STEFAN
- Fernando, e como está a sua posição na empresa? – perguntei enquanto nos dirigíamos para o meu carro.
Iria aproveitar que o Marc havia saído com o Eduardo para fazer algumas compras no supermercado.
- Eu conversei com o Jonas e ele me explicou que eu poderia ficar o tempo necessário. Entramos em um acordo. – o Fernando abriu a porta do carro. – É como se fosse minhas férias. E além do mais, estamos com um plano de abrir uma filial aqui.
Eu parei para absorver a informação. Abrir uma filial aqui? Isso era maravilhoso. Eu não estou preparado pra me separar do Fernando ainda. Eu não ia dizer isso, claro. Eu tinha que deixar o Fernando livre para fazer o que quisesse. Mas eu estava muito feliz que ele tivesse planos de ficar. Entrei no carro e demos partida para o supermercado.
- Então quer dizer que você vai ficar? – perguntei
- Eu nunca mais irei sair do seu lado, Stefan. Juntos pra sempre. - disse apertando o meu joelho.
Eu assenti e sorri. Não sabia dizer, mas eu tinha uma sensação que esse “pra sempre” nunca chegaria. E isso me fazia lembrar a Violeta.
- O que vamos fazer, Fernando? Será que vai ser sempre assim? As investigações não andam.
Mais cedo, Fernando havia ido à delegacia pra saber como andavam as investigações. E as resposta foi a mesma. Nada. Não haviam encontrado nada. Eu já estava ficando cansado desse jogo de gato e rato. Como a gente iria reunir tantas provas contra a Violeta sem nos incriminar no processo? Eu não sabia. Mas desde o acidente do Marc, ela não havia mais tentado nada.
Fui algumas vezes em sua casa, mas ela não me atendia. Eu não sei se ela estava em casa ou não. Só sei que eu não teria a coragem de invadir a casa dela. Não mesmo! O Fernando tinha me dito uma vez para resolver o assunto com nossas próprias mãos, e eu me vi considerando isso. Mas do que isso ia adiantar? No mínimo iria arrastar mais problemas. Ou a gente esperava a justiça diplomática ou alguém iria morrer no processo.
- Eles não vão fazer nada, Stefan. Mas não se preocupe. Vou colocar isso em controle.
- O que você vai fazer? – perguntei franzindo a testa.
- Nada. Eu só conheço algumas pessoas que podem lidar com isso melhor que a gente.
- Do que você está falando, Fernando?
- A Violeta não vai sair dessa tão fácil assim. Ela não pode brincar com a gente dessa forma. O que nós somos?! Bonecos que ela faz o que quer? – o Fernando cuspiu as palavras com puro ódio. – Se ela pode brincar, nós também podemos.
Agora eu estava assustado. Nunca vi o Fernando falar com tanto ódio. Mas eu não poderia culpa-lo. Eu ainda não havia entendido o que a Violeta estava planejando. E o painel que o Fernando viu? Uma coisa que não fazia sentindo era o Oliver nesse painel também. Que porra que estava acontecendo aqui?
- Você tá fazendo aquilo de novo, Stefan. – disse parando o carro.
- O quê?- eu estava tão absorto em meus pensamentos que não havia percebido que tínhamos chegado ao supermercado.
- Faça um favor pra nós; não pense. Não deixe isso mudar a sua vida e quem você é.
O Fernando saiu do carro e eu fiquei lá com cara de nada absorvendo o que ele havia dito. Como ele não queria que eu não pensasse em nada? O meu irmão quase foi morto. E a troco de quê? Nada.
- Você não vem? – o Fernando perguntou do lado de fora.
Eu saí do carro e nos encaminhamos para dentro. Estamos na sessão das carnes quando escutei uma voz muito bem vinda.
- Olá, rapazes! – o Pedro estava lá parado com um carrinho cheio de compras.
- Oi, Pedro! Que surpresa vê-lo aqui. – disse me virando pra ele.
- Eu estava comprando algumas coisas. Você sabe, eu tenho que me manter saudável já que moro sozinho. – ele riu.
- Hey, Pedro! – disse o Fernando enquanto adicionava mais carne no nosso carrinho. – E aí, como vai a sua instalação na cidade? Tá dando certo?
- Sim, vai tudo bem. Eu só não me acostumei ficar sozinho em uma casa tão grande.
- Eu posso imaginar. Eu sempre achei ruim estar em casa só. Eu tinha a minha mãe, mas ela estava doente e logo morreu. E o meu pai nunca estava em casa.
- Deve ser ruim olhar para os lados e não ter ninguém, não é? – eu olhei para o Pedro surpreso com o que ele disse.
