“ Dai me lembrei de como é ser forte...Levantei e sorri, sim sorri, porque sei que algo melhor está por vir.Eu sei!”
Marcelo, Meu amor de Perdição- 2Pt 1
Após o acontecido na cabana, e o nascimento de sua filha, Marcelo foi embora para Curitiba com a família. Me excluiu do extinto Orkut, e do msn... Mas tenho certeza que não me excluiu do seu coração...Antes dele aparecer eu jamais me imaginava saindo com outro cara, mas Marcelo foi o meu amor de perdição, mas hoje não troco minha vida pela de antes...E quanto a mim? Eu deixei Luciano ocupar esse espaço na minha vida, mesmo sabendo que era inútil!!!
Luciano me fez a proposta de ir com ele para São Paulo, pois seu pai estava doente e ele precisaria cuidar da empresa do pai. Na verdade não era um grande negócio, era uma frota de taxi, onde trabalhavam uns 30 taxistas... Com o convite, resolvi dar uma chance a ele, e fui embora com Luciano. De inicio não foi nada fácil, pois me acostumar a viver longe da minha família, em uma casa com Luciano era muito difícil, talvez por pensar muito ainda em Marcelo, mas ficar na minha cidade, aonde todo lugar que eu ia tinha uma recordação nossa seria bem pior.
À minha família apenas justifiquei que um amigo ofereceu uma proposta boa de emprego e que me arrumaria lugar pra ficar, então, logo meus pais concordaram que eu fosse, pois sempre fizeram o Maximo pra que eu buscasse caminhos que me fizessem crescer na vida. É claro que jamais contei aos meus pais que entre eu e Luciano havia algo. Para eles éramos muito amigos.
Em São Paulo, eu trabalhava na empresa como uma espécie de gerente, que faz de tudo, organiza as corridas, controla os horários, agenda viagens, e Luciano cuidava das finanças... No primeiro mês que estávamos lá, o pai dele faleceu, e enfrentamos juntos, a maior barra, mas estávamos juntos, e Luciano me fazia bem...
Tinha um taxista, que aparentava ter uns 30 anos e sempre me cantava quando Luciano não estava por perto. Lá eles sabiam que Luciano tinha essa opção sexual, e por morarmos juntos, achavam que éramos um casal, e éramos...Ele se chamava Bruno, e foi um grande amigo no tempo que passei lá.
O primeiro ano, apesar de difícil foi muito bom para o meu amadurecimento. Eu me sentia forte, e já quase nem pensava em Marcelo... O pouco tempo de sobra que tínhamos, Luciano ou Bruno preenchiam de alguma forma inusitada e divertida....Eu me sentia feliz...
Pouco antes de completar dois anos que eu estava em São Paulo, aconteceu algo pelo qual me envergonho de contar... Traí Luciano, o homem que tanto me fez bem e me protegeu, e me ajudou a superar a perda do Marcelo, e que me tratava com um amor que eu jamais poderia retribuir... e o pior, o trai com o melhor amigo dele... Bruno...
Bruno chegou sorrateiro, carinhoso, amigo, mas no fundo o que ele mais desejava era me ter para ele, e um dia, não sei por qual motivo, cedi aos seus caprichos e me entreguei a ele, no fim de uma tarde chuvosa, dentro de seu taxi.
O toque de Bruno era mais intenso que o de Luciano, e dava pra perceber claramente que ele apenas desejava sexo, e com uma pegada forte Bruno me teve, sem rodeios, sem romantismo, sem nada, apenas sexo... Foi bom?? Claro, sexo sempre é bom, mas sabe-se que depois que gozamos, nos vem à cabeça a realidade dos fatos, e com ela, o sentimento de culpa. Sim, me senti culpado e sujo por ter traído Luciano, por ter me entregado como um qualquer, de forma bruta, inconsequente e inadmissível.
