Parte V - Como estragar uma festa
- Cara, já te falei, relaxa, é só uma festa!
A cada passo que dávamos na direção do clube o Danilo tremia mais. Eu também estava meio nervoso, mas aquilo estava passando dos limites. Estávamos quase na porta quando...
- AINDA BEM QUE VOCÊS VIERAM!
Andressa gritou bem atrás da gente. Eu me virei num milésimo de segundo, com o coração acelerado. Danilo pulou e soltou um grito tão alto que todos viraram para olhar para nós.
- Meu Deus, por que vocês estão tão assustadiços? - Andressa falou, se segurando para não rir.
- VOCÊ FICOU LOUCA?! QUER ME MATAR DO CORAÇÃO?! - Danilo gritou.
Não consegui me segurar e comecei a rir. Muito. Era quase um ataque histérico. Logo Andressa estava rindo também, quase tão descontroladamente quanto eu, e Danilo, depois de alguns segundos que levou pra se acalmar, começou a rir também, embora mais calmo. Depois de um minuto, nos recompomos e seguimos para a festa.
- Veja o lado positivo, Danilo, pelo menos você não está mais nervoso - lembrei a ele.
- Alguma coisa boa tinha que sair disso - ele falou, sorrindo.
- Parem de tagarelar e vamos logo! - Ela nos puxou pelos braços, fazendo com que fôssemos mais rápido.
Parei para reparar um pouco nos dois. Danilo estava com uma calça justa, um tênis preto e uma camisa azul gola polo. Estava até bonitinho, com o cabelo claro meio espetado. Ele tinha cara de mais novo, que contrastava com o corpo levemente desenvolvido. Percebi que, nesse aspecto, nós até que nos parecíamos um pouco, embora ele fosse mais alto e mais forte. Já Andressa estava com um vestido vermelho que ia até metade das suas coxas e deixava seus braços descobertos, estava com o cabelo solto, e tinha uma pulseira em forma de cobra no meio do antebraço esquerdo. Estava muito bonita.
Na entrada havia duas filas, então paramos, sem saber qual tomar. Um cara que estava por lá, orientando as pessoas, nos perguntou se éramos calouros e, então, nos orientou a tomar a fila da direita, que estava bem menor, aliás. Mostramos nossas identidades a um garoto que segurava uma lista, e, após conferir, ele liberou nossa passagem.
Já havia algumas pessoas lá dentro, das quais reconheci algumas de nossa sala, outras dos corredores da faculdade. Andressa logo nos puxou para perto de um dos grupos da nossa sala, com quem ela vinha puxando papo desde uns dias atrás. Sou meio lerdo nesses assuntos, mas até eu percebi que ela estava meio de olho num garoto do grupo chamado Bruno. E tenho que admitir, ela tinha bom gosto. Ele era alto, cabelo preto, olhos castanho-escuros, e era bastante musculoso. Reparei nele já no segundo dia de aula, mas nunca tinha conversado com ele.
Cumprimentamos todos lá e, enquanto Andressa puxava papo com Bruno e um outro garoto, eu e Danilo ficamos meio de lado, até que uma das garotas do grupo, Luiza, veio conversar com a gente. Ela tinha cabelos loiros e longos, e olhos castanho-escuros. Ficamos conversando por uns dez minutos, e observei que nesse pequeno período o lugar ficou quase completamente lotado. Até que houve um barulho no palco e, olhando para lá, vi o mesmo veterano que havia nos guiado no tour pela universidade.
- Alô, som! Tá funcionando? - Confirmando, ele continuou. - Bem vindos, calouros e calouras! É um prazer dar as boas vindas a vocês à nossa família. Hoje é um dia muito especial para vocês. É a primeira festa universitária, a primeira festa com seus colegas da faculdade, a primeira festa nessa nova fase da vida de vocês. Serão cinco anos de bastante estudo para vocês, mas também de bastante curtição com seus colegas e veteranos. E tudo começa aqui, hoje e agora! Por isso, é com muito carinho que organizamos esse evento, para que possamos nos conhecer melhor e nos divertirmos juntos, pela primeira vez de muitas que estão por vir. Então, declaro iniciada a 1ª Festa Jurídica do semestre. Podem botar pra quebrar!
Uma saraivada de aplausos e assobios se seguiu ao discurso dele. As luzes foram apagadas, deixando todos na escuridão por alguns segundos, e então a música começou, a batida fazendo as paredes tremerem, luzes coloridas encheram o ambiente e fumaça branca foi lançada dos cantos das paredes em direção à pista de dança. Várias pessoas foram para a pista, enquanto outras seguiram para os balcões onde serviam as bebidas. Andressa já começava a dançar logo onde estávamos e, quando olhei pra Danilo, ele parecia totalmente deslocado. Cutuquei a Andressa e indiquei ele com os olhos.
