“Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.”
Então estava tudo combinado, já havíamos conversado com o médico, doutor Pedro e com a família do Samuel. A quimioterapia iniciaria logo na semana seguinte, em sessões inicialmente semanais, depois, de acordo com a reação, poderia se tornar quinzenal ou até duas vezes por semana. Eu tinha conseguido convencer o Samuel do que era certo a se fazer, e todo mundo me agradeceu por isso.
- Eu prometo que vou ficar do teu lado até a gente sair dessa. – disse, segurando a sua mão. Ele estava sorrindo.
- Bom, Thomaz? Você deve ter aula hoje, né? – perguntou o médico, entrando no quarto. Concordei com a cabeça. – Então é melhor ir, depois você pode voltar.
- Ah, ok. – me despedi do Samuel, e do doutor Pedro.
- Te vejo depois. – diz Samuel, ajeitando-se na cama.
Me despedi dos outros também, e fui para a escola. Não daria tempo de conversar com o William antes de o sinal tocar, então deixaria para a hora do intervalo. O vi sentado no lugar em que eu costumava sentar: na escada.
- Oi, Will. – digo, puxando seu braço para levanta-lo.
- E aí, Thomaz... – ele me cumprimenta e olha no seu relógio – Acho que não dá mais tempo.
- É, não dá. Mas vamos entrar. – passamos pelo corredor e ficamos conversando em frente à sala.
Muita coisa havia mudado de uns tempos pra cá. Lívia e Letícia haviam virado bem amigas. Will estava se misturando com a Juliane, e confesso ter ficado com ciúmes dos dois juntos. Emily havia parado de canta-lo, para a minha alegria. Juliane havia se afastado sentimentalmente de Nicholas, e se aproximado muito mais de Brian, o que era o certo a se fazer.
A aula seguiu normal, e agora novamente as trocas de olhares fuzilantes entre eu e o William entrariam em ação. Voltei a sentar perto dele, conversávamos quase que sempre agora, mas torcia para que não levantasse a suspeita de ninguém.
No intervalo daquele dia, fui direto ao jardim e fiquei lá, sentado no mesmo banco, olhando para as flores e sentindo o aroma do lugar. Eu estava escolhendo as palavras certas que iria usar para conversar com o William. Não havíamos nos beijado ainda desde o nosso primeiro beijo, há um certo tempo. Eu queria ele, queria muito.
Incrível como conseguimos fazer tanta besteira em um certo período de tempo, tomar decisões malucas sem nem pensar nas consequências. Pois é, eu não penso nas consequências, eu tento nem pensar. Eu escolhi esperar e aceitar o que a vida trouxer. Eu errei em aceitar tantas coisas. Como aquela frase irônica “Minha vida é aquela conta de matemática enorme que eu errei por causa de um sinal”.
O vento batia em mim, e erguia as folhas secas deixadas pela enorme figueira que fazia uma sombra imensa que cobria grande parte do jardim. Os galhos balançavam conforme o vento, e as nuvens começavam a se abrir, mostrando o lindo sol. Seus raios começavam a iluminar o lugar, uma cena indescritível.
- É lindo né? – pergunta William, atrás de mim. Ele estava com uma das mãos sobre meu ombro.
- O quê?
- Tudo. – ele sentara-se em minha frente, como de costume. Ele olhava nos meus olhos com um sorriso magnífico no rosto.
- É. – eu não conseguia dizer nada, só admirar.
- Esse jardim é nosso, Thomaz. – ele ergue os braços.
Realmente, aquele era o nosso jardim. Era como se ele tivesse sido construído apenas para nós. Eu não via quase ninguém ir ali além de nós.
- Então, como foi com o Samuel? – pergunta, agora sério.
- O Samuel, – suspiro – ele está com câncer.
- Que? – ele tapa a boca com uma das mãos.
- É, Will. – digo, engolindo em seco.
- Tá brincando, né? – ele parecia não acreditar.
- É sério, já faz tempo.
- Nossa, ele não está se tratando?
- Se tratou por um tempo mas parou, agora ele vai voltar. Eu consegui convencer ele. – digo. William estava paralisado olhando para o nada.
- Você... Você tá com ele ainda né? – pergunta.
- Não, Will. A gente terminou antes de eu descobrir que ele estava doente. – engulo em seco – Eu acho que errei, né. Mas, mas eu vou ficar do lado dele sempre, sempre.
- Você tá certo. – ele sorri – Eu estou feliz que vai ajudar ele, dar força... Pelo que disse, ele não faria isso se não fosse você.
- É, eu não sei. – digo, baixando minha cabeça em seguida.
