“E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade também.”
Concordei com a cabeça e fiquei olhando nos seus olhos esperando uma resposta. Ficara sério, e parecia procurar as palavras.
- Eu... Tudo foi muito rápido. Eu não sou de me apaixonar por alguém no primeiro contato, também não sei adivinhar o sentimento que alguém tem por mim, mas com você foi diferente. Eu lembro que no primeiro dia em que nos encaramos, eu senti algo de diferente no seu olhar. O tempo foi passando e nós começamos a nos aproximar, né? – ele sorri envergonhado – Nunca tive essas experiências, e estava com medo no começo. Mas depois eu comecei a gostar de ti, conversar contigo e te “encarar” tinha virado rotina pra mim, eu havia me acostumado. Mas algo dentro de mim queria mais, e eu percebia que você também. Eu estava sentindo amor por ti, e depois que ficamos, eu me senti realizado.
William falava tudo tão calmo. Eu não abria a boca pra falar, apenas queria escuta-lo.
- Eu me senti um babaca quando você descobriu que eu namorava, eu devia ter acabado tudo enquanto eu podia, eu estaria livre pra ficar com você. – senti meu peito arder – Thomaz, eu ainda sinto o mesmo por ti, e me afastar não foi nem nunca vai ser a melhor solução, eu não quero ninguém a não ser você.
- Uh... – disse, desviando meu olhar do dele – Isso foi forte.
- Você me entende? – disse em tom baixo.
- Não, você é muito complicado. – brinquei.
- Não mais que você. – ele sorri e segura minha mão, senti um leve arrepio. Sua mão estava quente.
- Eu me meti em encrenca conhecendo você e o Samuel. – sorri, e ele também.
Só que o Samuel não tinha culpa, se fiz o que fiz para afogar minhas mágoas, eu faria com qualquer pessoa e depois me arrependeria. Eu estava me arrependendo de ter usado o Samuel, ele iria sofrer por minha causa. William e eu ficamos conversando por mais um tempo ali no jardim, e então ouvimos o último sinal e fomos até o portão. Juliane olhou para nós com curiosidade, assim como Lívia e Letícia.
- Ele já foi? – perguntou William, vendo minha cara de impaciência olhando para a porta do corredor.
- Não sei... – falei, e desviei meus olhos a ele. William estava escorado no muro de pedra.
- Se liga no que a Sophia falou, tá? – os olhos dele demonstravam esperança. Ele apertou minha mão e embarcou no ônibus que havia chegado.
Esperei por mais alguns minutos e nada do Samuel aparecer. Então fui até sua casa, e chegando lá fui atendido por Anderson.
- O Samuel tá aí? – perguntei. Ele me olhou com uma cara estranha.
- Sim, vou avisar que... – o interrompi.
- Não, deixa que eu vou falar com ele. – caminho alguns passos e atravesso a porta de entrada. Entro no corredor e vou até a última porta, ele estava lá.
Ao entrar no quarto, me deparo com Samuel escrevendo em um caderno, um tanto quanto rápido. Ele não tinha percebido que eu estava lá. O que ele escrevia? E por quê?
- Hum, não te deram educação? Cadê os bons modos? – perguntei, sentando-me no seu lado. Tentei ver o que tinha escrito no caderno, mas ele o fechou assim que percebeu minha presença.
- Oi amor. – ele me beijou.
- O que você estava escrevendo? – estava curioso, realmente queria saber o que estava escrito no caderno, mas ele parecia não querer que eu soubesse.
- Ah, não é nada de mais. – disse, segurando o caderno.
- Então me deixa ver. – aquilo não era da minha conta, era uma invasão a privacidade dele. Mas eu estava encabulado com o que poderia estar escrito lá.
- NÃO! – ele guarda o caderno no fundo da gaveta ao lado da cama.
- Tudo bem, isso é coisa sua. – ele concordou com a cabeça – Mas por que veio embora cedo?
