Oi, sou o Escritor Sincero, também conhecido como Diego ou My Way, para o pessoal da Casa dos Contos. Atualmente (2021), estou com uma conta no Wattpad e resolvi reescrever algumas histórias e chegou a vez de "Romeu e Julius". Todos os dias, vou repostar um capítulo "novo antigo". Um abraços e, por favor, se cuidem!!!!
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A homofobia é uma palavra relativamente nova para a humanidade, mas antes ninguém poderia imaginar algo sobre o assunto. O preconceito era tanto que, em alguns lugares, as pessoas julgavam os homossexuais como pervertidos. Até mesmo em Framon, um reino próspero e amigável, tal situação era vista com maus olhos.
O único lugar permitido casais do mesmo sexo ficarem juntos se chamava Costa Estrela, uma cidade marginalizada e esquecida. Sim, o preço do amor, algo puro e bonito, também podia ser triste e sofrido.
Nossa história tem início no Reino de Framon, mais especificamente, na rua das Cerejeiras onde mora Celdo Mazzaro, um especialista em batalhas e braço direito do Rei Nilo, soberano de Framon.
Em sua mansão, Celdo, olha atentamente para o relógio de parede. As horas parecem não passar e a cada movimento do ponteiro, o coração dele pulsa mais forte. O motivo do nervosismo é a chegada de mais um herdeiro, o terceiro para falar a verdade. A movimentação no salão se intensificava, empregados e amigos da família, esperavam o nascimento da criança.
Sem entender nada, o pequeno Romeu, de quatro anos, brincava e não percebia a agitação em sua volta. Em um ato brusco, uma das empregadas chuta a bola de Romeu que sai rolando até uma grande porta. O menino conseguiu agarrar a bola e ouviu o choro de um bebê do outro lado.
Curioso, Romeu entrou e ficou encantado com o tamanho do aposento. O quarto era grande e claro. Os móveis, na perspectiva do garoto, pareciam ter saídos de um livro sobre gigantes. No Centro, o pequeno Romeu avistou uma cama e, apesar do medo de levar uma bronca, se aproximou.
— Vai se chamar Julius Albert Mazzaro. — disse Malody, a esposa de Celdo, segurando o pequeno bebê envolto a um lençol de seda azul.
— Porquê ele está sujo de sangue? — perguntou Romeu, deixando a bola de lado e subindo na cama com dificuldade.
— Oh, pequeno Romeu. — soltou Malody, surpresa, mas feliz ao ver a criança. — Venha ver o seu novo amiguinho. Ele se chama Julius.
— Oi. Julius. — Romeu se aproximou e pegou na mão do bebê.
O bebê reagiu a voz de Romeu e soltou uma espécie de gargalhada. Emocionada, Melody, garantiu que Romeu e Julius seriam bons amigos no futuro. Infelizmente, o momento de felicidade foi cortado por uma das empregadas, que pediu desculpas para a patroa e tirou a criança da cama.
— Espere. — protestou Romeu correndo e pegando a bola no chão. — Esse é o meu presente para o Julius. — entregando a bola para Melody.
— Que gesto lindo. — agradeceu Melody. — O primeiro presente do Julius.
17 ANOS DEPOIS
Os anos se passaram e a previsão de Melody tornou-se real. Romeu e Julius tornaram-se grandes amigos, eles faziam tudo juntos. Brincavam, dormiam e, claro, tomavam banho nos riachos e cachoeiras de Framon. A diferença de idade não atrapalhava, muito pelo contrário, a química entre os dois só crescia.
Após um dia agitado de treinamento, Romeu, aproveitou para encontrar o melhor amigo. Ele entrou no celeiro, o último lugar onde Julius foi visto pelos empregados. A ideia inicial de Romeu era surpreender Julius, porém, as coisas aconteceram de forma diferente.
— Em guarda! — gritou Julius, surpreendendo Romeu ao pular em cima dele. — Pegue sua espada, cavalheiro real. Quero uma luta justa. — balançando uma espada na direção de Romeu.
— Tudo bem, justo. — retrucou Romeu, empunhando sua espada e sorrindo.