E foi assim que contei para Luciano. Minha consciência pesou tanto que contei a ele. Talvez se fosse outro, esconderia dele e continuaria a viver numa boa, mas eu não sou assim, esse não sou eu. Eu jamais conseguiria aceitar o afeto e carinho de um homem que eu sabia estar enganando. Mesmo sem amá-lo, porque Luciano sabia que eu não o amava e mesmo assim ele quis ficar comigo. O mínimo que eu devia a ele era honestidade e fidelidade... E então, a reação de Luciano ao saber foi apenas pedir que me retirasse de sua sala e o deixasse só por um instante... Eu fiz o que ele pediu, mas antes mesmo de eu sair de sua sala ele me disse:
-César, sabe que esse ano não foi fácil pra mim, e continua não sendo... A perda do meu pai, as responsabilidades que surgiram e as dificuldades... Eu sei que não tenho sido a melhor companhia pra você e sei também que você não me ama e ate aceitei isso, mas não consigo te perdoar dessa vez... Você sabe o que é fazer de tudo pra uma pessoa te amar e ser desprezado? Mudar sua vida, aceitar a pessoa como ela é, mesmo que receba apenas pouco em troca? Saber que mesmo estando numa cama com você, a pessoa pensa em outro? Isso é demais pra mim. Não posso mais viver assim... E por te amar, te deixo ir... Talvez eu me arrependa, mas agora é o que eu quero. Que você vá embora, que pare de me fazer sofrer, e que seja feliz com o outro como nós dois nunca poderíamos ser...
-Luciano...
-Não, eu não quero ouvir... Ficamos assim.... Me dá um abraço... Vem cá... Não guardo magoas de você... Seu amor é outro... Vá... Viva...
Chorei muito ao abraçar o Luciano, e foi como se esses quase dois anos tivessem passado diante dos meus olhos, fazendo me lembrar de tantas vezes que ele foi bom comigo, que me amou e eu apenas o desprezei, e decidi deixar ele, porque ele realmente merece alguém melhor do que eu.. Ele merecia ser feliz.
Liguei pra minha família e disse que iria embora no próximo fim de semana, e que eu iria voltar pra casa porque queria fazer faculdade e que o trabalho corrido na capital não me permitia fazer isso. Meus pais vibraram em saber que finalmente voltaria pra casa e que iria estudar.
Embarquei as 21h de um sábado... Escolhi esse horário porque gosto de viajar a noite, quando as estradas estão mais calmas. Combinei de meu pai estar me esperando na rodoviária. E fui, o caminho todo pensando no que eu faria da minha vida agora... Cochilei e quando acordei já estava a umas duas cidades da minha. Estava ansioso e aflito. Chorei muito...olhei um rabisco no banco do ônibus que dizia:” Dai me lembrei de como é ser forte...Levantei e sorri, sim sorri, porque sei que algo melhor está por vir.Eu sei!”...
Era noite e eu esperava pelo meu pai na rodoviária, e quando avistei o carro, fui ao encontro dele, mas assim que abri a porta não era meu pai quem estava lá, e sim ele, Marcelo... E estávamos novamente ali, eu e Marcelo, frente a frente. Quase dois anos não foi suficiente para apagar da memória aquele sorriso meio de lado. Ele estava lá, e me esperava...
Por um momento lembrei-me de tudo o que ele havia me dito da ultima vez que nos falamos, ainda que por mensagem, aquelas palavras me doíam demais. Eu não estava pronto para vê-lo, e tão pouco queria me lembrar daquela dor que senti quando chegou o fim.
Apenas bati a porta do carro e sai, sem nem ao menos olhar pra trás...
Eu não estava com frio e nem com medo, mesmo naquela noite gelada. Sentia-me livre de tudo o que me atormentava nos últimos meses. Antes estava livre do perigo e de qualquer dor que já tivesse sentido por ele... Mas me senti tão apaixonado ao vê-lo... Com um toque dele em meu braço, parei... E os lábios dele traçaram uma linha de beijos pelo meu pescoço. Ele apertou os braços em volta da minha cintura e virou-me para que eu o encarasse. Minhas pernas tremiam como na primeira vez que estivemos juntos. Não senti mais nada, foi como se o tempo e o vento tivessem parado naquele instante, o ar ao nosso redor era silencioso e calmo... O único som que eu podia ouvir, enquanto olhava os seus olhos fixados nos meus, era a batida do seu coração... E então um beijo se fez...
