Portas Fechadas - FINAL

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 1223 palavras
Data: 07/01/2015 17:32:33

Em Jundiai, a noticia do suicidio de Rodolfo foi o tema de muitas conversas por uns dois dias pelo menos. E durante esse tempo Paolo e eu precisamos estar presentes na cidade, eu para acompanhar o enterro de meu irmao, e ele para tentar acalmar a desconfiança de seus pais e irmaos acerca de nossa relaçao.

Yedda estava inconsolavel. Tinha dado à luz a pouco tempo, e era agora mae de um menino louro e saudavel chamado Enrico. Foi dificil para ela entender os motivos que levariam o marido a dar cabo da propria vida. A versao do Quin para o suicidio, entretanto, era tida por ela e para a maioria como verdadeira. E as palavras do sujeito nao me pareceram mentira.

Contava que ele e Rodolfo entraram no automovel prontos para irem embora, e que seu patrao, ao volante, permanecera alguns segundos calado, olhando para o vazio. Depois, num gesto rapido que surpreendeu o Quin, Rodolfo apanhou a arma dele no coldre, enfiou o cano na propria boca e disparou. A morte foi imediata.

Quem suspeitaria que Quin tivesse assassinado seu patrao? Os sinais dos ferimentos pelo tiro que vi no cadaver de meu irmao na porta de minha casa pareciam bastante claros; e a lealdade de Quin a ele era algo notado pela cidade toda. Uma questao, no entanto, era o porque de meu irmao ter tirado a propria vida apos me "visitar" em Itu. Yedda nao via isso com desconfiança, apesar de saber por mim que fugi com Paolo por nao me entender bem com Rodolfo; algumas pessoas da cidade, todavia, especulavam se seria apenas essa minha versao para o caso, e ainda porque meu italiano estava com o rosto meio machucado, feito tivesse acontecido um grave desentendimento antes do suicidio de meu irmao. Negavamos isso, e o Quin, estranhamente, tambem negava essa hipotese, afirmando que a visita fora bem "tranquila", e que Rodolfo jamais lhe dera mostras de seu triste intuito de se matar. Por qual razao o capanga nos ajudava daquela forma foi algo que nunca pude saber; talvez fosse, simplesmente, receio de se meter com a policia. Yedda confiava nele, tanto que o deixou como uma especie de guarda do casarao apos esse fato.

Minha relaçao com Paolo tambem estava sendo alvo de falatorios e piadas. Yedda nao acreditava em nada daquilo quando se referiam à mim e ao italiano como "maricas", quando insinuavam que viviamos juntos maritalmente. Os pais dele davam, infelizmente, ouvidos à toda essa boataria, e o choque, a incredulidade e o conflito foram inevitaveis. Paolo negava tudo, claro, afirmando que fugira comigo por conta de nossa estreita amizade e porque me via em desentendimentos com Rodolfo. No final, a impressao que levamos de volta à Itu foi a de que jamais poderiamos voltar a residir em Jundiai outra vez, e dado o tamanho do abatimento de meu belo carcamano, o fato gritante era que sua familia nunca o entenderia, e nunca acreditaria que entre nos era apenas "amizade". Como o veneno sutil de uma aranha, a desconfiança estaria sempre presente entre eles, tornando a convivencia impossivel.

Ficamos em Itu o tempo suficiente para eu vender todos os meus bens, despedir-me de Yedda e Laura em Jundiai e aprontar nossa mudança para o litoral. Era um antigo sonho meu, e do qual Paolo fazia gosto: morar em frente ao mar, começar ali nossa vida verdadeira, respirar à larga aquele ar salino e cheio.

Como imaginei, foi dificil para meu Paolo aceitar que, no final, quem podia comprar uma casa na praia era eu. Aquele italiano era um grande orgulhoso, queria "por suas proprias maos" garantir nossa vida inteira, porem nao houve outro jeito senao ele aceitar; mudamos levando apenas nossas roupas e o Fausto numa gaiola de coelho coberta por um pano escuro.

A casa era do jeito que eu queria: ampla e exatamente em frente ao mar. Na varanda, o vento trazia areia e o cheiro do oceano que emitia sons profundos quando o dia escurecia. O assoalho de madeira recebia nossos pes descalços quando estavamos sossegados em casa, e quando eu chegava do meu trabalho no pequeno escritorio que montei no centro da cidade.

- Paolo! _ eu chamava assim que chegava e me livrava do paleto, sapatos e chapeu.

