Hoje acordei ouvindo uma musica muito velha "Rush" Paula Abdul, me identifiquei muito com a letra, que baixei no celular e estou ouvindo a todo momento rs.
Daqui a pouco a própria Paula vem me pedir para parar de ouvir a música dela rs.
Eu e o Gu sentamos pra tomar café enquanto as crianças ainda dormiam, eu perguntei sobre nossa avó.
Ele riu e começou a trazer as memórias para fora, contou que nossa avó citava sempre o meu pai como exemplo para os outros irmãos, meu tio Miguel é fã declarado do meu pai.
Eu gostaria de tê-lo conhecido, pelo jeito ele foi mesmo um grande homem, a minha mãe nunca quis se envolver com outro homem depois que meu pai faleceu.
Eu gostaria de poder viver um dia ao lado dele, queria dormir e acordar ao lado de meu pai, para sentir um pouco do grande ser humano que ele foi.
Nossa avó mencionava sempre o meu pai, porque depois de uma visita ao médico, descobriu-se que ela estava doente e que aos poucos perderia toda a sua memória.
O Gu me disse que ela se esquecia de todas as conversas diárias mas se lembrava vivamente das coisas passadas, ela falava do meu pai, pois na memória dela ele ainda estava vivo.
Pra quem não sabe, o Alzheimer é uma doença neuro-degenerativa, ataca o sistema e as funções cerebrais, como perda de memória, da linguagem, da razão e da habilidade de cuidar de si próprio.
Nem percebi e já tinha um montinho, um pinguinho de gente pendurado na minha coxa, fomos interrompidos pelo cabelinho armado do Igor.
Carreguei ele, dei seu café e o segurei em meu colo, logo a Laurinha entrou, nos deu um beijo, pegou seu café e foi pra sala, ver seus desenhos favoritos.
Pedi então que o Gu continuasse a me falar da nossa gran-mother.
Gu: e por isso também a nossa avó não se lembrava mais que tinha um neto.
Ele dizia que nossa vó chorava, falando que ela tinha muito medo de acabar um dia não reconhecendo os netos os filhos e isso ia ser a maior tristeza da vida dela.
Ouvi isso, engoli o choro (parecia que eu tava engolindo uma pedra), acho que esse período eu estou mais emotivo, tentei imaginar o rosto da minha avó e o desespero dela em saber que estava se esquecendo dos próprios familiares.
Gu deu um sorrisinho e ficou quieto.
Foi um desabafo dele, eu percebi que ainda doia as lembranças e as recordações do sofrimento que todos tiveram, quando ela estava no leito de morte.
O Igor escorregou por entre minhas pernas e subiu as escadas, logo ele voltou com a sua mochila escolar (ele queria uma mochila igual a irmã, eu dei).
Gu: aqueles foram os piores momentos da minha vida e contar isso pra você não tá sendo muito fácil Binho.
É como se eu estivesse revivendo tudo novamente.
Quando ela já estava fraquinha e debilitada, foi parar numa cama de hospital e nos dias em que dormi com ela (eu, meus pais e nossos tios, tias e primos revezávamos no hospital).
Binho eu percebi que aquele seria o último dia que eu olharia naquele rostinho todo enrugado, mas com aqueles olhos brilhantes e alegres, o sorriso tremulo, mas cativante, esse mesmo sorriso seu Binho.
Então eu percebi que aquele seria nosso último papo, porque ela acordou, me olhou fixo nos olhos e pediu pra maquiá-la e passar perfume e depois ainda fez pose pra eu tirar essa foto e mandar pros meus primos.
Foi gratificante, nossa avó tinha terminado o ciclo nesse plano e naquele mesmo dia, eu entrei na sala de aula e do nada cai em lágrimas, algo me dizia que ela tinha ido embora.
De fato ela se foi mesmo, em menos de vinte minutos meu pai estava no portão da escola me esperando.
O Gustavo me contando sobre nossa avó, nos dois na cozinha e os dois na sala.
Escuto o grito da Laurinha, seguido de choro.
Saimos correndo pra ver o que tinha acontecido.
A Laurinha estava sentada no sofá, com a mochila escolar toda aberta, suas coisas de escola na mesa de centro e ela chorando.
Gente! O Igor com a mochila dele presa as costas com a tesourinha sem ponta dela nas mãos e no chão uma mecha de cabelo loirinho.
Igor?
O que você fez?
Eu gritei assustado e já me ojoelhando no chão, para olhar no rosto da minha filhota.
Olha para o papai meu amor.
Ela olhou e graças a Deus nada de grave.
O que foi filha?
Ela chorando me responde:
Papai, o Igor cortou o meu cabelo, pai!
Olhei no chão e uma mechinha pequena espalhada.
Olhei no rosto dele!
Ele rindo me disse:
Só um pouquinho Nana.
Peguei a tesoura da mão dele e o fiz pedir desculpas a irmã.
Depois peguei a Laurinha e fomos até o espelho, mostrei a ela que não tinha acontecido nada.
A acalmei e fui pegar aquele menino de jeito.
O telefone tocou, atendi e para minha total felicidade era o magrelo.
Contei a ele o que o Igor tinha feito e pedi que conversasse com os dois.
Ele por telefone mesmo fez o Igor pedir desculpas pra irmã, depois falou com a Laurinha e acalmou ela ainda mais.
O Igor ficava com o telefone encostado na boca, perguntando:
Pai, pai, ta bravo?
Ta bravo pai?
Como ficar bravo com um pedacinho de gente assim.
O William ria muito do outro lado da linha.
Baixinho eu sei que ele não puxou a Estela.
Quem será que esse menino se saiu não?
E ria muito com as minhas gaguejadas rs.
Ele: amor to morrendo de saudades viu.
Te amo muito baixinho!
Também te amo magrelo.
Minha mãe chegou do mercado e aproveitou pra bater um papo com o William, eu e o Gustavo voltamos ao nosso papo sobre nossa família.