Apesar de magro, Julius, era habilidoso com uma espada. Ele aplicou um golpe ensinado por Romeu, que reagiu da melhor forma que pode. Eles ficaram um de frente para o outro, esperando o melhor momento para atacar.
O coração pulsando forte, o suor escorrendo no rosto e atenção redobrada nos movimentos do inimigo. Julius não gostava de perder, mesmo para o melhor amigo, então, usou toda habilidade que adquiriu durante os treinamentos com Romeu.
— Em guarda! — gritou Julius, antes de atacar Romeu, que desvia dos golpes com maestria.
— Calma, rapaz! — Romeu pediu, girando para o lado esquerdo e fazendo Julius tropeçar.
— Ei. — passando direto e ficando de costas para Romeu.
— Regra número sete. — disse Romeu.
— Nunca dê as costas para o inimigo. — fungou Julius revirando os olhos e voltando sua atenção para Romeu.
Um ataque certeiro de Julius fez Romeu ficar de joelhos no chão. Então, ele mudou de estratégia e aplicou um golpe corporal, mas como Romeu é mais pesado, os dois caíram no chão, um em cima do outro. Os rostos dos dois ficaram bem próximos, na cabeça deles, os segundos tornaram-se horas, porém, um trovão os trouxe para a realidade.
— Pensei que estavas no Centro de Batalha. — falou Julius levantando com dificuldade e oferecendo a mão para Romeu.
— Teu pai me deu o dia livre. — pegando na mão de Julius e levantando. — Não tenho culpa de ser o escudeiro mais habilidoso.
— Claro. Você é o preferido dele. Queria que ele visse a forma como te surpreendi.
— Eu estou velho para essas coisas. — colocando a espada de volta na bainha localizada no seu cinto.
— Em breve, você faz 21 anos e vai torna-se um cavaleiro real. Eu vou continuar aqui, passando os dias estudando formulas e cálculos chatos. — Julius deixou a espada em cima de uma mesa.
— Guerras são feias, Julius. O seu pai não quer que você se machuque. Eu, também, não. Romeu se aproximou e limpou o suor no rosto de Julius.
Realmente, a amizade entre os dois era bonita de se ver, porém, muitos na cidade viam essa aproximação com maus olhos. Enquanto caminhavam pelas ruas de Framon, Romeu e Julius eram alvos de comentários maldosos.
— Viu. Esses dois gostam de andar juntos. Deveriam ir para Costa Estrela. Lá que moram os mariquinhas. — falou o Sr. Patrick, padeiro local.
— Deixe disso. Se o Capitão Mazarro souber de seus comentários. — advertiu Cido, um de seus funcionários.
Apesar de ser habilidoso com a espada, Julius não tinha nenhum pouco de noção de espaço. Ele estava constantemente esbarrando em alguém ou tropeçando. Graças a Deus, Romeu o ajuda nos momentos de apuro.
— Sério, Romeu. Ela pegou a bola e tacou para longe. — Julius abriu os braços e sem querer derrubou um homem que andava ao seu lado. — Meu Deus, senhor. Perdão. — pediu Julius, ajudando o homem a ficar de pé.
— Perdão. — pediu Romeu. — Esse jovem é um pouco desastrado. — com um sorriso amarelo no rosto.
— Romeu, Julius. — chamou Celdo acenando para os dois.
— Pai? — soltou Julius.
— Vamos para casa. O cocheiro está nos esperando. — anunciou Celdo.
— Já? Tá bom. Preciso ir, Romeu. E desculpa pela surra hoje. — brincou Julius, abraçando o melhor amigo.
— Na próxima não vou refrescar. Até mais.
Ordem é uma palavra muito usada no vocábulo de Celdo Mazarro. Ele é responsável pelo Centro de Treinamento de Framon, local onde nascem os mais habilidosos guerreiros. Até mesmo, as pessoas que não eram daquele reino conheciam os feitos de Celdo, porém, até mesmo o mais imponente dos homens tem um passado obscuro, e isso, poderia trazer vários problemas para todos.
Pai e filho caminhavam na entrada da mansão, eles não conseguiam achar um assunto em comum, então, o silêncio reinava naquela relação. Antes de entrar em casa, Julius reconheceu o aroma agradável da torta de carne, o seu prato preferido na vida.
