Três Formas de Amar - 37

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 3916 palavras
Data: 27/02/2015 23:40:02
Última revisão: 27/02/2015 23:44:13

Três Formas de Amar – Capítulo 37

“Padrinho?”, olhei surpreso para Sílvia, que sorria para mim.

- Isso é serio?

- O que? A parte que tô grávida ou que você vai ser o padrinho? – ela gargalhava.

Levantei-me para lhe dar um abraço apertado, parabenizando-a.

- Porque acha que não estou bebendo cerveja e sentei do seu lado?

Rimos juntos.

- Que notícia maravilhosa! Vocês merecem muito!

- Já estou com três meses. E estamos achando que será um menino. Tinha que escolher logo alguém responsável o suficiente para dar juízo para a criança, caso o pai fique surtado!

Rodrigo também estava abraçando Beto, felicitando-o:

- Isso não vale! Agora ninguém vai sentir a minha falta.

Todos na mesa pareciam bastante animados. Ao longo da noite, Rodrigo começou a explicar melhor sobre o processo da mudança que as pessoas estavam tão curiosas em saber. Malu percebeu o meu aparente desânimo e ficou conversando comigo durante boa parte do jantar. Já estava tarde quando resolvemos partir. Tinha combinado com o ruivo de ajudar a arrumar as bagagens e leva-los ao aeroporto pela manhã. Comecei a me despedir de todos e novamente, agradeci a Beto e Sílvia por me convidarem a fazer parte da família.

- Você sempre fez, e sabe disso – ele disse convicto de ter feito a escolha certa.

...

Quando encontrei as malas abertas em cima do sofá, não consegui esconder uma tristeza evidente. Malu já estava com a bagagem pronta, afinal estava só de férias. Entendeu que precisávamos de espaço, agradeceu a hospitalidade e foi dormir.

- Já falou com o dono do apartamento? – questionei.

- Já sim, o mês já estava pago e a multa não era tão alta. Mas preciso voltar aqui para devolver as chaves, pegar a documentação, essas coisas chatas. A mobília é toda dele.

- Entendi. Falta muita roupa?

- Não Lu... Só não fechei as malas ainda pra não correr o risco de deixar alguma coisa de fora. Amanhã de manhã eu fecho.

Aquela pilha de roupas estava me deixando desconcertado. Talvez não tenha sido uma boa ideia ter oferecido ajuda.

- Vem, vamos lá pro quarto – ele completou me puxando pela mão.

Rodrigo fechou as portas dos armários vazios, enquanto me olhava tentando decifrar o que eu estava pensando. Na verdade, buscava uma teoria em minha mente que pudesse explicar a possibilidade de haver tanta tristeza e alegria em um único dia.

- Tá tudo bem lá na agência? – ele me acordou, tentando puxar assunto.

- Tá sim, tudo na mesma. Aguardando uma resposta pra ver se consigo viajar para a França.

- França? – ele me olhou surpreso – Como assim?

- Não tive a oportunidade de te falar, era muita coisa acontecendo. Uma campanha minha é uma das finalistas no Festival de Cannes...

- Caralho Lu, que sensacional!

Rodrigo veio me abraçar, e aquele contato significava um mundo de coisas para mim.

- Você tinha que ter contado! Já pensou isso no seu currículo? Se ganhar então, você entra em qualquer agência – ele estava mais animado do que eu – Quem vai? Quando será?

- Eu, Antônio, Marcelo e Bruno. Mas nós teremos que bancar a viagem, a agência só dará a hospedagem. Será daqui a uns 15 dias, não sei a data exatamente.

- Seu colega vai ficar no mesmo quarto do Bruno?

- Não... Acredito que não – sorri.

Rodrigo passou a mão no meu cabelo, fazendo um carinho enquanto me admirava.

- Tô muito feliz por você, de verdade! Você merece demais.

Agradeci e voltei a repousar a cabeça no seu ombro. O silêncio reinava e só escutava a sua respiração lenta. Pouco tempo depois, voltei a encarar o seu olhar e segurando a sua camisa, comecei a puxar lentamente para cima, despindo-o. Repousei a minha mão no seu peito, tateando os seus pelos e as sardas que tanto prendiam a minha atenção. “Deus, como eu vou sentir falta disso”, fiquei admirando o seu abdome durante um bom tempo e Rodrigo parecia respeitar o meu momento.

- Sabia que eu te chamo de Zé Sarda nos meus pensamentos? – disse, voltando a fita-lo.

