Cap.2
A colher acabou caindo da minha mão. O baque foi tão grande que eu não tive reação.
- O que ?
- Eu vi ela jogada no chão, eu vi, cheia de sangue, não sei o que aconteceu-ela olhou pro chão e olhou pra mim. As lágrimas começaram a cair lentamente dos meus olhos. Eu não podia acreditar.
- Não pode ser
TEMPO DEPOIS
Diana praticamente me arrastou até o local. Eu não esboçava reação. Estava em estado de choque. A única coisa que vinha na minha cabeça era a palavra mãe. Logo chegamos lá. Um aglomerado de pessoas circundava o local. Passamos por aquele batalhão e pudemos entrar. Os médicos estavam colocando ela na ambulância.
- Ela morreu ?-perguntei, não querendo ouvir a resposta.
- Não. Ela está viva- as lágrimas escorreram novamente- mas sofreu um acidente violento.
- O que aconteceu ?
- Ela foi atropelada por um motorista desgovernado- de repente vi um homem vir em minha direção, correndo. Ele estava em uma situação péssima, todo assanhado e com os olhos vermelhos.
- Me perdoa garoto, não foi culpa minha, o carro perdeu o freio, por favor, me perdoa, me perdoa- ele repetiu essas duas palavras diversas vezes, parecia transtornado. Naquele momento eu não consegui falar nada. Entrei na ambulanambulância e fomos em direção ao hospital. Eles colocaram uma máscara de oxigênio nela. Havia muitos arranhões em seu rosto. Deslizei minha mão pelo rosto dela, as lágrimas caíram, eu não conseguia acreditar que aquilo podia ter acontecido.
- Mamãe, seja forte por favor, eu preciso de você, não me deixe- ela não esboçou reação. Me lembrei da minha infância. Um dia eu também sofri um acidente. Um dia ela sentiu o que eu estou sentindo agora.
FLASHBACK
Eu tinha oito anos. Sempre fui uma criança muito sapeca, que não parava quieto, brincava a todo momento, não gostava de ficar parado a nenhum minuto.
- Você não pode chegar perto daqui entendeu ?- minha mãe apontava pra aquel escada maldita. Criança sempre é curiosa. Minha mãe fazia a comida, eu brincava do lado de fora como sempre. Chovia. A curiosidade me fez aproximar daquele lugar proibido. Minha mãe não deixava chegar perto dali.
- Nem é tão perigoso assim- dizia eu, olhando pra beira.
- Cássio !- o susto fez eu despencar daquele lugar. Aquela traquinagem me rendeu um braço e uma costela quebrada, 6 meses de hospital, 2 semanas de coma, um traumatismo craniano. Segundo os médicos, por um milagre eu não fiquei paraplégico, e nem fiquei com sequelas mentais. Só fiquei com um resultado, eu não podia fazer exercícios braçais.
FIM DO FLASHBACK
Eu estava desesperado por notícias naquele hospital.
- Saiu algum boletim Cássio ?- Diana perguntava
- Não maninha, não saiu nada-a abracei e novamente algumas lágrimas caíram- como será que ela está ?
- Não sei, mas tenho certeza que ela vai ficar muito bem-dizia ela, tentando me tranquilizar. Mas a verdade é que ela não me tranquilizou. Eu não ficaria tranquilo enquanto ela corresse risco de vida. Eu não sei o que faria sem ela. Eu acho que não sobreviveria sem minha mãe. Acredito que morreria internamente. Mais tempo se passou. Minha aflição só aumentava. Até eu ver um médico aparecer.
- E então doutor, como ela está ? Não esconda nada por favor ?
- Bem, o acidente foi extremamente violento. Ela sofreu um traumatismo craniano, além de algumas fraturas. Sinto muito, mais o caso dela é grave, e eu não sei se ela vai sobreviver- imediatamente as lágrimas correram.
- Não, não pode ser !
- Sinto muito, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance pra que ela se mantenha viva
- Por favor doutor, salve a vida da minha mãe.
- Agora eu tenho uma notícia muito ruim pra dar pra vocês. O caso dela é bem grave, e nenhum hospital público vai poder dar a assistência que ela precisa. O único jeito de sua mãe sobreviver é transferindo para um hospital particular- Não acreditei no que ouvi.
- Como é ? Eu pago meus impostos, e minha mãe precisa ser transferida para um hospital particular pra viver ?- gritei com o médico
- Olha, essa é a situação do nosso Brasil. Não é porque eu quero, é apenas porque aqui ela não vai ter a assistência que precisa. O hospital está sucateado, ela não vai ter um bom acompanhamento aqui- olhei pra Diana, com uma cara de " E agora ?"
TEMPO DEPOIS
Esperei pra tentar ve-la, mas não deixaram os familiares verem ela. Vencido pelo cansaço, acabei voltando pra casa. Vi Douglas na frente de casa.
- E ai maninho, eu soube o que aconteceu, vim ver como você tava, mas você não tava em casa- ele parecia a única pessoa que eu podia desabafar.
- Como você acha que eu estou ?
- Quer conversar ?- ergui meu olhar, e vi naquele momento um amigo.
- Entra- abri a porta, e quando mal a fehei, me joguei no chão, e comecei a chorar.
- Porque isso tinha que acontecer Douglas ? Se ela morrer eu morro junto- fechei os olhos e senti ele se aproximar.
- Calma, eu tenho certeza que vai ficar tudo bem, você não merece sofrer nunca- um sorriso de canto de rosto me veio, e eu acabei abraçando ele fortemente. Chorei muito. Aos poucos contei toda a minha história pra ele.
- E é isso, ela precisa ser transferida e nem eu nem Diana sabemos o que fazer, ela não pode morrer- senti ele colocar as duas mãos no meu rosto- já pensei até em roubar alguém.
- Isso não é pra você- meu coração acelerou quando senti ele me dar um selinho. Olhei pra ele, e ele sorria. Nunca tinha pensado que ele gostasse de homens- Você tem que estudar, juntos arranjaremos outra solução- falou ele, entrelaçando a mão dele com a minha.
- Eu não tenho tempo Douglas, eu preciso desse dinheiro logo. Eu sei que minha mãe não iria querer, e com certeza terá um desgosto se descobrir, mas eu tenho certeza que ela faria o mesmo por mim.
- Você tem certeza ?- ele deslizou novamente sua mão em meu rosto. Aquelas carícias eram inesperadas, mais ótimas.
- S-sim- eu não estava entendendo ele, uma confusão se formava na minha cabeça.
- Roubar ? É isso mesmo ?
Continua
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