Além de Julius, Celdo e Melody tiveram dois filhos, Catarine e Bartolomeu. Apesar da severidade de Celdo, ele amava os filhos com todo o coração e queria o melhor para eles. Ao sentar à mesa, Julius, conseguiu devorar em minutos duas fatias de torta e um pedaço de bisteca.
A fome de comida do caçula dos Mazzaro só não era maior do que a de se aventurar no mundo das batalhas. Infelizmente, aquele tópico trouxe um debate acalorado para a mesa de jantar. Um dos maiores desejos de Julius era participar do Centro de Batalha.
— Seu destino é estudar e tornar-se um brilhante médico. — afirmou Celdo tentando manter a paciência.
— Médico? — soltou Julius fazendo uma careta engraçada. — Eu não quero ser médico. Quero participar de batalhas e...
— Deixe de ser tolo. O seu irmão, Bartolomeu é o único com habilidades para tal. Você meu filho, meu caro filho, precisa focar em outra profissão. — Celdo, levantou e andou até o filho, então, pegou nos cabelos de Julius e bagunçou.
— Acho isso injusto. Vou fazer uma greve de fome.
— Você, greve de fome? Já não tem chance disso acontecer. — brincou Catarine, deixando Julius vermelho de raiva. — Deixe de ser bobo. Pense pelo lado positivo, irmão.
— Não consigo enxergar nenhum. — garantiu Julius, fechando a cara durante o resto do jantar.
— Desculpa, Julius. — pediu Bartolomeu, flexionando os músculos e fazendo várias poses engraçadas.
— Chato. — dando língua para Bartolomeu.
Á noite cai em Framon e todos entram em suas casas para descansar. A temperatura estava agradável e uma forte brisa balançava as árvores da cidade. O único que não conseguia dormir era Julius. Ele continuava com a ideia de participar de um treinamento no Centro de Batalha.
Na calada da noite, o jovem entrou sorrateiramente no quarto de Bartolomeu, seu irmão mais velho. Os dois tinham uma ótima relação, mas nada comparado ao laço entre Julius e Romeu, o que despertava até uma certa inveja de Bartolomeu.
— Julius, não. O papai me castra se eu, pelo menos, pensar em te ajudar. — Bartolomeu afirma pegando em sua virilha. — E outra, o papei trabalhou bastante para nos dar esse conforto todo. Ele te protege, mas não é por mal.
— Eu sei disso. Claro que sei, mas...
— Vá com calma. Agora vá, eu preciso dormir. Tenho um dia longo amanhã. — pegando no ombro de Julius. — Você é um ótimo irmão, Julius. Pena que é um péssimo guerreiro. — expulsando Julius do quarto.
— Eu vou te provar, Bartolomeu. Serei um guerreiro melhor que você. — andando em direção ao seu quarto.
No dia seguinte, Julius procurou seu confidente, Romeu, para fazer uma revelação. Eles se encontraram na floresta, próximo a uma velha cabana. Aquele foi um local encontrado por Romeu e virou uma espécie de Quartel General dos amigos.
Ainda chateado pela decisão do pai de não o deixar participar dos treinos, Julius pensou em vários planos infalíveis, como por exemplo, entrar de penetra no Centro de Batalha e participar de uma luta. Como o mais velho da dupla, Romeu tentava ponderar o lado irresponsável de Julius, o que era uma missão difícil.
— Julius. Você é um rapaz diferente. Não nasceu para essa vida. — disse Romeu, sentando em um velho banco empoeirado.
— Diferente, diferente. — murmurou Julius, andando de um lado para o outro. — Estou cansado de todos falarem isso para mim. Sou muito bom com uma espada. Consigo derrotar qualquer um...
— Tá bom. Eu te ajudo. — revirando os olhos e cruzando as pernas.
— Obrigado! — exclamou Julius, que tentou correr na direção de Romeu, mas acabou tropeçando e derrubou o amigo da poltrona.
— Você é. — Romeu não conseguiu terminar a frase, pois, teve um acesso de riso.
