Eu não consiguia entender aquilo. Mais uma vez me dividia, parece fácil escolher como se escolhe entre o vilão e a mocinha do filme mas, não é. Por cada um eu sinto amor, porém amores diferentes. Por Felipe sinto aquele amor arrebatador do qual eu teria coragem de fugir de casa na adolescência e ir pro México, vender bijuterias pra sobreviver e nunca, nunca reclamar de nada. Já por Vitor sinto aquele amor puro, todas as minhas lembranças com ele são ótimas, ainda lembro da nossa primeira vez onde ele enfeitou todo o quarto com rosas e velas, ou a vez em que passamos as férias em casa naquele inverno bucólico, um dos poucos invernos que tivemos aqui no Rio digasse de passagem, vimos filmes, séries, comemos brigadeiro e nos amamos, é um amor puro e simples arrisco até dizer que parece aqueles de filmes americanos. Quando estava com Vitor, Felipe sempre vinha a mente mas, quando estava com Felipe nada mais no mundo me importava.
Deitei em minha cama e não consegui mais chorar, apenas sentir uma dor que me consumia. À noite resolvi pensar e fazer uma higiene mental e o único lugar que tenho o sossego e o silêncio que preciso fica logo ali, a poucos quilômetros do Rio. Sai de casa por volta das 18h como era verão ainda estava claro, segui para meu destino, Charitas, uma bela e calma praia de Niteroi, cidade vizinha ao Rio. Quando cheguei lá já anoitecia e deitado em um pequeno gramado que lá tem, pude observar o pôr do sol e reafirmar a mim mesmo que aquele era o lugar mais lindo e tranquilo do meu mundo. Confesso que por quase duas horas tentei organizar meus pensamentos mas desisti, era algo impossível e olhando para o céu apenas olhei a estrela mais linda e brilhante daquele céu claro; e meio que em voz alta pedi:
- Não sei mais a quem apelar, só me resta a ajuda dos céus. Estrelinha me ajuda a achar o caminho certo... - disse fechando os olhos.
- Não tem caminho certo, eu acho que tem o caminho que tem mais chances de te fazer feliz. E olha que até essa estrela deve saber disso... - disso uma voz serena se deitando ao meu lado.
- O que você ta fazendo aqui?? - disse assustado pois não imaginava em ver Vitor ali...
- O Ed falou que havia visto você pegando o ônibus para Niteroi, nao foi difícil deduzir que você viria pra cá.
- Preciso lembrar disso na próxima reunião com o sindico... Acho que dar conta da vida dos moradores não esta na descrição de tarefas do porteiro. - disse ríspido.
- Ele não tem culpa, eu praticamente obriguei a ele falar... - disse Vitor se justificando.
As vezes ouço vozes mas fiquem tranquilos não sou esquizofrênico, acredito que é a minha razão que grita ao meu ouvido as vezes e nessa hora meio que ouvi
- Você não pediu? Tá ai...
Quando ouvi isso olhei assustado pra Vitor pedindo para repetir o que ele havia falado. Assustado, ele também falou que não havia falado nada e ainda brincou dizendo que era meu eu interior. Realmente a voz que havia ouvido não era dele, e o que ele falou de certa forma me incomodou pois ele me conhecia e já sabia das minhas maluquices.
Olhei para o lado e o vi ali, depois de tantos anos ele era o mesmo, sereno, amigo, companheiro... Juro que cheguei a não ter duvidas que era com ele que deveria seguir, afinal sempre foi ele que me amparou e esteve ao meu lado.
Rompendo um longo silêncio ele disse
- Você ama ele né? - disse num tom de voz desapontado
- Não sei, esta tudo muito confuso. Ele disse no bilhete que me amava mas como? Ele me ama e está lá com ela? Eu não quero destruir a vida de ninguém... Essa garota esta aqui não tem ninguém, imagina a cara de tacho dela voltando pra casa sozinha e ainda tendo que explicar que o noivo dela resolveu não casar com ela porque reencontrou o namorado dele de infância. E muito complicado, envolve muita gente. - desabafei com ele.
- Independente de qualquer coisa eu estou aqui com você. - disse pegando em minha mão - sempre vou estar, como sempre foi seja como amor, seja como amigo.
Aquelas palavras do Vitor soaram como uma bomba, por mais que ele estivesse sendo um fofo mas só piorava a situação.
- Acho que tem alguém querendo relembrar o passado - disse rindo
- Não, não quero relembrar nada. - disse ele de forma seca e direta.
Olhei meio assustado pra ele... E se seguiu um silêncio de uns 2 minutos que mais pareceram 2 anos...
- O que passou já acabou, não volta mais... - dizendo isso levantou e colocou minha cabeça em seu colo...
Preciso nem falar que se passavam milhões e milhões de coisas na minha cabeça. Eu crente que ele queria voltar e tal mas ele queria ser só amigo. Ei e o beijo de ontem? Enquanto pensava em tudo isso olhava inevitavelmente para o cara dele, sem duvidas fazia cara de duvida.
Dando um beijo na minha testa disse
- Pra mim o que passou não tem a menor graça, até mesmo porque já passou e são só lembranças... O que eu mais quero e viver o agora, mesmo porque não sei até que ponto posso competir com o Felipe. - enquanto falava olhava para o mar como se quisesse ao longe enxergar algo, achar alguma resposta.
- Você não pode competir com o Felipe. Com ele tenho lembranças de coisas que poderíamos ter feito... Já com você tenho as melhores recordações.