- Zé Sarda? – Rodrigo soltou uma risada sonora – Isso é um elogio?

- Mais do que você imagina – disse sorrindo.

Rodrigo se aproximou novamente, abraçando a minha cintura.

- Você vai se lembrar do que eu te disse? – ele olhava sério para mim.

- O que? – me peguei confuso.

- De que vamos fazer dar certo. Promete que vai se lembrar sempre disso?

- Vou me lembrar, prometo.

Seus braços voltaram a me apertar com força, querendo evitar que eu escapasse. Procurei a sua boca e embalamos em um beijo demorado, que se perdia no tempo. Paramos para recobrar o fôlego, e permanecemos em silêncio com as testas coladas.

- Dorme aqui comigo hoje? – Ele cochichou.

Fiz que sim com a cabeça. Rodrigo tirou a minha camisa, terminamos de nos despir e ficamos assim na cama, nos alimentando de calor, abraços e afagos.

...

Toda aquela força-tarefa para me animar era louvável, mas sabia que em determinado momento a minha consciência sentiria o peso da distância. Estava fazendo um grande esforço para não demonstrar isso ali, no aeroporto. Aproveitamos que ainda era cedo, e fomos tomar um café, antes deles embarcarem. Malu estava visivelmente irritada por voltar à sua rotina em Minas Gerais, e Rodrigo passava instruções de algo relacionado à sua mãe. Ficamos algum tempo conversando e quando o embarque foi anunciado, levei-os até a entrada.

- Nada de chororô hein? – Malu não deixava escapar uma piadinha.

Abraçamo-nos rapidamente e ele prometeu avisar assim que chegasse. Fiquei aguardando um pouco e recebi de longe outro aceno, com um sorriso no rosto. Assim começava a minha quarta-feira tenebrosa.

...

A caminho do trabalho, passei a não ficar pensando tanto na distância, e sim se tudo teria acontecido por conta da maldita regra da empresa. Luiza não teria sequer cogitado um plano se a empresa prezasse mais o talento do que a vida pessoal dos funcionários. E o fato de ninguém ligar a mínima para chefes e subalternos se pegando me irritava mais ainda. Tinha muita coisa errada acontecendo e acreditava que metade das consequências era por causa disso.

Cheguei mais cedo na agência e resolvi adiantar o que já estivesse na pauta, mas novamente me deparei com trabalhos medíocres. “Mas o que está acontecendo aqui?”. Aproveitei que estava praticamente sozinho na sala de criação e dei uma rápida olhada nos pedidos de criação que estavam na mesa de Antônio. Estava prestes a averiguar do que se tratava, quando fui surpreendido pela sua chegada:

- Fala Luciano, resolveu madrugar hoje? – ele não percebeu nada suspeito.

- Pois é, fui levar uns amigos no aeroporto e resolvi emendar uma coisa na outra – desconversei.

- Hum, saquei.

- Antônio, preciso te perguntar uma coisa séria – decidi tirar a história a limpo.

- Opa, manda!

Olhei para ter certeza que estávamos sozinhos e comecei a minha investigação:

- Você comentou algo com Bruno que eu sei sobre vocês? – tentei falar o mais baixo possível.

- Tá doido? Nem em pensamento! – Antônio arregalou os olhos – Porque, ele te perguntou alguma coisa?

- Não, na verdade não...

- De onde você tirou isso, Luciano?

- Sei lá, tô procurando alguma justificativa. Tem uns dias já que minha pauta tá cheia de trabalhos sem muita importância, coisas que geralmente ele deixa nas mãos dos estagiários.

- Você acha que é alguma retaliação dele? Ele não é disso...

- Eu sei... Acho que retaliação não é a palavra certa. Mas percebi que tem algo estranho no ar. Nem trabalhar junto a gente consegue mais. Ele colocou outro diretor de arte para ser a sua dupla.

- E sendo bem sincero com você, é de uma campanha bem grande. Já tem uns dias que a gente madruga aqui por causa desse trabalho.

- Tem alguma coisa errada, eu sei que tem – pensei em voz alta.

- Cara, conversa com ele. Vocês são amigos, certo?

-É, acho que vou fazer isso mesmo.

Agradeci e saí para tomar outro café, me dando por vencido.

...

Estava na cantina aguardando a máquina, quando escutei o celular apitar. Imaginei que era o Rodrigo avisando que tinha chegado, mas era um e-mail da agência de viagem, confirmando as duas reservas de voo para a França. “Finalmente uma boa notícia!”. Peguei o cappuccino e segui apressado para a sala de criação para avisar a Antônio, quando me deparei com Bruno atravessando a recepção. “É agora ou nunca”. Diminui a velocidade, até me encontrar com ele no caminho:

- Bruno, bom dia!

