“Você que inventou a tristeza ora tenha a fineza de desinventar” Apesar de Você, Chico Buarque
Os dias passaram, foram se algumas semanas que se somadas completaram três meses. Eu me sentia sozinho. Eu tinha medo de ficar com outros meninos e meu descobrir então eu nem tentei chegar em ninguém mais, mesmo sabendo que eu conseguiria pegar alguém.
No começo, eu conversava bastante com Raul, mas aí essas conversas foram rareando até se extinguirem. Ele havia arranjado um namorado loiro de olho azul e gato lá na Irlanda. Eu estava feliz por ele.
Para piorar minha situação, comecei a sentir algo novo. E o nome desse sentimento era Amor. O pior era por quem eu tinha começado a sentir esse sentimento. Gean? Matheus? Gabriel? Por enquanto eu prefiro deixar em segredo.
Você pode estar se perguntando novamente “Mas e o Raul?”. Meu amigo leitor, se você leu com atenção, em nenhum momento eu falei “eu te amo” para ele. Eu gostava dele. Ele era gostoso. Dava pra mim gostoso. Não tinha pudor na cama, fazia de tudo. Era gente boa... Mas eu não amava ele...
Cada dia que se passava, eu me sentia um pouco mais sozinho. Matheus estava cada vez mais firme com sua namorada.
Todos os finais de semana, todas as tardes que ele tinha livre ele ia para a casa dela, ou simplesmente saia com ela, ia encontrar ela. Ele não fazia mais nenhum programa em que ela não podia estar junto. E se, por ventura, ela viajava e ele não ia junto, ele se trancava no seu quarto e só saia quando ela voltava. Eu e Gabriel estávamos preocupados com a situação dele...
Gabriel e Gean eram uma gracinha juntos. “Onde está meu amor?” eu perguntava para mim mesmo. Eu ficava sonhando se um dia eu ia encontrar um amor como Gabriel tinha encontrado Gean.
Nossas sessões de estudos foram desarticuladas depois que Matheus saiu do nosso grupinho. Eu passei a estudar em casa, sozinho. Para falar a verdade, estava mais chato, mas estava rendendo muito mais.
As aulas estavam ficando cada vez mais insuportáveis. Os professores, na tentativa de aliviar a pressão sobre nossas costas, estavam só nos deixando cada vez mais preocupados. Quem já passou o terceirão sabe como é.
Quanto mais o ENEM se aproximava, mais eu ficava preocupado. Mas, como tudo na vida, ele passou. Mas eu não tinha motivo nenhum motivo para comemorar isso. Muito pelo contrário. O domingo pós-enem ficou marcado na minha memória para sempre.
Eu estava exausto de tantas provas. Cheguei em casa no domingo a tarde e deitei na minha cama. Depois eu levantei e fui até a sorveteria na rua da minha casa para tomar um sorvete. Por ser a melhor sorveteria da cidade, acabei encontrando alguns colegas. Conversei com eles, comentamos sobre as provas e tudo mais. Depois de cerca de uma hora lá, resolvi ir para casa.
Quando cheguei na porta da minha casa, achei estranho. O carro do Gean estava parado lá. Dei uma olhada para realmente confirmar se era o carro de Gean. Realmente era. Entrei em casa.
Assim que eu entrei Gabriel me abraçou, chorando. Ele chorava muito. Chorava muito. Muito mesmo.
- O que aconteceu, Gabriel? – Imaginei que ele tinha brigado com Gean. Mas Gean estava ali, na sala.
- Matheus, Matheus... – Ele não conseguia falar. Comecei a ficar preocupado. O que será que tinha acontecido?
- O que aconteceu? Gabriel, se acalme homem – Quem respondeu foi Gean.
- Ele... foi assassinado... Na porta da sua casa. Agora pouco...
Matheus? Morto? Não. Não tem como ser... Não pode. Não é possível. Saí do abraço de Gabriel. Escorei na parede e fui descendo lentamente pela parede. Minha vista ficou embaçada.
Acordei com todos a minha volta. Meu pai, minha mãe, Gean e Gabriel. Eu tremia. Eu não tinha forças nem para chorar. Era impossível. Era um trote só pode. Eu não conseguia assimilar aquela situação.
