Acampamento – MANHÃ – 2º dia
- Bom dia meninas. Dormiram bem? – Derick chega cedo para o café da manhã.
- Como um anjo – Tatiane responde abrindo a bocarra de preguiça matinal.
- E você Lizi? – A garota observava a paisagem com um brilho diferente no olhar.
- Perfeitamente my friend – Tenta prender um sorrisinho que insiste em aparecer.
Os três entram no refeitório, pegam o lanche e voltam para a área externa. Sentam-se em uma parte alta da calçada deixando as pernas suspensas. O sol subia no horizonte rompendo a barreira de folhagens das árvores, seus raios dourados começavam a iluminar o local onde os amigos estavam. Passarinhos cantavam, patinhos continuavam a passear livremente acompanhados por cocás pintadinhos. Estavam na lateral oposta à piscina e a quadra. Ao longe cavalos passeavam dentro de um grande cercado e mais para a esquerda estava a mata fechada, onde Derick passara a noite.
Os três estavam com os olhos inchados, acordaram há pouco. Lizi comia pão rasgando-o em pedacinhos, os farelos caiam sobre o vestido florido e na grama. Tatiane tomava suco e comia um pão doce. A manhã estava quente.
- Bom dia meninos – Uma professora loira aproximou-se com as mãos cheias de envelopinhos coloridos – Quem de vocês é a Tatiane do primeiro ano turma “C”? – perguntou.
- O que eu fiz de errado? – Com a boca cheia Tatiane vira-se para a professora que chegou por trás. A mulher sorri e entrega um dos envelopes lacrado com um adesivo prateado.
- O que é isso? – Pergunta enquanto recebe-o.
- Bom. É o correio elegante. Não estão sabendo como funciona? – A professora dá a volta e fica de frente para o trio observando-os se entreolharem. – Deixe-me explicar. Se quiserem mandar uma cartinha para um colega, basta pegar um envelope lá naquela caixa no refeitório (ela descreve a caixa e o trio lembra-se de tê-la visto), escreve o que quiser, coloca o nome e turma do destinatário, depois deposita lá dentro. No dia seguinte entregamos - A professora vê uma garota passando ao longe, procura outra carta nas mãos, despede-se e sai em direção a ela.
Tatiane rompe o selo e lê o poema no papelzinho cor pastel,
“Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu
Fácil perceber que seu amor é meu
Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu
Fácil perceber que meu amor é seu”
- Ai que fofo. Quem mandou? – Lizi pega o envelope procurando o remetente, mas não havia nada além do poema.
Tatiane ficara radiante, então pensou, será aquilo uma pegadinha de alguém que não gostava dela?
- O que foi? Não gostou? – Derick pega o envelope e lê a frase.
- Não é que não tenha gostado. Só estou pensando, e se for uma pegadinha? – A garota ajeita o óculos.
- Claro que não é pegadinha. Já até desconfio de quem tenha enviado – Derick abre um sorrisinho e dá um pulo da calçada para a grama ficando de frente para as garotas – Tá na cara que foi o tal do Michael – completa.
- O Michael?!! – Lizi fica surpresa – Mas, mas... – ela gagueja – Porque o Michael?!! A Tati deu um fora nele lembra? – Ela olha para a amiga observando o sorriso estampado no rosto.
- Ela tem razão Derick – Tatiane recolhendo o sorriso – Porque seria o Michael?!! Tipo, fui muito ignorante com ele.
Derick volta a ler o papelzinho. Ele não se lembrava da conversa com Kaio há poucos dias.
- Olha, Tudo leva a crer que foi ele sim – fala convicto – Veja bem – devolve o envelope para Tatiane – essa frase é a letra de uma música do Charlie Brown Jr.
Lizi pega o papel e torna a ler.
- Mas e daí?!! – Ela não conseguia acompanhar a linha de raciocínio do garoto.
- Vocês disseram que o tal do Michael usava um boné igual ao de cantor de Rap, Hip-hop, ou sei lá o que, não foi? (~lê: Derick detetive) Pois então? O vocalista da banda também usa. Deduzimos assim que, Michael é fã do Charlie Brown Jr.
Tatiane levanta a cabeça e observa os cavalos passeando ao longe. Ela coloca a mão sobre os olhos para proteger-se do sol e abre outro largo sorriso.
- Você tem razão – pula para perto do amigo – Mas tipo, como teremos certeza – ajeita o óculos no rosto.
