Acho que aquela foi a primeira vez que eu fiquei com ciúmes do Thithi. Ele chegou com um sorriso imenso, mas eu não retribuí o sorriso. Ele desceu do carro e veio falar comigo. A cruz credo ficou dentro do carro, no banco do carona. Quando ele veio me abraçar eu falei no ouvido dele:
- O que a cruz credo faz contigo logo cedo?
- Ah, é que eu fiquei de mostrar a cidade para ela.
- O QUÊ? – Minha voz saiu mais alta do que eu desejava.
- Calma, como a mamãe quer um tempo para conversar com a amiga dela, ela pediu para eu passar o dia com a Lohana.
- O dia? E a universidade?
- Eu não vou hoje, tenho que fazer esse favor para minha mãe, amor.
- E o que é que tu vieste fazer aqui então? - Falei com a voz carregada de raiva.
Eu não estava me reconhecendo, eu nunca dei uma de “a bicha louca”, mas quando eu os vi, me subiu uma raiva que não sei nem explicar. Odeio ser possessivo! Eu gosto da minha liberdade, então é claro que eu preciso dar liberdade para a pessoa que eu amo. Mas naquele momento a última coisa que vinha na minha cabeça era a liberdade.
- Credo, amor! Eu só vim aqui te buscar. Não precisa ser tão grosso comigo.
- Ai, desculpa! Eu não sou assim. Mas é que é no mínimo estranho tu chegares tão cedo aqui com essa coisa.
- Não fala assim dela, ela é muito gente boa.
- Ah, agora tu a defendes? Ontem estavas falando que ela era muito feia.
- Eu sei! Mas depois que eu a conheci, o que ela tem de feiura por fora, ela tem de beleza por dentro. E eu só a trouxe aqui por que eu queria que ela te conhecesse.
- Hum...
- Tu estas com raiva?
- Não, raiva, não! Eu... eu... ah, eu nem sei o que eu tô sentindo.
- Bobo, isso é só ciúme. – Falou ele com uma carinha toda alegre.
- Ciúme? Claro que não, Thi!
Claro que era isso, mas eu não queria que ele soubesse que eu estava sentindo ciúmes dele. Por que? Não faço a mínima ideia!
- É ciúme sim, senhor! – Ele estava rindo de mim – Vem, deixa eu te apresentar para ela.
Ele fez um sinal para ela, e ela desceu do carro e veio até nós dois.
- Lohana, deixa eu te apresentar. Esse aqui é o Antoine.
Gente, a menina era magrela, sabe aquelas pessoas que não possuem carne no corpo, é só a pele e o osso? Para transar com essa menina deve ser a maior dificuldade, nada salva na criatura. O cabelo parecia palha de aço, os dentes eram tortos, era o cão em pessoa. Um horror de se ver.
- Bom dia! É um prazer te conhecer, Antoine. – Ela falou me dando dois beijinhos nas bochechas.
- Bom dia! O prazer é todo meu, Lohana, né? – Falei dando um sorriso falso.
- Isso mesmo! Nossa, ontem à noite o Thiago falou muito de você.
- Falou? – Ó minha cara de surpresa nessa hora.
- Falou sim, para falar a verdade ele passou a noite toda falando da amizade de vocês. Eu que pedi para conhecer você, afinal, eu precisa te conhecer depois de tudo o que ele me falou. Desculpe-me ter vindo tão cedo aqui, espero que não tenha problema.
- Imagina, Lohana. Não tem problema, não.
Eu já estava todo derretido em saber que eu fui o assunto da noite. Fiquei feliz em saber que o Thi passou a noite toda falando de mim. O que será que ele falou para ela?
- Então, vamos? – Falou o Thi – Eu te deixo na universidade e depois eu levo a Lohana para conhecer a cidade.
- Não, espera aí, eu vou lá dentro deixar minha mochila e já volto. Eu vou com vocês nesse passeio. Posso ir, né?
