Eu cheguei na sexta feira por volta das 14 horas no cursinho. Naquele dia nós teríamos duas aulas de física, ou seja, teríamos aula das 18:00 até as 19:40. Sentei-me na primeira fileira que sempre ficava vazia e comecei a resolver alguns exercícios enquanto o professor não chegava.
Como de costume, eu comecei a pensar como seria o professor. Na minha mente, eu sempre imaginei os professores de física como velhos, gordos, baixos e carecas, mas o professor do cursinho... esse sim me surpreendeu.
- Boa tarde, boa tarde... Vish, já passou das 18, né? - disse o tal do professor, enquanto entrava na enorme sala.
Quando me virei, foi como se uma corrente elétrica passasse pelo meu corpo. Eu achava que "amor a primeira vista" era coisa de filme, mas pelo visto, eu estava enganado.
- E aí pessoal, onde nós paramos aula passada? - ele perguntou pra mim, que estava sozinho na primeira fileira.
- E-Eu não estava aqui aula passada - tentei não parecer um idiota.
- É tua primeira aula? - ele perguntou baixinho.
- É sim - dessa vez não gaguejei.
- Então bem vindo. Meu nome é Gabriel. - ele me estendeu a mão e eu o cumprimentei, mas logo deixou de me dar atenção.
Logo que soltei a mão dele, uma multidão de mulheres passou a sentar na minha frente. Piranhas, pensei.
- Oiii, profeee - disse uma loira.
- Oi , Gabo - sussurrou outra.
Elas estavam certas em dar em cima dele, afinal, até eu daria em cima dele se eu fosse um gay atirado. Gabriel era realmente muito bonito. Com sua cara de novinho (ele tinha 20 anos, faria 21 uns meses depois), ele era loiro, cabelo loiro bem curto, olhos castanhos e, assim como eu, não era malhado/bombado, não tinha barriga de tanquinho, aliás, ele tinha até uma barriguinha de chopp.
Se vocês me perguntarem o que me impressionou nele, eu digo com toda certeza que foi o sorriso. O sorriso e o jeito em que ele subia o óculos com o dedo sempre em que o acessório insistia em cair ao abaixar a cabeça.
Enfim, a aula dele era muito boa. Nós tínhamos aula dele de física 3, então só tinha aula dele na sexta... e foi assim que eu descobri estar apaixonado por ele.
UMA SEMANA DEPOIS.
- Pra onde tu vai com tanta pressa? Mal merendou - perguntou meu irmão que também se arrumava pra ir à faculdade.
- Tenho que correr pro cursinho
- Xiii, só pode ter muita mulher boa nesse cursinho - disse meu irmão, rindo.
Meu irmão não sabia sobre minha sexualidade até então, e nem deveria desconfiar, até porque eu nunca fui afeminado e tal. Enfim...
- Tem nada! - eu ri e senti minha pele corar. - Fui!
Sai correndo pro cursinho. Era uma caminhada de mais ou menos 10 minutos pra chegar até lá, mas naquela sexta calorenta de agosto eu deveria ter feito o caminho em uns 5 minutos. Conforme eu me aproximava do cursinho, meu coração batia mais rápido. Talvez pelo esforço físico que eu tinha feito, ou talvez por nervosismo/ansiedade. Nem eu sei.
Entrei na sala que já estava começando a encher. O problema é que, quando cheguei na sala, a turminha das prostitutas de plantão já tinham ocupado toda a primeira fileira da sala, me obrigando então a procurar um lugar mais distante do Gabriel.
Sentei-me umas 4 fileiras depois, na ponta, pois quando ele passasse, com certeza me veria e me cumprimentaria. Certo? Errado. Gabriel passou por mim e nem sequer deve ter me visto.
- Boa noite, boa noite... - e assim sua aula começou.
Eu não conseguia entender bulufas do que ele falava na sala de aula. Eu só conseguia pensar no quanto aquele cara era bonito. Eu estava perdidamente apaixonado por um cara que só tinha visto duas vezes e que provavelmente nem lembrava da minha existência. Será que eu tava muito fudido?
A aula dele terminou e, junto com a aula, meu transe também terminou. Ele arrumou suas coisas dentro de sua bolsa e veio na direção da saída.
- Esse livro é muito ruim, cara. Tem outros bem melhores. Se tu quiser eu te empresto um meu pra você tirar cópia - disse o Gabriel pra mim enquanto ele me estendia a mão pra cumprimentar-me. Meu coração passou de uns 79bpm pra, sei lá, 1 milhão de bpm. Eu fui no céu e voltei. A voz grave porém suave do meu professor quase me deu um orgasmo (brincadeira).
- Hã? Ah, sim, eu gosto do Ramalho, mas prefiro o Alberto Gaspar - abri um sorriso e lhe cumprimentei.
- Pois é, o Alberto Gaspar é bem completo. O ramalho tem umas coisas erradas, viu! Toma cuidado. - ele ajeitou o óculos.
- Beleza, vou me atenar a isso. Então sexta feira tu traz?
- Trago sim! - Ele sorriu e saiu sem nem se despedir.
Pronto. Só aquilo foi motivo o suficiente pra me deixar feliz não só o resto do fim de semana, como a semana inteira.
A sexta-feira parecia não chegar. Eu ficava impaciente, as vezes ia dormir antes das 22 só pro dia seguinte chegar logo. Eu estava louco de apaixonado pelo meu professor que provavelmente devia ser hétero. Hétero... pera, eu não vi aliança no dedo dele. Não que usar aliança seja sinal de heterossexualidade, mas sim que ele era solteiro, o que já era meio caminho andado.
