- Eu não sei!!!! Nós estávamos brigando e ele apagou do nada. Ele estava gritando e de repente ele apagou. Eu não sei o que fazer Jujuba é tudo culpa minha. Vem logo pra cá.
Eu ouvia ele falar ao telefone quando eu estava acordando. Eu ainda estava no carro, mas nós estávamos na frente de casa. Eu saí do carro sem ele perceber, eu ainda estava meio tonto então fui andando que nem um bêbado. Quando ele percebeu que eu já estava acordado ele veio correndo ao meu encontro.
- Amor, tu estás bem? – Perguntou ele me abraçando com muita força, ele já estava chorando, DE NOVO! – O que foi que aconteceu? Tu estas sentindo algo? Vamos ao hospital agora!
- Licença, Thiago. – Falei me soltando dele – Eu só quero entrar em casa.
- Não fala assim comigo, tu sabes que eu não gosto quando tu me chamas assim. – De fato ele nunca gostou que eu o chamasse pelo nome completo, o “Thithi” surgiu quando eu era pequeno e não conseguia falar o nome dele, toda vez que eu encontrava ele, eu ficava falando “Thithi, Thithi”, acabou que meus pais começaram a chamar ele assim e o apelido perpetua até hoje.
- E tu queres que eu fale como? Ah, quer saber, não tô afim de brigar. Quero entrar em casa, me deixa.
- Por favor...
Não ouvi o que ele estava dizendo, eu dei as costas para ele e fui entrando em casa.
- Não me ignora, Antoine. – Ele falava segurando meu braço enquanto eu entrava em casa.
- Ah, quer dizer que tu não gostas de ser ignorado, mas nem se preocupou se EU gostava ou não enquanto tu estavas me ignorado ainda pouco.
- Por favor – ele falava chorando – me desculpa! Eu sei que fui um idiota. Desculpa, amor! Por favor! Eu não vou mais falar nada sobre me mudar pra cá, eu só fiquei chateado por que eu queria muito vir pra cá, eu queria dormir e acordar todos os dias ao teu lado, eu quase não durmo em casa por que eu sinto tua falta na cama.
- Eu vou para o quarto, Thiago. Depois nós conversamos. – Depois dessa declaração eu não estava mais com tanta raiva dele, mas eu estava cansado, eu não conseguiria conversar com ele nesse momento.
- Tudo bem! Mas deixa eu te levar para o hospital.
- Não precisa, de verdade!
- Je t’aime! (eu te amo!)
- Je t’aime aussi! (eu te amo também !)
Eu fui para o quarto e me deitei, como eu não tinha dormido eu acabei apagando. Eu acordei ouvindo vozes.
- Como assim vocês brigaram?
- Foi tudo culpa minha! Eu provoquei!
- Tá, tá, essa parte eu já entendi! Será que dá para contar o restante? – A Jujuba falava bem irritada.
Eu fui me levantando aos poucos e me sentei na cama.
- Ai, viado, que susto que tu me deste!
- Oi, Ju! Não foi nada demais!
- Como não foi nada demais? A primeira vez que tu desmaiaste assim tu quase quebras a cabeça. E se tu não tivesses desmaiado dentro do carro? E se fosse no meio da rua? Tem que ir ao médico ver o que é isso, amigo.
- Eu sei, mas semana que vem eu vou. Foi quando o doutor Bruno mandou eu ir, não foi?
- Foi, sim! Dessa vez passa, heim? Mas da próxima tu vais nem que a gente tenha que te amarrar.
- Oi, amor! Tá mais calmo?
- Oi! Sim!
- A gente pode conversar?
- Agora não, Thiago!
- Vixi, tá chamando ele de Thiago? A coisa foi feia então, viu? – Falou a Jujuba – Quer que eu volte depois, Antoine?
- Não, fica aqui. Ele e eu conversamos depois.
- Tudo bem!
- Se é assim, eu vou pra casa, mais tarde eu volto. – Falou o Thi
- Tu estas em casa, Thiago. O fato de eu não querer conversar agora não significa que eu não te queira na NOSSA casa.
- Nossa?
- É! Nossa!
- Sério?
- Sim!
Ele veio correndo me abraçar e me beijar, mas ele encontrou uma muralha de proteção na frente dele, a Jujuba.
- Thi, vai dar uma volta deixa eu conversar com o Antoine.
- Nem a pau, Jujuba.
- Vai, Thiago. Já disse, depois nós conversamos.
Ele estava tão feliz que nem notou o tom de raiva na minha voz.
- Eu vou, mas só vou contar para a minha mãe que eu venho morar aqui, já, já eu volto.
Ele saiu saltitando do quarto.
- Morar aqui? Como assim?
- Hum... Uma longa história.
- Então, trata logo de me contar.
Eu contei toda a história desde quando a tia Joana deu a ideia até a nossa briga dentro do carro.
- Mentira que a mãe dele despachou ele assim?
- Verdade!
- Mentira que ele agiu assim contigo?
