Corpo e Alma II

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 1190 palavras
Data: 29/01/2015 16:48:58

Voltei chispando de raiva para dentro de casa, pisando duro e refugiando-me no quarto. Quanto atrevimento do Mauricio! Vir esfregar o namorado na minha cara como se fosse algo maravilhoso, como se fosse um direito! Se ao menos ele tivesse vindo sozinho, talvez...

- O que foi aquela cena là fora? _ disse Quin entrando irritado em meu quarto.

- Ele tinha que trazer aquele desgraçado? Tinha? _ repliquei, furioso, andando de là para cà no quarto _ Fez isso para me provocar!

- Deixe de ser paranoico! Acha que se importam com voce? Acha mesmo? _ ele me fitou, severo _ Devem ter vindo convidados pelo Luan. E voce nao vai me fazer escandalos, ouviu? Se acalme e desça que logo chega o meu casal de amigos.

Por uns minutos ainda permaneci no quarto, me contendo. Nao achava, no fundo, que Mauricio trouxera William para me ofender e machucar, mas sim porque, sendo amigo do Quin, naturalmente que o visitaria junto do novo namorado. Era uma realidade, algo esperado e talvez justo. No entanto isso nao doia menos em mim, nao apagava aquele rancor profundo que se instalara havia dois meses, quando ele me trocou pelo mais novo colega de trabalho. Estavam, na verdade, tendo um caso pelas minhas costas hà semanas, pois os segui por alguns dias, muito desconfiado daquela amizade subita e deslumbrada. Saiam do expediente direto para um motelzinho desclassificado de beira de estrada; tive o sangue-frio de esperar durante duas horas na moto, ate que saissem. Foi uma baixaria ali em frente aquele pulgueiro, e apesar de ter dado um bom murro no William, apanhei bastante afinal ele era mais forte, precisando Mauricio segura-lo. No final os funcionarios do motel ameaçaram chamar a policia para nos, pois, segundo eles era "uma barbaridade aquela briga de veados ali em frente".

Eu era um otario. Amava com desespero aquele cara, mesmo depois de tudo. Planejavamos ate mesmo morar juntos. Onde foi que falhamos? Meu primeiro homem, namorado, um amor que começou explosivo, devorador como um incendio incontrolavel desde que nos conhecemos na Boate Mister & Mister hà quase dois anos. Nao conseguia esquece-lo, e me odiava horrivelmente por isso.

Ouvi uma certa movimentaçao de automovel là fora, e pela janela aberta vi entrando no terraço um Chevrolet branco, modelo da decada passada. Devia ser o tal casal amigo do Quin. Suspirei, vesti um calçao de praia amarelo e desci, escondendo meu olhar irritado atras dos oculos de sol com armaçao de tartaruga.

Todos cumprimentavam o jovem casal de rapazes, acomodando-se depois nas espreguiçadeiras estofadas. Observei William me lançando um certo tipo de olhar fixo e violento, tirando os oculos, e Mauricio fingindo que nao me via. Passei muito altivo por eles, pensando comigo o que Luan costumava dizer aos seus rivais: "Morram sufocadas na lama que eu piso, desgraçadas! ".

Quin me apresentou aquele simpatico casal que tinha chegado.

- Estes sao Marcos e Alex _ disse ele, sorridente _ Meninos, o meu amigo Nathan.

Cumprimentei-os com uma amistosidade fingida, ainda tenso com a presença de meu ex namorado e o outro. O casal era bastante bonito, em particular o rapaz de olhos claros, cor de nuvem de chuva. Tinha um rosto delicado, quase feminino, e olhava encantado em volta, para o terreno extenso, a mansao rosa-chà, a quadra de tenis ao lado, os fantasticos 3,3 mil metros quadrados da propriedade. O namorado dele era alourado, atento e quieto, um arzinho de intelectual. Mostrou o pavao branco ao companheiro.

- Olha que animal maravilhoso!

- Querem conhecer o viveiro? _ convidou Quin _ Imagino que vao gostar das araras.

- Quero, sim _ respondeu o Marcos _ Mas antes... se voce puder me ver um copo d' agua... Estou morrendo de sede!

- Claro! Mas se preferirem, tem os drinques... podem se servir.

- Ele nao pode ingerir nada de àlcool _ disse Alex _ Os remedios, voce sabe...

- Ah, tinha me esquecido! Desculpem, meninos _ Quin fez um sinal à Estela, a empregada, designando uma das varias garrafinhas de agua sobre a mesinha _ Ela jà vai trazer, ok?

