-Esse ano a estrada está melhor. Pelo menos, menos caminhões nas rodovias. Você sabia que um caminhoneiro filho da puta fechou um carro e matou um rapaz lá no Mato Grosso?
Sentiam-se somente os solavancos do carro em uma estrada que, embora não fosse de terra, era precária. Plínio ia pisando no freio do Golzinho com cheiro de fábrica para amenizar os impactos dos buracos, provisão que se seguia de uma pisada proporcional no acelerador, como que para compensar o tempo perdido com os defeitos da estrada.
O calor era insuportável. Insuportável e invencível. E bem que o ventilador do Golzinho tentava dar um suplício, presenteando a gente vez ou outra com um jato de ar quase frio no rosto, o que era um alívio, passageiro. Mas o calor submetia tudo ao seu domínio. Brotavam da porção das minhas coxas não cobertas pelo vestido e já morenas do tempo sem nuvens gotas de água infinitas e minúsculas, que confluíam como a nascente de um rio atrás de meu joelho, para descer, enfim, em filete pela minha panturrilha. E todas essas sensações se fundiam no calor. Os solavancos, o sol irremediável, os arrepios ocasionais dos riozinhos que, depois de descerem as pernas, chegavam ao rosa do meu chinelo de praia. E a voz distante de Plínio.
Senti um leve enjoo e decidi recostar meu rosto na janela quente do carro. Plínio seguia seu discurso sobre os riscos das estradas e sobre como evitar as náuseas de viajante por meio de manobras complicadas com a postura da cabeça. Como corretor de seguros, ou por gosto pessoal natural, não sei ao certo, ganhou um fascínio em tentar medir e limitar os riscos das coisas mais vãs. A vida, ponderava eu, no alto dos meus 25 anos, era diferente. Algumas coisas não podiam ser medidas. Meu enjoo não ia caber dentro de uma calculadora. Eu não era como aquela paisagem de estrada que observava recostada, as árvores que se repetiam sempre, interrompidas somente por curvas bem sinalizadas, de perigos facilmente evitáveis. O carro já tinha perdido seu cheiro de fábrica.
Estradas menores e um pequeno comércio local já nos sinalizavam que as praias estavam próximas. Eu seguia sonhando com a piscina do condomínio e me martirizei por não ter vestido o maiô por baixo de meu vestido, de modo que pudesse entrar diretamente nela após nossa chegada, sem ter de abrir as malas, sem ter de entrar no quarto do apartamento.
-Você leu que a água do litoral está sob suspeição da saúde pública? Mais de uma centena de coliformes fecais. Sempre soube que eram uns porcos. Vamos almoçar na estrada mesmo.
Plínio encostou o carro em um restaurante espécie de barracão, com uma pequena construção vizinha, isolada por uma grande árvore sombreira, que eram os banheiros da casa. O barracão não tinha portas e as mesas, embora ficassem protegidas do sol pelo teto, irradiavam o calor das telhas da construção. Sentamos em uma mesa de vime para quatro pessoas, em diagonal, ele, com vista para a estrada, e, eu, de frente para os fundos do barracão, onde se encontrava o caixa e uma dupla de garçons. Um deles, mais velho e de um jeito que achei matreiro, olhava para as minhas coxas ocasionalmente com um sorriso de canto de boca e com um agachamento disfarçado do tronco, como se procurasse descobrir minha calcinha entre as pernas cruzadas, mas não olhava para meus olhos, nada fora do costume. O outro era um jovem escuro, alto, com um porte de força muscular natural, não ensaiada. Sua expressão era muito séria e apreensiva, como de quem está começando no trabalho. Ele olhava rapidamente para todos os cantos do restaurante. Ele vestia uma espécie de uniforme praiano: uma camisa de algodão folgada com uma calça preta formal e um chinelo de praia da mesma cor. Seu corpo pingava suor por todos os poros, em franco sofrimento com o calor.
Em um rompante, encontrou-nos sentados na mesa, pegou atabalhoadamente os cardápios e veio rapidamente até nós.
Ao se aproximar da mesa, largou desastradamente o cardápio em nossa mesa com alguns balbucios e, nervosamente, recolheu um dos lenços de mesa e usou para limpar seu rosto do suor, ao que Plínio reagiu imediatamente:
-Preto imbecil! O que você está fazendo? Esses são os lenços da nossa refeição!
Plínio fez questão de mandar o jovem chamar o gerente, ao que reagiu um senhor sentado no caixa, que veio e pediu desculpas pelo comportamento do garçom. O rosto do jovem era de completa consternação, recolhido no canto do caixa, de onde não deveria ter saído em primeiro lugar, se ao menos soubesse. O gerente se propôs a anotar nossos pedidos.
-Perdi a fome.
