonas - sussurrei, quebrando nosso estranho e habitual silencio.
Não nos olhavamos, lado a lado na cama. O frio começava a incomodar, meu rosto latejava do soco que levei. Porem, por dentro, na alma, a dor era pior. Era um buraco negro me devorando. Meus olhos arderam.
- Ele me odeia _ repeti baixinho.
Jonas nao respondeu.
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Valeu, gente! :)
Adoro a participaçao de voces! Vamos lá!
Beijao em todos .