Ai dele que falasse que não. Quando eu digo que sou abusado, é por que eu sou mesmo! Jura que eu ia deixar ele assim dando bobeira? Claro que não, né! (bancando a possessiva nesse momento! Kkkkkkk)
- Claro que sim, Am... Antoine! Mas espera, tu vais perder aula mesmo?
Ele quase fala amor, acho que eu perdi toda a cor do meu rosto nesse momento. Por mim eu queria mais era que a Lohana soubesse que nós estávamos juntos, mas se ela abrisse o bico para a mãe dela? E se a mãe dela depois abrisse o bico para a mãe do Thi? E depois a mãe do Thi abrisse o bico para a minha mãe? Nãooooo, não ia dar certo. (Acho que eu ainda não falei, mas minha família mora aqui em Macapá mesmo, é que como meus pais possuem diversos imóveis alugados, incluindo a vila que e moro, eu resolvi sair muito cedo de casa. Eu moro sozinho desde os meus 18 anos. Nunca me arrependi de ter saído de casa. Como eu já disse aqui, eu prezo muito pela minha liberdade. Eu sempre vou visitá-los, como eu tenho mais dois irmãos, acho que eles nem sentiram muita minha ausência)
- Vou!
- Nossa Lohana só tu pra fazer esse menino faltar aula.
Como se o motivo de eu faltar aula fosse a Lohana. Quer dizer era ela, mas eu não ia faltar aula para apresentar a cidade a ela. Eu faltaria para cuidar do que é meu, isso sim!
- Liga pra ele não, Lohana! Mas vamos entrar? Já que eu não vou pra faculdade não tem por que nós sairmos tão cedo.
Nós entramos e começamos a conversar. E realmente a Lohana era uma menina muito gente boa. Ela morava em Natal só veio passar uma semana aqui em Macapá. Ela veio com a mãe dela arrumar uma casa para morar, já que o pai dela é do exército e foi transferido para cá, por isso a mãe dela está com a tia Joana, minha tia estava lhe ajudando a encontrar uma casa. Nós conversamos por um bom tempo e depois partimos para apresentar Macapá city para ela.
- Lohana esse aqui é o monumento Marco Zero, é aqui que ocorre o equinócio. – Eu falei dando uma de guia turístico.
- Nossa é muito lindo!
- Faz assim, coloca um pé de cada lado dessa linha.
Quem vem em Macapá sempre faz isso, no monumento Marco Zero nós podemos pisar no hemisfério norte e no hemisfério sul ao mesmo tempo.
- Pronto, agora tu estás pisando nos hemisférios norte e sul ao mesmo tempo.
- Gente, isso é muito lindo. E eu que não estava querendo vir pra cá de jeito nenhum. Eu pensava que só morava índio aqui.
Nossa eu odeio quando falam isso da minha cidade. As pessoas pensam que só por que estamos no estremo norte e também por sermos um dos estados que tem a fauna e a flora mais bem preservadas que só mora índio aqui. O que? As pessoas pensam que a gente passa o dia pelado pegando vento no fiofó? Que não temos energia? Vocês não sabem como eu fico com raiva disso, mas infelizmente é essa a ideia que as pessoas têm do meu estado.
Nosso passeio foi muito bom (eu não vou contar em detalhes se não vocês vão dormir lendo. Kkkk), no final do dia nós a levamos para comer um camarão no bafo na “praia” da Fazendinha (de praia não tem nada, nada). Gente, vocês não têm noção de como é bom camarão no bafo. Ela queria por que queria tomar açaí, eu não gosto muito de tomar a noite, mas ela insistiu tanto que Thithi e eu a acompanhamos. De início ela não gostou muito não, (ela pensava que o açaí daqui era que nem o açaí da cidade dela, o açaí de lá, e do Rio de Janeiro também por que eu já experimentei, é como se fosse um soverte com muitas guloseimas em cima) o açaí daqui é o suco puro da fruta, não tem nenhum atrativo (nenhuma gordice!) dentro. Aqui a gente toma açaí com camarão, melhor coisa não há!
