- Sobre o amor? Nem sei dizer doutor. É algo que nunca vou sentir de novo. – disse ao Dr. Nelson. Há três semanas eu conversava com ele, um terapeuta de meia-idade que escutava todos os meus problemas. Sem julgamentos. Sem saber das partes mais obscuras. Eu vinha sofrendo muito. Havia terminado um relacionamento de dois anos e seis meses com o meu ex-namorado, Renan. Não dava mais certo, antes que me perguntem. Ele era – e ainda deve ser - um tipo de cara que atrai todo o tipo de coisa. Era como um ímã de brigas, um perfume universal pra todo tipo de bicha. Não aguentava mais conviver com aquele sentimento ruim.
“Não viaja Nando, eu te amo”, foi a frase que mais ouvi durante os últimos três meses em que aquilo afundou de vez. E acreditem, foi eu quem terminou tudo. Acabei com tudo. “Você é um babaca infantil. Vai meter essa rola no cu daquele bombado e me esquece pra sempre”, disse a ele há quatro meses. Eu tinha bebido bastante e por pouco não acabei com a festa de aniversário da Carol, uma das nossas poucas amigas em comum que sobraram. Na festa, eu vi um cara estilo academia passando a mão no pau do Renan. Mesmo não sendo tão forte quanto ele, parti pra cima:
- Ele tá namorando, sabia? – gritei, balançando um copo de cerveja na mão. O líquido caía e sujava o sapato mocassim do “Rambo”.
- Cara, você tá muito mal! Vai curtir com os teus amigos! – dizia o imbecil. Os olhares das pessoas se concentraram sobre mim e eu só conseguia ouvir a voz da Carol no fundo: “Cadê ele caralho?!”. Não admito perder qualquer discussão. Em segundos, o copo de vidro ficou mais frágil e eu só ouvi o estalar dos cacos... Na testa de alguém. Senti uma brisa diferente passeando pela palma da minha mão direita.
- Tira ele daí porra! Ele vai matar o cara – gritou alguém. É, realmente ele não era tão forte como eu tinha pensado.
- Claro que vai, Fernando. Um amor tórrido que nem esse traz coisas boas, por incrível que pareça. É um aprendizado. Você vai se sentir mais seguro e quando a pessoa certa aparecer, tudo isso vai estar no seu inconsciente. Depende de você saber escolher o homem que vai te trazer mais tranquilidade. O importante agora é você se dar um tempo, porque pelo que me contou, são três namoros em seis anos! Você só tem 22 e o que eu percebo é que tem conflitos amorosos de uma mulher de 40!
Eu ri. O Dr. Nelson conseguiu identificar a ferida, mas não encontrou a causa dela. Namorei três caras em seis anos. O primeiro, o Luís, viajou comigo pra Argentina. Lembro que guardei cinco meses do meu salário de estágio pra conseguir acompanhá-lo com a família dele. Lá, ele teve vergonha de dizer pra mãe que estávamos juntos. Brigou comigo porque eu ficava “dando pinta” e o pai dele perguntava se eu era veado. Mandei ele se foder assim que pisamos no Brasil.
O segundo, Matias, foi o pior de todos. Comeu o meu primo na minha própria festa de aniversário. “Comi ele porque você fica com frescura e não me deixa gozar dentro”. A única coisa que o Matias conseguiu nesse dia foi viver a maior humilhação da vida dele. Chamei todo mundo: amigos e tios pra ver ele e o Júnior trepando que nem dois cachorros do lado do meu guarda-roupa. “Oh Senhor! Júnior, pensei que você tinha parado com isso!”, ouvi minha tia dizer pra ele enquanto entravam no carro pra ir embora. A reputação de “ex-gay” do Júnior se escondeu perto da minha escrivaninha nesse dia.
Já com o Renan, não sei o que aconteceu. O sexo era bom, a gente se curtia, ouvíamos música bebendo juntos, dormíamos nus. Depois que tudo acabou, concluí que o único problema era ele ser bonito demais pra mim. Odiava qualquer tipo de olhar longo por parte dos outros. Boate gay então, gerava briga pra uma semana inteira:
- Eu tô com você Nando, para de ser idiota, não aguento mais isso mano! – sussurava ele de madrugada pra não acordar os pais.
- Eu sou o idiota? Você deixa o cara beber no seu copo e não faz nada?! O único babaca aqui é você! Devia pegar uma herpes pra deixar de ser otário! – gritei.
- Cala essa boca e fala baixo! – Ele gritava e apontava o dedo na minha cara. Os olhos cor de mel dele se escondiam por debaixo de um vermelho furioso. Sentia receio dele me bater, mas ficava extremamente excitado.
- Vai fazer o quê? Vai chamar sua mãe que nem semana passada? Vê se cresce! – disse. Arremessei o meu celular com força. Ouvi o aparelho batendo contra algum osso. Tenho certeza que doeu bastante.
- Filho da puta! Acertou minha cabeça! Aaaai! – Colocou a mão acima da testa.
Esfregando um dedo na ferida, esbravejou:
- Olha o que você fez! Tá sangrando! – gritou assustado.
- Eu te odeio! Não quero mais olhar na tua cara! – falei pegando uma camisa e o celular caído no chão.
- Você não vai embora! Vou contar pra mamãe quem é o doido dessa história! – disse ele, me agarrando. Ele me envolveu com força e eu só conseguia gritar. Caímos no chão.
- Me larga! Quero ir embora daqui!
