Foi a minha vez de entrar em pânico. Será que o Arthur lembraria do rosto do Enzo? E o Enzo irá ficar bravo, por eu não ter contado que sabia de todo o seqüestro e que a minha família era a vítima?
- Engraçado... Seu rosto me é familiar.
O Enzo estava pálido. Pude perceber em seus olhos, a surpresa e o choque que ele teve em rever o meu irmão. Acho que fiz merda! Eu não devia ter levá-lo em minha casa.
- É... Eu vou precisar ir embora. O meu filho está passando mal, e vou ter que ir. – foi o que ele conseguiu dizer. O que só piorou a situação, pois o Arthur o perseguiu ainda mais.
- Meu Deus, a tua voz... Eu já te vi em algum lugar.
- Eu preciso ir.
Todos na sala ficaram sem entender nada, principalmente dona Marli, que achou estranho a vontade do Enzo em ir embora.
- Você não disse que tinha filho. – perguntou o meu pai.
- Pois é. Eu tenho. Bem, eu preciso mesmo ir.
- Mas Enzo! – ele só me olhou feio e se despediu rapidamente dos meus pais, saindo porta a fora. Claro que fui atrás dele.
- Espera!
- Não vem atrás de mim!
- O que eu fiz?
- Você ainda pergunta Guilherme? Você sabia de tudo né? Aliás, foi tudo uma armação, não foi?
- Do que você está falando? Que armação?
- Não se faça de idiota! Você acha que sou burro? Quando te contei do seqüestro, você sabia o tempo todo quem era a pessoa. Agora, me trás aqui, com o papinho de que seus pais precisavam me conhecer, só para me entregar de mão beijada.
- Claro que não! Eu jamais faria isso com você. Eu sabia sim. O tempo todo! Mas eu preferi enterrar este assunto e não trazê-lo à tona. Por se passar tantos meses, e foi você mesmo que me disse que o rapaz estava encapuzado.
- Seu irmão reconheceu minha voz. É claro que ele saberá que foi eu quem o seqüestrei. E eu não confio mais em você!
- Como é que é?
- Mãe! – o meu mundo desabou. A minha mãe estava em pé. Parada na porta, ouvindo toda a nossa conversa.
- Então quer dizer que este rapaz, foi o bandido que seqüestrou o meu filho? Como você tem a coragem de trazer este bandido até a nossa casa? Quer que ele nos mate? Meu Deus, eu não estou acreditando nisso!
- Calma mãe. Não fica nervosa. Não é nada disso que a senhora ta pensando. Eu e o Enzo vamos conversar com a senhora.
- Não tem conversa alguma. Eu acreditei em você Guilherme! – ela me deu uma bofetada no rosto. - Enquanto a você bandido, prepare-se para apodrecer na cadeia.
- A senhora não pode fazer isso. Sai daqui Enzo. Foge daqui! Depois conversamos.
Ele apenas assistiu toda a cena com os olhos marejados. Foi tão ofendido e a primeira coisa que passou por sua cabeça foi: ele jamais teria condições de manter um relacionamento com o Guilherme. A partir dali, estava tudo acabado. Tudo não passou de um sonho que se acabou.
- Calma mãe! Calma. – eu corria atrás dela, enquanto entrava na sala gritando e cuspindo fogo.
- Vocês não sabem o que acabei de descobrir!
- Não faz isso mãe. Me ouvi, por favor.
- O meu filho, que eu tanto respeitei, não somente se envolveu com um bandido... Como este bandido, foi o seqüestrador do Arthur.
- O quê?
- Isso mesmo Alberto. Este rapaz que acabou de sair da nossa casa, foi o responsável por colocar a vida do Arthur em risco.
- O Enzo não é isso que vocês estão falando. – eu gritei, mas o meu pai, vendo que eu o defendia, partiu pra cima de mim, me cobrindo de tapas.
- Como você teve a coragem seu desgraçado. Como? – ele berrava alto. E o Arthur também quis me bater.
- Escuta aqui. Vocês só sabem julgar as pessoas. Qual é hein? – meu sangue ferveu e foi a minha vez de falar alto, quase gritando. – Só porque o senhor tem dinheiro, se acha no direito de ofender e julgar quem quiser? E você seu palerma, otário! Quer bancar o santinho pra cima de mim? – eu me dirigir ao Arthur.
- Ele planejou sim, essa droga de seqüestro. Mas foi tudo por uma razão muito forte. E o Enzo jamais machucaria alguém, não é Arthur. Vamos, fala seu imbecil! Diz pra todos nós, se você teve um arranhão se quer.
- Você ficou louco! Eu vou mandar você pra longe daqui.
- Eu vou pra onde eu quiser pai. – não contive as lágrimas. – Ele só queria um dinheiro para pagar a cirurgia do filho dele. Nenhum banco quis emprestar. A fila de espera do SUS é surreal... E o pequeno João, poderia morrer a qualquer momento. Será que o senhor sabe o que é passar por isso? Aliás, todos aqui sabem? O Enzo é pobre, mais é digno. Claro que ele deve ter feito muitas coisas erradas, mas quem somos nós para julgá-lo. Pensa na causa maior, pai. Pensa que aquele dinheiro salvou uma vida.
- E que poderia ter nos levado outra! Isto é loucura Guilherme. Você me decepcionou totalmente. Feriu o meu coração de pai.
- Ele não ia fazer nenhum mal ao Arthur. Por favor, perdoa ele. Eu pago todo o dinheiro, nem que pra isso, eu comece a trabalhar.
- A questão não é essa. Você em nenhum momento pensou na sua família. No desespero da sua mãe. Na dor que íamos sentir, se o pior acontecesse. Você provou que não está nem aí para seus pais.
-Não diz isso. É claro que eu fiquei preocupado. Eu só descobri que o Enzo estava por trás disso, depois. Daí, eu fui até a casa dele tirar satisfações, e vejam vocês... O próprio abriu seu coração e me contou o que tinha feito e o motivo também. Vocês queriam que eu ligasse para a polícia e o entregasse?
- Era o que você devia ter feito. – gritou o meu irmão. – Mas eu vou fazer isso agora. – ele pegou o telefone.
- Não! Para com isso. Vocês irão destruir a minha vida. Eu amo o Enzo. Eu sou feliz com ele, ao lado dele. Não o entrega à polícia. Eu suplico, por favor, pai.
- Você fez as suas escolhas Guilherme. Eu nunca pensei que pudesse ser traído pelo próprio filho. Tantas coisas eu fiz por você. Aceitei você do seu jeito. Permitir que trouxesse rapazes para dentro da minha casa, com medo de que você sofresse alguma coisa na rua, e no que adiantou? Fez pior! Foi até uma favela, se envolveu com gente que não presta e ainda trás a pessoa para o nosso lar?... Estou magoado com você.
- Pai, eu vou entregar este bandido. – Arthur insistia.
- Calma meu filho. – pediu a minha mãe.
- Eu sei que errei pai. Mas dá uma chance para o Enzo provar que ele não é criminoso.
- Vou te dar duas opções Guilherme. Ou você ainda esta semana, embarca para Londres, e vai ficar um tempo com seus tios, ou eu denuncio este rapaz à polícia, e faço com que ele não saia de lá por um bom tempo.
- O senhor não pode me pedir isso! – eu entrei em desespero total.
CONTINUA...