- Porque eu estava sentindo muita dor de cabeça. – diz, sem olhar-me nos olhos. Ajustou-se sobre a cama e me puxou para perto dele.
- Passou? Tá melhor? – estava preocupado com ele.
- Você tá bem? – ele me perguntou, concordei com a cabeça e ele sorriu – Então eu tô bem.
Sorrimos, mas eu ainda estava preocupado. Não queria vê-lo mal. Deitei minha cabeça em seu peito e fiquei ali, sentindo seu coração bater no meu ouvido. Seus olhos estavam pesados, ele não estava bem.
- Eu te amo, Thomaz. – disse isso junto com uma lágrima que escorreu do seu olho e parou sobre a bochecha – Promete que não vai me deixar?
Pronto, como iria prometer que não iria deixa-lo se era isso que eu precisava fazer? Não que após isso eu me entregaria nos braços de outro alguém, mas eu sentia que estava machucando o Samuel, e não queria de jeito nenhum continuar com isso. Sim, eu havia entendido que o que eu sentia por ele era um sentimento de retribuição a felicidade que ele me trouxe nessas semanas que passamos juntos. Não havia mais tristeza no meu coração, eu estava realizado, isso graças ao Samuel. Amanhã era o grande dia, iríamos completar um mês juntos, um mês repleto de coisas boas ao lado dele...
Eu o beijei e segurei minhas lágrimas. Não sabia ao certo o porquê de ele estar falando essas coisas para mim. Não entendi o porquê de ele não querer me mostrar o que havia no caderno, havia algo no Samuel que eu já não conseguia mais entender. Eu estava ficando confuso. Fiquei mais alguns minutos deitado junto com ele, trocando carícias e decidi ir embora pra casa. Encontrei Jéssica no caminho, ela também estava indo embora.
- Oi, Thomaz. – disse, me abraçando.
- Oi, Jéssica. Por que não foi pra aula hoje?
- Por que... – ela não terminou a frase.
- Ei, me diz. – segurei-a, fazendo com que parasse de caminhar.
- Eu e a Jade, a gente foi pro beco. – arregalei os olhos ao ouvir isso e a empurrei. Havia notado que seus olhos estavam vermelhos, mas não conseguia acreditar.
- PRO BECO? – gritei, ela tapou minha boca com as duas mãos enquanto eu murmurava várias coisas.
O beco era o local mais afastado da cidade, aonde as pessoas iam para usar droga. Drogas exemplo cocaína e crack eram as mais usadas. Encarei-a por alguns segundos, e arranquei suas mãos de minha boca.
- Vocês são loucas! – me afastei dela.
- A gente precisava.
- Por quê? Hein? Por que precisavam? – perguntei, não havia motivos para a Jéssica e A JADE, meu Deus, A JADE se drogar.
- O Logan ofereceu e...
- O LOGAN, PORRA! – é, o Logan se drogava, e vendia até na sala, mas não podia acreditar que elas haviam aceitado dele – NÃO!
- Ele disse que era bom, que deixava a gente legal e... – ela não termina a frase.
- E o que?
- Que? – ela havia feito uma cara estranha, como se não soubesse o que eu tinha perguntado.
- Olha, eu tenho certeza que a Jade não queria isso. De você eu não espero nada, fumava maconha nos fundos da escola ano passado!
- Como você sabia disso? – ela se espantou com o que eu disse.
- Porque eu via, tenho dois olhos. Não duvido que você tenha comprado a droga do Logan e convencido a Jade a usar.
- Foi isso... – ela abaixa a cabeça.
- Eu devia te matar. – essa frase a faz dar uns bons passos para trás.
- Me desculpa.
- Chega de desculpas! – falei irritado – Você não tem ideia de quantas vezes eu ouvi “me desculpa”, “ai desculpa” em tão pouco tempo! Se desculpar não resolve nada, Jéssica. Pensa antes de fazer as coisas, e se quer fazer, não coloca os outros no meio! – disse aquilo e a deixei, fui correndo para minha casa.
