Como assim Estela, levar o Igor para o Canadá?
Mas e-ele naaão...
Eu gaguejei!
Como assim levar ele, você ta louca?
Criar um filho com todo o cuidado do mundo, imaginar esse filho fazendo uma viagem para um lugar tão longe, sem sua supervisão ou companhia?
Claro eu tinha que pensar que ela é a mãe e tem todo o direito de atuar na criação, educação e bem estar do nosso filho, mas eu confesso que meu coração ficou do tamanho de um grão de areia.
Na hora eu fiquei apavorado, imaginei um milhão de coisas que ele poderia querer e eu não estaria lá para fazê-lo.
Tem dois anos e meio que o Igor vive conosco, que ele alegra e ilumina os meus, os nossos dias aqui em casa.
É uma gritaria o dia todo dele com a Laura e o Marley, as brigas dos dois, as horas que ele me chama para mostrar as coisas que aprendeu a fazer ou que descobriu durante suas brincadeiras.
Quando chama o William para reclamar da Nana, ou quando chama a vó para avisar que está com fome.
Estela ele nã-oo, aí não sei, o Igor viajar assim do dia pra noite.
Quem vai viajar?
O William entrou no quarto na hora!
Estela!!! Nossa quando chegaram?
Como você está, mulher?
E a Clara, o Maurício?
Estão lá embaixo William, e você não vai me dar um abraço?
Os dois derão um longo abraço!
Mas e você Will, já criou juizo?
Eu?
É mais fácil você fazer essa pergunta ao seu parente aí!
Parece que quem esqueceu o juizo alí na esquina foi o Fabiano!
Nossa vocês dois continuam com as briguinhas?
É ainda estamos nessa! Respondeu o William.
Mas me fala, quem vai viajar?
Ela contou toda a história ao William, enquanto eu via o semblante dele mudar do sorriso alegre para um ar angústia e desespero.
Ele também ficou assustado.
E ela continuou!
Gente eu sei do cuidado que vocês tem com ele, mas eu também preciso de um tempo junto ao meu filho, lembra quando eu fui embora e tive que deixar ele com vocês?
Eu sofri muito e ainda sofro, chorei por dias, eu acompanho o crescimento dele via webcam, pelo amor de Deus gente eu estou pedindo a autorização de vocês para algo que eu tenho pleno direito.
Minha mãe entrou com o Maurício e a Clarinha e já deu um pega em nós.
Fabiano e William o meu neto tem o direito de ir passar as férias com a mãe e por isso ele vai sim e você Estela deveria ter nôs avisado com antecedência, quando vão?
Iremos no dia 30 de Dezembro e voltaremos no dia 28 de Fevereiro se tudo correr bem.
Como assim se tudo correr bem?
Não é um mês, são dois meses? Perguntei!
É que se der tudo certo no congresso que o Maurício vai palestrar, talves a gente consiga voltar antes.
Está certo depois a gente resolve as coisas do Igor, mas quem vai sentir é a Laura, ela não vai querer ficar longe do irmão, isso a gente resolve depois também.
Vamos colocar os presentes na árvore, e acomodar o pessoal nos quartos.
Amanhã as crianças vão levantar cedo para olhar embaixo da árvore.
Minha mãe saiu do quarto falando sozinha (ta louca já rs)
Eu confesso que não tinha concordado com essa viagem e ainda estou preocupado com tudo isso.
Descemos até a sala e colocamos os presentes na árvore.
O Gustavo, Raul, Iago, Wilma a Laura, Rick e o Jorge com a Heleninha nos braços lá sentados conversando em frente a piscina esperando por nós, a Vick e a Lili tinham ido embora com o Pedro.
Eu fiquei meio abatido e isso chamou a atenção dos demais.
O Iago veio me perguntar oque tinha acontecido e eu falei.
Ele tentou me animar, falou de como seria bom para o Igor passar um tempo com a mãe com o Maurício e a Clarinha e como seria bom pra mim ter um tempo livre pra cuidar do William e da Laurinha.