- E nós? – Will pergunta, mudando sua expressão facial.
- E nós... – repito o que ele disse com um sorriso sem graça.
- Eu já disse tudo o que eu tinha pra te falar, só quero a sua resposta.
- “Resposta”- pensei, e então olhei no fundo dos seus olhos, que transmitiam esperança e, amor.
- E então? – pergunta sorrindo. Eu estava mudo. Levantei lentamente e ele levantou junto, só que rápido. Paramos na frente um do outro, eu estava com a cabeça erguida, olhando para toda a área do jardim. Fui me aproximando dele.
- Você sabe qual é a minha resposta.
Envolvi meus braços no pescoço do William e então colamos nossos corpos. Meus lábios se tocaram nos dele e nossas línguas logo se entrelaçaram. Um beijo quente, feroz e doce. Seus lábios macios pareciam tentar engolir os meus, um beijo muito melhor que o nosso primeiro. Eu estava com saudade dessa boca, do abraço do William, dele em si. Eu o amava e agora lutaria contra todos que tentasse nos derrubar.
- Cara, promete que a gente vai ficar junto pra sempre, promete! – disse, ofegante. Nossos lábios agora estavam separados, e nossas testas tocadas uma na outra. Nossos olhos estavam fechados.
- Eu prometo, Will. – puxei-o e nos beijamos novamente. Um beijo longo, demorado e calmo.
- Eu te amo, William, eu te amo! – ficamos abraçados por mais alguns segundos.
- Eu que te amo, nada vai separar a gente agora. – estávamos em um abraço apertado. O sinal toca e caminhamos até a porta da sala.
O professor ainda não havia abrido a porta então ficamos sentados um do lado do outro no banco ao lado dela. Olho para os lados e então encontro o olhar estranho de Emily, que logo desvia para Sarah. Juliane, Letícia e Lívia também nos encaravam.
- Que isso. – sussurrei para mim mesmo.
- Nem liga. – William sussurra, cutucando meu braço com um sorriso muito lindo no rosto.
- Normal. – digo, rindo também.
- Olá pessoal . – cumprimenta o professor, abrindo a porta da sala para que entrássemos.
William levantou e eu também, entramos juntos na sala. Sentamos um do lado do outro e então o professor anuncia um trabalho em dupla. Meio óbvio que fomos juntos.
No fim da aula eu iria até o hospital para ver o Samuel ou falar com a mãe dele. Pedi que William fosse comigo e ele aceitou, meio inseguro. Conversei com uns colegas da escola, e então fomos para lá. Chegamos e fomos recebidos por Beth, que estava com um sorriso no rosto.
- E aí, como ele está? – pergunto.
- Ele está bem melhor. – diz Beth, ela desvia o olhar a William e sorri – Seu amigo?
- Hã, mais ou menos. – digo. O sorriso de Beth fica ainda mais largo.
- Você é o William? – pergunta, abraçando-o. Ele apenas concorda com a cabeça.
- Seus pais? - pergunto.
- Eles estão lá com ele, o Dr. Pedro está junto.
- Exames?
- Uma bateria, faz tempo já. Ele deve estar exausto, coitado. – diz, suspirando – Mas vocês não querem um café, ou água?
- Eu não. – diz William.
- Vou pegar uma água. – digo, volto uns minutos depois e sento-me no sofá ao lado de William. Anderson não estava ali.
Beth estava olhando para o nada, sorrindo sem mostrar os dentes. William e eu nos olhávamos sem fazer nada. Ele estava com os braços cruzados e eu com as mãos juntas sobre as pernas. Ouvi o barulho de uma porta abrindo e algumas vozes. Beth olhara para o corredor, William e eu também. Dr. Pedro, Carolina e Joel saem de uma sala de exames, conversando baixo.
- E então? – pergunta Beth.
- O tumor não cresceu muito desde a última sessão de quimioterapia, em meses ele não cresceu praticamente nada - inicia Dr. Pedro – o que posso dizer é que não irei realizar a cirurgia primeiramente, apenas depois de começarmos a quimio e havendo resultados. Hã, iremos liberar ele hoje e só voltará três dias antes da primeira sessão, ou seja, quatro dias para arrumar as coisas e aproveitar a liberdade.
- Ele vai ficar internado a partir de então? – pergunto.
- Sim. – diz apenas isso, fazendo algumas anotações numa prancheta – Pedi à enfermeira que o levasse pro quarto, vamos fazer a higienização dele e então vocês poderão leva-lo.
- Ah, que bom. – digo, aliviado. William me encarava. Carolina sorriu também aliviada.