- Opa, bom dia Luciano, beleza?

- Tudo bem... – resolvi partir logo para o assunto – Será que eu podia levar um papo com você rapidinho?

- Claro! Quer ir pra sala de reunião?

- Pode ser, acho melhor.

Alguns passos depois, já estava acomodado, enquanto ele fechava a porta.

- É algo que eu deva me preocupar? – ele disse rindo.

- Não, espero que não.

- Então vamos nessa, pode falar.

Pensei rapidamente numa maneira de introduzir o assunto, mas nenhuma parecia realmente apropriada.

- Bom, na verdade são duas coisas. A primeira é que já esquematizei a viagem com o Antônio e recebi hoje a confirmação das reservas. Só preciso que você me confirme as hospedagens para eu fechar com a agência. Eles só podem segurar até amanhã.

- Maravilha! Vou almoçar com Marcelo hoje e já cobro isso dele, pode deixar. Fico feliz que vocês nos acompanhem.

“Feliz pela companhia, sei...”.

- E qual era a outra coisa?

- Certo... – ponderei por um breve instante – Bruno, eu vou ser bem sincero com você. Ultimamente tenho percebido que sou preterido em alguns projetos. Há um tempo que eu venho recebendo trabalhos um pouco irrelevantes. Está acontecendo algo que eu precise saber?

Bruno ficou pensativo, em silêncio. Prossegui:

- Eu sei que isso não é algo a ser conversado assim. Você é meu chefe, mas também acho que somos amigos e temos abertura para isso.

- Luciano, baseado em que você está me perguntando isso? – ele procurava achar uma brecha para me responder.

- Sei lá, antigamente trabalhava em dupla com o Antônio nas principais campanhas. Vejo que ele sempre está bastante atarefado, virando noite...

- Certo, entendi. Deixa eu te explicar. Está rolando uma campanha grande agora, realmente. Mas não te coloquei com o Antônio por uma solicitação do Marcelo.

- Como assim? É alguma queixa sobre mim? – não estava entendendo o rumo daquela conversa.

- Não, não existe nenhuma queixa. É um projeto da empresa que ganhamos a concorrência, a que Rodrigo é o coordenador.

Fui pego de surpresa.

- Não perguntei o motivo, mas acredito que ele esteja dando um tempo em relação àquele assunto, esperando a poeira baixar. Imagino que seja algo temporário – ele completou

Não queria acreditar que esteva sendo desprezado dentro da firma por esse motivo. Estava tentando encontrar um senso lógico naquele motivo, enquanto Bruno prosseguia:

- Não existe nenhuma queixa, Luciano. Acho que é mais uma preocupação mesmo. É um cliente muito importante para a empresa hoje. Dê um tempo, eu tenho certeza que a coisa vai melhorar, certo?

Não tinha o que responder. Agradeci por saber a verdade, me levantei e voltei à criação.

...

Encaminhei o email das reservas, pedi a Antônio para dar uma olhada na sua caixa de entrada e segui para o terraço para comer um sanduíche no almoço. Precisava entender se estava chateado, decepcionado, ou tudo junto. Queria ficar sozinho. Fiquei olhando o movimento na rua e senti meu celular vibrar no bolso. Era uma mensagem do Rodrigo:

- “Gigante, já cheguei viu?”.

- “Chegou bem? Deu tudo certo?” – respondi.

- “Não, tô bem mal. A viagem foi uma droga!”.

Já estava digitando uma resposta preocupada, quando recebi uma foto dele fazendo uma careta triste, com um breve complemento:

- “Você não está aqui...”.

Em qualquer outra situação, acharia meio fofo da parte dele. Mas naquele dia, depois de uma manhã tensa, aquela mensagem tinha mexido muito comigo. Respondi que ligava para ele à noite para conversar melhor, e voltei a me perder nos meus pensamentos. Estava irritado, muito irritado.

...

Passei o resto da tarde bastante impaciente, vendo uma grande movimentação na agência. Antônio me disse rapidamente que tinha lido o e-mail e estava empolgado, mas não tinha tempo para conversar naquele momento. Procurei entender e voltei ao trabalho. Tentei digerir todo o assunto da manhã, mas aquele clima me fez voltar uns dez anos na minha adolescência, quando era um estranho no ninho e ficava num canto da sala de aula. Sentia-me novamente como o excluído do grupo, e uma leva de sensações ruins começaram a aflorar. Queria gritar e passei a ficar estranhamente nervoso.