- Verdade!
- Mentira...
- Porra, Jujuba, vai ficar repetindo toda a história.
- Desculpa! – ela falou rindo – é que são muitos babados para digerir.
- Nem me fale!
- Mas e aí? Agora vocês vão casar? Só falta isso!
- Claro que não, doida! Ele só vem de vez pra cá, ele praticamente sempre morou aqui mesmo...
- Isso é verdade! Tá, mas e aí como tu estas? Tu falaste que estava com receio dele vir pra cá.
- Estava não, ainda estou! Mas decidi fazer esse teste, vamos ver se vai dar certo.
- Ah, mas vai dar certo sim! Vocês vão ver!
- Fico muito feliz com todo o teu apoio, Ju.
- Eu sempre vou estar aqui para te apoiar, tu sabes disso, né?
-Sei sim! Obrigado, viu?
- De nada, viado! Agora, nós precisamos saber quais são os motivos desses desmaios e do enjoo.
- Ele te falou do enjoo também?
- Falou, sim! E eu concordo com ele, tu tens que ir ao médico. Não pode brincar com isso, amigo.
- Eu sei, Ju. Mas eu já disse que semana que vem eu vou, não disse?
- É, né?
Eu me levantei e fui à cozinha preparar algo para o almoço. Nós ficamos conversando por um bom tempo, até que o Thi chega. Ele vinha trazendo uma “malinha” nas mãos.
- Mas já veio de muda mesmo, né viado 2?
- Claro! Me ajuda logo aqui, que é! – Ele estava com o sorriso grudado no rosto.
Nesse momento eu já nem lembrava mais da briga, só de ver o sorriso dele eu já estava feliz. A Jujuba levantou e foi ajuda-lo, eles entraram no quarto, mas só o Thi voltou de lá.
- A gente pode conversar agora?
- Não, a Jujuba tá aí.
- Eu pedi para ela esperar lá no quarto.
- E tu achas que ela vai ficar lá?
- Claro que vai!
- Unrum! Vem, sai logo daí Jujuba.
Silêncio total.
- Sai logo! Eu sei que tu estas aí.
- Porra, mas não dá nem pra ouvir uma conversa atrás da porta. – Ela estava escondida do lado da estante da sala.
- Primeiro, tu não estavas atrás da porta, segundo, essa conversa não te interessa – Falei mostrando língua para ela.
- Viado!
- Fofoqueira!
- Bom, já que eu não vou ouvir nada, será que dava pelo menos para comer? Eu ainda nem tomei café, eu sai feito uma louca de casa quando o Thi me ligou, sorte que eu estava saindo para ir a universidade.
- Vamos, vamos almoçar.
- Quem foi que fez a comida? – Perguntou o Thi.
- Eu! – Eu respondi.
- Caramba, amor, será que eu não posso te deixar sozinho um minuto?
- Thi, eu não sou inválido. Eu não estou morrendo. Eu só estou com um corte na cabeça, isso não é nada demais.
- É, mas acabou de desmaiar.
- E de quem foi a culpa? – Me arrependi na mesma hora.
- Minha! Toda minha! – Ele falou apagando o sorriso do rosto.
A Jujuba me olhou com uma cara, se duvidasse ela teria me dado uma porrada ali mesmo, só não me deu por que eles achavam que eu estava quase morrendo.
- Desculpa, não era minha intenção falar isso. – Mas que comentário idiota!
- Tudo bem! – O Thi respondeu ainda triste.
- Vamos comer? Tô morrendo de fome! – A Jujuba falou tentando melhorar o clima.
Depois do almoço a Jujuba ainda ficou um bom tempo em casa, acho que ela só foi embora umas 17h, e ela só foi por que ela tinha que fazer um trabalho da universidade, caso contrário só iria embora depois das 22h.
- Agora podemos conversar? – Thi me perguntou assim que a Jujuba se foi.
- Oui!
- Amor, desculpa ter te tratado daquele jeito, eu sei que tu não merecias. Eu tô me sentindo um idiota.
- Que bom que tu te sintas assim!
Ele fez uma carinha tão triste que me deu um nó na garganta.
- Eu... eu... eu te amo! Nunca esquece isso! Eu só queria muito vir pra cá, acabei perdendo a cabeça com as tuas inseguranças, mas eu sei que isso é normal. Eu sei que tu estás certo. Eu não podia, não podia mesmo ter te tratado daquele jeito, ainda mais que acabaste de sair do hospital. Eu tô me sentindo muito mal por ter te feito passar mal daquele jeito. Eu estava com tanta raiva que eu nem reparei no café que tu tinhas preparado, nem reparei na tua vontade de fazer as pazes. Eu sou um idiota mesmo!
- Tá, Thi! Tá bom! Vamos parando por aqui, eu estou cansado, quero me deitar, eu não estou com raiva, tá? Mas eu realmente não gostei nem um pouco do que tu fizeste.
- Me perdoa?
- Já perdoei, bobo! Agora, vou me deitar, d’accord?