- Eu poderia falar um pouco com você? – pergunto a Dr. Pedro e ele concorda com a cabeça. Caminhamos até a sala do médico e então me sento na cadeira.
- Pode falar. – diz.
- Se tudo der certo na quimio, cirurgia e tal, ele ficará com sequelas? – pergunto, inseguro.
- É inevitável, ele atrasou. Milagre foi o tumor não ter aumentado nesses últimos meses, e ele ter continuado saudável. Eu acredito que o Samuel possa se curar, porém isso vai exigir esforços dele. Uma sequela que provavelmente ele terá é, eu penso assim, que na coordenação motora.
- Ele vai perder os movimentos?
- Não todos, mas talvez uma parte do corpo, talvez as pernas.
- Oh céus. – abaixo a cabeça.
- Mas você não precisa se preocupar. Ele parece seguro agora, devemos isso a você.
- Que nada. – digo, com um sorriso sem graça – Ele não podia desistir agora.
- É. – finaliza.
Levanto-me da cadeira e saio da sala. Fico na sala de espera junto com William e a família de Samuel. A enfermeira chega longos minutos depois e pede que Carolina e Joel entrem no quarto para buscar Samuel.
- Thomaz, não quer ir no meu lugar? – pergunta Joel.
- Ah, não. Você é o pai dele. – digo, apertando sua mão.
- Vai você. – ele senta no sofá e Carolina olha para mim, sorrindo.
- Vem. – diz Carolina. Dou de ombros e desvio o olhar ao William, e peço para esperar.
No quarto, Samuel estava sentado na cama, sem camisa, escolhendo uma para vestir. Não havia percebido nossa presença, então Carolina bufa.
- Ah, oi. – diz Samuel, olhando para nós dois. Ele sorri ao me ver e pisca para mim.
- Oi Samuel, tá bem? – pergunto, me aproximando dele.
- Eu tô. – ele me abraça, sinto o calor do seu peito desnudo e então veste a camisa.
- Que bom. – sorrio e ele também, concordando com a cabeça.
- Vamos embora? – diz Carolina, pegando uma bolsa no armário.
- Opa. – Samuel calça o tênis e sente uma tontura ao levantar da cama. Ele olha para mim com um olhar cansado, então se ajeita na cama e põe os pés no chão.
- Aqui. – coloco uma das mãos sobre a cintura de Samuel e a outra no meio do peito dele. Samuel envolve o braço no meu pescoço e sorri, caminhando junto comigo para fora do quarto.
Chegamos à sala de espera e Joel e Beth vem em nossa direção. Samuel se desprende de mim suavemente e abraça Beth, em seguida Joel. Sento-me ao lado de William, que me encarava sério. Samuel olha para ele e sorri, cumprimentando com a cabeça. William não faz nada, e o sorriso de Samuel se desfaz.
- Que foi, Will? – pergunto, pegando em sua mão.
- Nada. – diz, seco.
Todos conversamos na sala por alguns minutos, até que Dr. Pedro aparece com uma caixa de medicamentos.
- Prepare ele com isso até a volta, um a cada oito horas. – diz o médico, entregando a caixa a Joel.
- Sim, doutor. – responde Joel.
- Já posso ir embora? – pergunta Samuel.
- Sim, se cuida rapaz! – diz, apertando a mão de Samuel.
- Eu já vou. – diz Samuel, parando em minha frente. Ele estende o braço.
- Tudo bem, eu também já vou. – digo, apertando a sua mão. William ergue a cabeça e bufa, olhando para os lados.
- E você William, cuida dele. – Samuel sussurra, olhando nos olhos de William, que concorda com a cabeça.
- Eu vou cuidar. – diz, sério. Samuel aperta sua mão e deixa a sala junto com os pais e Beth.
William e eu ficamos na sala por mais alguns minutos, olhando um nos olhos do outro sem falar nada.
- Hey, me diz o que aconteceu. – quebro o silêncio.
- Não consigo ver vocês dois juntos, assim como estavam.
- Opa, ciúmes? – indago.
- Você que pensa, por que eu teria ciúmes de ti? – pergunta, me encarando. Arqueio uma das sobrancelhas e sorrio, puxando-o para perto de mim.
- Aqui não. – diz, olhando para os lados.
- Tá, vamos sair daqui. – digo, levando-o até o elevador.
Vamos até uma sorveteria próxima a minha casa, e tomamos um milk-shake. William sugava o canudo como um morto de sede e eu só conseguia rir. Nisso, ele acabou tomando o milk-shake sozinho. Fomos caminhando pela estrada até entrar em uma rua deserta, uma quadra depois da minha casa.