“Não, você não vai jogar anos de terapia no lixo. Lide com isso!”. Olhei ao redor e perguntei por Bruno. Ele estava na sala de reuniões, alinhando pautas com o atendimento. Segui novamente ao seu encontro, precisava falar tudo o que eu pensava. Aguardei pacientemente ao lado da porta, já criando todo um discurso na mente. Pouco tempo depois, as coordenadoras de setor saíram, deixando o meu chefe organizando alguns papéis. Era a minha deixa:

- Bruno, posso falar com você de novo, jogo rápido?

- Claro, entra aí! Você hoje tá demais hein? – ele forçou uma risada, juntando as folhas em cima da mesa – O que manda?

Procurei ser objetivo:

- Bom, eu vim avisar pra você que estou colocando o meu cargo à disposição.

Bruno parou e me olhou surpreso:

- Que viagem é essa, Luciano? Me explica essa história direito.

- Eu andei pensando em tudo que tá rolando, no que você me falou hoje, e acho que é o melhor caminho – disse me acomodando de forma desajeitada na cadeira.

- Como assim? Te disse que é uma coisa temporária. Você quer sair só por causa disso?

- Não é tão simples. Esse “só isso” é “tudo isso” pra mim. Passei por muita coisa ultimamente, e meio que entendi que a agência está atrelando o meu trabalho à minha vida pessoal.

- Não tô entendendo.

- Eu estive conversando com o Rodrigo e é muito possível que a gente volte a ter algo – omiti a maior parte dos detalhes – Logo, pela nossa conversa, o meu destino aqui é entender que eu não tenho para onde crescer.

- Cara, pensa bem...

- Eu já pensei, muito! – atropelei a sua fala – Construí boa parte de minha história como redator aqui, e sou muito grato a isso. Nunca me vi envolvido com problemas até os últimos acontecimentos. Basicamente, vocês pediram para eu fazer uma escolha, e eu acho que já abri mão da minha vida pessoal muitas vezes. Chegou a hora de pensar um pouco mais em mim. Prefiro ser sincero com você.

Bruno ficou em silêncio, pensativo.

- É isso, espero que você entenda – concluí.

- Velho, eu entendo. Fico triste, mas entendo. Você é uma das melhores cabeças da casa e se fosse por mim, as regras que se fodam.

“Eu sei, eu bem sei...”, pensei.

- Você sabe que eu terei que conversar sobre isso com Marcelo, né? – ele falava como um derrotado – Olha, vou te pedir uma coisa.

- Claro, pode falar.

- Não comenta com ninguém ainda, sem atitudes precipitadas, beleza? Vamos ver o que ele vai me falar sobre esse assunto e aí a gente conversa.

- Bruno, sendo bem realista, eu duvido que Marcelo faça algo a respeito – ele se surpreendeu com a minha franqueza – Mas não vou comentar, pode deixar.

Agradeci o tempo extra e prometi não incomodar mais. Saí da sala com um misto de receio e alívio. Precisava estar preparado para tudo.

Não consegui fazer mais nada na metade da tarde. Assim que anoiteceu, desliguei tudo e disse a Antônio que conversávamos depois. A caminho da recepção, escutei gritos na sala do Marcelo. Olhei para os lados e, me certificando que estava sozinho, me aproximei da porta, curioso:

- Aquele ingrato filho da puta pensa que é quem? – a voz do dono da empresa soava bastante exaltada – A gente dá a mão e ele quer o braço, que palhaçada!

Respirei fundo e segui para a saída. O destino do meu emprego já estava traçado.

...

Passei a noite com o celular desligado, pensando sobre os meus rumos profissionais, deitado no sofá. Senti-me desanimado, mas sabia que tinha feito a escolha certa.

Na manhã seguinte, sabia que estava seguindo para o abate, pronto para qualquer decisão. Assim que cheguei, me avisaram que Bruno estava me esperando na sala de reuniões. Tinha que seguir as formalidades da situação.

- Bom dia, Bruno! – entrei, agradecendo aos céus por ele estar sozinho.

- Bom dia Luciano, beleza? Senta aí, por favor.

Fiz o que ele pediu, aguardando.

- Então... Ontem no fim do expediente eu conversei com o Marcelo – ele parecia meio constrangido.

