Foi uma tarefa complicada explicar a meus pais todo o motivo de minha fuga, assim que Jonas e eu chegamos ao sitio no nascer do dia. Contei a verdade, omitindo, claro, meu antigo relacionamento amoroso com Leandro. Como eu esperava, me censuraram um pouco por ter acolhido em minha casa um "subversivo", expondo-me a riscos desnecessarios. Ouvi esse sermao calado e Jonas, que parecia extremamente constrangido, tambem nada dizia. Expliquei a situaçao dele, perguntando aos velhos se o rapaz podia ficar ali por um tempo, ou ate quando ele quisesse. Cederam, claro, e sendo Jonas muito trabalhador poderia ajudar meu pai junto com os peoes que vinham da cidade para trabalhar na roça.
Eu tinha esperança de que aquele exílio rural me trouxesse um pouco de sossego, que fosse um bálsamo para o meu coraçao praticamente morto. Mas, pobre de mim! A imagem maravilhosa do Gui me perseguia a cada hora, me punha louco de saudade, de desejo e de tristeza. Parecia que era pior. Distanciado dele, da cidade onde ele vivia, a situaçao toda se tornava ainda mais dolorosa para mim, como que irremediável.
Minha mãe achava que eu estava triste, e a mesma impressão tiveram minhas irmãs em certo dia em que vieram juntas me visitar. Eu desconversava.
- Cansaço, apenas. E raiva por essa situaçao estúpida, por arcar com o peso de coisas que não fiz.
Pareceram acreditar em mim, por enquanto, embora minha mae às vezes me olhasse como se tentando adivinhar o "real" motivo daquele meu abatimento. Todavia, nao perguntaram mais nada.
Jonas nao quis retornar à capital. Como tinha abandonado seu emprego na oficina para vir comigo para o sitio, acreditava que nao o quisessem mais por là. Ajudava meu pai com o sitio, num trabalho pesado e nao muito bem remunerado, do qual ele nao reclamava. Era ele o unico a entender aquela minha depressao, fitando-me em silencio nos momentos em que ficàvamos sozinhos, fosse olhando da varanda o inverno rigoroso se deitando sobre a vegetaçao do jardim, ou à noite nas nossas liçoes que fiz questao de dar continuidade.
- Que saudade dele, Jonas - deixei escapar numa noite em que tinhamos acabado a aula e ouviamos em silencio o "cric-cric" dos grilos là fora.
- Devia esquecer esse guri - sussurrou ele, me olhando fixamente e depois mantendo o olhar na lamparina acesa sobre a mesa.
- Eu queria conseguir! Eu queria! - falei num tom de desesperado - Me diz como posso fazer isso, Jonas.
Ele nao dizia. Talvez nao soubesse, ou nao quisesse falar. Apenas me fitava com certo olhar longo, quase melancolico. Dava um suspiro, levantava-se e rapidamente me apertava o ombro num gesto de compreensao, dando boa-noite e se recolhendo ao seu quarto.
Aos domingos, Jonas gastava a tardes em pescarias, indo geralmente sozinho usufruir daquela verdadeira paixao dele, que eu nunca entenderia. Porem, dessa vez, para distrair minha cabeça que parecia borbulhar com aqueles pensamentos conflitantes, resolvi ir com ele.
Chamei meu pai para nos acompanhar, mas o velho nao quis ir: estava com azia por causa da leitoa assada do almoço. Jonas e eu entao seguimos sozinhos para aquela mata preservada e exuberante que tinhamos quase que na divisa do sitio, junto da qual existia um rio nao muito fundo, rico em tilapias e cascudos. Apesar disso, apenas Jonas levava implementos para pesca, uma vez que eu nao tinha a intençao de pescar, mas apenas de gastar meu tempo e fazer-lhe companhia.
Era engraçado. Ele parecia estar muito alegre enquanto caminhavàmos pelos carreadouros, cortando as pequenas plantaçoes de feijao, milho e melancia. Fato era que o dia estava bem bonito, aberto e ameno, o ceu de um azul profundo quase artificial, sem nuvens.
