Acabara de fugir de um salão de festas em Santo André, a recém-casada era minha amiga do colégio; a descuidada engravidou cedo demais e o seu pai e irmãos mais velhos “convenceram” o pai da criança a assumir a bronca.
Com a ajuda financeira dos familiares os noivos recepcionaram parentes e os amigos mais próximos. No adiantar das horas rolou um lance desagradável, meu ficante daquele dia pensou que já era meu namorado e dono. O sem noção começou um clima de terror, fui acusada de dar mole para um outro cara e o clima ficou pesadão. Saí fora antes que acabasse em uma treta feia, em vista do cara não ser do tipo cavalheiro. Apressei o passo quase correndo, não queria ele atrás de mim com mais recriminação, e nem mesmo com pedidos de desculpas. Porém, aquele vestido longo e o salto alto foram feitos para deslizar com graça e feminilidade e, não, para praticar atletismo. Segui em direção da avenida que ficava a duas quadras dali; lá conseguiria um táxi.
Ainda na primeira quadra avistei três carinhas que bebiam de uma garrafa passando de mão em mão. Também era visível uma fumaça no ar que poderia ser de cigarros, ou não. Ao aproximar-me do trio, senti o cheiro doce e percebi que era um cigarrinho do capeta, eles pareciam alterados pela mistura de álcool e erva. Deveria ter dado meia volta alguns passos antes, bobeei e ficou tarde demais para retroceder ou mudar de calçada, eles estavam a poucos metros e com a atenção toda voltada pra mim, poderiam ficar ofendidos e violentos se os evitasse. Passei por eles ouvindo suas gracinhas, rezei para poder seguir em frente sem ser molestada fisicamente, no entanto, os três idiotas vieram atrás de mim e continuaram o assédio de maneira ostensiva com um tom ameaçador. Pensei em tirar os sapatos e correr… não era mais possível, já que dois deles se colocaram ao meu lado e um, que parecia ser o líder dos imbecis, se pôs à minha frente andando de costas e falando barbaridades:
— E ai novinha, não curtiu a festa? — bora fazer uma festinha com a gente.
Ele segurava em seu membro e dizia:
— Você gosta de pau grande? — vai gozar gostoso aqui com meu meninão.
Impossível argumentar com aqueles babacas.
Fiquei tensa e morrendo de medo, a rua era uma área comercial e estava tudo fechado, posto que era mais de meia-noite, além de ser um sábado.
Porém nada está tão ruim que não possa piorar, alguns passos à frente nós chegamos a uma viela, eles pararam e me agarraram, mal tive tempo de gritar, um deles deu-me uma gravata e com a outra mão tapou a minha boca. Bateu o terror, pois estava só e indefesa, sabia que em segundos estaria sendo violentada pelos monstros.
Arrastaram-me beco adentro onde só havia caçambas de lixo. Os sádicos gargalhavam falando sobre o que fariam comigo. Ainda presa pela gravata, vi a cara maligna de um outro pegando nas alças do meu vestido e o descendo até meus pés. Fiquei apenas de calcinha, porém a mesma também não demorou a ser arrancada por ele que não se deu ao trabalho de tirá-la, ele a rasgou como se fosse uma folha de papel e a jogou longe, desceu suas calças e segurou seu membro com uma mão, a minha perna direita com a outra e mandou os outros dois me imobilizarem. Esperneei e tentei arranhar a cara de um deles, levei uma porrada no lado do rosto. O estupro era eminente, seu membro úmido de saliva tentava abrir caminho em minha vagina para penetrá-la e violar-me.
É uma porra esse vício por adrenalina, eu chorava por ser forçada e humilhada, todavia, inconscientemente, travava uma luta interior, um desejo doentio aceitava a consumação daquela violência em meu corpo, e barganhava com a razão para viver momentos de prazer mesmo através de força bruta.
Ainda indecisa lutei com todas as minhas forças, porém percebi que havia perdido ao sentir um desconforto quando fui penetrada brutalmente por um membro grosso que imediatamente tocou meu hímen complacente; o cara pirou grandão.