- Oi filho. – disse minha mãe, ao entrar.
- Oi. – larguei minha mochila no chão e sentei-me a mesa. Olhei pra ela e baixei minha cabeça, lembrei-me do que havia acontecido hoje, do dia inteiro.
- O que houve? – ela senta-se na minha frente. Eu estava segurando as lágrimas, uma hora iria explodir.
- Mãe, o que você faria se namorasse uma pessoa, e sentisse muito amor por ela, que até então você desconfiava ser amor de verdade, mas sente algo quase que na mesma medida por outra pessoa, mas muito mais forte?
- Me explica isso direito, você tá namorando? – arregalei meus olhos ao ouvir isso.
- Não, não. Isso nem é sobre mim... – tentei enrola-la – Tipo assim, se você tivesse ficado com essa pessoa que você está namorando para esquecer da outra pessoa, e tivesse recebido dela o que você gostaria de receber da outra, isso seria amor?
- Não, eu desconfio que isso não seja amor. Você a usou, não está agindo certo. Você devia conversar com essa pessoa e dizer a verdade. Não deixe-a alimentar um amor que você não pode dar, você sabe de quem é o seu coração, da outra. – ela fez uma pausa e olhou nos meus olhos – É sobre você sim que estamos falando, mas não precisa me contar nada.
- Tudo bem, mãe. – eu sorrio e ela também – Mas... E se essa pessoa não quer me perder?
- Como eu disse, não deixe que ela alimente um sentimento por você, vai machuca-la.
- Obrigado mãe. – beijei a sua testa e fui para o meu quarto. Pensei nas suas palavras, nas de William, Sophia e Samuel no tempo em que sobrara daquele dia.
Tudo o que me falaram era verdade. Eu entendia que meu sentimento real era pelo William, e que eu não sentia amor pelo Samuel e sim gratidão. Precisava parar com aquilo de uma forma que não o machucasse tanto por dentro, de todo jeito eu o amava sim, mas não o suficiente. Não queria trazer dor para ele, queria vê-lo bem sem mim. Iria falar com ele e depois conversar com o William sobre tentarmos de novo, era dele que eu precisava. Tomei meu banho e no banho pensei muito mais coisas, e eu sabia o que tinha que fazer, finalmente.
No dia seguinte eu estaria de folga no serviço, então fui cedo para casa do Samuel. Era hora de terminar aquilo. Por todo o caminho eu pensei nas palavras que iria usar com ele, no que eu iria fazer depois, e no que ele também iria fazer. O pior de tudo é que isso aconteceria justamente quando completaríamos um mês. Isso foi à última coisa que eu pensei, poxa, um mês juntos e eu iria acabar com todo o laço que construímos um com o outro em pouco tempo? Parei a poucos metros do portão de sua casa e pensei seriamente em voltar, sentia que iria magoa-lo muito, e me magoar também. Toquei o interfone e alguém atendeu.
- Quem? – perguntou a voz, nunca a tinha ouvido.
- Thomaz. – disse, rouco. O homem veio abrir o portão para mim.
- Sou o pai dele, Joel, prazer. – esse era meu sogro? Homem alto, cabelos grisalhos, e um corpo de dar inveja.
- Ah, prazer. – cumprimentei-o e ele me mandou entrar.
Eu estava com uma caixinha, que havia comprado dias antes para quando completássemos um mês. Eram duas alianças, não como as de namoro, mas de confiança. De que eu confiava nele, e ele em mim. Entrei no quarto e novamente o pego escrevendo no caderno mas não falo nada, apenas sento-me do seu lado e o abraço, sem beija-lo. Ele olhara para mim e então fechara o caderno, colocando-o do seu lado.
- Achei que estaria dormindo ainda. – digo.
- Não, acordei cedo hoje. Imaginei que viria aqui. – ele me mostra um embrulho não muito pequeno.