- Só vejo um jeito – Derick arruma a franja.
- Qual? – Lizi abre um sorrisinho sem graça.
- Vamos dar uma volta, passar perto dele e ver se vai puxar conversa ou jogar olhares.
Tatiane ficou receosa. E se fosse verdade? Como reagiria desta vez?!! Pensou em desistir, porém como Derick estava junto, sentiu-se mais segura em tentar.
- Gente. Agora que me lembrei – Lizi para no meio do caminho de volta ao refeitório - Preciso pegar uma coisa para uma colega. – bate a mão na testa – Faz o seguinte, vão vocês e nos encontramos daqui a pouco – ela retira-se com passinhos apressados.
***
Acampamento – HORAS ANTES DO ALMOÇO – 2º dia
- Sai da freeeeente... – Lucas desce o morro correndo e pula dentro da piscina azulada. A água respinga pelas laterais e molha algumas garotas que tomavam sol por ali. Em seguida, Ian faz o mesmo trajeto e com um “salto mortal” mergulha nas águas refrescantes.
Kaio esticado em uma espreguiçadeira aproveitava a manhã para um bronzeado. Ele vestia short de banho e óculos escuros. Ao lado algumas garotas conversavam e desviavam olhares de paquera, porém, o garoto não percebia. Os óculos escuros ocultavam seus olhos fechados.
Derick e Tatiane entram pela grade de proteção e caminham pelas laterais molhadas da piscina. Encontram três cadeiras vazias na sombra de um guarda sol estampado. Alguns minutos após esticarem as pernas, observam Lizi e outras garotas chegando. A amiga vestia o maiô com estampa de folhas que Tatiane a emprestara.
- Cheguei – Lizi aproxima-se sorridente – Ela senta-se e começa a passar protetor solar. Derick pega o vidrinho e também lambuza o rosto. O garoto, sem camiseta, exibia o corpo normal de um adolescente.
- Porque você demorou tanto? – Tatiane interroga.
- Fiquei conversando com as meninas – Lizi continua passando protetor.
- E o que você precisava entregar de tão urgente para sua “amiguinha” – Tatiane sente uma brisa soprar balançando seus cabelos.
- Nossa, a água parece estar ótima. Vamos dar um mergulho? – Ignorando a pergunta, Lizi corre para a piscina.
- Você reparou que a Lizi anda estranha? – Tatiane pergunta observando Derick mexendo na unha do pé.
- Estranha ela é desde que nasceu – Derick recosta-se na cadeira e coloca um óculos de sol. Aproveitava o olhar oculto, para admirar os garotos que estavam por ali.
- Não foi isso que eu quis dizer. – Tatiane murcha observando Michael e seus dois colegas descendo o morro pelo outro lado.
- Olha só quem vem ali – Derick tira o óculos e abre um sorriso olhando para Tatiane.
- Estou nervosa – Ela começa a gaguejar e observa Lizi aproximando-se toda molhada.
- Ei, vocês dois não vem? – Lizi senta-se e quase dá um treco ao ver Michael e os amigos se aproximando. Ela levanta-se para voltar à piscina mais Derick faz uma pergunta. Ficaria estranho sair agora.
Os garotos contornam a borda da piscina e passam por elas. Michael abre um sorrisinho e as cumprimentam com um “oi”, correspondido simultaneamente pelas duas.
***
Acampamento – FIM DA TARDE – 2º dia
O barulho de chuveiro e o cheiro de sabonete enchiam o quarto bagunçado. Pelo chão, meias sujas, tênis, chinelos, shorts e até uma cueca preta aos pés do beliche.
O período do almoço já passara. Era por volta de 17:00hs quando Derick aproveitou para tomar banho. Antes de ir ao quarto certificou-se de que os companheiros ainda estavam na piscina.
A água continuava a cair molhando os cabelos negros e o corpo nu. Ele desliga o chuveiro, enrolasse na toalha e ouve a porta do quarto sendo aberta. Alguém estava ali. Para evitar o encontro indesejado Derick torna a ligar o chuveiro esperando que o garoto saia, mas, qual dos três seria?
Derick aproxima-se da porta e observa o sussurro. Ian procurava algo na mochila.
“Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu
Fácil perceber que seu amor é meu
Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu
Fácil perceber que meu amor é seu”
- Espere ai, como assim? – Derick tenta ouvir direito. O garoto cantava o mesmo refrão que estava na cartinha recebida por Tatiane. Ele fica atônito. Seria Ian o admirador secreto da amiga?
Um sentimento estranho explode em Derick. Sentiu vontade de sair do banheiro para tomar satisfação, era como se estivesse com, “ciúmes”?!! O que está acontecendo comigo? – Pensou.
A porta do quarto tornou a ser aberta, mas não era Ian saindo e sim Lucas entrando. O coração de Derick acelerou. E agora? Ele voltou para debaixo do chuveiro e permaneceu até ouvir a porta ser fechada.
Desligou a água, enrolou-se na toalha e vestiu a sunga, única roupa que estava consigo. Tornou a colocar o ouvido sobre a porta para certificar-se de que estava sozinho; certo disto abriu-a e saiu.
- Você está fugindo de mim?
O garoto quase teve um treco ao ouvir a voz de Lucas deitado no beliche superior.
- E porque fugiria? – Derick disfarçou a surpresa e procurou agir naturalmente sentando-se na cama para procurar um conjunto de roupas limpas.
- Vejamos – Lucas desceu e escorou-se na lateral do beliche. Primeiro marquei de conversarmos nos pinheiros e você não foi, depois ignorou minhas mensagens e agora toda vez que apareço, simplesmente some.
Derick veste o short, a camiseta e prossegue:
- Você escondeu de mim que tinha voltado com a Caroline;-diz derick.
- Como assim? Eu contei tudo no outro dia.
- Exatamente: “somente no outro dia”.
Um instante de silêncio.
- E daí? Ainda não entendi qual o problema! – Lucas aproxima-se – “Espera, espera, espera” – ele começa a rir – Você não pensou que... – uma pausa irônica – Você achou mesmo que estava rolando um lance entre nós dois? – dá uma risadinha sarcástica.
Derick sente um nó na garganta. A situação ficou embaraçosa.
- Caramba velho, é só sexo. – Lucas coça o cabelo e Derick permanece em silêncio remexendo a mochila – O que rolou entre nós foi apenas zoação, tipo, pra aliviar o estresse – um pausa e depois conclui – Eu sou hétero cara.
- Você não foi hétero quando me beijou – Derick levanta enraivecido. Aquilo estava ridículo.
- Ei, Espera um minuto – Lucas fala alto – Foi você quem quis “dá” pra mim. – A arrogância cretina de Lucas era algo assombrosa.
- Mas VOCÊ que me beijou a força – Derick senta-se e continua a arrumar a mochila.
- Eu te beijei a força? – Lucas com um sorriso irônico tenta controlar a altura da voz – Foi você que se jogou pra cima de mim quando eu tava bêbado. – Ele aproxima-se e segura o garoto pelo braço.
- Quer saber – Derick se desvencilha – vamos fingir que nada aconteceu e passamos a agir normalmente daqui em diante, ok? – tenta por fim àquela situação e tremendo segue para a porta. Ao coloca a mão na maçaneta Lucas o puxa de volta imprensando-o contra a parede.
- Como assim fingir que nada aconteceu? Eu sei que você ainda quer. – sussurra cretinamente roçando a boca ao ouvido do garoto.
- Me solta – A voz de Derick falha e os olhos lacrimejam.
- Eu quero um beijo – Lucas aproxima os lábios e o garoto vira o rosto – Só mais este, vai – Lucas faz vozinha de garoto carente, entretanto não demora em perde a paciência – Eu sei que você curte essas putarias, PORRA – Ele tenta beijá-lo a força, mas Derick se desvia tentando empurrá-lo sem êxito.
Lucas permanece a insistir um tanto violento. Ele segura o garoto pela cintura forçando-o a sentir seu pênis ereto. Estava visivelmente fora de si.
- Vai vadia. É só sexo – abocanha o pescoço do garoto e em seguida curva-se de dor.
Derick não lembra-se de mais nada, a última coisa que viu foi a topada que deu com Ian no corredor, quando saiu apressado do quarto.
***
- O que aconteceu? – Ian entra observando Lucas gemendo próximo a parede.
- Nada, porra. Só esbarrei no beliche (na realidade Derick deu uma joelhada no saco dele e saiu correndo).
- Uhh, a dor deve estar insuportável. – Ian estranha e repara que na pressa Derick esquecera o celular sobre a cama.
ATE LOGO!