— CARALHO VÉI! A NOVINHA É CABAÇO!
Suas mãos seguravam minha bunda, um de seus dedos estava praticamente dentro do meu ânus. Ele olhou-me sadicamente e se posicionou para começar suas estocadas, eu senti um arrepio indescritível ao ser fulminada por aquele olhar mau, ele atravessaria meu hímen no primeiro golpe, contudo, um clarão iluminou a gente, eram os faróis de um carro que parou na entrada do beco. Ao mesmo tempo em que seu membro saia de dentro de mim e minhas pernas eram soltas, ouvi a voz de alguém que saiu do carro os ordenando a pararem com aquilo. Avistei um homem de terno, ele era bem alto. Ágil como um felino, ele pulou acertando o suposto líder com uma pesada na cara. Antes que o golpeado chegasse ao chão, o desconhecido deu um golpe com o pé, debaixo para cima, acertando o queixo de outro e o levando a nocaute. O terceiro que já havia me largado e parecia ser o mais covarde deles, falou que não fez nada e tentou sair fora, mas levou um soco na cara e desabou ficando inerte. O primeiro a cair tentava se levantar, gemia e praguejava, porém foi finalizado de vez ao levar um chute na cara.
— Vem, moça, vamos sair daqui!
Vesti rapidão o meu vestido e cheia de raiva fui até aquele escroto que tentou me estuprar… dei-lhe um chute no saco. O machão covarde estava fingindo um desmaio, com o pontapé caprichado que dei em seus ovos, ele chorou como uma criança. Fui com o meu salvador desconhecido, entrei em seu carro e ele saiu cantando pneus.
— Você deve ser um super herói — falei com alívio e o agradeci — como me viu ali com eles?
— Eu estava em meu carro e vi quando você passou, já estava de olho nesses moleques e deduzi que iam mexer com você.
Ainda refazendo-me do susto, mas toda curiosa, perguntei:
— Mas o que você fazia sozinho no carro há esta hora?
— Eu estava acompanhado.
— Putz! Desculpe, pode me deixar em um ponto de táxi e volta pra pegar ela.
— Era uma ex-colega de faculdade, ela voltou para a festa, já havíamos colocado o papo em dia e eu já ia embora.
Expliquei-lhe o motivo de caminhar sozinha naquele lugar: “meu acompanhante fez uma cena de ciúmes por achar que me viu beijando outro cara na festa, para piorar a namorada do suposto beijado também entrou no embalo achando o mesmo. Depois de mandar todos irem se foder, eu sai fora.” Conclui.
Dei a entender ao meu salvador que era tudo um mal entendido e fui acusada de algo que não fiz. “Mas aconteceu de verdade”, pensei rindo internamente. Um dia corrigirei este meu defeito de querer ter todos e ser sempre o centro das atenções.
Ele foi gentil levando-me até minha casa e nem precisou desviar do seu caminho, ele morava em uma rua nas proximidades, e sozinho, era artista plástico, fotógrafo além de mestre em capoeira.
Continuamos a conversa parados defronte da minha residência, ele disse que eu tinha uma beleza natural e combinava com o tema do seu trabalho atual composto por fotos e pinturas. Convidou-me para posar para ele.
— E qual é o tema?
— Sagrado e profano, do Renascimento ao Modernismo.
— Está mais para religioso ou para pecador?
— Os dois — ele respondeu animado — mas em vez de explicar, gostaria que você visse, entenderia melhor.
Pensei com meus botões: o convite foi por ter-me visto pelada lá no beco? Evidente, né? Pois certamente não foi por causa do meu rostinho bonito. Ainda assim aceitei, adoro exibir-me diante de uma câmera, quanto à pintura, será algo novo e diferente. Excitava-me a ideia de viver uma cena tipo a da Rose (Kate Winslet) pousando nua para o Jack (Leonardo DiCaprio) no filme Titanic, hahaha.
Trocamos telefone antes da despedida para combinarmos a minha visita ao seu ateliê.
Fim
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