"Eu vou tentar mais uma vez, eu vou atrás não vou ter medo!" Pianinho - Esteban
- Você é maluco Samuel? – Gabriel me perguntou.
- Ah cara. To começando a achar que sim. Mas, pensa só: o que você vai fazer esse final de semana?
- Vou pra casa dos meus avós – Respondeu Gabriel.
- Vou viajar com a Eveline – Respondeu Matheus. Nota: Matheus era hetero.
- Então, agora eu tenho um “encontro”, por que cá entre nós: ele pode ser um babaca, arrogante, filho da puta... Mas que é um gato e gostoso isso é verdade!
- É mesmo! Ele podia ser gente boa para a gente ser “amigo”...
Enquanto eu e Gabriel falávamos da beleza do Gean, Matheus ia em silêncio para com a gente. Chegamos em sua casa, nos despedimos e eu e Gabriel continuamos nosso caminho. Andamos falando da vida alheia até cada um chegar em suas casas.
Minha mãe estava na cozinha e meu pai tirando um cochilo. Cheguei, troquei de roupa e esquentei meu prato para almoçar. Minha mãe fez as perguntas de praxe enquanto eu almoçava. No meio da conversa eu disse:
- Sabe onde eu vou passar o final de semana?
- Onde meu querido?
- No sítio do Gean... – Minha mãe até engasgou com o café que bebia.
- Do Gean!? Daquele cara que você odeia!? – Expliquei para minha mãe toda a situação. Ela estava meio preocupada, mas minha mãe sempre observa tudo da melhor perspectiva.
- Você quer que eu compre uma arma de choque? – Ela me perguntou. Nós rimos da situação e a vida continuou.
Durante a semana, a cada dia que se aproximava de sexta mais eu ficava tenso e mais Guilherme e Matheus me zoavam. Gean simplesmente não ligava. Agia como se não fosse acontecer nada.
Na quinta a noite arrumei minha mala e na sexta cedo fui para a escola. Até um pouco antes do fim da aula Gean nem me procurou para nada. Mas faltando 20 min para acabar a aula ele me mandou no whatsapp: “Tudo pronto, cabaço?” e eu respondi: “Infelizmente sim”.
Depois disso, só após o termino da aula que ele me procurou.
- Vamo, meu carro ta ali no estacionamento – Sem falar nada, segui ele. Coloquei minha mochila e minha mala no porta-malas. Entramos no carro em silencio e seguimos. Gean colocou um rock pesado no carro. Nem perguntei se ele ia passar em casa. Simplesmente segui em silencio.
Seguimos para a saída da cidade, pegamos estrada, andamos um pouco, entramos em uma estrada de terra. Andamos meia hora até chegar no seu sítio.
Era um lugar muito bonito mesmo. Era no meio de algumas colinas, que dava para uma vista sensacional da sacada. A casa era muito arrumada. Tinha uma bela piscina do lado de fora da casa. Uma área de recreação com churrasqueira, ping-pong, pebolim, sinuca e vários outros jogos ficava perto da piscina.
Chegamos, Gean parou seu carro ao lado de uma Amarock, que eu imaginei ser de seus pais. Descemos do carro, pegamos nossas malas e eu segui ele, sempre em silencio. Entramos na casa, fomos até um quarto que tinha 2 camas.
- Você fica com a da direita. Fique a vontade, a casa é sua e blá, blá, blá – Falou Gean a contragosto.
Depois nós descemos para almoçar. Seus pais estavam na sala assistindo TV mas Gean simplesmente passou direto, como se eles não estivessem ali. Fomos para a cozinha, a empregada logo serviu nosso almoço. Estava delicioso. Durante o almoço, perguntei:
- Você não vai cumprimentar seus pais? – Gean olhou com indiferença e respondeu:
- Ah. Depois eu falo com eles – Senti uma tensão no ar e não perguntei mais sobre isso. O resto do almoço comemos em silêncio. Logo após o almoço fomos para a área de recreação começar a fazer o trabalho.
Sentamos em uma mesa e começamos a discutir. Fizemos as perguntas propostas, mas todas as respostas eram superficiais ou não faziam sentido. A parte complicada era depois: deveríamos fazer atividades juntos, tirar fotos e depois contar a experiência em um texto.
