"Amor,
eu tentei achar de várias formas contar pra vc, mas não consegui. Meu câncer voltou. Passou todo um filme na minha cabeça do que eu passei, mas também lembrei de tudo o que meus pais sentiram e passaram. Eu não aguentaria fazer isso com vc também. Eu não aguentaria te ver sofrer por me ver nesse estado. Resolvi ir embora e me tratar longe, para que seja um sofrimento só meu, sem afetar ninguém. Foi o único meio que eu achei para não afetar tanto vcs. Eu te amo muito, nunca duvide disso, por isso resolvi deixar essa carta explicando o meu sumiço. Me perdoe, por favor, e peço perdão aos meus pais também. Para vc estar lendo essa carta é porque algo aconteceu comigo ou não tenha conseguido ganhar essa batalha. Espero que vcs tenham me entendido, mas achei melhor assim.
Amo todos vcs.
E sempre irei te amar.
Com todo meu coração
Maria Cecília."
Então era isso, ela achava que sumindo iria fazer melhor para nós. Só não contou com a parte da minha insistência.
Eu tinha chegado sem avisar na casa da Dona Lourdes, depois que comecei a estranhar as atitudes dela, meio nervosa quando eu ou os pais dela iam pra lá. Até que ela resolveu falar.
- eu não aguento mais ver minha menina triste daquele jeito. Ela está tentando poupar a família de sofrimento, mas está acabando com ela mesma. Isso está deixando ela tão fraca quanto o tratamento. Eu sei que ela não vai gostar de eu ter feito isso mas não consigo mais vê-la assim. - disse Dona Lourdes com os olhos cheios de lágrimas.
- a senhora pode me levar até ela? Eu me resolvo com ela.
Ela concordou e fomos para o hospital onde ela estava internada. Eu estava com uma raiva danada dela, mas ao mesmo tempo, muito aliviada. Eu entendia ela, mas aquilo não podia continuar. Chegamos no hospital e antes de entrar liguei para os pais dela para dar notícias. Deixei Dona Lourdes falando com Leona e mesmo um pouco longe dava pra ouvir os berros dela no telefone. Se mal conheço minha sogra ela devia tá chorando e berrando ao mesmo tempo e o Lúcio tentando tirar o telefone da mão dela.
Tinha um floriculturista na porta do hospital, então comprei um buque pequeno e entrei. Uma enfermeira me levou até a porta do quarto dela e foi embora. Bati duas vezes e escutei ela falar
- Pode entrar, vó.
Entrei devagar e aos poucos, quando fui tirando o buque da frente do meu rosto, ela viu quem era e fez uma cara de espanto. Pude ver que o tratamento estava realmente afetando ela. Seus cabelos estavam meio ralos, ela estavam bem abatida e magra, com olheiras, meio pálida. Não me assustei ou me abate com essa visão,pelo contrário. Eu estava mais do que contente que, apesar disso tudo, ela estava ali ainda. Ainda estava viva.
- o que vc está fazendo aqui? Como vc conseguiu me encontrar?
- alguém que está muito preocupada com vc me falou que não estão mais aguentando te ver triste e sofrendo sozinha. - ela logo entendeu.
- Maria, eu entendi o que vc fez, mas vc não entendeu uma coisa. Vc tirou o fator mais forte pra enfrentar esse tratamento.
- Que fator?
- O amor. O meu amor por vc, o amor dos seus pais. O amor de quem te quer bem e te ama.
Ela não respondeu, apenas começou a chorar e fui até ela e a abracei. Tê-la em meus braços de novo depois de tanto tempo separadas foi um alívio que não sei nem como descrever.
- Eu te amo. Nunca que eu iria deixar vc passar por isso de novo sozinhaANOS DEPOIS