A sexta-feira finalmente chegou e, como da vez passada, saí de casa as pressas pra chegar no cursinho cedo e conseguir pegar um lugar na frente. Nesse dia, Jesus estava comigo e permitiu que eu conseguisse pegar um lugar na primeira fileira. Como sempre, peguei meu livro e comecei a resolver alguns exercícios de física.
- Boa noite, boa noite - só de ouvir a voz dele eu já abria um sorriso.
Ele chegou até a frente do quadro com dois livros na mão (que eu realmente não lembro os autores, sorry), me entregou e deu uma piscadinha. Eu apenas sorri e senti minha pele queimar muito.
- Ai profeee, eu quero livro emprestado também - disse a loira que sempre insistia em dar em cima do Gabriel.
- Desculpa, só empresto meus livros pra pessoas especiais - ele riu.
O que? Foi isso mesmo que ele tinha dito? Então eu era especial pra ele? Minha linha de pensamentos sem nexo foi cortada quando ele continuo a falar.
- Brincadeira, Camila, eu te empresto sim - ele corou.
Então ele sabia o nome dela? Que piranha. Não, Iuri, se controla... se controla.
Ele começou a lecionar a aula e eu comecei a conseguir prestar atenção na aula dele. Menos na parte que ele virava pra escrever alguma coisa no quadro e a bunda dele virava pra mim... aí era pedir demais!
- Bora gente, me respondam... Se eu dobrar a distância das cargas, a força vai aumentar ou diminuir?
A sala toda ficou em silêncio.
- Eu vou começar a escolher a dedo quem vai responder... deixa eu ver - ele passou os olhos por toda a sala e os olhos deles cruzaram com os meus pela primeira vez.
- Tu, cara que estuda com o Ramalho... - ele apontou pra mim. - A força aumenta ou diminui?
- Diminui a quarta parte - respondi.
- Por quê?
- Porque elas são inversamente proporcionais.
- Viu, gente? Doeu? Não doí responder. A resposta dele tá certinha.
A aula dele terminou e então nesse dia meu irmão passou pra me pegar no cursinho. Ele queria ir no shopping pra comprar um sapato social novo e acabou me levando até lá pra comermos algo antes de irmos dormir.
- E aí, como foi a aula? - ele perguntou.
- Foi legal - eu ri sozinho.
- Tô vendo... E pra que diabos esse tanto de livro? Tu vai abrir uma biblioteca, é?
- Vida de vestibulando, né? Um amigo me emprestou - ri sozinho mais uma vez.
- Amigo, sei... - dessa vez foi ele quem riu.
No sábado, acordei por volta das 11 da manhã, tomei um banho, almocei e parti pros estudos. Abri o primeiro livro e vi que tinha algo escrito na capa.
- Esse livro pertence a Gabriel (e o sobrenome dele). Em caso de perda, favor ligar para esse número (xxxx-xxxx) ou (xxxx-xxxx).
Pronto. Não consegui mais raciocinar nada, só pensava em ligar pra ele. Será que ele estaria dormindo? Estudando? Assistindo TV? Transando?
Esses pensamentos tomaram conta da minha cabeça e então eu decidi ligar. Chamou, chamou e ninguém atendeu. Ele deve estar ocupado, pensei.
Depois de mais ou menos meia hora, eu já tinha até esquecido da tal ligação, meu telefone começa a tocar.
- Alô? - falei.
- Opa, você ligou pro meu telefone ainda a pouco e eu não pude atender - ele disse.
- Não, acho que você tá enganado. - falei sem paciência.
- Não, tá aqui a chamada.
- Não, eu não ligu... AHH, Gabriel?
- Sim, sou eu. Quem fala? - dessa vez era ele quem parecia estar impaciente.
- Ah, han, sou e-eu, o Iuri, do cursinho
- Iuri? Hum, não tô lembrado.
- Ah, eu sou o menino que tu emprestou os livros
Ele começou a rir.
- Menino que eu emprestei os livros? Cria vergonha, rapaz. Menino é meu irmão de 9 anos, tu já é um homem! - ele continuava rindo - mas diz aí, no que posso te ajudar?
- É, han... - nessa hora eu não sabia o que falar, então falei a primeira coisa que veio na minha mente - então, cara, eu tava aqui resolvendo uma questão de lei de Coulomb e queria tirar uma duvida.
- Diga lá.
- Então, queria saber por que nós sempre adotamos o vácuo (9x10^9) como constante.
- Caaaara, agora tu me pegou, nunca nem sonhei em pensar nisso. Eu vou pesquisar e eu te digo sexta feira, pode ser?
- Claro, sem problemas.
- Firmeza, então. Era só isso?
- Era só isso.
- Então falou!
- Jaé, falou - respondi e desliguei o telefone.
CARALHO, a voz dele ficava ainda mais bonita no telefone. É, não dava mais pra negar... eu tava apaixonado pelo professor de Física.
Fala ai meus amigos, como vocês estão? Então, eu to aqui pra agradecer de coração pelos votos e comentários que recebi ontem. Eu só comecei a postar a história porque um amigo disse que ela era digna de estar nesse site e então eu vim conhecer e já me apaixonei. Queria também, se não for pedir muito, que vocês me indicassem uns contos bons (que não seja o "Bruno", porque já leio esse e tô viciado <3). Meu tempo não é um dos maiores, mas prometo tentar ler caso vocês me indiquem algum.
Outra coisa, tô pensando em mudar o nome do conto pra "Eu me chamo Gabriel", o que vocês acham? Comentem a opinião de vocês e, caso concordem, amanhã já posto o capítulo com o novo nome. Um abraço a todos!