- Que saudade que eu tava de ti. – diz, puxando-me para si.
- Eu senti muita falta, nós completaríamos dois meses juntos se tivéssemos continuado.
- É, foi tolice minha. Mas o que importa é que a gente tá junto agora, e vamos ficar assim. – ele me beija e eu retribuo.
- Já tá tarde. – nos afastamos e então olho para o céu, estava escurecendo.
- Eu tenho que pegar o ônibus ainda, af. – diz, revirando os olhos e me abraçando em seguida.
- Eu vou contigo até o ponto. – digo, segurando sua mão.
- Não, eu te levo em casa. – sorri. Concordo com a cabeça e nos beijamos, terminando em selinhos.
Estávamos próximos da minha casa, mostrei pro William onde era o ponto de ônibus mais próximo e ele gravou o lugar. Caminhamos na calçada e fomos conversando, as pessoas passavam por nós sem olhar nos olhos, alguns carros buzinavam, e geralmente não conhecia quem pilotava, acho isso muito idiota. Não estávamos de mãos dadas, mas caminhávamos muito próximos um do outro, sempre sorrindo. Chegamos à minha casa e paramos em frente ao portão. Escoro-me na grade e William ao meu lado. Ele olhara para a janela da minha casa e eu fiz o mesmo, me gelando ao ver minha mãe olhando para nós.
- Hã, Will... – começo, mas sou interrompido.
- Não, tudo bem. Eu vou indo, a gente se fala. – ele aperta a minha mão, e sorri sem graça. Em seguida desvia os olhos a minha mãe, que continuava na janela e acena para ela, e vai para o ponto.
Ao entrar dentro de casa, minha mãe estava batendo a ponta de um dos pés no chão frequentemente. Ih, lá vem encrenca.
- Isso são horas? – pergunta.
- Desculpa mãe, eu fui no hospital depois da aula. – disse.
- Ah, meu Deus! – indigna-se – Se quebrou de novo?
- Não, fui ver um amigo, o Samuel.
- O que ele tem? – pergunta, preocupada.
- Câncer. – digo, e me calo. Fecho os olhos por alguns segundos e abro-os em seguida, subindo as escadas e trancando-me no quarto.
- Vai tomar um banho. – diz minha mãe, dando duas batidas na porta do quarto.
Olho para meu celular e não havia nenhuma mensagem ainda. Fui até o roupeiro e peguei uma cueca e um calção e fui pro banheiro. Demorei muito no banho, mas saí com até minha alma limpa. Sentei-me na cama e peguei meu celular, fiquei olhando para a tela por vários segundos e então disquei o número da Jade.
- Oi. – digo, com a voz rouca.
- Alou, quem é? – pergunta, não era a Jade.
- É o Thomaz, quem tá falando?
- É a mãe dela, a Jade saiu de tarde e não voltou para ir pra escola – olho no relógio e era perto das 21hs – e deixou o celular em casa, estou sem notícias.
- Ela não apareceu em casa? – rapidamente fico preocupado. Eu podia imaginar onde ela estava, e eu teria que encontra-la. – Eu vou sair, acho que sei onde ela está. Não se preocupa que eu vou trazer ela. – digo, encerrando a ligação.
Se Jade não havia aparecido em casa, Jéssica também não, confirmei isso ao ligar para a mãe dela. Coloquei uma camisa e saí na rua, eu teria de ir até o beco, por mais perigoso que fosse, ainda mais há essa hora, mas teria de ir. Com certeza Jade e Jéssica estariam lá.
=
Oi, quanto tempo. Desculpem pela demora, eu não tinha esse capítulo pronto e estava sem tempo para escrever. Enfim, eu espero que estejam gostando, por enquanto é isso. E ah, eu aproveitei a sobra pra escrever o 12 também, então dia 16 ou até antes mesmo, com certeza já vai estar aqui. Olha, William e Thomaz finalmente juntos \o/ E aí, esse lance do Thomaz ir pro beco atrás da Jade e da Jéssica, será que vai terminar bem? E desejo aqui também um feliz 2015 SUPER ATRASADO, e que todos os desejos e metas se realizem. Obrigado pelos comentários e votos, até lá então :*
*Guga Oliver - Saudade também uuahuah Pra você também, que tudo se realize! ;*
*niel1525 - Obrigado cara!!
*Grilo - Pois é, que bom que está gostando. Obrigado por acompanhar :D
*Ru/Ruanito - Pra você ver :( Obrigado por acompanhar :D
*Anjo Apaixonado - Obrigado, que bom que gostou!!! :D
*Geomateus - Obrigado :D