Longe dali. Nas montanhas geladas de Kinopla, região sul de Framon, o malvado feiticeiro, Cen Pentagon, bolava um novo plano para conquistar o reino. Durante anos, Cen ficou recluso esperando o momento certo de atacar. Através de uma bola de cristal, ele conseguia assistir a rotina de Framon.
Na penumbra de um castelo abandonado, o feiticeiro arquitetava seus planos diabólicos. A fisionomia de Cen era de um morto-vivo. Sua pele pálida estava ressecada; os olhos vermelhos brilhavam ao pensar na vingança contra o reino; no corpo, o feiticeiro ostentava vários símbolos que lembravam pentagramas.
Para não ficar sozinho, Cen decidiu criar um escravo, mas esse ato de desespero lhe custou uma parcela grande de poder. O nome do servo era Klaudo, uma junção de sapo, cobra e besouro, infelizmente, pelo menos para Cen, o monstro nasceu dócil.
— Mestre, o senhor precisa descansar. — pediu Klaudo, ficando de joelhos diante a presença de Cen.
— Eu não quero descansar. Eu quero acabar com o Celdo!!! — gritou Cen, que despertou uma tempestade sob o castelo abandonado. — Eu quero vingança, Klaudo! — vários raios atingiram o castelo.
— Aaah! — exclamou Klaudo, jogando-se no chão e protegendo a cabeça com suas patas. — O senhor ainda não tem poder o suficiente. Precisa guardar mais energias.
— A bruxa que me derrotou vai pagar caro. Assim que os meus poderes forem restabelecidos vou matar todos! — rindo alto e para ao ouvir Klaudo gargalhando. — Calado!!! — mais trovões caem do céu e atingem o castelo. — Agora, preciso pensar na primeira arma que utilizarei para destruir Framon e todos que nele vivem!!!
Enquanto Cen idealizava um plano diabólico, Julius executava o seu, para o desespero de Bartolomeu e Romeu, que conseguiram colocar o jovem dentro do Centro de Batalha. O local lembrava uma arena usada pelos gladiadores, mas a ideia era formar guerreiros e não mata-los. Os bastidores eram agitados, uma vez que muitos homens queriam participar e integrar a artilharia real.
Diferente do irmão, Bartolomeu era um rapaz alto e moreno. Seus olhos castanhos ganhavam destaque na pele morena conquistada com muito treinamento e horas debaixo do sol. Os trajes dele ficaram grandes em Julius, então, eles precisaram adaptar algumas peças, como o colete amarrado com uma corda de lã e o elmo sem a parte da viseira.
— Eu preciso aquecer antes. — garantiu Julius, dando pequenos socos no ar e derrubando um dos competidores. — Desculpe. É a minha primeira vez aqui. — ajudando o homem a levantar.
— Pelo jeito que você derrubou o homem está preparado. — disse Romeu, procurando uma forma de tirar a ansiedade de Julius.
— Preparado ou não, meu caro amigo, ele já estamos aqui. — dando uma última conferida no traje de Julius, que era, basicamente, um colete de couro, um capacete velho e uma bainha com a espada de Bartolomeu.
— Os próximos concorrentes podem entrar. — anunciou um dos guardas do Centro de Batalha.
— É agora. — soltou Romeu, pegando no ombro de Julius e percebendo a tensão do amigo. — Ei, você consegue.
— O que eu faço?
— Aquilo que você faz de melhor, Julius. — aconselhou Romeu, olhando para o amigo de uma forma carinhosa.
— Improvisar. — falam Romeu e Julius.
Do lado de fora, uma pequena plateia acompanhava os testes dos novos recrutas, incluindo, Celdo que gostava de saber quem eram as novas promessas. Agoniado por causa da roupa, Julius tropeçou, mas manteve a pose de guerreiro. O sol forte atrapalhou a visão do jovem, uma vez que Bartolomeu retirou a viseira do Elmo.
— Quem são os desafiantes? — perguntou Celdo para o comandante Ferbus, que segurava um papel com o nome de todos os recrutas.
— Teremos agora, o embate entre Pum Aghora, como é? — questionou Ferbus fazendo uma careta engraçada, porém, continuando com a apresentação. — Pum Aghora contra Marco Angelos. Que comece a batalha!
— Pum? — Romeu tentou segurar o riso, sem sucesso.