Depois de jantarmos Thithi me levou em casa e logo em seguida foi pra casa, como a Lohana e a mãe dela estavam hospedadas na casa dele, não teria sentido em primeiro deixá-la e depois vir me deixar, acabou que eu passei o dia inteiro sem dar nenhum beijinho neleNos outros dias nós sempre passeamos com a Lohana. Como ela ia embora só na outra semana, combinamos de mostrar para ela o barzinho que a gente sempre ia. Nós íamos levá-la no domingo lá. Ela ficou toda feliz, ela chegou a dizer que já estava até feliz em vir morar em Macapá, por que ela já tinha ganhado dois amigos. Achei bonitinho da parte dela falar isso, mas realmente era isso que nós estávamos nos tornando, amigos. Eu fiquei até com vergonha de ter sentido ciúmes dela com o Thi, tadinha, ela é muito gente fina mesmo.
Nós passamos o resto da semana ocupados com a Lohana e com alguns trabalhos da universidade, então, nós quase não ficamos juntos. A única exceção foi quando ele tentou me agarrar no banheiro da universidade, mas fora isso não rolou nada. Enfim, a sexta chegou. Eu estava contando os segundos para que ela chegasse logo. Essa sexta prometia muita coisa.
Eu estava muito ansioso para que a noite chegasse logo, não consegui me concentrar em nada, nem nas aulas pela manhã muito menos no trabalho a tarde. Quando eu olhei no relógio e vi que eram 18h eu dei um pulo de alegria. Sai correndo da sala e fui pra casa. Como o Thi estava cuidando da Lohana, ele não veio trabalhar a semana toda, então eu fui de busão pra casa. Assim que botei os pés em casa ele me liga.
- Amor, tu já estás pronto?
- Ainda não, acabei de entrar em casa, mas me dá só uns 20min e me arrumo rapidinho.
- Ok, é o tempo que eu chego aí. Tô muito, muito ansioso pela noite de hoje, viu mocinho?
- Tu não imaginas o quanto eu estou também.
- Tô saindo de casa, agiliza as coisas ai.
- Tá bem, beijo!
Eu estava tão ansioso, tão nervoso que parecia que seria minha primeira vez, eu estava me sentido como se nunca tivesse transado com ninguém. A barriga tinha virado morada de borboletas durante o dia inteiro. Já não estava mais aguentando.
Depois de uns 30min que eu tinha falado com o Thi ele chega em casa. Ele estava lindo e muito cheiroso, como sempre. Ele estava vestindo uma bermuda preta bem colada ao corpo, e uma camiseta regata branca. Quando eu o vi na frente de casa, meu coração acelerou, minhas pernas tremeram e minha voz falhou.
- Tu-tu-tu estás lin-lindo, amor! – Fale gaguejando.
- Tu estás mais ainda! Vamos?
- Vamos! – Falei sorrindo.
Nós partimos rumo à chácara. Foi mais ou menos 1h30min de viagem, nesse tempo nós íamos ouvindo música no carro. Tocou uma música que ele pediu para que eu escutasse.
- Amor escuta essa música. – Ele falou aumentando o volume do som.
(Gente, eu peguei a tradução da música na internet, então se estiver algo coisa errada “desculpem eu”, tá bem? É claro que vão ter muiiiiitas coisas erradas! Eu pedi para a Jujuba traduzir para mim, mas ela está super atarefada e não pode, entãooooo eu corri para àquele que sempre nos socorre: o Google)
Isso me tocou fundo
E não sei como sair deste abismo
Tenho uma alma destroçada
Sinto que não posso seguir
Estou perdido
Você me salvou do inferno
Voltei a nascer
Quando não acreditava em nada
Voltei a acreditar
Curara minha aflição
Teu amor o vai vencer
Me salvou do inferno
Meus sentimentos alterados
Não recordo o que é se divertir
Não sou o mesmo
Abatido
Confundido
Não havia vontade de viver
Porquê meu Deus?
