Eu não sou louco, eu esperava ver o Fábio (quer dizer, não tão cedo), mas ver Augusto Neves na m-i-n-h-a casa era uma coisa inimaginável. Eu com certeza estou vermelho, também não consigo respirar. Ah que droga, eu não posso morrer agora!
_ Dany, você está bem? _ Pergunta minha mãe.
Eu não consigo respirar mulher, dá pra me ajudar...
_ Es-estou bem.
Calma Daniel, calma. Passa por cima disso.
“Você é forte, bonito e poderoso.”
A coisa tava preta, nem meu mantra estava funcionando.
Eles parecem estar tão surpresos quanto eu. Só que essa casa é minha, não deles. Essa história é minha, não deles. Então definitivamente eles não deveriam estar aqui neste momento.
Eu quero meu quarto, eu quero minha cama, eu quero uma faca de corta pão... Respira... Não é uma boa hora para pensar em suicídio. Eles estão vindo em sua direção. Haja normalmente.
_ E ae? Como cê tá, Dany? _ Augusto fala com um sorriso sem graça naquela cara de jumento que ele tem, mas que eu sei que é um sorriso de escória.
Cadê a Cici? Pera ae, cadê minha mãe? Mas que diabos, onde ela se enfiou? O que é que Fábio tá fazendo?! Me solta, me solta imediatamente.
_ Eu senti sua falta. _ Ele sussurra em meu ouvido.
A voz dele estava mudada, mas o cheiro dele não mudou. Continua cheirando Humor e eu adoro hu... Não é hora de pensar nisso. Ele me solta e eu percebo que não retribui o abraço, eles me olham como se esperassem que eu dissesse alguma coisa. Mas o que eu iria dizer?
Nada, eu não era forte o bastante para isso. Se eu ficasse mais um secundo naquela sala eu iria chorar e eu definitivamente não queria aquilo. Então simplesmente me virei e subi para o meu quarto. Quando eu entro, eu vejo que nada foi mudado. Minha cama estava no mesmo lugar, assim como meus livros, tv e Play 2.
Enquanto eu nostalgeio (não, não existe essa palavra) minha porta se abre e minha mãe entra carregando um copo de agua e uma bombinha pra asma.
_ Eu vi que você não conseguia respirar e fiquei preocupada.
_ Tá tudo bem mãe! Já passou.
Ela suspira aliviada. Eu sei que sempre vou poder contar com ela. Sempre. Ela foi a única que me escutou quando eu contei o que realmente aconteceu naquele galpão. Lógico que eu não falei o nome das pessoas envolvidas. Ela quis ir a polícia, mas eu optei por não fazer isso. Ia ser pior pra mim, e acho que ela entendeu. Mas ela disse que quem fez aquilo iriam sofrer muito. Se iam ou não eu não sei, tudo o que eu queria era paz e a maior distância possível deles.
2011
Minha amizade com Binho tinha evoluído muito nas últimas três semanas. Na escola eu não ficava mais sozinho, ele sempre me chamava para sentar com os amigos dele. Eram o Charles e o Gus. É, eu até o chamava pelo seu apelido. E maneiravam o lado valentões deles, pelo menos quando eu estava por perto.
O Charles ainda me olhava estranho, acho que foi por um incidente que tinha acontecido uma semana antes do Binho falar comigo. Ele roubou um dos bolsistas e o coitado não ia ter o que comer, então eu dei o meu lanche para ele. Os outros garotos, principalmente o Charles, levaram isso como um desafio. Só que eu, tonto como sou, nem percebi e paguei muito caro por isso.
Numa quinta-feira eles me chamaram para sair e fiquei super animado, mas quando eu perguntei para onde iriamos eles não quiseram responder.
_ É uma surpresa Dany, mas você vai adorar.
Charles disse isso bagunçando meu cabelo. Eu sorri, com certeza ia ser muito legal.
Ficou combinado de eu e o Binho irmos nos encontrar com Charles e Gus em um parque e de lá ir pro tal lugar. Quando começamos nos aproximar, eu comecei a me sentir um pouco mal, eu sei lá meu estomago tava meio embrulhado. Mas eu tratei de esquecer isso quando nos aproximamos deles, que pareciam estar discutindo.
_ Eu não sei cara, ele não é um mal garoto... _ O Gus estava meio afobado e parou de falar quando nos viu.
Eu achei meio estranho, mas achei melhor não perguntar porque não era da minha conta.
Nos pusemos no caminho e eles me disseram que íamos na cachoeira, eu adorei a ideia, mas aí lembrei que não tinha trazido uma roupa de banho.
_ Não se preocupa, Dany, o Gus tem tudo que a gente precisa. _ Disse o Charles bagunçando meu cabelo novamente. Não sei por que, mas eu gostava quando ele fazia isso.
Depois disso o resto do caminho nós passamos calados, o Gus e o Binho pareciam tensos com alguma coisa, já o Charles parecia que tinha ganhado na Mega Sena. Entramos no meio do mato que tem aqui perto e estranhei um pouco, pela razão de que esse não era o caminho da cachoeira. Mas eu fiquei na minha, não queria parecer uma criança assustada.