- O que é isso? – perguntei. Ele me entregou e eu abri.
Samuel era um artista, iniciante, mas seguia os ensinamentos do pai, ele se inspirava nele. Havia esculpido em madeira, nós dois. Eu fiquei olhando para a nossa miniatura e então ele me entregara uma foto, na qual havia utilizado para nos esculpir. Na foto estávamos um do lado do outro. Eu com o braço envolto em seu pescoço, e ele com seu braço sobre minha cintura, e assim estávamos também na miniatura. Cada detalhe, cada traço desenhado perfeitamente na madeira. Fiquei olhando para aquela miniatura por muito tempo, confesso.
- Você que fez isso? – perguntei, ainda olhando para o presente que havia recebido.
- É o melhor que eu consegui fazer. – diz, com um sorriso tímido.
- Ficou lindo. – guardei a miniatura de volta do embrulho e coloquei sobre a cama. Fiquei olhando para ele com uma feição séria, e ele me olhava do mesmo jeito. Estava tudo quieto.
- Eu sei o que você veio fazer aqui. – diz ele, quebrando o nosso silêncio. Seus olhos estavam vermelhos, resolvi entregar minha caixinha a ele.
- Abre isso. – digo, e ele a abre. Ele sabia o significado daquelas alianças, mas eu sabia que não era exatamente o que ele queria.
- Você confia em mim? – perguntou, segurando a minha mão.
- Sim. – respondi com sinceridade, e ele sorriu. Colocou a aliança em meu dedo anelar direito, de fato éramos namorados ainda. Fiz o mesmo com ele.
- A gente precisa conversar né. – ele abaixou a cabeça e depois a ergueu novamente. Seus olhos estavam ainda mais vermelhos. Eu aproximei meu rosto do dele e o beijei, ele retribuiu. Ficamos assim por alguns segundos e então nos afastamos.
- Samuel, eu não queria ter essa conversa com você hoje. Eu pensei em desistir quando eu cheguei aqui, esse era pra ser um dia feliz, pra gente comemorar nosso um mês juntos. – minha vontade era sair dali.
- A gente pode comemorar, mas eu sei que precisamos dessa conversa, que você precisa... Sei o que você vai me falar e eu já esperava por isso, aliás, estava demorando. – ele dizia isso sem expressão no rosto.
- Ei, não fala assim...
- O primo vai vir aqui daqui a pouco buscar a gente pra irmos a uma festa que ele mesmo preparou pra nós. – diz, não parecia contente com aquilo, e eu não estava muito animado também.
- Amor... – era a primeira vez que eu havia o chamado assim – Vamos nessa festa, vamos nos animar, curtir o tempo que a gente puder.
- Eu tô com medo do que pode acontecer depois que esse tempo acabar.
Aquilo estava começando a ficar chato, confesso. Ele parecia saber de tudo o que eu iria falar pra ele, e era como se eu já tivesse falado, ele estava super deprimente. Não demorou muito e o primo dele chegou. Fomos a essa tal festa, e só havíamos eu, Samuel, o primo dele e os irmãos.
- Que bom que vieram. – diz Beth, vindo nos abraçar.
- É... – respondi, suspirando.
- O que aconteceu com vocês dois? Parecem duas moscas mortas. – Anderson brinca, mas ninguém ri.
O que era pra ser uma festa, acabou se tornando em uma roda de conversa sobre coisas lamentáveis. Era um tentando ser melhor que o outro em contar tristezas e desabafos exagerados, concorrendo ao prêmio “Dramático do Século”. Eu falava para não estragar a brincadeira, pra mim aquilo era uma brincadeira. Samuel também parecia não estar gostando. Anderson falava coisas e se acabava em lágrimas, enxugando-se na manga do seu moletom, Beth também chorava. Eu não estava aguentando mais, aquilo estava cada vez pior. Hoje era o pior dia do ano! O dia em que tudo virou um mar de lágrimas. Samuel me olhara e sussurrara que estava com dor de cabeça, e que queria ir embora. Chamamos o primo dele e ele nos deixou na casa do Samuel.