Você me salvou do inferno
(...)
Obrigado por chegar até mim
Obrigado por estar aqui
Obrigado por me amar assim
Obrigado por estar aqui
Não sei o que faria sem ti
Música: Tú me salvaste
Interpretada por: Maná
(Essa banda é a favorita do Thi, acho que ele sabe todas as músicas, mas o espanhol dele é uma catástrofe. Kkkkk)
Eu ia ouvindo e ele ia traduzindo (Bom, ele traduziu algumas coisinhas erradas, vim descobrir isso depois kkkk), quando a música terminou ele pegou minha mão e falou:
- Muito obrigado por ter me salvado, eu já não sabia mais o que fazer com esse sentimento. Eu tentei sufocá-lo por muito tempo. Eu sempre te amei, Antoine! Sempre! Quando a gente tinha 15 anos e tu me falaste que estavas se apaixonando por mim, eu não soube o que fazer por que até então eu não fazia a mínima ideia de que tu gostavas de ficar com meninos, eu fui um idiota, deixei o medo tomar conta de mim. Eu não queria assumir pra mim mesmo que eu gostava de ti, que eu amava um homem. Eu fiquei nessa mentira por muito tempo, foi só quando eu te vi com aquele cara que eu percebi que logo eu te perderia. – Ele respirou fundo e continuou a falar - Eu comecei a me sentir tão mal, eu não me perdoava por ter te perdido, por ter feito tu sofrer quando eu disse que nossa relação seria somente uma bela amizade. Mas quando eu estava quase enlouquecendo tu me salvaste, se tu tivesses me dito não quando eu me declarei pra ti eu não saberia o que eu teria feito. Eu te amo! Eu sempre vou te amar! Não importa o que aconteça, não importa o quanto tentem nos separar eu só quero que tu saibas que eu sempre vou te amar.
Eu fiquei paralisado, eu não esperava ele fazer uma declaração dessas. Eu não estava acreditando que ele me amava desde quando a gente era moleque, assim como eu o amava. Ele ainda estava segurando minha mão, quando eu olhei pra ele eu percebi que ele estava chorando.
- Amor, tu estás chorando?
- Sou muito idiota mesmo, não é? Nem sei se tu sentes a mesma coisa por mim, mas isso também não me importa. Eu precisava te falar isso.
- Bobo, eu te amo, sempre te amei! Tu sabes disso, confesso que eu tentei reprimir esse sentimento, lutei muito contra meu próprio coração. Mas no fim meu coração falou mais alto. Eu sofri muito quando tu me falaste que queria ser só meu amigo, mas no fundo do meu coração eu carreguei durante todos esses anos a esperança de um dia poder te amar. Era por isso que nenhum dos meus namoros durava mais de três meses. Eu sempre te amei.
- O nosso vai durar, vai durar muito, muito mais de três meses, pode ter certeza.
- Eu tenho certeza disso.
Depois de ouvir tudo aquilo, nós seguimos viagem em silêncio. Ele soltou minha mão e colocou na sua perna. Enquanto ele dirigia eu ficava acariciando a perna dele, mas logo chegamos na chácara.
Eu desci do carro para abrir o portão, por que o Thi me disse que o caseiro tinha ido para a capital, então não tinha ninguém para abrir o portão para que nós pudéssemos entrar.
Assim que o Thithi estacionou o carro na frente da casa principal, nós descemos e fomos em direção a entrada da casa. Ele pediu para eu esperar um pouco que ele ia acender as luzes da casa. Eu fiquei na frente da porta esperando, não tinha entendi o motivo dele pedir para eu esperar, mas eu fiquei lá feito um pateta. Depois de muito tempo, eu já estava irritado, quando o Thi abriu a porta. Quando eu olhei para dentro da casa eu fiquei tão surpreso que eu não consegui sair do lugar, meu coração acelerou de tal forma que eu sentia ele pulsar na garganta.
Continua...