Até que chegamos no que parecia ser um galpão abandonado.
_ Vamos entrar Dany?
Charles disse isso, me abraçando de lado e me empurrando para dentro. Nós dois entramos pelo fundo, os outros dois estavam arredios e ficaram para trás. Eu comecei a ficar com medo pois pensei que eles estavam brincando comigo.
_ Olha, Charles, ainda dá tempo dá tempo desistir disso mano. _ Disse Gus quando entrou lá.
_ Vamos desistir porra nenhuma. _ Disse Charles me jogando no chão.
_ Aí, _ eu gritei quando atingi o solo _ isso doeu.
Charles começou a rir e disse:
_ A gente nem começou seu merda. Pega as coisas aí Gus.
Então ele começou a tirar coisas da mochila: uma câmera de vídeo, cordas e preservativos. Se lembram que eu disse que não pensava em sexo, era verdade. Mas eu já tinha tido aula de Educação Sexual e sabia bem pro que aquilo servia.
_ Pra que esses preservativos Charles? _ Binho pergunta com eles na mão. _ A gente não tinha combinado isso.
_ Essa brincadeira tá ficando pesada demais. Véi, vamo embora a gente já assustou o moleque. _ Seja lá o que eles estavam planejando, o Gus não queria fazer.
Eu me levantei pra começar a correr, mas o Charlie me puxou pelos braços e me jogou no chão outra vez. Outro grito de dor.
_ Por favor, me deixem ir embora. Por fa... _ Minha suplica é calada com um ponta pé na boca do estomago.
_ Olha aqui, seus merdas. A gente vai nisso até o final agora. _ Ele vai pra perto do Binho e começa a falar: _ Ei, foi você mesmo que contou pra gente como ele te olhava, não foi? Pensando bem, não vai ser nada demais. Ele quer isso!
_ Por favor Binho, me leva embora. _ Minha voz saiu num fiapo.
Charles se virou e meteu outro chute.
_ Na próxima é na boca. Ô Gus, meu chegado, você nunca foi covarde. Vai mesmo ter pena desse viado, tu não se lembra que foi por causa dessa raça maldita que sua mãe saiu de casa.
Gus pareceu ficar com raiva por causa disso.
_ Olhem só, eu vou começar. Que é pra vocês começarem a criar coragem. _ Charles liga a câmera e aponta ela pro meu rosto. _ É pra dizer tudo o que eu mandar.
_ Não. _ Eu digo.
Ele dá a câmera para o Augusto e saca um canivete suíço do bolso.
_ Olha bem o que eu digo seu viado, _ ele diz isso puxando meu cabelo _ eu faço picadinho de você, então é melhor você fazer tudo o que eu mandar e ser bom garoto.
Ele começa a alisar o meu rosto com a lamina fria do seu canivete.
_ Diga: eu sou Daniel Viadinho.
Já sem forças para resistir e temendo morrer naquele galpão escuro eu digo:
_ Eu sou Daniel Viadinho.
Charles começa a rir e manda eu dançar tirando a roupa.
Já não era eu em meu corpo, eu estava sentindo uma dor tão grande que eu não poderia descrever aqui. Eu comecei a dançar como ele mandava, mas enquanto eu fazia isso eu não conseguia controlar as lágrimas. Eu nunca ia saber como alguém de 15 anos poderia ser tão mal.
Quanto eu já á estava pelado, Charles começou a me beliscar a me dizer como eu era lisinho e que parecia uma garotinha. Ele dá a câmera pro Gus se ajoelha atrás de mim e puxa minhas pernas e eu caio de cara naquele chão imundo. Escuto ele pedindo uma camisinha pro Fábio, escuto ele abaixando a calça, abrindo o pacote. Mas estava tudo tão distante. Então ele sussurra no meu ouvido:
_ Você é virgem?
Eu não respondi nada, então ele morde meu pescoço pra valer e pergunta de novo:
_ Você é virgem? Se você me responder, talvez eu reconsidere isso tudo.
Então eu busco forças não sei de onde, na esperança de parar aquilo e respondo:
_ Sou.
Então eu me sinto rasgado ao meio, senti uma dor enorme. Nunca poderei descreve-la.
_ Não é mais!
Então ele começa o vai-e-vem e a única coisa que eu posso fazer é olhar para a janela, que emanava uma luz laranja de fim de tarde, e torcer para que aquela humilhação demorasse o menos possível.
Mas logo depois que o Charles sai de cima de mim, alguém torna a entrar. Augusto, parece estar com muita raiva porque ele faz com muita força. Ouço Charles gritar alguma coisa com ele, mas não consigo entender nada, a não ser partes como: ‘pai’, ‘mãe’, ‘viado’ e coisas do tipo.
E depois de meia hora os três já estavam vestidos. Eu não sabia mais de nada, eu não estava mais em mim. Mas me lembro bem de ouvir o Fábio dizer:
_ Isso foi tudo culpa sua!Pessoal, vocês que estão acompanhando o começo do meu conto, eu peço para que visitem o blog: http://danieltorintho.blogspot.com.br/ eu vou postar várias informações do conto lá!
Respondendo a pergunta do Lukinhas: é baseado em fatos reais.