- Você já perdeu alguém, Pedro? – perguntei.
- Sim, já perdi, Stefan. – ele olhou para mim e depois para o Fernando. – Na verdade, foi tirado de mim.
Eu não sei explicar, mas eu senti um arrepiou descer por todo o meu corpo. A forma como o Pedro falava mostrava que havia muita coisa além do que ele falava. E o olhar... Foi algo muito rápido, e se eu não tivesse olhando pra ele, não tinha percebido. Mas eu vi um olhar frio e sem emoção, como se ele tivesse reprimindo o que realmente sentia. Eu senti medo, mas logo isso sumiu de sua expressão e pensei que estava vendo coisa demais. Talvez fosse só por causa do tema, mas tinha uma voz dentro de me dizendo outra coisa.
- Então, meninos, será que vocês estão livres no final de semana para jantarem lá em casa. Eu quero agradecer adequadamente a hospitalidade que vocês tiveram para comigo. E aí?
- Acho que podemos, sim. – eu olhei para o Fernando que havia ficado calado de repente. Ele tinha aquele olhar de quem estava pensando sobre algo. – O que você acha, Fernando? Tudo bem pra você?
O Fernando estava estranho. Ele ficou lá olhando para o Pedro antes de responder.
- Claro. Mas não precisa se incomodar. Não queremos dá trabalho algum.
- Vocês sempre serão bem vindos em minha casa. Eu faço questão.
- Então estamos resolvidos. Mas a gente leva as bebidas. E eu não aceito não como resposta. – disse o Fernando com um sorriso que não alcançou seus olhos.
O que estava passando naquela cabeça vermelha? E se não pudesse ficar mais estranho ainda, escutei alguém batendo palmas atrás de nós. Todos nós nos viramos para olharmos de onde vinha isso. Se eu soubesse o que ia encontrar, tinha me preparado psicologicamente pra isso.
Violeta.
A Violeta estava lá em carne e osso olhando para nós como se fossemos o próprio diabo.
- Surpresos em me verem? – ela disse se aproximando de nós.
Surpresos?! Isso era o maior eufemismo do ano. Eu nem sei o que estava sentindo diante da visão dela. Ela estava tão bonita. Muita bonita. A Violeta transformada beirando a loucura que havia visto em minha casa meses atrás, não se encontrava mais naquele corpo. Mas o olhar dela dizia outra coisa... Aquele olhar de puro ódio.
- Então, Stefan, soube que você estava atrás de mim. O que tanto você queria me falar? – ela perguntou com um sorriso radiante.
Eu não conseguia encontrar a minha voz. Agora que ela estava lá na minha frente, eu não sabia o que dizer.
- O que você estava fazendo aqui, Violeta? – parece que o Fernando não estava tendo o mesmo problema com a voz dele.
- Acho que o mesmo que vocês. – ela apontou para os carrinhos. – Comprando.
- Quando você vai parar com os seus joguinhos manipuladores, Violeta? – perguntou o Fernando.
- Que joguinhos, Fernando? – a Violet parecia surpresa.
- Vamos ser sinceros, Violeta. Não tema, estamos só nós aqui. – ele olhou pelo corredor onde estávamos.
Eu fiquei olhando para eles dois. A Violeta me dava arrepios. Olhei para o Pedro e ele estava lá rígido com a testa franzida, mas havia mais alguma coisa ali, eu só não consegui pegar.
- Eu não sei do que você está falando, Fernando. – eu dei dois passos pra trás enquanto ela se aproximava mais de mim. O que havia comigo? – Então, o que você queria comigo?
- Eu... – pigarrei. – Eu queria falar com você sobre...
- Sai de perto dele, Violeta. – o Fernando me interrompeu. Ele me puxou para o lado dele colocando distancia entre a Violeta. – Nunca se sabe quando você tem um novo plano, não é mesmo? E francamente, Violeta, você acha que eu não sei do seu jogo?
- Mas que droga de jogo é esse, Fernando? – a Violeta perguntou com a mandíbula cerrada.
- Sabe... – o Fernando olhou ao redor e não havia ninguém. – Eu vi o painel em seu quarto. Você se acha muito esperta, né? Mas deixa eu te informar de uma coisa; você não faz ideia. Mexeu com a pessoa errada.
Eu olhei pra Violeta e ela estava sem expressão alguma. É como se ela tivesse congelada ali mesmo.
- Então, Violeta, quem tá rindo agora? – o Fernando perguntou com um grande sorriso no rosto.
Eu queria bater muito no Fernando por ele está fazendo isso. Ele não deveria ter dito nada. A Violeta agora sabia que nós sabíamos do painel. Por mais que ela neguasse agora, ela saberia.
