- Não tem problema - disse ele dando um sorriso para mim.
- O que tá acontecendo aqui? - perguntei incrédulo. Será que eu estava tão louco e comecei a ver Jordan em todos os lugares?
- Eu estou te buscando. - disse ele começando a dirigir.
- Esse caro é do meu pai, cadê ele? - estava difícil controlar o tom da minha voz. Eu estava com muita raiva e tinha vários motivos.
- Padrinho está trabalhando e madrinha só volta amanhã. Ela vai dar plantão no hospital hoje - disse ele olhando pra frente enquanto dirigia.
- PARA O CARRO AGORA! - ele continuou dirigindo como se eu não estivesse falando com ele. - AH É? TÁ SE FAZENDO DE SURDO? - Tirei o meu cinto de segurança e na hora da loucura abri a porta do carro em movimento.
- EI, TU TÁ LOUCO É? QUE MORRER IDIOTA? - gritou ele para mim me impedindo de sair do carro, ele trancou a porta no automático e colocou o cinto de segurança em mim de novo.
- Qual a parte do "saia da minha casa", você não entendeu? - eu nem me controlava mais, gritava com ele no carro - Será que vou ter que arrumar suas malas pra te despachar?
- Escuta aqui pirralho, tu me respeita! Sou mais velho que tu - Jordan secava uma gota de soar do rosto, percebi que eu estava o irritando, o que era melhor que ver uma temporada inteira de Supernatural com pipoca de manteiga.
- Respeito? Serio que tu disse essa palavra? - respondi ironicamente mostrando o roxo no meu rosto.
Ele parou no sinal vermelho e ficou me olhando. Por segundos que para mim parecia eternidade. Ele acariciou meu rosto com sua mão suavemente ao lado da minha ferida e com seu toque estremeci.
- Eu não queria ter feito isso. - ele olhava nos meus olhos e eu não conseguia o encarar.
- Mas fez e doeu pra caralho! - disse abrindo minha mochila para pegar um livro.
- Eu não sei o que me deu na hora, eu sei que não... - ele parou o que estava falando para me olhar. Estava com meu livro na mão e definitivamente não tinha nem ouvido o que ele tinha falado. Não estava com a mínima vontade.
- Ei, tô falando com você.. é um mal educado mesmo - disse ele bufando.
- Estranho porque seu pai me adorou - disse dando um sorriso sínico - na verdade eu nem sei como tu pode ser filho do Roberto, ele é tão educado e fino. Tenho certeza que ele não deve distribuir socos na cara dos outros.
Ele estacionou o carro numa vaga perto do shopping, percebendo que eu não ia dar atenção para ele e o mesmo tirou o livro das minhas mãos.
- Ei, me devolve meu livro - disse protestando ao que ele tinha feito.
- Escuta: Eu sei que comecei mal com você. Eu sei que errei com você. E sei que você está com toda a razão - ele falava rápido como se estivesse com muita vergonha - E eu tô tentando te pedir desculpas. Eu não sei o que me deu hoje mais cedo, não tenho o direito de me meter na sua vida e muito menos com quem você dorme.
- Não tem direito mesmo, não é nada meu, nem parente! - respondi secamente e percebi um pouco de decepção nos olhos dele.
- Não somos nada ainda... - ele falou lentamente e por um segundo achei que ele estava com segundas intenções - eu só quero dizer que eu realmente estou muito, muito arrependido com a maneira que te feri. Eu não sou assim, não foi dessa maneira que minha mãe e meu pai me educaram. Eu perdi o controle sem motivo, mas eu realmente quero ser seu amigo.
Ele realmente estava sendo sincero, eu percebia isso na postura dele e na maneira que ele me olhava. Mamãe sempre dizia para mim "Se quer saber se uma pessoa é sincera com você, olhe nos olhos dela e você vai sentir se ela está sendo verdadeira" e papai já dizia "A maneira como um homem aperta a mão de outro homem diz tudo, Varsóvia."
- Acho difícil sermos amigos. Seu soco ainda está doendo. - disse cansado.
- Mas teremos que ser. Porque ficarei três meses em sua casa e eu realmente não estou afim de sair de lá. Faz muito tempo que não fico com meus padrinhos. - ele foi categórico. Olhei nos olhos dele com receio. - E não se preocupa que não irei dizer nada sobre o que aconteceu se você fazer o mesmo. Sinceramente quero ser seu amigo.