- Eu sei... – resolvi poupar o nosso tempo – Na verdade escutei alguns gritos quando estava saindo. Imagino o teor dessa conversa.

- Eu tentei te ligar ontem, mas não consegui.

- Tranquilo. Quando será?

Bruno procurava decifrar a minha frieza, mas foi direto ao ponto:

- Eles querem que você trabalhe até amanhã.

“Uau, o cara ficou puto mesmo!”, pensei.

- Não sei explicar todos os trâmites, até porque você tem alguns direitos. O pessoal do RH vai te chamar para falar sobre isso mais tarde.

- Tudo bem, eu entendo perfeitamente. Só queria saber se ainda existe a possibilidade de eu ficar com o convite para o festival, mesmo que eu banque todas as minhas despesas.

- O convite está no seu nome. Você é um dos responsáveis pela campanha e está inscrito. Não creio que ele fará alguma objeção quanto a isso. Acho que ele só estava de cabeça quente mesmo – Bruno procurou minimizar o teor da reunião.

Consenti, já pensando em confirmar a viagem, antes que Marcelo pudesse mudar de ideia.

- Luciano... – ele titubeou – Eu queria fazer mais por você, te considero um puta profissional.

- Relaxa Bruno, você fez até demais. Eu sabia dos meus riscos e saio de cabeça erguida. Obrigado por tudo.

Dei um breve aperto de mão e segui para a minha mesa, o meu dia estava só começando. Não levou muito tempo para receber um chamado do pessoal do setor financeiro. A essa altura, o burburinho sobre a minha demissão já estava rolando, e as pessoas não conseguiam evitar o choque no olhar. Explicaram sobre o valor que iria receber e confesso que fiquei surpreso com o número alto. Aviso prévio, férias vencidas, décimo terceiro, era coisa pra caramba. Imaginei que a empresa não quisesse criar problema quanto a isso, para não correr o risco de ter toda a minha situação virando notícia. Quanto a isso, não tinha do que reclamar.

Na hora do almoço, seguia novamente para o terraço, quando fui puxado pelo braço por Antônio, me levando para um canto do corredor externo:

- Que porra é essa, você tá louco?

- Sossega, Toneco – ri timidamente – Aconteceu o que precisava acontecer. Não dá pra abrir mão do que me faz feliz.

- Vocês voltaram né? – ele fez uma cara inquisidora.

- Quase isso.

Ele entendeu a frase pouco reveladora.

- Mas que droga! Isso aqui vai ser um saco sem você, cara.

- Você vai superar, eu tenho certeza. Aliás, você tem muita coisa para se manter ocupado.

Rimos juntos, e ele resolveu me acompanhar no lanche ao ar livre. Aproveitei o tempo ocioso e comecei a burocracia pessoal. A primeira pessoa que soube foi minha mãe. Expliquei que estava tudo bem, apesar de perceber certa preocupação nas mensagens que ela enviava. Prometi que ligava para ela no fim de semana para explicar melhor toda a situação. Em seguida, Rodrigo. Tinha certeza do que iria acontecer, e não demorou muito para o meu celular começar a tocar. Pedi licença a Antônio e me afastei para atender:

- O que houve? Você tá bem? – ele parecia um pouco aflito.

Já tinha o texto pronto. Esclareci toda a história novamente, mas ele não parecia acreditar.

- Que droga, Lu! Que cara escroto!

- Te juro, eu tô realmente ótimo, pode ficar sossegado.

Rodrigo fez um pequeno interrogatório, cheio de perguntas e muito inquieto. Procurei ser paciente em responder cada uma delas, afinal, agiria da mesma forma se a situação fosse inversa. Combinamos de conversar melhor à noite sobre o ocorrido.

De volta ao trabalho, Bruno me chamou à sua mesa, juntamente com Antônio:

- Toma... – me entregou um papel – A saideira pra minha dupla favorita.

Era um pedido de criação, para uma das peças da empresa de Rodrigo. Não escondi um sorriso no rosto e esbocei um abraço nos dois. Passei o resto do dia discutindo ideias e relembrando momentos engraçados da nossa rotina na agência. O dia, enfim, não estava sendo tão ruim assim.

...

Assim que cheguei, liguei novamente para Rodrigo. Ele estava totalmente focado em procurar uma solução:

- Não se preocupe, a gente vai dar um jeito.

- Acredite, eu não tô preocupado. O dinheiro que eu vou receber vai dar pra segurar a onda durante o mês.

- E a viagem? Eles falaram alguma coisa?

- Vai rolar. Bruno me garantiu que o convite estava de pé.