— Eu sou péssimo nessas coisas. O importante é que ele vai mostrar suas habilidades. — desconversou Bartolomeu, que foi o responsável por inscrever Julius na disputa.
O adversário de Julius tinha 100 quilos de puro musculo, além de uma voz grave e ameaçadora. O rapaz segurava em sua mão esquerda a estrela do amanhã, uma esfera de metal com espinhos, presa diretamente a uma corrente, e na mão direita o escudo padrão do Centro de Batalha.
Os rivais ficaram se olhando por alguns segundos, quando Marco tentou o primeiro golpe contra Julius. De forma habilidosa, o filho de Celdo conseguiu desviar dos ataques e chutou o concorrente.
Em seguida, Julius desferiu vários golpes em Marco que recuou e ficou de joelhos no chão. O jovem pulou por cima do brutamontes e conseguiu tirar seu escudo. Irado e fora de controle, Marco girou a estrela do amanhã e focou nas pernas de Julius.
— Você é um homem morto!!! — esbravejou Marco, correndo em direção a Julius, que aguardava com uma oportunidade de contra atacar.
— Você sabia que a raiva é determinante para quem perde ou ganha. — comentou Julius, desviando de um novo ataque.
— Cale-se e lute. — gritou Marco, dessa vez, sendo mais rápido e atingindo Julius no rosto.
— Julius!!! — gritaram Bartolomeu e Romeu, preocupados com a direção da batalha.
— Marco, para quê tanta violência? Segundo os estudiosos, a agressividade é causada por um trauma que passamos na infância. Sabe, se você controlasse isso, talvez, eu disse, talvez pudesse ganhar a batalha. — Julius falou de uma forma rápida, o que confundiu Marco.
A luta chamou a atenção de outros funcionários do Centro de Batalha. No primeiro momento, Celdo aprovou a técnica de Pum Aghora, apesar do nome estranho, mas percebeu uma agitação fora do normal da parte de Bartolomeu e Romeu, que acompanhavam a luta com muita preocupação.
— Eu conheço esse rapaz. — pensou Celdo, cerrando as mãos e controlando-se para não fazer uma confusão.
— Tá ardendo. — disse Julius, passando a mão no rosto e olhando atentamente para Marco. — Passou o que na tua espada, pimenta?
— Neném fez dodói? — Marco perguntou aproximando-se de Julius com velocidade.
— Ah! — gritou Julius preparando um contra-ataque. — Isso vai deixar marca, seu bobalhão! — golpeando Marco com o escudo e batendo com a espada em seu capacete. — Vai demorar para sair!!! — aplicando um golpe corporal no adversário que caiu no chão como um saco de batatas.
— E o que você falou sobre raiva? — questionou Marco, finalmente, abraçando sua derrota.
— Faça o que eu digo, mas por favor, não faça o que eu faço. — batendo com violência em Marco, que desmaia e precisa ser socorrido pela equipe médica.
A plateia aplaudiu a luta, afinal, não havia um espetáculo desses no Centro de Batalha desde o empate entre Bartolomeu e Romeu. Animado com a vitória, Julius correu na direção de seu irmão e lhe deu um forte abraço. Em seguida, abraçou Romeu que precisou segurar o lado protetor ao ver o corte no rosto do amigo.
— Senhor, o seu está chamando. — um dos funcionários chamou Bartolomeu.
— Com licença. — pediu Bartolomeu saindo com o homem.
— Romeu, eu ganhei! — gritou Julius levantando os braços. — Eu ganhei. Eu ganhei. Eu ganhei. Ele veio todo cheio de valentia e eu derrubei ele. Oh, meu Deus. Eu derrubei um homem de 100 quilos. Eu sou tipo, um herói. Você viu como ele voou e caiu no chão como se fosse uma pedra!!
— Seu moleque teimoso. — tirando o Elmo de Julius.
A euforia nos desarma. Ela nos faz esquecer as principais regras da sociedade. Ao ver a alegria de Julius, Romeu tocou em seu rosto e foi aproximando-se aos poucos. Sem reação, e percebendo o que estava prestes a acontecer, o filho de Celdo não negou e entregou-se.
