Assim que fui chegando perto da porta do apartamento ouvi o barulho típico de festa "porra, sacanagem! Logo hoje?!" pensei enquanto me aproximava. Quando abri a porta tinha umas 30 pessoas lá dentro, até me assustei com o tanto de gente. Passando o olho rapidamente percebi que conhecia a grande maioria e umas pouquíssimas eu nunca tinha visto. A galera quando me viu fez aquela festa. "Morena chegou!" "bebida pra Morena!" abraços, brincadeiras, assim fui sendo recepcionada na minha própria casa. Caê veio falar comigo:
- Tudo certo, gostosa? - abrindo os braços. Me aninhei abraçando-o pela cintura enquanto ele me esmagava - Uhum... Que zona é essa?
- Final de semestre, linda! - falou abrindo os braços e olhando para mim com aquele sorriso que ganha o mundo de qualquer um.
- Ah tá! - respondi sorrindo. - que cara é essa? - perguntou segurando meu rosto com as duas mãos.
- Tô exausta...
- Estraguei seus planos? - falou fazendo careta. - Um pouquinho, mas tá de boa. Ele me deu um selinho e alguém gritou "eee pegação entre primos não pode não, hein?!" Caê respondeu "amor de primo é o que fica, cabeça!" e olhou para mim com aquele sorriso safado e piscou. Dei risada e fui saindo, ele segurou minha mão "né?" sorri, dei de ombros e fui saindo entrando no meu quarto, mas ainda ouço ele gritando "te amo, Morena Rosa!". A galera ficou gastando um monte com a cara dele.
Peguei umas roupas e fui andando pro meu banheiro quando do nada a porta abre. Adivinhem quem era??? Sim, a ‘garota banheiro’. Parei e fiquei sem entender. E ela:
- Tá me perseguindo, ‘garota diversidade’? - falou com a cara mais lavada do mundo.
- Jura?! Este banheiro é meu! - falei sem acreditar, deixando escapar um riso incrédulo.
- Perseguição e sequestro? Gostei do cativeiro. - Falou olhando o quarto e voltando a me olhar, mas dessa vez penetrando o olhar no meu. Estranhamente meu corpo reagiu àquele olhar.
- Ai meu deus, só aparece maluco! - Falei passando por ela e entrando no banheiro. Ela me deu passagem me acompanhando com o olhar e encostou-se à soleira da porta. Olhei pra ela e ela estava linda! Uma camiseta preta de algodão bem levinho de manga comprida, mas que ela encolheu até os cotovelos, com estampa dos Rolling Stones, blackjeans bem justo e um tênis vermelho cano longo. Ela tinha várias pulseiras, alargadores. Tinha uma tatuagem no ombro até perto do cotovelo no estilo art nouveau. O cabelo desgrenhado caindo charmosamente sobre os olhos. Ele tinha umas mechas loiras, claramente queimadas pelo sol. Depois que reparei todos os detalhes cai em mim que eu estava babando bem na cara dela. Ela estava com um sorriso de quem estava se divertindo bastante com a cena. Fiquei roxa de vergonha na hora!
- Ei, posso tomar banho? - falei gaguejando um pouco mas forçando um tom de voz forte. Ela sorriu levantando os braços - Fique a vontade, garota diversidade. E voltou a se encostar-se à soleira com os braços cruzados. Não resistir e deixei escapulir um sorriso.
- Gata, na boa... (Coloquei as mãos nos ombros dela virando-a de costas para mim) preciso mesmo tomar banho. Licencinha, tá? - fui caminhando direcionando ela até a porta do quarto. Quando chegou perto ela virou de vez para mim, ficando bem próxima, de sentir a respiração dela no meu rosto. Dei um passo para trás e me bati na cômoda que tem perto da porta, ficando entre ela e o móvel. Ela olhou me penetrando com o olhar. Ficou alguns segundos assim, sorriu e falou:
- Bom banho. - abriu a porta e saiu. Continuei alguns segundos assim imóvel, até que solto a respiração sem nem ter percebido que a tinha prendido. "Que porra foi essa, Morena?!" pensei eu. Só conseguia sentir o perfume dela. "Eu hein?!" fui andando para o banho dispersando os pensamentos. Tomei meu banho de boa. Vesti um short jeans curtinho, folgadinho e uma camisa longa aberta nas laterais com a estampa de uma manga rosa bem suculenta e por baixo um top-sutiã preto bem bonitinho. Saí do quarto perdendo o cabelo num coque qualquer.
