Quando terminamos, o Thiago se vestiu e bebemos mais um pouco de água e eu falei que seria melhor ele ir, pois meu pai poderia chegar e não iria entender o motivo de ele ainda não ter ido para casa. Ele falou que tudo bem, que realmente já deveria tá em casa, mas antes de sair falou:
Thiago: Vou indo então, mas amanhã eu volto, viu?
***
Já estava em casa, tinha preparado alguma coisa pra jantar e já tinha tomado banho. Meu pai e minha madrasta chegaram por volta das 23 horas, e estavam muito cansados e logo foram dormir. Eu fiquei um pouco na internet e depois fiquei vendo televisão, mas quando fui dormir, fiquei a noite toda pensando no Thiago, no que tinha acontecido entre a gente e no que ainda poderia acontecer.
No sábado, acordei um pouco tarde, devido à noite perdida de sono e minha madrasta chamou para acompanhar ela ao hospital, pois ela teria que retornar lá para mais uma avaliação médica. Então terminei de tomar café e fui com ela até o hospital, pois se tratando de saúde, não podemos brincar e eu queria realmente ver ela melhor.
Quando voltamos para casa, meu pai já tinha fechado o mercadinho, pois aos sábados, ele fechava ao meio dia. O restante do dia, aproveitamos para tomar um banho de piscina em um churrasco, que estava acontecendo na casa de um amigo do meu pai e depois saímos para jantar em uma pizzaria. No domingo, o mercadinho não abria, era o dia de folga de todos. Passei o domingo na casa da minha avó, mãe do meu pai, como já era de costume sempre que estava em Dourados. Minha avó faz comidas maravilhosas e eu gostava muito de ir lá. No fim da tarde, meu pai foi comigo até a rodoviária, para eu pegar o ônibus de volta para Campo Grande.
No caminho fui pensando nas coisas que tinha acontecido nesse final de semana. Eu sempre gostei de ir para Dourados, mas agora eu tinha um motivo especial para ir e já estava contando os dias para voltar. Ao mesmo tempo ficava com medo. Medo do Thiago não querer mais falar comigo, ou de ficar indiferente, ou de alimentar um sentimento que ele não vai corresponder. Afinal, ele era o pegador das meninas do bairro e como um cara hétero poderia querer um relacionamento com outro? As perguntas vinham e eu não sabia responder, só sabia que eu queria voltar para Dourados o mais rápido possível.
Liguei para meu pai algumas vezes, sondando quando seria o próximo final de semana que voltaria em sua casa. Até que meu pai falou que eu poderia ir e marcamos tudo. Comprei as passagens e já tinha organizado a bagagem. Quando cheguei a Dourados na sexta à tarde, fiz a mesma coisa de sempre e fui falar com meu pai no mercadinho. Olhei discretamente para ver o Thiago, mas acho que ele estava no armazém.
Então estava lá conversando com meu pai, ele perguntando como estavam as coisas em Campo Grande, meus estudos e tudo mais, até que uma criança que estava acompanhada com sua mão, derrubou uns produtos que estavam na prateleira. Não quebrou nada, pois eram apenas alguns lápis, canetas e borrachas, pois era a parte que ficava o material escolar. Essa parte ficava no corredor oposto ao caixa onde meu pai ficava, então ele pediu para eu ir lá verificar o que tinha acontecido. Eu voltei e falei para meu pai que não tinha danificado nenhum produto. A mãe do guri pediu desculpas e meu pai falou que não tinha problemas, que criança era assim mesmo e tal.
Enquanto meu pai falava com a mulher, eu voltei no corredor para arrumar os produtos nos seus lugares, mas de repente escuto uma voz firme falando que poderia deixar, pois aquilo era o serviço dele. Sim, era o Thiago, mas ele estava sério, com cara de poucos amigos. Eu estava sem entender aquilo e no memento eu já estava abaixado e falei:
Eu: Pode deixar, aqui não são aquelas caixas pesadas, acho que dou conta de arrumar.
Falei rindo de canto de boca, na tentativa de melhorar o clima entre a gente.
Thiago: Tudo bem, mas se quiser pode deixar que eu organizo tudo sozinho.