- Nossa, o que foi aquilo? – perguntei, sentando em sua cama.
- Eles sempre fazem isso, essa competição desnecessária e o Anderson sempre ganha. Eu ganhei somente uma vez. – brincou, mostrando um cartão que na frente dizia “Em méritos as lagrimas escorridas por esses olhos, e aos fatos mais tristes a serem relatados, declaramos-lhe campeão em Dramatismo”. Que coisa escrota.
- Que horror. – digo. Ele saltara na cama ao meu lado, deitando-se ao meu lado. Deitei em cima dele e ficamos nos olhando.
- Tem que agradecer por eu te respeitar. – disse, puxando minha cabeça para perto e beijando minha boca.
- Você é um menino de juízo. – respondi, afastando meus lábios. Rimos e beijamo-nos novamente.
- Eu vou sentir saudades dos seus beijos. – ele disse, sentando-se com a cabeça encostada sobre a cabeceira da cama.
- Você fala com se já tivéssemos acabado tudo. – fui para perto dele.
- E não vamos? – ele me olhou com uma feição não tão séria, acariciava meu rosto.
- Você sabe de tudo, - começo – sabe das minhas dores, do que eu passei, não vou dizer que foi um erro ficar com você, fazer você acreditar que eu te amava mesmo, eu me fiz acreditar nisso. Depois eu descobri a verdade, queria que fosse amor o suficiente pra te amar como eu devia.
- Eu me satisfiz com o amor que você me deu, não foi um amor falso, não. Eu sabia o que sentia por mim e havia aceitado isso, nada que você diga a respeito sobre isso vai me machucar, pode ficar tranquilo em relação a isso. Você é livre, Thomaz, eu nunca te prendi. Podemos conhecer pessoas novas, mas saiba que eu sempre vou estar aqui pra te ouvir, pode confiar em mim. – ele ergue a mão com a aliança, e sorri.
- Muito obrigado Samuel... – abracei-o muito forte, e choramos.
O nosso namoro havia chegado ao fim, mas eu nunca me afastaria dele. Iria quere-lo por perto, e o ajudaria a ser feliz. Não sabia exatamente como ele estava se sentindo por dentro, mas eu tentaria tornar esse momento tenebroso em algo feliz. Aliás, não parecia que havíamos terminado nosso namoro, foi um fim que não me magoou. Eu estava aliviado, pois não iria mais sofrer com algo que estava me perturbando, contribuir para o seu sofrimento, ele merecia alguém que valorizasse corretamente seus sentimentos, e esse alguém não era eu. Mas continuaríamos amigos do mesmo jeito.
Samuel havia feito uma cara de dor, e instantaneamente fiquei preocupado com ele.
- Ei, tá tudo bem? Samuel, olha pra mim. – ele estava com os olhos fechados e as duas mãos na cabeça.
- Ahhh, tá doendo muito! – murmurava. Corri pela casa a procura do pai dele e o trouxe ali.
- Droga, mais uma vez! – ele procurava na gaveta alguma coisa. Havia vários frascos de líquidos lá, deviam ser remédios. Ele coleta uma seringa e injeta um líquido em Samuel.
- O que você tá fazendo? – perguntei, não sabia o que estava acontecendo.
- Vá embora. – Joel ordenou que eu me retirasse, Samuel estava se contorcendo na cama.
- Por quê? Eu não posso sair daqui sem saber o que está acontecendo! – estava apavorado. Joel ordenou mais uma vez que eu me retirasse. Pensei em resistir, mas peguei o embrulho da miniatura que Samuel havia me dado e fui embora.