- Menos mal. Você falou algo a Marcelo sobre eles dois?

- Não, claro que não. Não é um direito meu. Eles sabem do risco que estão correndo. Eu tenho a minha consciência limpa.

Expliquei para ele toda a longa conversa que tive e tudo o que passou pela minha cabeça antes de tomar a decisão.

- Vamos esquecer os problemas – ele procurou me animar – Me passa o seu currículo. Tenho alguns contatos em Salvador e posso encaminhar para eles. Agora é bola pra frente.

- É, eu sei. Preciso dar uma atualizada no meu portfólio. Colocar alguns trabalhos mais recentes, ele está parado no tempo.

- Eu posso te ajudar. Enquanto eu passo esses e-mails para sondar o mercado, você vai separando algumas peças publicitárias que criou.

Seguimos conversando durante horas, sobre trabalho, saudades e futuro. Quando desliguei, já era tão tarde que acabei adormecendo com o celular no colo e a roupa do trabalho.

...

No dia seguinte, logo cedo, atualizei o currículo e mandei o e-mail prometido para Rodrigo. Na agência, fiz o mesmo com Bruno, que queria enviar para alguns conhecidos do meio. O dia passou rápido e no fim da tarde, o pessoal fez uma festa de despedida surpresa na cantina, me deixando completamente sem jeito. Marcelo não deu as caras, mas não me importei. Recebi muitos abraços e ficamos jogando conversa fora, aproveitando os comes e bebes que todos se juntaram para comprar. Depois de muito insistirem, resolvi fazer um breve discurso:

- Galera, eu não tenho palavras para descrever o quanto vocês são importantes para mim. Não fazia ideia de que era tão querido e vou levar isso para a minha vida. Agradeço por tudo e desejo o melhor a vocês.

No fim, até o porteiro do prédio se juntou à farra. Mais do que um curto happy hour ou uma simples despedida, a noite mostrou o quanto a turma do trabalho era unida, apesar de todos os problemas típicos desse tipo de ambiente. Antes de ir embora, recebi um cartão assinado por todos, com desejos de boa sorte. Foi uma reunião inesquecível.

...

Cheguei ao apartamento exausto e, assim que abri a porta do elevador, me assustei com um aviso preso na porta: “Parabéns, você está livre”. Antes que pudesse imaginar como aquilo tinha ido parar ali, tomei um susto com uma voz sussurrando atrás de mim:

- Pronto para comemorar a alforria?

(continua)

...

Oi pessoal, cá estou novamente! Que difícil foi escrever esse capítulo. Peço desculpas se ele soou repetitivo ou cansativo demais, mas ele englobou um momento delicado da minha vida e tentei resumir ao máximo tudo o que aconteceu. Espero que gostem! Queria muito agradecer todos os votos e comentários feitos no capítulo anterior.

MarceloVeloz, Afonsotico, KaduNascimento, B Vic Victorini, Enailil, Pablo Rick, Docinho, Talys, Irish, Guigo1 e todos que seguem firmes acompanhando, saibam que esse retorno me empolga cada vez mais. Muito obrigado! Não vou ficar dando muitos detalhes do meu momento atual para não estragar a reta final da história, certo? Até o próximo capítulo! Abração!

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Comentários

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Leio muitos contos por aqui e vocês são um dos poucos que sou simplesmente apaixonada de coração torci muito para fazerem as pazes e agora torço para que fiquem juntos no final.....

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Ah , gostei mt mesmo kk

To super ancioso pelo prox

Só não diz que essa voz é do Marcelo por favor 😂

Seria muita cafagestagem !

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ieiiiiii..... adorei esse cap, gostei da sua "fibra" hehe... eu mandava o Marcelo para aquele lugar rs...

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Amei como sempre! Fiquei curioso rsrs... Bom, aguardando ansiosamente... Bjos...

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Sera o Rodrigo? Tomara que sim! Que fiquem juntos.

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Não sei como vc esta hoje e tbm concordo que a resposta vc deve deixar pro conto, mas achei sua saída num bom momento, vc pode colher frutos doo seu trabalho nela e conseguir fácil um outro local (espero que próximo ao Rodrigo), vou estar aqui até o fim do conto. Vc tem algum email ? Eu quero tirar uma dúvida mais profissional, se vc puder mandar...

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Amei! Um dos melhores relatos da casa. Sempre estou acompanhando! E tenho certeza que Rodrigo está na área para uma visita surpresa, hahahaha. Abraços!

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