“Tristeza e redemoinhos me esfriam por dentro como neve
Eu congelei o único irmão que eu jamais terei
Não há nenhuma maneira que eu possa ganhar
Mas eu queria estar com ele há muito tempo
A vida é muito curta”
2015 – Daniel Torintho
Não pode ser... Ele está mentindo, meu pai jamais faria isso!
_ Sai daqui, Fábio! _ Eu grito.
Mesmo acreditando que era mentira, eu estava chorando muito.
_ Por favor, não faça assim. Por favor, não conta pra ninguém isso! _ Ele me pede.
Ele vem me abraçar, mas eu não deixo. Ele insiste e eu acabo cedendo, sei que não deveria, mas depois de ouvir que meu pai tinha traído a minha mãe e depois renegado o próprio filho, eu estava um caco.
_ Desculpa, desculpa por tudo! _ Ele me pede e me beija a cabeça.
Eu estava confuso, Fábio era meu irmão? Agora eu entendi tudo. O porque eu queria tanto seu afeto, porque seu abraço e seu cheiro me era tão familiar... Porque me lembrava meu pai. Como eu pude ser tão idiota?
Estavamos molhados, ele parecia estar chorando. Não sei quanto tempo estávamos abraçados, mas eu não podia deixar aquilo continuar, ele ia pensar que eu tinha o perdoado e isso não tinha acontecido.
_ A gente conversa mais tarde, agora temos que encontrar o acampamento! _ Eu digo tentando levantar, mas sinto uma dor grande no tornozelo, me desequilibro e quase caio.
_ Calma, eu te ajudo. _ Fábio diz enquanto me segura.
_ Ok. _ Respondo sem mais alternativas.
Quando chegamos ao acampamento percebi que fomos os últimos a chegar, Pietro estava de costas para mim e falava alguma coisa para Karol, ele andava de um lado para outro e coçava a cabeça. Ele sempre fazia isso quando estava preocupado, me lembro da vez em que o avião caiu e ele pensou que talvez o pai dele estivesse dentro. Ele começou a fazer a mesma coisa.
_ Olha ele lá! _ Vejo Karol falando.
_ Graças a Deus! _ Pietro diz vindo na minha direção.
Ele me abraça forte e eu quase desabo. Fui o centro das atenções... de novo. Senti que já estava todo mundo cansado de mim, mas até eu já me sentia cansado comigo mesmo. Olharam meu pé, mas falaram que eu só tinha de descansar. Eu e Pietro ficamos na mesma barraca e eu decidi que era essa noite que eu ia contar tudo para ele.
_ Pietro. _ Eu o chamo.
_ Oi? _ Sinto que ele olha para baixo, eu estava deitado sobre o peito dele.
_ Lembra aquela vez que você não conseguia sentar direito, falava para todo mundo que era desconforto estomacal, mas quando eu perguntei você disse que na verdade estava com uma espinha no... bumbum?
Sinto que ele corou.
_ Lembro, por que?
_ Não foi constrangedor? Você não teve receio de falar?
Ele sorri e responde:
_ Sim e não... Eu confiava em você, sabia que não ia espalhar por aí.
Respiro fundo, é agora.
_ Eu também tenho uma coisa para te contar, assunto que não pode ser mais adiado.
Ele não fala nada.
_ Eu não te contei antes, não porque não confia em você, mas porque sentia vergonha e medo de que alguma coisa mudasse entre nós. Tá me entendendo? _ Pergunto para ver se ele estava me ouvindo, ele estava tão quieto que eu pensei que ele estava dormindo.
_ Tô sim, pode continuar.
_ Há quatro anos atrás eu fui estuprado.
Ele não falou nada e ficamos em silêncio por um tempo, não consegui conter a primeira lagrima.
_ Eu já esperava que fosse isso!
Vejo que sua voz saiu diferente, então eu ergui o rosto para cima e vi que ele estava de olhos fechados e estava chorando também.
_ Quer que eu saia da barraca? _ Digo erguendo meu corpo.
Ele me puxa de volta.
Espera... Ele disse que já imaginava?
_ Como você já imaginava? _ Eu pergunto.
_ Seu medo de ir ao banheiro da escola, seu medo de fazer sexo, mas eu só consegui juntar as peças quando você saiu da sala para vomitar quando o professor passou Código de Conduta. _ Pietro me abraça cada vez mais forte.
_ Então por que você parece tão triste, se já sabia não deveria ficar assim.
_ Uma coisa é imaginar, outra é você ter certeza. _ Ele beija minha testa. _ Eu te amo tanto que só de imaginar alguém fazendo mal a você me dá um desespero.
_ Eu amo você, amo muito! _ Digo chorando, não por estar com vergonha, mas por estar ao lado de alguém que ama de verdade.
Dormimos abraçados e na manhã seguinte logo cedo voltamos para cidade, o clima estava ruim e o reitor decidiu que a excursão poderia ser feita no início do segundo bimestre.