- Como se chama mesmo uma paisagem que faz bem aos olhos? - indagou ele quando subimos um morro e avistamos là embaixo a mata verde-escura com o rio cintilando.
- Chama-se "aprazivel", Jonas - respondi.
- Isso! Eu ia dizer uma frase bonita com essa palavra: "Que lugar aprazivel! " - disse ele dando uma risada; aprazivel era aquele sorriso espetacular que ele tinha.
Descemos o morro e là embaixo ele começou a preparar seu material de pesca, assobiando, num humor excelente que me intrigava e sobre o qual nao fiz observaçao alguma com receio de que ele se fechasse outra vez na sua toca de matuto desconfiado. Permaneci observando-o pescar, quietos ele e eu, refletindo comigo que nunca levei jeito para aquilo, desde pequeno. Sempre fui um fracasso total nessa atividade.
Nao pude deixar de rir ao perceber que ele nao estava tendo sorte nesse dia, pois ao cabo de algumas horas tinha pegado apenas uns lambaris e uma traira tao pequena que ele resolveu devolver ao rio. Mesmo frustrado, nao deixava de rir e caçoar de si mesmo, tao humilde nos seus atos silenciosos, na sua personalidade, tao brando e simples que era um prazer observa-lo. Eu tinha carinho por ele, sabia disso. Estava habituado à sua presença reservada, ao seu temperamento. Um desconhecido que entrou na minha casa e me compreendeu em silencio, sem julgar, compartilhando de meu segredo, obtendo prazer sexual com ele sem culpa, sem etica e sem pecado.
A tarde descia precocemente por ser inverno, e soprava vinda do sul tuma aragem fria, mansa, arrepiando a pele. Ali os finais de dia eram tristes, explosivos de cores vibrantes, mas de uma melancolia sem fim. Praticamente todos os dias, ventava. Tristeza em todo lugar, sempre. Tristeza em mim.
Chamei Jonas para irmos embora, porem ele, sentado perto de mim, ficou calado, subitamente serio, observando a àgua do rio pontilhada de raios de sol formando uma colcha de brilhantes que se movia ao toque do vento. Devagar, como que hesitando, ele colocou sua mao grossa e pesada no meu joelho dobrado, descendo um pouco e tornando a subir. Compreendi o que ele queria. Nao vacilei, aproximei-me e encarando seu olhar quase medroso toquei em seu rosto, em seus cabelos quentes de sol; lentamente nossos làbios se encontraram para um beijo leve a principio, e em seguida profundo. Ele me envolveu com seus braços vigorosos, parecendo ansioso por aquilo hà muito tempo, alisando minhas costas, o abdomem, e sem pedir licença, me deitando na relva ressequida e àspera da margem, esfregando-se por cima de mim tal como naquela noite, excitado, suspirando. Abri sem demora o fecho de sua calça e tirei o pau dele pra fora, masturbando-o enquanto ele gemeu mais forte. Minha vez de ficar por cima, abaixar e fazer a boca trabalhar naquele orgao rubro e inchado, lubrificado de desejo. Jonas urrou, segurando meus cabelos, convulso, e esforcei-me por tirar semen daquele penis, o que consegui com alguns minutos. Mais uma vez foi uma quantidade generosa, densa, fertil, e tive de cuspir um pouco jà que me deu engulhos toda aquela substancia. Sem pensar, beijei-o com a boca ainda grudenta e ele nao recusou. Tocou minha face com o polegar, olhando-me com certa expressao profunda, austera, tomando folego e deixando escapar um sussurro praticamente inaudivel.
- Eu gosto de voce... Gosto muito...
Deixei-me cair deitado ao peito dele, sentindo o descompasso de seu coraçao por baixo do tecido fino da camisa bege. Jà dava para ver o ceu empalidecendo com o recuo da tarde e o frio baixava. "Gui, porque voce tambem nao diz isso pra mim? Porque, Gui? ", eu me perguntava numa dor sem fim, aguentando o ardor das làgrimas incomodando meus olhos.
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Valeu, galera! Continuem opinando!
Abraços em todos! :D