Foi inevitável derramar uma lágrima no canto do olho, a qual ele secou com todo carinho dizendo que não era pra ficar triste, pois tudo ia se encaixar na hora certa. Já eram cerca de 23h e praia estava vazia, Vitor deitou e colocou o braço por baixo da minha cabeça me levando junto ao corpo dele. Era completamente aconchegante o barulhinho das ondas do mar, a brisa leve de uma noite de verão e Vitor fazendo cafuné em meus cabelos. Tive meus primeiros momentos de paz e sossego desde a noite de Natal.
- Não quero forçar nada mas tenho uma música que eu sempre que eu ouço eu lembro de você e todo esses tempo longe ela me ajudou a sempre lembrar quem realmente importa na minha vida. - disse Vitor tirando o celular do bolso - Queria dividir ela com você pra gente sempre ouvir juntos... Como amigo se você quiser...
Ele colocou a música para tocar, era Reason Why do Ron Pope. Ele se levantou e sentou atrás de mim me abraçando por trás. Meio que desafinado começou a cantarolar no meu ouvir. Olha eu juro que eu admiro muito as atitudes dele mas eram sempre muito cômicas, só conseguia me lembrar da nossa primeira vez. O riso foi inevitável, senti ele incomodado, porém logo me justifiquei, que amava toda aquela delicadeza que ele tinha comigo. Tudo que diz naquela música é linda. E de fato todas as vezes que eu estava sangrando no chão ele vinha, como um anjo, pra me resgatar.
Encarei toda aquela situação com Vitor como uma resposta dos céus. Já era tarde e eu precisava ir, mesmo querendo ficar ali. Como moramos no mesmo prédio formos junto e nos despedimos com uma breve abraço. Não entendi muito imaginava um daqueles beijos maravilhosos dele mas respeitei, podia ser por causa das câmeras sei lá. Fui pra casa e dormi.
Os dias seguintes quase não o vi mais, ligava ele atendia mas de forma breve dizia que precisava desligar. Se ele não queria falar pelo telefone não faria o menor sentido eu ir à casa dele, então permaneci mais uns dias sem notícias. Como o porteiro e o que mais sabe da vida de todos resolvi perguntar ao Ed se ele tinha visto o Vitor por esses dias. Ed quis fazer o desenformado mais não comigo né? Logo arranquei dele que via sempre Vitor saindo e chegando com uma menina a qual ele apenas a apresentou como Natália. Achei estranho até por que conhecia toda a família de Vitor e não me lembrava de Natália nenhuma, a não ser uma prima dele que morava bem longe e que ele comentou apenas uma vez, me lembro bem do comentário por que ele fez quando víamos "Beth a Feia" e ele falou que era idêntica a ela. Bem podia ser esse o motivo, nada mais normal que receber parentes, amigos e agregados nessa época.
Chegou o dia 31 de Dezembro, recebi dois amigos meus em casa que iriam a Copacabana passar o ano novo comigo. Tinha saudades de Vitor mas como tinha esses dois amigos em casa, sempre havia uma distração. Nos arrumamos e fomos para a praia!! Não tem réveillon mais lindo que o de Copacabana, a energia de quase 2 milhões de pessoas vibrando junto não tem explicação. Chegou 2015 e tudo ia muito bem, como de costumes passando a meia noite vamos para Ipanema beber e jogar conversa fora. Fomos e por volta das 4h da manhã já bem bêbados dei de cara com Vitor e uma bela morena com um corpão daqueles de dar inveja a qualquer uma. Custei crê no que via, eles se beijando??? Cutuquei Diego que estava ao meu lado, perguntado se ele também via o casal a frente e ele respondeu que sim. Putz por isso que ele sumiu, por isso que ele mal atendia as minhas ligações afinal estava ocupado com ela. Nenhum dos dois amigos que estavam comigo entenderam a minha revolta mas decidi ir embora. Enquanto saia Vitor me viu e tentou correr atrás de mim, ficaram para trás Natália, Diego e Rafael todos sem entender nada. Vitor veio tentar de justificar mas logo o cortei.
- Não temos o que conversar, se quiser passa la em casa amanha. De preferência depois das 5 da tarde por que e essa hora que começo a receber amigos. - disse meio enrolado.
Estava realmente bêbado, tinha bebido muito, só então lembrei do Diego e do Rafa que havia deixado para trás. Fomos para casa e nos jogamos no primeiro lugar "dormivel". Acordamos por volta das 14h, fui o primeiro estava com uma ressaca daquelas, acordei os meninos e fomos pra cozinha começar a faz algo pra comer. A tarde quase que britanicamente as 5 da tarde a campainha tocou, um frio na barriga me veio, meus sensores alarmavam e me precaviam lá vem mais uma tormenta. Caminhei a porta e a abri, lá estava o belo casal Vitor e Natália. Quanta cara de pau dele aparecer na minha casa com aquela ensossa. Eles se entre olharam e com o olhar baixo Vitor disse
- Posso entrar?
Ta ai mais um... Não sei dizer se estamos chegando ao fim ou não, a parir de agora será quase em tempo real a história.
Muito obrigado Ale.blm, André Cardozo, Irish, Evan Greene, Thiago Pedro, Moreno18, M/A, Sterlan, Anjo Apaixonado, Melk Serra e Ulqui. Vocês são muito importantes assim como a opinião de vocês, Contato contos.meninodorio@gmail.com !