- Eu ainda não sei do que você está falando, Fernando. – ela deu um sorriso que não alcançou os seus olhos.
- Então você vai negar que você tem um painel com todas as nossas fotos? Vai negar que é você quem está mandando as cartas anônimas? Vai negar que é você quem estar por trás do acidente do Marc? – o Fernando estava perdendo o controle e algumas pessoas que passavam pelo corredor estavam olhando para nós.
- Fernando, não precisa chamar atenção. Deixa isso pra lá. – eu disse puxando a sua camisa.
- Não, Stefan! Chega de deixar pra lá. A Violeta já passou dos limites. – ele respirou fundo e deu um olhar pra ela que me fez temer. – Eu não sei dos seus próximos passos e nem quem está te ajudando. Mas eu vou descobrir. E quando isso acontecer, você vai desejar nunca ter me conhecido.
- Eu não sei do que você está falando, Fernando, mas eu não tenho medo de você. – disse com uma voz firme.
Por que eu sentia que isso não ia acabar bem?
- Vamos sair daqui antes que algum segurança venha nos repreender.
- Talvez fosse bom algum segurança vir aqui e prender essa louca. – o Fernando saiu empurrando o carrinho em rumo ao outro corredor.
- E quem é esse jovem rapaz? Alguém quem você vai trocar o Fernando por ele? – disse ela apontando em direção do Pedro.
Eu havia esquecido na presença dele ali. O Pedro parecia chateado. E eu não o culpava, a Violeta tinha esse poder sobre as pessoas.
- Olha, eu não sei quem é você, mas acho melhor você ir embora. – o Pedro falou como se tivesse falando com uma criança.
- É, você tem razão. Mas cuidado com esses aí. Ainda mais... – balançou a cabeça em minha direção. – Com ele. Ele destruiu o meu coração.
Tudo de novo não. Eu suspirei pronto para falar, quando o Pedro me interrompeu.
- Violeta, não é? – perguntou. – Bom, pode deixar que eu sei me cuidar.
O Pedro pegou o meu braço e me arrastou pelo mesmo caminho que o Fernando tinha ido.
- Pedro? – a Violeta gritou atrás de nós.
O Pedro parou e olhou em direção a Violeta.
- Perdão?
- Eu só queria lhe dizer que não deixe pra amanhã o que você pode fazer hoje. – ela disse com um riso no final.
- Obrigado, Violeta! Pode apostar que não irei. – disso me levando junto com ele.
Isso foi no mínimo estranho. Eu tinha uma sensação que eu estava deixando passar algo. Mas eu estava confuso demais para pensar sobre.
- Você está bem, Stefan? – perguntou o Pedro depois que saímos da vista da Violeta.
- Pra falar a verdade, eu não sei.
- Me desculpe, mas ela me parece louca.
- E ela é, Pedro. E ela é!
- Droga! – disse olhando pra trás.
- O que foi?
- Me esqueci do meu carrinho lá. Havia escolhido as melhores carnes para o nosso jantar. – disse chateado. – Vou correr lá pra ver se ele ainda tá intacto. Você pode me esperar aqui?
- Claro, cara. Sem problemas. – disse rindo. O Pedro era engraçado.
- Volto já!
Eu fiquei parado absorvendo o momento surpresa da Violeta. Foi coincidência ou não? O que ela estava planejando? Senti medo nesse momento. Era uma pena o Pedro ter presenciado isso. E o que foi aquilo da Violeta com ele? Aquilo foi estranho. Uma coisa que não havia percebido na hora; a Violeta chamou pelo o nome do Pedro. E isso é muito curioso, pois eu não me lembrava de ter dito o nome dele.
- O encontrei são e salvo. – disse empurrando o carrinho e me dispersando dos meus pensamentos. – O nosso jantar foi salvo.
Rimos juntos. E isso foi muito bom. Toda a tensão que havia se formado ali estava se dissipando. Por enquanto...
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Então, pessoas lindas! Eu sei que o capítulo anterior foi curto, mas eu fiz ele mesmo assim só pra poder explicar o lance da tatuagem. Agora esse foi bem grandinho. Espero que vocês tenham gostado. Esses foram um dos capítulos bem difícil de escrever. Enfim, Amarga Mentira tá acabando gente :'( Tô chorosa aqui. O meu coração tá num aperto só. Mas irei deixar as lágrimas para o capítulo final. Gente obrigada, viu? O apoio de todos foi o que me moveu até aqui. Já tô ficando emotiva. OBRIGADÃO!!!! Mais tarde eu volto. Tenham um ótimo final de semana. Beijos nos corações. E desculpem os erros.