Meu coraçao era um campo de batalha convulsionado por uma luta terrivel entre a vontade e a razao. E no meio disso tudo, o meu maluquinho, perdido no meu caos pessoal... O que eu faria com ele? Em primeiro lugar, agir com sinceridade, nao ser desonesto com o garoto; isso me parecia fundamental. Ate mesmo porque, de fato, nao tinhamos oficialmente uma relaçao, estavamos no processo de "conhecimento" um do outro e ele sabia que eu nao havia tao rapidamente esquecido Mauricio, nao ainda.
Meu ex namorado, aliàs, nao arrancou de mim qualquer promessa. Tentou naquela noite me beijar varias vezes, enquanto bebiamos vinho Lambrusco e falavamos sobre trabalho e assuntos inuteis e dispersos. Ao ir embora, tive a sensaçao de que ele se foi satisfeito, consciente de seu poder sobre mim e talvez pressentindo minha resposta.
Foi uma longa noite mal dormida e um comprido dia de trabalho. Telefonei para Fabinho, chamando-o para vir à minha casa no começo da noite; seria dificil dizer o que eu pretendia, e tinha certeza que a tristeza e a magoa dele ecoariam em mim tambem.
Ele chegou todo alegre, beijando-me ainda na porta, com o risco de algum vizinho ver. Estava bem bonito vestido de jeans rasgado e uma camiseta amarela com o desenho bizarro de um sapo segurando um guarda-chuva azul e pedalando um monociclo; mas combinava com o All Star preto e a pulseirinha dourada com pingente de trevo (seguramente feminina) que ele usava. Sentou-se no sofà e, sem querer esperar mais, passei a contar com tristeza tudo, desde o telefonema de Mauricio ate a noite passada, quando tomamos vinho ali na sala.
À medida em que me ouvia, com os olhos tao bonitos fixos em mim, Fabinho ia assumindo uma expressao desoladora, de uma dor nova e pulsante, e assim que terminei de falar ele jà chorava, com a mao na boca.
- Entao voce vai voltar pra ele? _ balbuciou.
- Nao! Eu nao sei... nao quero..._ sussurrei, sem saber o que pensar, o que decidir _ Ele me magoou muito...
- E voce perdoou...
Pensei nisso, perplexo ao notar que Mauricio sequer me pedira perdao. Nao teria se arrependido?
- Nao sei se vou perdoar _ falei, constrangido _ Nem sei se quero tornar a ve-lo...
- Pois para mim esta muito claro que voce vai voltar pra ele _ disse Fabinho, enxugando os olhos num gesto irritado _ Por isso esta me dispensando.
- Eu preciso de um tempo para pensar... Estou muito atrapalhado, Fabinho _ disse, com pena dele.
- Que nada! Tenho certeza que amanha ou depois voce estarà nos braços dele, como antes! _ disse o garoto num frenesi nervoso, levantando-se e indo à janela, mas sem reparar na vista, e sim segurando-se no vidro com a mao espalmada, chorando baixinho _ Ele te fez de idiota, traiu voce da forma mais baixa e ainda assim, quando ele estala os dedos voce volta na mesma hora, como um Yorkshire abanando o rabinho.
- Nao, Fabinho... _ murmurei me aproximando e tentando tocà-lo, porem ele se esquivou, me olhando.
- Voce nao tem amor-proprio Nathan! _ exclamou, alterado _ Ele quer usà-lo para se vingar do outro, talvez para superà-lo e voce se sujeita! Ama esse canalha mais do que qualquer outra coisa, mais do que a si mesmo. E eu, como disse o Luan, sou uma bichinha burra e sentimental!
Nao respondi nada, num reconhecimento vergonhoso da verdade crua daquelas palavras que mais tarde, numa reflexao, me recusaria a aceitar. Ele continuava me olhando, vertendo làgrimas de seus belos olhos claros, secando-os de tempos em tempos.
- Nao fica bravo comigo, por favor _ sussurrei _ Gosto tanto de voce...