Ele já falava com um sorrisinho no rosto e já estava também abaixado pegando os produtos. Terminamos de arrumar tudo e ele falou:
Thiago: Depois passa lá no armazém, quero falar uma parada contigo.
Meu Deus, o que ele queria comigo lá no armazém? Eu já estava com um pouco de medo, pois meu pai ainda estava na parte da frente do mercadinho, não dava para ver o que acontecia no armazém, mas mesmo assim era perigoso. Thiago falou aquilo e já foi entrando na porta que dava acesso ao armazém e eu fiquei no corredor parado, ser reação. Foi aí que no impulso eu fui atrás dele e entrei no armazém também, não poderia mais esperar e queria logo saber o que ele queria comigo. Quando eu cheguei e perguntei o que ele tinha para falar, ele já olhou com um sorriso de safado e falou:
Thiago: Nada não, foi só o bloco de anotações que seu pai deixou outra vez aqui. Leva lá pra ele.
Ele já estendia a mão segurando o bloco de anotações para eu pegar. Nossa, fiquei muito puto, pois esperava que fosse outra coisa que ele queria dizer, mas talvez eu estivesse querendo criar em minha mente uma situação que não existia e que nunca iria existir. Então peguei o bloco de anotações de sua mão com um pouco de rapidez, não disfarcei minha cara de poucos amigos e de raiva. Já estava saindo do armazém quando ele falou:
Thiago: Não vai olhar o que tem na última folha?
Eu parei na mesma hora, fiquei congelado, meu coração batia rápido. Olhei para traz e ele estava com aquele sorriso de safado. Não falei nada e olhei para a última folha e tinha um número de celular no canto da página. Na mesma hora entendi tudo, rasguei a ponta da folha onde ele tinha escrito e ele ainda falou:
Thiago: Pode ligar quando quiser.
Fiquei sem saber o que fazer. A única coisa que fiz foi pegar aquele pedaço de papel rasgado com o número anotado e guardar no bolso, depois levei o bloco de anotações para meu pai e fui pra casa. Não procurei o Thiago mais naquele dia e também não liguei ou mandei torpedo, pois não queria passar a impressão que estava “caidinho” por ele. No sábado depois que tomei meu café da manhã fui ao mercadinho, fiquei conversando com meu pai e em um momento o Thiago chegou lá e ficou falando com a gente, pois quando não tinha nada para ele fazer no armazém, ele sempre ficava conversando com meu pai, ou com o pessoal que ficava na calçada do mercado, que ele conhecia do bairro mesmo. Como não queria dar bola pra ele, passei mais um tempo e fui pra casa.
À tarde, meu pai falou que a gente iria jantar em um evento que teria na cidade, que seria uma comemoração do novo presidente da associação dos lojistas, não lembro o nome direito, acho que era alguma coisa assim. Mas eu falei que não estava afim, pois lá só teria pessoas mais velhas e seria chato. Meu pai falou que tudo bem, mas que provavelmente ele e minha madrasta iriam demorar para chegar em casa, pois depois do jantar teria uma festinha com música ao vivo. Eu falei que tudo bem.
Na minha cabeça já começava a preparar meu plano, aquela seria minha grande oportunidade de ficar com o Thiago. Por volta das 19 horas já estava sozinho em casa e liguei para ele.
Eu: Oi, Thiago?
Thiago: Quem tá falando?
Eu: Eu, Vitor. Este é meu número que você esqueceu de perguntar.
Thiago: Fala guri, o que manda?
Eu: É que meu pai saiu para um evento e estou sozinho em casa, como não tenho amigos aqui na cidade, lembrei de você e queria saber se a gente poderia sair para algum lugar.
Thiago: Vamos sim, vou tomar banho aqui e chego aí em meia hora.
Despedimo-nos ao telefone e eu fui tomar meu banho, pois queria usar uma roupa bem legal para ele. Terminei e fiquei na internet esperando por ele e nada dele aparecer, já estava ficando preocupado.
[Continua]
***
Olá pessoal, este foi o terceiro capítulo e espero que estejam gostando desta série. Queria esclarecer que este é uma história real, que foram mudados apenas os nomes das pessoas, as cidades e pouquíssimos detalhas, mas no restante, estou sendo bem fiel. Obrigado a todos que estão lendo, votando e comentando aqui. Aguardem as próximas emoções. Abraços!