A noite já em casa estava tomando meu banheiro tranquilo quando ouço um barulho no meu quarto. “Não deve ser nada...” “A menos que...” Não, não podia ser. Eu tinha certeza que tinha trancado a janela dessa vez. Mas eu estava certo, lá estava ele de calça jeans e uma camisa regata vermelha. Olhava para os meus porta-retratos com a mão no bolso.
_ Como você entrou aqui? Eu tranquei a janela! _ Sussurro em um tom alto.
_ Trincos de janelas não são páreos para mim. Ninguém é páreo para mim. _ Ele solta aquele sorriso sínico que só ele tem.
_ Se você não sair eu juro que grito e jogo tudo no ventilador.
_ Té parece! _ Ele diz com desdém.
_ Eu sei que a ideia daquilo tudo foi sua, você ameaçou meu irmão e... _ Eu tinha falado a palavra irmão sem querer.
Vejo o sorriso de Charles desaparecer, ele vem na minha direção e segura meus braços com força.
_ O que aquele desgraçado te falou? _ Ele estava com muita raiva.
_ Tudo! Tudo o que você fez. Que você é realmente um demônio sem um pingo de sentimento e amor ao próximo!
_ Amor é fraqueza, anjinho! _ Ele diz recolocando aquele sorriso imbecil na cara dele. _ Como foi descobrir um irmãozinho novo? Já brincaram e riram bastante?
Eu não acreditava que ele podia ser tão... Eu não consigo encontrar um adjetivo para ele.
_ Não, vocês nunca vão conversar direito porque sempre vai haver magoa aí dentro. Eu ganhei essa. Eu queria ficar mais, mas tenho coisas a fazer agora.
Logo depois que ele pulou a janela, Karol bateu na porta do meu quarto e ficamos conversando amenidades até tarde.
No dia seguinte estávamos todos juntos: eu, Pietro, Karol, Junior, Ricky e Pentelha. Antes de bater o sinal nós vemos um movimento no portão.
_ Qual é daqueles doidos lá? _ Pentelha pergunta e já vai pra cima.
Fomos atrás dela e antes de chegar no portão ouvi um comentário que fez meu coração acelerar:
_ Um carro passou em cima do Binho, ele tá muito machucado!
Só isso bastou para eu começar a correr, trombei nos outros e abri caminho como pude. Ouvi gritos atrás de mim, mas só desacelero quando o vejo, Gus estava ao seu lado. Corro até ele e o pego em meus braços, eu sabia que era perigoso, mas não estava pensando em nada claramente.
_ Me desculpa... Eu sinto muito mesmo! _ Ele diz antes de fechar os olhos.
Começo a chorar e quando eu olho para o lado vejo Charles encostado em um poste com aquele maldito sorriso em rosto. Tive certeza de que havia sido ele. Alguém tinha que pará-lo e esse alguém seria eu!
“A vida é muito curta
Para ser um completo bobo
Tão burro que não podia ver
Que vida é muito curta para ficar desesperado em ser amado
E não ver que eu só pensava em mim
Eu desejaria ver as coisas com clareza
Mas não posso voltar
E agora, tudo o que eu sei é a vida é muito curta”
(@Comentarios)
Boa madrugada pessoal, bora responder a alguns comentários: IceWolf a história é baseada em fatos reais, mas eu só sei a superfície da história então para ter mais detalhes eu tenho que inventar, eu estou em dúvida quanto ao final porque eu quero escrever algo que eu vá me sentir bem depois, porque o final real eu detestei e vocês também vão, continue acompanhando querido.
David Ross, o dito cujo era um verdadeiro Lúcifer, ele não era parecido com nosso loirinho divo, acho que ele era um pouco maior, era mais másculo sabe? Não sei explicar direito, mas ele é do tipo de pessoa que enrola facilmente.
Chacon Bebe, não me esqueci de você. Eu ainda não agradeci pela comparação que você fez ao meu conto, chocolate? Adoro chocolate e me agrada saber suas opiniões. Na verdade eu adoro ler cada comentário que postam, desde os mais simples aos mais completos. É gratificante e me ajuda a saber as opiniões de vocês.
Marcos Costa, nem pergunte só leia rs. Continue acompanhando!
Sr. Critico, Antheno, B Vic Victorini, M/A, Kayo Barbosa, P.G e Lukas estou anotando a sugestões de vocês. Vou tentar fazer algo "Tarantino" de ser. Perceberam alguma semelhança entre os nomes? (Se não entenderam o que eu quis dizer assistam ao filme: Kill Bill, é um ótimo filme sobre vingança)
DAVID estou feliz que esteja gostando, continue acompanhando garoto.
Geomateus, decidi diminuir o tamanho do conto um pouco, para postar mais, estou com medo do conto acabar rapidinho e eu estou curtindo ficar com vocês.
Então acho que é só, see ya!
p.S.: o infeliz do Binho morre ou não morre? rs Veremos no próximo capitulo!
p.S.2: a letrinha do começo e do fim do conto é da música Life too short (Reprise), uma canção deletada do filme Frozen, amanhã eu coloco a versão original no blog: http://danieltorintho.blogspot.com.br/.