Ele colocou a mão em minha perna e toda minha pele se arrepiou. A mão dele era grande e seu toque era firme, tive que me controlar para não ficar excitado. Por um momento imaginei as mãos dele percorrendo meu corpo, até chegar na minha bunda e...
- Tudo bem, eu também não estou afim de confusão. Esse ano é decisivo para o meu futuro e a última coisa que quero é me estressar - disse tirando a mão dele da minha perna - Mas eu sou franco... não sei se consigo conviver com você.
- Eu compreendo. Só peço que tente e se não der em nada, vamos fingir que não sentimos a presença um do outro. - Disse ele sorrindo - Agora vamos que a gente vai almoçar.
- Almoçar? Com você? - disse dando risada. Ele me olhou sério.
- Sim. É uma boa maneira de tentarmos ser amigos.
Eu concordei, realmente precisava de um Subway enorme com muita mostarda e sai do carro. Eu andava com mais pressa, isso sempre foi típico de mim e pude perceber pelo canto do olho que Jordan analisava minha bunda. Ele ajeitou o volume da calça dele.
- Depois eu que sou o viado - disse rindo.
- O que você disse? - ele não tinha escutado.
- Eu disse "vamos que eu tô com fome" - menti.
Entrando no shopping, fiquei mais feliz porque estava totalmente vazio e fui em direção ao Subway.
- Ei, volta aqui. A gente não vai comer essa porcaria! - decretou ele.
- Por que não? É saudável! - disse confuso.
- Vamos comer comida de verdade. Eu passei aqui antes e conheci um restaurante que por coincidência o chefe é meu amigo. - contou ele.
- Subway para mim é comida, querido! - Ele pegou a minha mão e começou a me puxar! Ele me tratava como se eu fosse uma criança que não queria ir para a escola e o pai arrastava o filho.
- Me solta!
- Vem, vai ser bom. Comida de verdade e com um bom vinho. - Ele largou minha mão e seguiu em frente.
Desisti de insistir. O covite dele tinha me agradado. Eu adoro vinho e passava horas na adega de papai. Percebi que se eu realmente quisesse tentar ser amigo de Jordan, teria que parar de insistir e ceder. Só não sabia se ceder era uma coisa boa ou ruim. Entramos no restaurante que era muito bonito e bastante refinado, só de olhar se percebia que um almoço ali deveria custar fortunas. A recepcionista muito simpática e bonita nos encaminhou a nossa mesa que era a melhor do lugar e logo depois veio um moço anotar nossos pedidos.
- O que os senhores iram querer? - perguntou o jovem atendente que não tirava os olhos de mim. Ele deveria ter uns 18 anos e realmente era muito bonitinho. Tinha os olhos claros e uma franja que combinava com ele.
- Pedi você primeiro, quero ver se tem bom gosto mesmo. - desafiou-me Jordan.
- Então tá - eu me virei para o atendente e comecei a fazer charme. Molhei os meus lábios lentamente - Nossa esse cardápio está muito bom - o atendente estava hipnotizado por mim e eu estava adorando. Conseguia sentir Jordan bufar. - Bom nós vamos querer de entrada Ratatouille, depois um Foi Gras e de sobremesa Profiteroles de chocolate. E vinho do Porto para acompanhar.
- Realmente você tem um ótimo gosto - declarou o atendente, saindo da mesa sem antes me dar uma piscada de olhos.
Jordan se virou para mim e perguntou:
- É sempre assim?
- Sempre assim o que?
- O assédio? - falou ele irritado - Esse cara praticamente te comeu com os olhos. Sinceramente vou falar com chef.
- Você não vai fazer isso. E sim é sempre assim, fazer o que se sou lindo? Ninguém resisti a mim! - declarei como se eu realmente tivesse toda essa pose e confiança.
- Ninguém resisti é? - ele riu
- Cuidado para não se encantar por mim até o final do almoço. - disse dando risada.
- Eu não vou - ele falou seriamente olhando nos meus olhos. Isso sim foi um gelo!
Ele me devolveu o livro que eu estava lendo antes no carro.
- Fragmentos de Caio Fernando Abreu - disse ele me entregando o livro, peguei o livro e guardei na minha mochila.
- Ele é meu autor favorito. - expliquei
- O meu também. Qual o seu livro favorito dele? - indagou.