Um beijo. Um beijo calmo e carinhoso. O tempo parou para os dois. A linha foi cruzada. O coração de Julius batia forte e seu cérebro tentava acompanhar (sem sucesso) os mistos de sentimentos que lhe atingiu como um raio. Já Romeu, não conseguiu evitar, no final, a euforia o traiu.
No corredor, Celdo carrega Bartolomeu pela orelha e corta o clima entre os pombinhos. Eles pegam distância, um do outro, porém, Julius não consegue esconder o choque e Romeu procurou um buraco para esconder o rosto.
— Vocês querem me matar do coração? — perguntou Celdo, largando a orelha de Bartolomeu e agarrando a de Julius.
— Desculpa, pai. Desculpa. — pediu Julius, gemendo de dor, esquecendo completamente do beijo com Romeu.
— Você também tem parte nisso, Romeu? — quis saber Celdo, enquanto apertava a orelha direita de Julius.
— Eu ajudei, senhor. Lamento. — afirmou Romeu, que estava com as mãos tremulas e geladas.
— Que vergonha. Saia daqui. Deixe-me a sós com os meus filhos. — ordenou Celdo, finalmente, largando a orelha de Julius.
— Com licença. — Romeu saiu e não teve coragem de olhar para Julius. — Eu não fiz aquilo. Eu não fiz aquilo. — pensou o jovem descontando a raiva em um balde de água. — Maldição!
Duas horas de sermão. Celdo não conseguia entender a paixão de Julius por batalhas, mas o caçula da família Mazzaro continuava com a mesma opinião. Eles discutiram durante todo o trajeto para casa e a teimosia de Julius rendeu um bom castigo.
— Vá para o seu quarto e pense na bobagem que você fez. — Celdo estava preocupado com a possibilidade de Julius se ferir que seguia inflexível.
— Pai, eu não sou um garoto inútil. Eu quero pertencer a algo maior. Quero ser igual a você.
— Julius, eu não quero esse fardo para você. Vá para o seu quarto, por favor. Vou pedir para levarem o seu jantar. — pediu Celdo com um semblante cansado.
A fome não veio. O sono não apareceu. Julius não conseguia pensar em nada, apenas no beijo que deu em Romeu. A cena ficava passando em sua cabeça e seu coração acelerava do nada.
Perdidos em seus pensamentos, Julius nem reparou que Romeu batia em sua janela. Ao perceber a presença do amigo, ele se desequilibrou e caiu da cama. Sem jeito, Julius rastejou até a janela, levantou e deixou Romeu entrar.
Um de frente para o outro. As palavras não saiam por nada. Então, Romeu decidiu tomar a dianteira e tocou no rosto de Julius, que imediatamente fechou os olhos. Carinhoso, Romeu passou o dedão no machucado do amigo.
Naquela noite, Julius não conseguiu comer, dormir e nem conversou direito com a mãe. Ficou pensando no beijo que recebeu de Romeu. Para sua surpresa o amigo decidiu visitá-lo.
— O seu rosto está melhor. Fico feliz. — comentou Romeu, ainda tocando no rosto de Julius.
— Olha, eu preciso dormir e...
— Desculpe. — pediu Romeu, cortando a linha de raciocínio de Julius. — Quero me desculpar pelo beijo. Eu estava feliz por você. Eu não me segurei.
— Estou confuso com essa atitude... eu... — Julius sentiu o toque de Romeu, que continuava acariciando o seu rosto e fechou os olhos.
— Fui um tolo. Não deveria.
— Eu...
— Você gostou?
— Eu não sei... você gosta de meninos? — perguntou Julius, assustando Romeu que se afastou do amigo.
— Julius, não conte a ninguém, por favor. Eu preciso desse trabalho.
— Tudo bem. Por favor, saia daqui.
— Tudo bem. — concordou Romeu, que saiu da casa de Julius com o coração em pedaços.
O beijo apareceu até no sonho de Julius que acordou assustado com a possibilidade de estar apaixonado pelo melhor amigo. Na cabeça dele, aquele seria o fim da linha. Porém, como muitos sabem, infelizmente, não mandamos nos nossos sentimentos.
— Essa não. — Julius levantou da cama e foi em direção a janela. — Romeu, o que você fez?