Ele agora tinha um emprego razoavel numa sapataria grande, especializada em calçados masculinos, chapeus, boinas e bengalas. Era um bom vendedor, e à tarde, vindo para casa, eu jà o encontrava chegado do serviço, andando pela areia e molhando os pes no mar, sem camisa, a barra da calça arregaçada. Gostava de ver o dia se despedir assim, fitando o oceano, no seu belo sorriso encantado. Respirava fundo e deixava o vento fresco do outono litoraneo envolve-lo com seu cheiro de sal.

- Sabia que estava aqui! _ falei me aproximando dele, passando a mao em seu ombro de leve; a tarde quedava-se, encoberta, e a atmosfera jà escurecia com a chegada da noite precoce _ Olha, se o mar fosse um homem voce jà teria me trocado por ele faz tempo!

Ele deu aquela sua risada cheia, com vontade, me olhando dum jeito divertido. Depois continuou me observando do modo intenso que sempre me constrangia, pois era como se olhasse cada particula de minha alma e a compreendesse por inteiro, ainda assim a amando profundamente.

- Voce sabe que eu jamais faria isso _ disse, acariciando-me nos cabelos.

Sentamos na areia umida, em silencio, observando as ondas se quebrando em sua vagarosidade espumosa. Talvez chovesse à noite, o que seria bom. Era relaxante dormir com o som manso da chuva no telhado, com o gato aos nossos pes na cama larga. Uma boa vida, claro, mas eu notava que pelas redondezas algumas pessoas nos lançavam um olhar atravessado, e sabia que se referiam a nos dois como "os estranhos rapazes que moram juntos". O que aquilo queria dizer nos parecia claro, porem nao davamos satisfaçoes de nada a ninguem. Eu tinha raiva e queria que toda aquela gente fosse para o inferno, jà o Paolo achava que nao ficariamos ali por muito tempo. Se tivessemos de ir embora de novo, seria para outro ponto do litoral, para algum recanto caiçara e menos populoso do que aquele.

- Deus fecha uma porta mas abre outra, Nano _ dizia o italiano tentando aplacar minha revolta.

Escurecia depressa, o tempo prometendo garoa para a noite toda. Paolo comentou que gostava do frio e da chuva, principalmente à noite, porem sentia falta das estrelas quando o ceu noturno estava assim, encoberto.

Para mim, o ceu escuro e estrelado eram os olhos dele quando me fitavam. O ceu mais bonito, o unico que me preenchia a alma toda de tranquilidade e alegria.

- Se amanha o tempo estiver bom elas aparecem, Paolo _ murmurei.

Ele sorriu levemente, concordando, e sua mao quente e grande prendeu-se à minha sobre a areia, apertando-me os dedos. Ficamos olhando o mar, embalados pelo som de suas ondas espumosas. Quem sabe ele nao seria sempre a unica porta aberta que teriamos diante de nos? Porque, de qualquer jeito, Paolo e eu eramos a casa um do outro. Desde o principio de tudo.

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Agradeço a gentil companhia em mais essa historia que se encerra :)

Perdoem os erros, a fraqueza do enredo, os capitulos curtos, etc.

Um mega abraço em todos.

Tchau, gente. Ou melhor, à italiana:

Ciao!!!

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Comentários

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Descobri sua história hoje e adorei! Vou ler as outras.

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Ooooooownt, mais uma história fantastica. irish, você é demais

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That was beautiful *-* Não creio que já acabou, I need more ;-;

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Já chegou ao fim ? Vou sentir saudade do conto.

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Irish qlq coisa me chama no Google + Também irei sentir falta, especialmente de ler suas histórias. O final lembrou muito o estilo do LuHoff, muito lindo. Eu tive a impressão de ter lido partes desse final nos primeiros capitulos como se fosse um deja vu, até voltei para conferir se o Nano tinha citado algo sobre o suicidio anteriormente, isso é prova de que o personagem é bem consistente. Gostei muito da forma poética como você escreve. Eu voltarei no fim do mês com novos personagens e mais monstros ^-^ E algumas mudanças rsrs Beijps e fica com Deus!

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T-T fiquei feliz com o final, mas umas felicidade triste pela morte de Ricardo. Amo tuas series, querida e obrigado pela leitura.

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Boa tarde, gente! Muito obrigada a todos,,mesmo : • Atheno, • Monster, • nane borges, • VictorNerd, • Pedro _Henrique, • Drago *-* (esta desculpado :D) ,,• Quin, (vou sentir falta desse nosso contato diario; demora pra retomar seu conto?) , • Anonimos queridos,,grande abraço!! Ate algum dia, galera! :)

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