- Triângulo das Águas. Sem dúvidas é o melhor, me cativa o jeito que ele descreve os sentimentos humanos, como a inveja, a raiva, o amor, a melancolia. Ele mexe com meu jeito de pensar toda a vez que leio o livro dele - Jordan prestava totalmente atenção no que eu dizia como se estivesse encantado.
- O meu livro favorito dele é esse que você está lendo. - começou ele - Gosto muito do conto Aqueles Dois.
- Eu terminei de ler esse conto na aula de hoje. Lindo, né? A maneira como os dois homens se conheceram e começaram a se apegar um pelo outro. É isso que me cativa no Caio, a maneira como ele escreve, me sinto transbordado de amor.
A gente ficou em silêncio por um tempo, envergonhados talvez pelo fato de estarmos nos falando como se fossemos melhores amigos.
- Me surpreende que você leia Caio já que você é um homofó.. - eu e a minha mania de falar sem pensar.
- Homofóbico. É isso que você quer dizer? - perguntou ele decepcionado.
- Sim - A final era isso que ele aparentava ser.
- Eu não sou homofóbico e você vai descobrir que o que aconteceu entre nós não foi por acaso. As vezes duas pessoa totalmente diferentes podem se dar bem. Virarem amigos.
- É talvez você esteja certo.
O almoço foi muito bom. A comida e o vinho davam uma sensação de conforto. Principalmente o vinho que já estava me deixando tontinho.
- Então você deixou uma namorada lá na França? - perguntei
- Sim, o nome dela é Lolita. - comentou ele.
- Que nem no livro de Vladimir Nabokov? - disse dando risada, comecei a citar com muito charme um trecho do livro Lolita - "Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: A ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu-da-boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã, um metro e trinta e dois."
Jordan me olhava fixamente e pude jurar que vi desejo nos olhos dele. A pupila estava totalmente dilata e por poucos segundos seus olhos ficaram um pouco mais escuros.
- Realmente você sabe muito de literatura - disse ele mordendo os lábios.
Tentei tirar da cabeça que naquele momento estava rolando um clima entre nós e terminei de comer a sobremesa.
- Acho que podemos ir - disse dando um sorriso envergonhado. Tenho que parar de paquerar com o Jordan. O cara nem gay é... eu acho.
- Vamos sim. - Jordan arrumou a gravata no pescoço e pediu a conta. Apesar do meu ódio por ele, não podia negar que ele era muito sexy e o terno só o ajudava. Jordan pagou a conta e deu uma gorjeta muito boa para a recepcionista e o atendente fofo que, numa falta de atenção de Jordan, o rapaz me passou seu número num guardanapo.
No trajeto de carro para casa, Jordan me contou um pouco mais sobre ele: tinha 28 anos, era formado em economia mas preferiu cuidar da rede de restaurantes da família do que criar um próprio negocio. Estava namorando a três anos com Lolita que segundo ele "é uma moça legal". Ele iria abrir o restaurante em São Paulo daqui a três meses e depois voltaria para França. Durante a conversa cheguei a conclusão que realmente Jordan era um cara legal e que quem sabe nós virássemos bons amigos. Chegando em casa, subi direto para meu quarto, tirei o uniforme e nisso Jordan entrou e me viu só de cueca.
- Ops.. desculpa! - disse ele
- Imagina, entra ai. - disse para ele. Comecei a me vestir na frente dele só para provocar. Coloquei meu pijama, sentei na cama e cruzei as pernas. Esse era meu truque, eu tinha umas belas pernas - O que você quer?
- Ah.. - Jordan estava desconcentrado e tive uma grande satisfação quando constatei isso. Sempre foi da minha natureza provocar, não importava quem fosse. - Foi um prazer almoçar com você hoje.
- Também gostei muito. - falei sendo sincero.
- Espero podermos esquecer o que incidente que ocorreu. - ele entrou no meu quarto e se sentou do meu lado. Comecei a sentir uma energia sexual forte entre nós e tinha certeza que só podia ser coisa da minha cabeça. Até que ele tocou no meu lábio machucado. Por um momento pensei que ele ia me beijar e eu até fechei os olhos. Mas ele me deu um beijo na bochecha.
Quando abri os olhos ele não estava mais no meu quarto e cheguei a conclusão que meu coração estava totalmente ferrado.
Continua...
(E ai galera, como estão? Espero que vocês curtem bastante o sábado por eu irei curtir muito hahaha. Torço para que estejam gostando do conto e um beijo a todos!)