Eu empurrei imediatamente Marcelo, e interrompi o beijo que ele me dava, mas ele me puxou de volta e me beijou com mais intensidade ainda. Não adiantava resistir. Eu então me deixei vencer, e o beijei, com toda a saudade possível, e ele sussurrava em meu ouvido o quanto tinha sentido minha falta e que nunca mais me deixará partir.
Como um choque suas palavras entraram nos meus ouvidos e me lembrei o quanto sofri da ultima vez que acreditei nas palavras dele...
-Para Marcelo, por favor, me escuta..
-Fala meu amor, o que você quiser.
-É exatamente isso que eu quero, que você pare. Que me solte, que me deixe.
-Você não sabe a falta que você me fez. Quando voltei de Curitiba e não te encontrei aqui fiquei desesperado, eu precisava te ter, preciso de você!
- Não Marcelo, você não precisa de mim, você não me quer. Você se lembra muito bem em quais circunstancias nos vimos na ultima vez e lembra também qual foi a ultima frase que você me disse... Pois é eu não esqueci!
-Por favor César, esqueça aquilo. Você sabe que eu não sei ficar sem você. Me perdoe por favor.
-Volta pra sua casa, pra sua filha,pra sua esposa... Me leva pra casa, já que você esta com o carro do meu paii... Inclusive explique isso...
- Estou trabalhando com o seu pai, e ele me disse que você voltaria a cidade, e que chegaria hoje. Dai eu pedi para vir te buscar, pois para ele nós sempre fomos amigos...E eu jamais deixaria de te ver...
- Coitado do meu pai, você não cansa de enganar as pessoas mesmo né?
-Assim você me ofende Cesar, sabe que sempre fui honesto com você!
-Ah Marcelo, me poupe, honestidade é uma palavra que não tem muita pratica na sua vida.( como se eu tivesse sido honesto com Luciano nos últimos tempos). Você quer enganar a quem? A mim não...
- vem, vou te levar pra casa, e dai conversamos melhor. Eu sei que você sente algo por mim e quero mais uma chance.
-Eu te levo ate a sua casa, e depois vou pra minha com o carro do meu pai. Sei muito bem o caminho e não quero ter que fingir suportar você na minha casa.Anda me da as chaves...
Marcelo meio a contra gosto me entregou as chaves do carro. Coloquei minha mala no porta malas, e entramos no carro. Ele me instruiu ate o local onde estava morando. Perguntou se eu queria entrar... Claro que disse que não...
-Eu sei que você ainda vai ser meu. Voce sempre foi e sempre vai ser... –Disse Marcelo me dando um beijo na bochecha, que eu limpei em seguida...
-Escuta só Marcelo... Eu não quero papo com você, não quero você perto de mim. De você só quero distancia...
-Mas Cesar, o que nós vivemos não significa nada pra você?
-Sim Marcelo, por isso mesmo quero você longe, porque o que nos vivemos só me fez sofrer... E você mudou?
Claramente vi nos olhos de Marcelo lacrimejarem, mas eu precisava ser forte, pois não estava disposto a viver todo o sofrimento que passei com ele sendo o outro e sabendo que ele só me procuraria quando quisesse, que sempre ficaria depois de sua filha e esposa...e que sempre no meu aniversario ele passaria com a filha que nasceu neste dia, e com isso eu não poderia competir.
-Marcelo, olha pra mim. A sua vida e nem a minha parou porque deixamos de estar juntos, você entende? Então, continua vivendo a sua vidinha do jeito que esta que eu continuo com a minha vidinha pequena, como você disse na ultima vez, que eu nunca terei uma família, e que desejava que eu fosse infeliz.. Já eu pelo contrario, desejo que você seja feliz, e eu não serei feliz se estiver ao seu lado. Agora vá, e me esqueça.
Marcelo desceu do carro e entrou no portão de sua casa. Abaixei a cabeça no volante do carro e não pude conter o choro que viria em seguida. Aquela era a decisão mais difícil que eu estava tomando, mas precisava ser assim...pelo menos naquele momento, mas Marcelo não desistiria facilmente.
CONTINUA....