É claro, nós não ficamos o tempo todo juntos. Simulamos jogos, tiramos as fotos e ali mesmo escrevemos os textos. Sexta a noite foi a primeira vez que Gean falou com seu pai.
- Filho, a janta está pronta – Disse seu pai.
- Ok. Estou indo – Gean se levantou e fomos para a cozinha jantar.
Foi a coisa mais constrangedora do mundo esse jantar. Jantamos nós 4 em completo silencio. A mãe dele me perguntou apenas se eu era colega dele. Depois disso, só um silencio constrangedor.
A janta estava deliciosa. Depois de terminar de comer, peguei meu prato e meu copo e coloquei na pia. Gean olhou para mim e disse:
- Seu retardado! Aqui tem empregada! Aqui não é o esgoto que você mora não! Retardado! – Uma resposta veio na minha garganta, mas seus pais estavam presentes. Eles simplesmente ficaram em silencio, nem ligaram para o que filho falou.
Respirei fundo e saí da sala. Até que demorou para ele implicar comigo por qualquer motivo. Sentei a beira da piscina. O céu já estava quase escuro. Algumas estrelas já apareciam no céu. Fiquei em silencio e escutei uma discussão entre Gean e seu pai.
A discussão girava em torno dos familiares que viriam para o sítio ou algo assim. Minha mãe me ensinou que era errado escutar conversas alheias, mas não tinha como: era muito gritaria.
Alguns momentos de discussão e o pai de Gean dá um berro de tremer as estruturas:
- CHEGA! ELES VEM E PONTO FINAL! SÃO SEUS PARENTES! AGORA CALA ESSA BOCA!
Gean ficou em silencio. Escutei uma porta bater. Alguns instantes mais tardes seu pai sai para a área da piscina. Senta em uma cadeira próxima de onde eu estava e acende um cigarro.
- Você se importa de eu fumar aqui? – Ele perguntou.
- Não senhor – respondi educadamente.
- Senhor não! Senhor me deixa mais velho! Me chame de Alan, por favor. Qual o seu nome, garoto? – Ele me disse com a voz melhor um pouco.
- Samuel – Respondi sem saber como proceder com a conversa.
- Você é amigo do Gean?
- Ãnh.. Somos colegas. A gente não conversa muito nas aulas – Falei, tentando esconder o fato da gente brigar o tempo inteiro na escola.
- Aham. Não precisa me enganar. Eu sei que vocês dois são meio que “inimigos” na escola. Tive certeza hoje no almoço...
- Desculpe, Senhor.
- Alan – Ele me corrigiu – Eu entendo. Gean é difícil de lidar. Mas... se você puder... tente se aproximar mais do Gean. Ele avisou para a gente que você vinha, e, se comportou diferente do comum. Ele estava mais calmo...
Puts. Era quase impossível fazer isso que Alan me sugeria. Gean quase nunca falava comigo, e quando falava era só gritos e xingamentos.
- Além do mais, você parece ser muito melhor do que os outros amigos que ele leva em casa e aqui. Tente. Eu sei que você não gosta dele, mas se der...
- Ok. Vou tentar. Mas... Se me permite a pergunta... Por que vocês brigaram hoje? – Alan deu um suspiro fundo e disse:
- É que daqui a pouco estão chegando alguns parentes nossos. Na verdade meu irmão e seu filho Raul. E Gean detesta muito Raul... Ele não suporta ele. Sendo que Raul é uma excelente pessoa... – Não sei porque, mas naquele momento eu senti que eu e Raul seriamos excelentes amigos.
Depois que Alan falou isso, olhei para o lado e vi um farol se aproximando. Alan também viu. Ele levantou, parou do meu lado e disse:
- Lembre-se que eu te disse. Faça um esforço. Eu sei que ele é complicado, mas tente. Ok? – Enquanto ele falava percebi que Gean nos observava da porta com uma cara fechada.
- Ok. Vou tentar...
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Aos que leram, muito obrigado e aos que gostaram muitíssimo obrigado :)
Joshuacdc: Fico feliz que tenha gostado! Espero que possa acompanhar até o fim!
Athenos: A altura do Samuel gira em torno de 1,70 m e a do Gean é de mais ou menos 1,80 m. Espero que tenha gostado!