Luan e Fabinho se divertiam na piscina, fazendo algazarra, porem minha atençao estava voltada para Mauricio e William. Encarava-os com raiva, cerrando os punhos, notando que tambem me olhavam, fazendo a tensao se avolumar entre nos.

- Nathan! _ Quin chamou minha atençao, inquieto e serio _ Venha conosco ver o viveiro.

Certamente ele percebeu a atmosfera pesada entre aqueles dois infelizes e eu, e fazia de tudo para evitar discordias. Sem alternativas os segui, calado, ouvindo a conversa animada dos tres. O casal se deslumbrou com o viveiro, admirando em exclamaçoes de encantamento os cardinais escarlatinos, as araras de azul chocante, barulhentas, os canarios-da-terra que se agarravam à tela de furos miudos, as maritacas estridentes, cujos gritos ardiam os ouvidos.

- Olha, meu anjo, que coisa mais linda! _ disse o Alex passando o braço ternamente pelos ombros do namorado _ Deviamos ter trazido a maquina fotografica... Quase um ornitologo voce, Quin!

Observei com uma inveja crua aquela profunda ternura deles, aquela ligaçao e cuidado que Mauricio tinha comigo, quase igual, antes de William. Um pouco atras do casal, Quin falou para mim em voz muito baixa.

- Quem olha nao diz, Nathan, mas voce acredita que esse rapaz, o Marcos, quase faleceu hà alguns anos? De AIDS, meu caro...

- Serio? _ fitei-o, surpreso, olhando em seguida para o Marcos _ Mas ele me parece... normal... Digo, nao aparenta estar doente...

- Segue um tratamento rigoroso, ajudado por essa especie de marido e enfermeiro que ele teve o privilegio de arranjar. Mas o negocio foi barra-pesada. Felizmente esta estavel desde entao. Conheci-o na editora: ele se formou em Letras e trabalha là, enquanto o namorado advoga num escritorio de Perdizes.

Claro que a questao da AIDS era ainda uma nuvem fuliginosa rondando a cabeça de nossa comunidade. O àpice da epidemia da ultima decada estava ainda fresco entre nos, como o fedor de algo podre cujos ventos do tempo foram incapazes de fazer circular. Do meu grupo de amigos da faculdade perdi cinco pessoas em dois anos, dois deles um lindo casal de rapazes, apaixonadissimos, que se foram com um intervalo de um mes entre um e outro. Quin perdera seu professor de artes plasticas, Javier, um argentino maravilhoso, pinta de modelo. Na semana passada Luan recebera a dura noticia de que dois de seus antigos colegas de faculdade estavam nas ultimas, mas um outro, doente desde o ano passado, reagia muito bem ao medicamento, acendendo grandes esperanças. Porem, o terror da calamidade ainda estava presente e eu admitia que o inicio de minha vida sexual foi muito adiado pelo medo daquela praga, e mesmo amando Mauricio loucamente, nunca abri mao da camisinha.

Retornamos para a beira da piscina, onde começavam a servir os lanches. Luan e os outros comiam, despreocupados, porem meu apetite era zero perto daqueles dois canalhas. Entrei outra vez na casa, irritado, buscando agua e gelo na cozinha. Desenformava os gelos na pia quando William surgiu, enrubescido de sol e raiva.

- Ainda nao esqueci aquele soco que me deu, sua bichinha vagabunda! _ exclamou, vindo para cima de mim com tudo.

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Valeu, gente :)

Ate a proxima!

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Comentários

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Line, de fato me emocionei quando vi o Alex e o Marquinhos, que saudades eu tava deles, ain 😍😍😍 e esse Willian ? Affs kkk beijos..

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Eu quase chorei quando li os nomes "Marcos e Alex". Saudades do Alex, um bom rapaz. *-* Irish, esse capitulo ficou ótimo! Nada do q vc escreve é ruim. Correndo pra ler o proximo. Beijos

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Aaaaahhh saudade do Marcos e do Alex!!!!! Eu sabia que éramos amigos!!!!! <3 Ta muito bom, eh tão bom ser rico. "Se afogar na lama q piso" - amei!

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Eu acabava com ele.muito bom seu conto.pena ter sangue de barata.

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Não sei não, mas acho que conheço o Marcos e o Alex! Isso tá me cheirando ao "o amor vai nos separar"! Não está sem graça mas se quiser postar outro hj eu não me oponho! Bjs linda

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Oi gente! Como achei esse cap. meio insosso, daqui a pouco posto outro, ok? Se a net ajudar. Entao respondo a todos. :)

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