- Ok, vamos pegar algumas bebidas agora - disse puxando-os para o bar, e logo Andressa estava me ajudando a puxar o Danilo.
- Lucas, eu te disse, eu não bebo. A coisa mais forte que eu já bebi foi um copo de vinho.
- Tudo tem uma primeira vez! E você acha mesmo que eu vou deixar você ficar sem beber nada quando sua própria mãe autorizou? Nem em sonho!
Continuei puxando-o e logo estávamos lá. Vi enquanto Andressa pedia uma caipiroska para o atendente, e tentava me decidir sobre o que eu faria ele experimentar primeiro. Talvez algo mais leve, pra começar por baixo... mas talvez ele não gostasse e aí não quisesse mais sem nem dar tempo de ficar alegre. Bah, que se dane, decidi iniciar com força total.
- Cara, me vê duas doses de tequila por favor.
Andressa olhou pra mim, depois pro Danilo, depois pra mim, e deu um sorrisinho travesso. Fiz cara de quem não entendeu, fingindo inocência, e esperei até o atendente trazer, então pedi um pouco de sal e uma fatia de limão. Com tudo na mão, fui até Danilo, com Andressa logo do lado observando tudo, e dei a dose para ele.
- Ok, agora presta bastante atenção. É pra beber a dose toda de uma vez, e aconteça o que acontecer, não cuspa! A primeira vez pode ser forte, mas vale a pena - sorri e entreguei o sal e o limão para Andressa. - Coloca um pouco de sal na boca dele e um pouco de limão. Logo que ela terminar, tome tudo de uma vez, beleza? - Ele parecia desconfiado, mas concordou. - Ok, um, dois, vai!
Andressa colocou uma pitada de sal na boca dele e espremeu algumas gotas de limão também. Logo depois, levantei minha dose e, com ele me imitando, viramos de uma vez. Já conhecia a sensação, então recebi com alegria o calor rasgando a garganta, mas Danilo não reagiu muito bem. Ele ofegou, apertou a garganta e me xingou várias vezes, enquanto tossia. Andressa rolava de rir, e eu já a acompanhava. Depois que ele se acalmou, consegui convencê-lo a tomar outra dose, e lá fomos nós de novo, e dessa vez ele reagiu melhor. Falei para darmos uma pausa e fomos para a pista de dança. Observamos um pouco as pessoas dançando e logo Andressa nos puxou para lá, então dançamos um pouco enquanto Danilo ainda aparentava estar meio deslocado.
Mas logo o efeito surgiu. Percebi quando ele começou a aparentar estar mais feliz, rindo de qualquer coisa, e até mais animado.
- Já tá sentindo, né? Te falei que a sensação era boa. - Disse, rindo dele.
- Cara, eu não sei porque eu não consigo parar de rir.
E lá fomos os três para o bar novamente. Dessa vez pedi uma caipirinha para cada um de nós, e Danilo bebia a dele com ainda mais facilidade. Logo eu e Andressa já estávamos levemente altos, enquanto Danilo estava totalmente alegre. Aí sim ele se soltou, e pudemos aproveitar a festa de verdade. Dançamos muito, nós três, e conversávamos com várias pessoas, muitas da nossa turma e muitas não.
Logo Andressa foi à procura do tal Bruno, e então ficamos eu e Danilo num dos grupos na pista de dança. Dançamos com várias pessoas, a maioria eu não me lembro, e, quando já estávamos cansados, fomos para um dos corredores menos movimentados, onde havia algumas cadeiras para as pessoas se sentarem, conversarem e descansarem. Nós sentamos e ficamos falando besteiras, rindo de idiotices.
- Ei cara, vou ali buscar mais uma bebida pra mim, quer ir lá ou vai esperar aqui? - Perguntei pro Danilo, que estava escorado na cadeira com a cabeça para trás.
- Acho que eu não posso beber mais nada hoje, certo? - Ele me perguntou, rindo.
- Absolutamente não. É sua primeira vez, se você beber mais vai acabar passando mal.
- Beleza então. Vai lá, vou te esperar aqui e ver se essa tonteira passa.
Rindo, saí de lá e fui na direção do bar. Pedi uma dose de vodka com energético e esperei enquanto preparavam. Peguei minha bebida e voltei por onde tinha vindo.
Estava passando por um canto quando um garoto surgiu do nada, e acabamos batendo de frente. Meu copo caiu para o lado, por pouco não me molhou, e eu cambaleei para trás e caí no chão. Tonto pela bebida e pela batida, pressionei minha testa no intuito de fazer tudo parar de girar, quando ouvi ele falando comigo.
- Cara, me desculpa. Você está bem?