A festa estava bem legal. O AP é grande então sempre fazemos essas reuniões. Mora Déa, o Caê e eu. O ap é de meus pais, mas como minha mãe passou num concurso para Brasília, meus pais foram e eu fiquei estudando. O Caê é sobrinho de meu pai, ele já estava morando sozinho, então veio para cá (meu pai adorou a idéia, ele o tem como filho) e a Déa é uma amigona da faculdade que também morava sozinha e acabou vindo também. Cada um tinha o seu quarto e sobrava o "entulhoroom", era o quarto que entulhávamos tudo, principalmente os amigos.
Cheguei à sala e geral ficou me gastando "poxa, que coxa!" "eita mulher cheirosa!" "ah essa manga, chupo toda!" todo mundo rindo e tal, daí Tom puxou a música do Alceu "a manga rosa quero o gosto e o sumo, melão maduro, saputi, juá..." geral aplaudiu e quando chegou no refrão todo mundo cantou "morena tropicana eu quero teu sabor ô ô ô". Não sabia onde me enfiar de tanta vergonha. Num dado momento meu olhar cruzou com o da ‘garota banheiro’ e lá estava ela me olhando com aquele sorriso de quem está se divertindo com alguma piada que só ela sabe qual é. Fiquei desconcertada e novamente meu corpo reagiu. Desviei o olhar e fui procurar alguma coisa pra beber "foco, Morena! Oxe, para tudo! Pq eu tô pedindo foco? Tem nada pra focar não! Vc tem namorado, tá viajando é?" fiquei discutindo comigo mesma enquanto tentava abrir uma long neck. Tava no balcão da cozinha beliscando alguma coisa e papeando alguma quando sinto alguém passar por trás de mim e cheirar meu cabelo. Virei para o lado para ver quem era e a vejo passando indo em direção a geladeira e não me olhou. Luana que estava na minha frente falou "porra, Morena, vc é um para raio de sapatão da porra!" as meninas que estavam próximas riram. A Teca comentou "ah mas a Helo é linda mesmo, até eu ia nela!" rimos e Luana "deixa Mino ouvir isso, dona Teresa!" "ele ia querer se jogar no meio! Gente a menina é linda!! Fala sério, olha o corpo da guria! quem tem uma bunda daquela? Ela fazia agachamento na barriga da mãe, só pode!" rimos de chorar!
A festa foi se desenrolando, gente indo embora, gente pelos cantos com outra gente ou gentes (rsrs). Enfim, cada canto algo estava acontecendo. Aos poucos fui arrumando a bagunça, a galera é muito parceira e não deixa aquela zona. Lavam, não quebram, limpam, mas sempre tem algo que só os donos da casa podem fazer mesmo. Fui vendo que ia sobrar uma galera que ia ficar para dormir, então fui no entulhoroom pegar colchonetes e o que servisse. Quando entrei ouvi duas vozes exaltadas, abafadas que se calaram assim que me ouviram entrar. Era a Helô e a ‘grude’. Não sei por que, mas fiquei sem graça de ter aparecido, o clima estava pesado pra caramba entre elas duas.
- Oi, desculpa, não quis atrapalhar. – Falei já saindo.
- Tá pedindo desculpas por quê? A casa não é sua?! Entre, querida! – Falou a grude bem ríspida. Helô estava de cabeça baixa, segurando a grude pelo braço. Quando ela falou isso Helô olhou bem nos meus olhos, largou a grude – Licença. – e saiu. A grude foi atrás e ainda trombou em mim. E eu lá, paradona, sem entender “porra niuma”! Terminei de fazer o que estava fazendo, dei um tempinho com os zumbis da resistência e logo em seguida fui dormir.
Acordei com o meu celular tocando, peguei e sem olhar quem era atendi:
- Eu... – falei bem sonolenta.
- Oi, é a Helô. – respondeu do outro lado.
- Quem?
- Abre a porta do seu quarto que vc vai saber quem é. – Nessa hora me ajeitei na cama, sem entender nada.
– Hã? Não estou enten... –Antes que eu pudesse terminar a frase ouço batidas na porta. Levanto meio sem entender, abro a porta e lá está ela. – O que vc... Não estou... O que vc...
- Posso entrar?
(Olá, espero que tenham gostado. Por favor, comentem!)