Fabiano eu amo o Igor desde que coloquei meus olhos nele, é um menino especial, querido, carinhoso e amável.
Você está criando ele para o mundo, assim como nossas mães o fizeram.
Acho que dessa vez eu não vou apoiar você, esse é um direito do Igor e é o dever de vocês três criarem, educarem e compartilharem todas as fases de vida desse menino.
Você tem razão Iago, ele tem que passar um tempo com a Estela, a Clara e o Maurício, estarei sendo egoísta, se privá-lo da companhia da mãe da irmã e do padastro.
Aquele não foi um natal tão alegre para mim, mesmo assim eu dei minhas risadas com o Raul e as palhaçadas que ele fazia ou falava.
O Raul estava diferente, mais solto e mais animado.
Eu cresci ao lado dele e ele sempre foi brincalhão, tinha umas brincadeiras pesadas mas a maioria eram para descontrair.
Eu posso dizer que olhando para meu amigo hoje, eu percebo que a carga que ele carregava nas costas, não está mais alí, não sei dizer o que é, apesar de ele nunca demonstrar nada, eu acho que agora ele está aliviado.
O Raul sempre foi de sair pra farrear (queria pegar garotas nas baladas, mas para transar), parecia que queria provar alguma coisa, e vendo ele com esse sorrisão largo e escancarado eu percebo e sinto que ele está feliz.
O Iago é amoroso, atencioso, mas é exigente, ele arrastou o Raul para a academia, e eles dois alem de estarem se conhecendo mais, eu vejo o cuidado que um tem com o outro.
É estranho pensar que eu o Raul e o Rick iríamos conhecer pessoas tão doidas quanto nós três.
O Ricardo vive viajando pra tudo que é lado com o Jorge, essa foi a herança que a minha tia Lu deixou a ele, viver todos os dias como se fossem o último, e eles dois aproveitam ao máximo.
O Jorge também me explicou algumas coisas sobre os pais dele terem sido ausentes, ele ainda chora por isso, achar ou imaginar que os pais não gostavam dele, e foi com esse pensamento que ele cresceu, correu atrás e conseguiu as coisas que ele tem hoje.
Eu, o Rick e o Iago crescemos sem nossos pais, bom o Iago tinha um carrasco como pai, ele também recebeu somente o amor da mãe, da irmã mais velha e dos avós.
Eu não vou deixar esse tipo de coisa acontecer ao Igor e por isso me sentei com o William e decidimos que ele iria com a mãe o padastro e a irmã para o Canadá.
Era madrugada e eu fui limpar a bagunça que a galera havia deixado.
Por um instante eu parei e fiquei observando a água da piscina, enquanto eu tentava imaginar o Igor durante os dias longe de mim, da minha mãe, do magrelo e da Laurinha.
Eu chorei baixinho, com medo que alguém pudesse chegar.
O pessoal já estava dormindo na sala nos quartos e eu estava sozinho alí.
Resolvi entrar na piscina e refletir um pouco, sobre todas as emoções daquele dia.
Eu não queria mais a amizade do Renato, não o queria mais na minha casa e não iria mais conversar com ele.
Nisso eu ouço uma voz:
Baixinho, está tudo bem?
Sabe aquele momento que você está quase explodindo de tanto stress e tensão, aquele momento que você quer sair correndo ou quer sumir, chorar e gritar, tudo ao mesmo tempo?
E alguém vem e te pergunta se está tudo bem?
Eu não aguentei e abri o bocão a chorar, chorei pelas coisas que tinham acontecido, chorei pelo Igor, chorei de felicidade pelo Gustavo estar em casa, chorei, chorei e chorei.
O William se despiu rapidamente e se jogou na água, veio me abraçando e me fazendo carinho.
Fabiano eu estou aqui com você, você não tem que abraçar o mundo sozinho, divide isso comigo.
Continua.