Meu enjoo havia aumentado. Plínio não se fez de rogado e pediu um prato que fosse mais generosamente servido que o normal em razão do incidente e que acalmasse, por fim, a sua ira. O gerente assentiu.
Passada a consternação, notei um olhar de franco ódio no rosto do jovem em direção às costas de Plínio. Era um ódio mortal, daqueles que escurecem as meninas dos olhos. Permanecia atraída pela observação daquele olhar fixo e irremediável, que, como o calor, impunha um clima ao ambiente. Das costas de Plínio, esse olhar passou ao fundo dos meus olhos; tremi de pavor, mas permaneci fixando. Eles saíram dos meus olhos e percorreram meu corpo, começando em meus seios, viajando pelas curvas das minhas pernas e descendo até meus pés, como os filetes de suor que me arrepiavam. Estremeci.
Ele iria servir-nos. Equilibrava o prato em uma das mãos e se aproximava pelas costas de Plínio, com determinação e segurança de quem se aproxima pelas costas de alguém com um facão. Posicionou-se, finalmente, ao meu lado, olhando-me fixamente.
-Aqui está seu prato, Dona.
Enquanto posicionava o prato à minha frente, uma de suas mãos encostava habilmente em uma de minhas panturrilhas, que, por estar de pernas cruzadas, encontrava-se afastada ao lado da mesa. Retribuí reflexamente aquele hábito roçando os dedos de meu pé em uma de suas pernas enquanto ele me servia.
-Preto idiota! De volta! O prato é pra mim! Pra mim!
Dessa vez, a reação, longe de consternação, foi um sorriso cínico:
-Me desculpa, senhor.
Enquanto o prato ia sendo movido em cima da mesa, embaixo da mesa uma de suas mãos já agarrava minha panturrilha em torniquete, enquanto os dedos de meu pé já subiam à sua virilha e sentiam um volume pulsante vizinho por cima das calças. O calor iria nos fundir.
Ouvia resmungos seguidos de mastigadas ao lado da mesa, mas meus olhos caçavam o fundo do galpão, em busca de algo. Encontrei uma expressão de vitória naquele rosto antes consternado. Uma vitória primitiva, animal, a despeito de suas vestes simples, seu status precário, sua posição no mundo. Participar disso me trouxe um gozo instantâneo e inebriante. Precisava de mais daquilo.
Disse a Plínio que iria ao banheiro e me dirigi ao fundo do restaurante para, inocentemente, pedir que o jovem nativo me apontasse com sua flecha onde era o banheiro. Ele me olhou fixamente:
-Eu mostro pra Dona onde é.
Eu segui, sem instruções e à frente dele, para fora do restaurante, em direção à construção vizinha. Sentia seu calor e seu olhar me fulminando, me seguindo por detrás, analisando as saliências de meus vestidos e todas as pistas que elas davam.
-Que bunda deliciosa.
Entramos juntos no banheiro masculino.
-Dona, eu vou te mostrar quem é preto aqui. Abre essas coxas.
Ele me colocou agressivamente de costas para ele, os dois de pé, de frente para o vaso, dentro daquele cubículo terrivelmente quente. Suas mãos pesadas e rugosas apertaram meus glúteos com muita pressão e eu sentia meu vestido caindo rapidamente, ao som de gemidos maliciosos. Ele descobriu meu soutien e rapidamente o tirou.
-Preto adora calcinha de vagabunda, Dona.
Ele forçava a minha inclinação no vaso e começava a me penetrar com o ódio do mundo. Sentia toda sua força física e verbal jogada em minhas costas, nossas pernas batendo violentamente umas contra as outras. A exaustão se aproximava e ficava patente minha incapacidade de ficar de pé, as pernas bambeando entre cada movimento. Tonteei o corpo e os gemidos pararam, subitamente; os movimentos também. Recebo, pela primeira vez em anos, minha dose de suplício.
Calado, ele senta no vaso e me posiciona sentada em seu colo, inertes os dois.
-Você está bem?
Não respondo. Preciso descobrir sua expressão. Me viro em seu colo para posicionar-me de frente pra ele e seu membro masculino. Encontro aquele mesmo rosto sério do garçom iniciante.
Começo a beijar seu rosto e acariciar seu peito carinhosamente em expressão de amor genuíno, com o que ele retribui com um abraço, aproximando-me e posicionando-me em seu membro. Movo meu quadril ternamente dentro de seu corpo, sentindo nossa fusão. Brinco com os pêlos de seu peito e ele olha para os meus com um olhar de menino. Fixamos nossos olhos.
-Faz um filho preto dentro de mim.
Os movimentos se intensificam. Os gemidos são de pura inocência e prazer.
-Vou gozar!
Um leite branco de prazer jorra em fortes coxas negras.