- Oui! Mas me dá um beijo antes?
Eu abracei ele, fiquei sentindo o corpo dele contra o meu, o cheiro dele. Ele tinha um cheiro tão bom. Eu encostei meu rosto no pescoço dele e fiquei assim por um bom tempo. Depois de alguns minutos nós nos beijamos e eu fui me deitar.
Quando eu acordei eu me levantei e fui até a sala, a televisão estava ligada, mas o volume estava bem baixinho. Eu só ouvia o Thi falar também bem baixinho ao telefone.
- Não sei! Ele está estranho, não sei o que está acontecendo, mas eu estou muito preocupado com ele.
Ele parou de falar, devia estar ouvindo a pessoa falar do outro lado da linha.
- Hoje por exemplo, depois que tu saíste daqui, nós conversamos, nos entendemos, e ele sem mais nem menos me abraçou e ficou assim por muito tempo. Eu não entendi o motivo, ele está agindo como se quisesse me preparar para algo, não sei! Mas eu estou com medo, Ju! Ele não quer me deixar leva-lo ao médico, eu acho que eu vou ter que ligar para a minha tia, só ela vai fazer ele ir ao médico.
Opa, nessa hora me deu um frio IMENSO na barriga, se minha mãe descobre, eu com certeza moraria dentro de um hospital, ela me fria passar uns dias na casa dela, e definitivamente, eu não queria isso. Não é que eu não gostasse de passar uns dias na casa da minha mãe, mas quem já saiu de casa me entende, depois que a gente abandona a casa dos pais, as coisas nunca mais são as mesmas, a gente passa a ter uma vida desvinculada daquela casa, a gente já não sabe o que acontece no dia a dia daquela casa, temos nossa própria vida, nossa própria casa, nossas próprias coisas. Eu AMO a casa dos meus pais, mas passar uns dias lá está fora de questão. E como eu conheço minha mãe, ela só me deixaria voltar para casa depois de muiiiiiiiiiiiiiiito tempo.
- Pois é, isso me preocupa muito, a gente não desmaia assim do nada, a gente tem que fazer alguma coisa! – É isso mesmo produção? Os dois estavam fazendo complô contra mim? Tô fodido! Se um já era ruim, dois nem se fala!
Ele ficou em silêncio novamente.
- Eu vou tentar conversar com ele amanhã, caso ele não aceite eu vou ligar para a minha tia, essa talvez seja a única solução.
Silêncio novamente.
- Tudo bem! Vai lá, e eu te aviso sim, pode deixar! – Ele encerrou a lição.
- Bonito, né? – Surgi que nem um fantasma na sala.
O pobrezinho levou um susto tão grande que até caiu do sofá, se o momento não fosse tenso eu teria rido pacas dele. (kkk)
- A-a-am-o-o-or? – Ele gaguejava tentando se levantar do chão.
- Mas que palhaçada é essa, Thi?
- Hum?
- Não te fazes de desentendido, não! Eu ouvi o que tu estavas falando com a Jujuba.
- Como tu sabes que era ela?
- Será que foi por que tu falaste o nome dela?
- Desculpa, amor! Eu só quero teu bem, aliás nós queremos!
- Querer meu bem e ficar de “fricofrico” com a Jujuba nas minhas costas.
- Ei, não é nada disso!
- Eu não estou falando disso! – Eu nem sei se estávamos falando da mesma coisa.
- Eu vou te levar amanhã no médico, não me importa se tu vais querer ir ou não, eu vou te levar e ponto final! – Ele falou determinado.
- Eu não vou! Não gosto de hospital! Não vou e não vou! – Falei que nem criança birrenta batendo os pés no chão.
- Ah, não? Beleza, eu vou ligar para a tia Ange, se tu não vais por bem, tu vais por mal.
- Vai, pode ligar! Ela está em Guyane, não vem de lá tão cedo.
- Duvido se eu contar tudo o que está acontecendo se ela não vem no mesmo instante pra cá.
- Ah, Thiago, deixa de ser besta, eu só desmaiei, não foi nada demais.
- ANTOINE, NINGUÉM DESMAIA ATOA, NÃO! TU VAIS AO MÉDICO E PONTO FINAL, SAIMOS AMANHA BEM CEDO DAQUI! CONVERSA ENCERRADA. – Ele falava gritando comigo.
Confesso que eu fiquei até com medo, eu ainda não tinha visto ele com tanta raiva.
- Eu não vou! Quero ver me consultarem contra minha vontade. (Gente, parece coisa de criança, mas vocês não têm noção do pavor que eu tenho de hospital, se eu tenho que fazer uma consulta e já sofro um mês antes.)
- ANTOINE, EU JÁ DISSE QUE TU VAIS, NÃO ANDIANTA FUGIR, DEIXA DE SER CRIANÇA, MEU! CUSTA IR NA PORRA DO MÉDICO?
- Eu não vou! Ponto final!
Eu saí da sala e deixei ele lá, ele estava vermelho de tanta raiva.