- Você não vai, tá ouvindo? Tô cansado dessa tua loucura e você vai aprender...
Ele estava só de calça jeans como eu. A ferida na testa já sangrava bastante. Tenho algum fetiche com testas, pensei. Eu me debatia, mas ele era mais forte. Conseguiu me imobilizar prendendo minhas pernas com as dele e separou meus dois braços. Ele estava em cima de mim, pesado, tirando todo o meu fôlego.
- Para, eu tô sem ar! – falava. Eu não conseguia me mexer. De repente, ele era o dono da situação. Aquele abdômen liso, magro e bronzeado esquentava o meu corpo. Sentia medo, mas confiava nele. “Você vai aprender a me respeitar”, sussurrou aproximando a boca dele na minha. Em seguida, ele me beijou. Um beijo diferente. Rápido, furioso. Sentia a língua vagando na minha boca inteira. Uma língua quente e gostosa. Correspondi. Lá embaixo ele se remexia. Nossos paus brincavam no mesmo ritmo do beijo. Ele não me largava e tentava cavar a língua mais fundo da minha boca. Saliva.
- Vira de costas! – ordenou.
Virei e quando ia me apoiar com as mãos no chão, ele pegou meus braços, colocou-os pra trás e me fez cair de cara no piso.
- Você não vai ficar solto hoje – murmurou, segurando os meus pulsos me deixando de quatro.
Meu jeans estava um pouco apertado, mas mesmo assim ele conseguiu arrancar sem tocar em num único zíper. Abaixou a minha cueca e voltou a prender meus pulsos. Ele estava em toda a parte e eu me deixava levar. Beijou o lado direito da minha bunda. Senti aquela área ficar mais fria com a saliva e o vento do ar-condicionado. Depois beijou a outra. Em seguida, invadiu meu cu com a língua. A língua dele era gostosa e alternava entre os níveis “forte” e “médio”. Eu me contorci. Ele sabe o quanto é bom nisso. Me trazia mais ainda para si e tentava me foder com ela. Eu ajudei. Me empurrava para trás e gemia como uma puta. Aí ele começou a fazer algo que nunca fez antes.
- Aaaaai! – gritei ao sentir um tapa.
- O que foi? Eu disse que você ia aprender... – respondeu ele, voltando àquele delicioso cunete.
E ele continuava. Em cada tapa eu sentia uma ardência maior na bunda. Era o castigo mais incrível que já havia recebido. Tentei pegar no pau dele. Em outras ocasiões, eu faria um boquete depois dessa parte pra seguirmos pro anal. Foi aí que ele me surpreendeu de novo:
- Você não vai tocar em mim, ok? – falou como se dirigisse a uma criança.
- Por que?
- Porque você não merece! – falou, cuspindo na mão.
Analisei a situação e senti medo. Ele estava sem camisinha e o olhar dele me assustava agora. Achei que fosse brincadeira, algo do tipo. De repente, ele tirou o pau da cueca. Um pedaço de madeira com a ponta rosa. Veias saltavam. Quando ia protestar, ele voltou a me prender, dessa vez caindo por cima de mim.
- Me solta! – gritei, em pânico.
- Você não vai sair daqui enquanto eu não terminar, entendeu? – sussurrou dentro do meu ouvido com um tom ameaçador. Aquele não era o Renan.
Como um foguete, ele enfiou aquele pau duro dentro de mim. Uma dor descomunal me invadiu. O cuspe não lubrificou o bastante e ele passou a gemer como um cafajeste.
- Ah caralho! – gritava, enquanto bombava com toda a força.
- Pelo amor de Deus, Renan, para com isso! – protestei, tentando me livrar. Ele segurava minha cintura e suas mãos pareciam ter se grudado ali. Preciso sair, pensava.
Ele se mexia com mais força e eu já havia perdido as minhas. Me entreguei naquele beco sem saída. Ajudava ele a meter ainda mais fundo, sem me preocupar. É bom. Vendo meu interesse, ele tirou o corpo de cima. Me colocou de quatro.
- Arrebita! – ordenou.
Estava aberto só pra ele. Voltou a foder como um cachorro no cio. Dessa vez tudo fluía. Gostava de sentir o pau dele indo e voltando, me deixando ainda mais arrombado. Sabia que era grande desde quando vi o volume na sunga naquela festa, lembrei. Ele parecia estar feliz, apesar de ter se prendido em outro mundo onde preservativos não existem. Tudo ficaria bem agora. Voltaríamos a curtir a vida e ele iria perceber que não pode encontrar um sexo desses em lugar nenhum. De repente, o pau dele criou vida. Evoluiu.
- Aaaaaaaaahhh porra! – gritou.
- Tira! – falei.
- Agora nãaaa aaaaaaaahh – gemeu. O sêmen dele entupiu meu ânus. Lembrei do Matias. Lembrei do Júnior. Do guarda-roupa. Ele caiu sobre mim, suado. Estava exausto. Eu também, tanto que não me virei. Ficamos assim durante dois minutos. Ele respirando no meu pescoço e eu fingindo aguentar o peso dele. Sinto algo molhado escorrer pelo meu ombro. Vou precisar limpar esse sangue. Toquei na gota que escorria. Não vinha da testa.
- Desculpa – murmurou.
Hã?!
- Vai dar tudo certo... – falou gaguejando.
- Como assim? – perguntei, com o maior calafrio que já senti.
- Você precisa ir num hospital agora! – desabou em choro.