Meu amigo. Meu melhor amigo. Morto. Assassinado.
Gabriel me contou toda a história. Quem assassinara ele fora um ex-namorado da Evelin, sua namorada. Ele não era o alvo. Ela era o alvo, mas ele, como uma ultima ação, entrou na frente do tiro, que o acertou no peito. Ele não resistiu e morreu.
Ele, junto com Gean foram embora. Eu tomei um banho, coloquei uma roupa preta. Peguei uma foto minha, de Matheus e de Gabriel em que nós estávamos fantasiados de Três Mosqueteiros, em uma festa a fantasia. A legenda da foto dizia “Um por todos e todos por um!”. A foto ficava no meu quadro de fotos, no meu quarto.
Até então eu não havia chorado. Coloquei a foto em um porta retrato. Fiquei sentado no meu quarto olhando para o vazio. Nem vi o tempo passar. Meu pai que me tirou do transe. Ele se sentou do meu lado e falou:
- Hey, filhão. Tudo vai ficar bem. Vamos? O velório já deve estar para começar... – Eu só acenei com a cabeça. E levantei. Fui o trajeto inteiro em silencio. Meus pais não falaram nada. O clima estava pesado.
Chegamos no local. Dei um abraço nos pais dele. Gabriel e Gean chegaram logo em seguida. Dei um forte abraço no Gabriel. O corpo de Matheus ainda não tinha chegado.
Nossos colegas foram chegando aos poucos. Até alguns antigos amigos de Gean foram no velório. Quando o corpo chegou lá, o local estava lotado.
Eu sentei do lado do corpo e fiquei olhando o rosto inerte, sem vida dele. Ele tinha um leve sorriso no canto da boca, que refletia toda a alegria que ele tinha tido em vida. Foi a primeira vez que eu chorei. Gabriel estava do meu lado. Ele colocou a mão no meu ombro.
A situação já estava ruim antes da chegada de Evelin. Depois piorou 1000%. Eu estava ali, do lado do corpo. Junto com seus pais. Do nada ela entra gritando e chorando. Sem pedir licença ela me empurrou dali gritando “SAI! É O MEU NAMORADO!”.
Foi a única vez que eu bati em uma mulher na minha vida. Com essa frase meu sangue ferveu. Explodi. Toda a minha tristeza virou ódio. Peguei ela pelo braço e joguei ela pra longe, derrubando-a.
- Sua vadia! Muito antes dele ser seu namorado, ele é o meu amigo! Meu melhor amigo! Ele ta ali, naquela porra de caixão por sua culpa! Era pra você estar ali! Então você abaixa essa sua bola e sai daqui antes que eu arranque seu coro, mulher! – Todos ficaram em silencio. Gabriel me segurou com força. Gean olhou para mim assustado. Evelin levantou assustada e foi chorar em um canto qualquer.
Depois do velório teve o enterro. Depois do enterro a despedida fúnebre. Eu e Gabriel apenas, sem Gean, abrimos uma garrafa de tequila lá em casa. Era a bebida favorita do Matheus.
Durante toda a noite eu e ele bebemos a garrafa inteira, contando todas as histórias que nós tínhamos vividos juntos. Antes da última dose, Gabriel falou:
- Que ele viva para sempre! – Eu chorei e repeti:
- Que ele viva para sempre – Brindamos e bebemos.
Eu e Gabriel, completamente bêbados trancados no meu quarto. Deixei avisado para minha mãe nem meu interromper.
Eu arrumei a cama do Gabriel, como já era de costume. Deitamos para dormir. Fiquei meia hora tentando dormir, quando Gabriel perguntou:
- Você acha que vai conseguir dormir hoje? – Sua voz era bastante chorosa.
- Nem hoje e nem durante muito tempo – Respondi chorando também.
Desci da cama e sentei do lado dele. Ele deitou no meu ombro. Ficamos assim um bom tempo. Depois nós trocamos um olhar. Seus olhos castanhos vermelhos de tanto choro. Não sei por que, acho que foi a bebida. Mas eu beijei Gabriel.
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Olá! Acabei de postar mais um conto haha beijão! Espero que gostem!
OBS.: Não estou respondendo os comentários mais por falta de tempo. Sorry =(