- Quando voce se livrar definitivamente desse amor solitario, burro e dependente pelo Mauricio, e quando passar esse remember estupido e ilusorio, que eu tenho certeza que nao dura muito, e voce tiver plena certeza de que gosta de mim, entao me procure _ disse ele com voz tremula _ Porque eu nao vou deixar de te amar, e nao vou apostar nada nessa loucura repetida em que voce vai entrar. Espero sinceramente que nao saia magoado disso tudo, Nathan, mas creio que isso será impossivel.
Ele olhou para os lados, desamparado, voltando a chorar, e foi se afastando, me olhando uma ultima vez.
- Bicha tonta! _ resmungou, abrindo a porta e saindo.
Deixei-me cair no sofá, com as maos afundadas nos cabelos, por longo tempo olhando para o vazio, amaldiçoando aquela confusao de minha vida, ao mesmo tempo nao querendo pensar nela. Quantos problemas! E eu proprio, como me sentia confuso com tudo!
Creio ter permanecido meia hora nesse meu alheamento desordenado, quando o telefone tocou, me trazendo á realidade. Era Mauricio, querendo saber se poderia vir me ver. Assenti num monossilabo, e me pus a esperà-lo.
Uma hora depois ele apareceu, perfumado, vestindo um blazer preto , cachecol Burberry, camiseta branca e jeans. Havia uma deteminaçao evidente em seu olhar, em seus gestos. Bebemos um Chardonnay, ouvindo a opera Norma, que ele gostava, lado a lado no sofà. No meio da conversa inutil, quase tensa, ele tirou a taça de vinho da minha mao, aproximou-se e me beijou com vigor, fazendo se altear em mim furiosamente toda aquela saudade contida de seu gosto, seu corpo. Aos poucos as peças de nossas roupas foram forrando o chao de piso encerado novo, que depois refletiu a imagem nitida de nossos corpos nus se encaminhando para o quarto.
Como num redescobrimento, eu voltava a explorar aquele territorio morno, firme por uma leve definiçao muscular, branco e aromatizado por loçao hidratante Christian Dior. As mesmas nadegas amplas, o circulo liso, lavado, famelico de lingua, dedo e pau. Os testiculos grandes, que enchiam a mao numa quentura pesada, o penis mais escuro que a pele, quase castanho, circuncisado como o meu, fino em notaveis dezenove centrimetros, brilhante de excitaçao, me dando comichoes de vontade na boca. Torax medio, de mamilos escuros e grandes, os quais ataquei com os làbios enquanto o masturbava.
Mas a fome saudosa que eu sentia de seu corpo magnifico, forte e que ele raspava, nao foi de imediato aplacada pois ele teve uma atitude puramente passiva durante todo o ato, certamente um reflexo da preferencia sexual do outro. Ele sempre foi brando, atencioso e cuidadoso no sexo, porem agora queria tudo com força, pedindo aos gritos por mais, usando termos de baixo calao que nao eram seu costume. Revolvia-se em corcoveios de egua sendo coberta, grunhindo, rebolando furioso como se nao transasse hà anos; era vulgar, quase grosseiro, com uma libido de putinha barata, algo tao diferente dele, algo asquerosamente aprendido. William o moldara sexualmente de acordo com sua vontade.
Mauricio gozou fartamente, como era de sua caracteristica, e dormiu depressa abraçado ao travesseiro, outra de suas manias. Sua expressao serena, ate mesmo delicada, me enternecia em minha segunda noite de insonia. Observàva-o sem entende-lo, sem me entender, achando que nada mais era como antes, que estavamos mudados, e aquela alegria e satisfaçao que eu esperava sentir tendo-o de volta nao tinha sequer acenado para mim.
- William... _ ele sussurrou, dentro do sonho no qual estava mergulhado, remexendo-se na cama e apertando o travesseiro nos braços; choramingou _ William... meu amor...
Esbocei um sorriso infeliz, sentindo as làgrimas virem e correrem por meu rosto. Virei para o outro lado, apagando a luz do abajur de mosaicos de vidro. Pressenti uma longa noite escura, fria, triste. Mas achei que eu a merecia.
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Bom, como estao recebendo essa reviravolta? Com odio do Nathan? rs
Valeu, galera! Adoro seus coments!
Abraço em cada um!! :)