O que tinha acontecido lá? O que Joel havia injetado nele? Por que não queriam e contar? E o que tanto Samuel escrevia naquele caderno e não me mostrava? Estava cheio de perguntas em minha cabeça, hora ou outra alguém teria de me responde-las. Fui para casa em lágrimas, estava muito preocupado com o Samuel. Eu estava livre, mas ainda me sentia grudado a ele. Ao chegar em casa fui direto para o banho, e fiquei lá por muito tempo. Deixava a água fria escorrer pelo meu corpo, em especial a minha cabeça, mantive-a erguida por todo o tempo.
Samuel não respondeu as minhas mensagens, não atendeu minhas ligações e nem apareceu na escola. Conversei muito pouco com o William, mas não mencionei nada sobre ter terminado o namoro com o Samuel. Descobri através de Theo que Jade, Jéssica e Logan haviam trocado de turno, mas eu tinha coisas mais importantes a me preocupar. Juliane veio me pedir desculpas pelo que havia me falado, e tínhamos voltado a nossa rotina de conversas.
No fim da aula fui até a casa do Samuel e toquei o interfone várias vezes, mas ninguém atendia. Olhei ao meu redor e percebi que o vizinho do Samuel me encarava.
- Ei, eles não estão em casa? – perguntei ao senhor.
- Não, eles saíram de manhã muito apressados com o carro e ainda não voltaram. – gritou da janela de sua casa.
Coloquei a mão sobre a cabeça e minha preocupação havia triplicado. Onde diabos estariam?
Agradeci ao vizinho e fui embora. Ao chegar em casa, me deparo com o primo de Samuel escorado sobre seu carro, em frente ao portão. Corri até ele e parei em sua frente.
- Porra, onde o Samuel tá? – perguntei, estava suando frio. Ele me olhava sério.
- Olha eu não sei, não posso te dizer nada. Ele só me mandou te entregar isto. – ele estendeu seu braço, segurava o caderno no qual encontrava Samuel escrevendo sempre que eu aparecia lá.
- O caderno... – abaixei a cabeça e coletei-o de suas mãos. Havia um bilhete anexado com um clip. “Eu te amo, Thomaz, você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, obrigado pelos momentos bons, aqui registrei tudo o que passamos para nunca mais esquecer, meu caso é sério, espero que entenda...”.
- Sim. – ele abre a porta do carro.
- O que ele quis dizer com isso? – perguntei – Onde tá o Samuel?
- Desculpa. – ele entra no carro, e sai, cantando os pneus.
Fiquei olhando para aquele bilhete e corri para dentro de casa, deitei-me em minha cama e pensei se abria o livro ou não. Queria saber o que havia escrito ali, mas ao mesmo tempo tinha receio, começando pelo bilhete que não transparecia algo bom sobre o caso de Samuel. Abri o caderno e me apavorei ao ler as primeiras linhas.
“Meu nome é Samuel Recci, nasci em, sou filho de Carolina do Livramento Recci e Joel Recci. Tenho dois irmãos, Anderson e Elizabeth Recci. Eu os amo, amo minha família. Essas são as principais coisas da qual querei me lembrar nos meus últimos dias. Tenho um tumor maligno no cérebro, um caso quase que raro. Não reagi ao tratamento e me defino como um paciente terminal. A doença me matará logo, mas antes levará a minha memória, e escrevendo os meus momentos vividos aqui é a única forma de eu saber da minha vida, quando chegar ao ponto crítico do meu câncer...”
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Oi pessoal. Por hoje é isso, enquanto escrevia o capítulo, ficava pensando em quando iria terminar, meu Deus! Queria deixar essa última parte para o próximo capítulo, mas enfim, foi nesse. Agora a história caminhará num ritmo mais lento, não naquela atropelação que foi nesses nove primeiros capítulos. A situação está crítica! Talvez tenha tomado esse ritmo porque não queria uma história com muitos capítulos, e tem várias coisas pra acontecerem ainda, mas vamos ver no que dá. Não deixem de comentar, obrigado por acompanharem! Então até semana que vem, beijo.
E obrigado mais uma vez a Ru/ruanito; niel1525; geomateus; Kayob :D