Quando nos demos conta estávamos com nossos lábios grudados uns nos outros, desajeitados e sem o menor ritmo. Mas aquela sensação de estar ali, sentido aqueles lábios nos meus, aquela respiração ofegante próxima ao meu nariz, era mágica. Felipe veio com sua mão macia deslizando pelo meu rosto e cada toque seu era como uma descarga elétrica no meu corpo. Ficamos nos olhando, ate que pegamos no sono.
Logo pela manha, o sol que entrava pela janela nos despertava, aos poucos abri meus olhos e ja podia notar aqueles lindos olhos negros, que mais lembrava duas jabuticabas. Felipe era pouco menor que eu, magricela, a sua pele extremamente branca contrastava com seus olhos e cabelos igualmente negros. Acredito que mesmo tendo muitas outras manhãs ao lado dele , aquela foi de longe a mais linda e inesquecível. Era um sábado de manha e que para nossa sorte, chuvoso. Assim que nos levantamos, Tia Nice, a mãe de Felipe, bateu à porta nos chamando para o café. Descemos e agimos normalmente ao longo de todo dia, somente quem sabia de nossa noite anterior, poderia decifrar aqueles olhares longos e profundos que Felipe me lançava enquanto jogávamos vídeo game em sua sala.
Os dias seguintes foram bem semelhantes, eu ia a casa dele e ele vinha a minha. Nossas noites eram mágicas, sempre deitávamos um de frente pro outro, nossos beijos embora repetidos diariamente, ainda eram descoordenados, embora não perdesse sua doçura e amor. Nossa amizade estava cada dia mais forte, ate que um dia em meio a risos e brincadeiras Felipe diz:
- Dan, quer ser meu marido? - disse com com o rosto vermelho e olhando para o chão.
- Como e Lipe?? - disse meio atônito com o pedido de Felipe.
- E que eu vejo a mamãe e o papai juntos, tão felizes e sempre se beijando como a gente. Pensei que quisesse ser meu marido - disse Felipe ainda mais corado e com um breve filete de lágrima escorrendo no canto de seu olho.
- Lipe desculpa, não quis te magoar, mas e que tudo isso e muito estranho, mas, eu aceito.
De imediato, Felipe tirou do bolso um par de anéis desses que vendem junto ao pacote de jujubas, e veio ao meu encontro o pondo em meu dedo. Quando terminou de colocar me deu o outro que se encontrava em sua mão. Logo que coloquei em seu dedo Felipe trouxe seus lábios de encontro aos meus e nos beijamos, desajeitados como sempre. Felipe as vezes me assustava, ele era muito incisivo no que fazia, muito certeiro. O carinho que ele me dedicava era algo surreal se comparado a sua breve idade, mas como era de costume frequentar sua casa pude observar que todo aquele amor e carinho eram reflexos de seus pais que por todo tempo que frequentei sua casa, nunca os vi em nenhuma briga.
Dois anos ja se passaram, agora estávamos em Julho de 2002, nosso "casamento" ia muito bem, e ja ate beijávamos de uma forma mais próxima a um beijo real, estávamos muito felizes aproveitando nossas ferias de inverno.
Veio então o que não esperávamos, minha madrinha propôs aos meus pais, que eu fosse passar uma temporada em sua casa. De forma quase que traidora, meus pais apenas me avisou quando tudo ja estava decidido, transferência de escola, e praticamente malas prontas.
Quando meus pais me contaram foi como se jogassem uma bomba em mim. Mesmo usando os argumentos de que eu iria para uma das melhores escolas do Rio, que teria melhores oportunidades e tudo, nada fazia sentindo. Eu não poderia simplesmente me mudar, deixando para trás Felipe, meu amor, meu "marido". Nada reduzia meus pais, nada fazia com que eles voltasem atras em sua decisão, aquele dia chorei toda a noite, e cada vez que me vinha a mente que teria que me despedir de Felipe no dia seguinte, ja fazia meu coração doer como se fosse arrancado um pedaço. No triste dia seguinte, quando acordei pela manha, so conseguia me recordar que tinha que explicar a Felipe minha partida. Foi o pior dia da minha vida, a cada vez que tentava explicar a ele que não era uma decisão minha mas, sim de meus pais Felipe chorava ainda mais. Propus a ele que aproveitase aqueles últimos minutos juntos, e como em nosso primeiro beijo, nos deitamos em sua cama e apenas nos olhávamos. Não tardou, meus pais chegaram a casa de Felipe me procurando, desci e entrei no carro de minha madrinha, pela janela via Felipe, pela ultima vez. Chorei por toda viagem ate chegar ao Rio, a mesma casa alegre que tanto eu gostava de passar as ferias de verão, agora era triste e nada ali mais fazia sentido, nada mais fazia sentido sem Felipe ao meu ladoPessoal ta ai mais um capítulo, da minha história com Felipe. Gostaria muito de agradecer os comentários do capítulo anterior Melk Serra (o primeiro comentário a gnt nunca esquece rs), irish, GeoMateus, ale.bim, Fernando_Mocelim, M/A, Atheno, jcarlos21Br, Plutão e Zé Rolao. Contato contos.meninodorio@gmail.com
