“De tanto levar frechada do teu olhar...” Tiro ao Álvaro, Adoniran Barbosa
Minha vida foi essa durante mais ou menos 3 anos. O único integrante da minha família que eu conversava e mesmo assim, as vezes, era meu irmão Marco. Uma vez por mês eu mandava uma mensagem dizendo que eu estava bem. Só.
Ele havia se formado e estava em uma grande empresa. Eu ficava feliz por ele. Ele estava noivo, ia se casar e ter uma família feliz. O sonho do meu pai. Arg.
Voltando ao meu inferninho que comumente chamamos de vida, no final do 3 ano de faculdade eu já havia me acostumado. Minha barba estava grande, meu corpo sarado por causa do trabalho braçal, minha mente afiada devido a tanto estudo.
Eu havia aprendido a tacar o foda-se. Eu aprendi a aceitar o meu destino. No começo eu me perguntava “por que eu?”. Nesse momento da minha vida, eu simplesmente aceitava.
Eu não acreditava no amor mais. Eu havia sido abandonado por todas as formas de amor. Pelo amor de amigo, pelo amor romântico e pelo amor de pais. Alguns deles foram culpa minha e eu aceitava isso.
Por não acreditar no amor, eu não namorei e nem amei nada e nem ninguém por muito tempo. Para não passar em branco, quando eu percebi que talvez sobrasse um dinheiro no fim do mês, eu me dei um presente. Um vibrador. Sempre que eu estava muito estressado eu pegava meu vibrador e ia para o banheiro. Essa eram minhas noites de sexo no inicio da faculdade.
No começo do quarto ano de engenharia, no ônibus que eu pagava para o trabalho, começou a aparecer um cara. Ele não era o cara mais lindo, sexy e charmoso do universo, mas chamava a atenção. Ele tinha uma barba e cabelos negros. Pele bem clara e sempre andava com uma roupa mais justa, que realçava seu corpo sexy. Tinha músculos, mas nada exagerado. Mas o mais impressionante eram os olhos azuis celeste.
Ele sempre ficava me encarando no ônibus. As vezes nossos olhares se cruzavam e ele dava um sorrisinho. Ele me chamava a atenção. Ele sempre me olhava quando eu subia ou descia do ônibus. Eu nunca tive a oportunidade de falar com ele. Até um dia.
Eu havia ganhado folga do serviço nesse dia pois a gente havia quebrado um recorde de manutenção de motores no mês. Era uma sexta feira e a noite teria uma festinha na empresa mesmo.
Eu sai de tarde para ir no shopping comprar umas roupas, que as minhas já estavam gastas. Quando eu entrei no ônibus, o tal cara do busão estava lá. E o melhor, tinha um lugar do lado dele.
Me apressei e senti do lado dele. Ele cheirava bem e eu, bem, cheirava a graxa. Ele me olhou de cima em baixo e falou:
- Eu não costumo te ver nesse horário no ônibus – Eu respondi:
- Eu não costumo pegar esse ônibus – Ele deu um sorriso e começamos a conversar.
Marcelo era muito gente boa! Ele estudava jornalismo na Unicamp também. A gente conversou até chegar no shopping D. Pedro. Descemos do ônibus e entramos no shopping ainda conversando.
- O que você veio comprar? – Ele me perguntou:
- Duas camisetas, um tênis e uma calça jeans. Se pá, um chocolate – Ele riu e me falou:
- Decidido você em...
- Meu amigo, com a renda que eu tenho, até a quantidade de arroz que eu como é medido – Ele riu e continuamos andando.
Comprei minhas roupas, ele comprou as dele. Tomamos sorvete, fomos ao cinema, involuntariamente. A companhia dele era agradável.
Foi chegando a tarde, comemos um sanduiche e fomos embora.
No ônibus de volta para casa conversamos mais ainda. Quando estava perto de eu descer no meu ponto ele me falou:
- Foi legal hoje! É bom fazer novos amigos.
- É sim. Tinha tempos que eu não me divertia.
- Sabe, você podia ir lá em casa qualquer dia desses.
- Meu amigo, eu saio da faculdade quase meia noite. Trabalho cedo. Só se eu dormisse lá! - E ri. Eu tinha dito brincando. Ele fechou a cara e me olhou.
- Você nunca teve uma ideia melhor. Vai lá e dorme por lá. Onde você trabalha? –
- Eletromotores Caimã – Ele riu.
- É duas quadras da minha casa. Vai lá em casa alguma noite. A gente pode se divertir ainda mais do que foi hoje – Ele repousou a mão na minha coxa e eu senti um arrepio subindo pela minha espinha. Como eu sentia falta de contato com um macho.
Desci do ônibus. Quando eu estava fora do ônibus que eu lembrei de pegar o contato dele. Ele só se lembrou depois também. Ele escreveu seu numero em um papel e jogou para fora do ônibus. Peguei o papel e já salvei no meu celular.
Sai todo alegrinho. Fui para minha casa, tomei um banho, fui na festa da empresa. Conversei com a galera, conheci algumas esposas, namoradas e tals. Muitos me perguntavam se eu não tinha namorada. Minha resposta era sempre a mesma: “Não tenho tempo para isso”.
Depois da festa fui para minha casa. Acordei no sábado cedo, estudei muito. Domingo eu tirei o dia para descansar. No domingo a tarde, mandei mensagem para o Marcelo.
“E ai. Quando que a gente vai se ver?”
“Estou em casa. Vem pra cá.”
Ele me passou o endereço, arrumei minha mochila com roupas para eu trabalhar no outro dia, peguei meu lubrificante, minhas camisinhas e fui.
Fui fantasiando uma foda gostosa no ônibus. Meu pau já estava duro antes de eu chegar na casa dele. Meu cu estava piscando. Desci no ponto, fui até a casa dele, subi as escadas e toquei a campainha.
Ele me atendeu só de bermuda, mostrando aquele abdômen magrinho e sexy. Ele me convidou para entrar, apertou firme a minha mão.
- Você chegou em boa hora! Entre!
Nos sentamos na sala. Ele estava assistindo um vídeo pornô hétero. Um cara com uma pica gigante arregaçava o cu de uma vadia qualquer. Ela gritava, gemia e o cara só socava mais forte.
- Cacete, eu não sei se teria coragem de enfrentar uma pica dessa no meu cu. Você teria? – Ele me perguntou com o olhar sexy. Achei estranho a pergunta. Até aquele momento ele nunca tinha falado da sua sexualidade. Eu sabia que ele era gay pelo jeito que olhava os homens bonitos de Campinas. E bem... por ser de Campinas.
- Eu? Acho que teria. Bom, eu ia sofrer. Mas não costumo correr de pica – Ele deu uma gargalhada. Ele me olhou no fundo do olho e perguntou na cara dura:
- A minha não é tão grande, mas se você quiser enfrenta-la, sinta-se à disposição.
Não pensei duas vezes. Cai de boca na vara do Marcelo.
CONTINUA.
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Galera, muito obrigado pelos comentários! Agradeço a quem se manteve fiel e continuou lendo e também agradeço a quem começou a ler agora e gostou!
A quem um dia me perguntou se o conto era real, deixo a seguinte frase:
"Claro que está acontecendo em sua mente, Harry, mas por que isso significa que não é real?" Alvo Dumbledore