Ele tinha colocado musica bem baixinho para embalar a nossa "volta", e agora, enquanto sentia-o me penetrar num ritmo irregular de quem ainda estava aprendendo, ouvia ao fundo a voz sensual de George Michael. Fabinho me olhava de cima, suado, vermelho, sorrindo meio avexado às vezes; beijava-me sem folego, sussurrava elogios e ria quando acelerava as investidas. Pedi que ele fosse mais forte, estava quase là.
- Assim? _ ele sorriu maldoso, imiprimindo um ritmo feroz às estocadas.
- Isso, isso... _ sussurrei, deliciado, fechando os olhos, meu prazer subindo como um rojao e estourando là em cima; que falta senti de um climax completo como aquele...
Fabinho gozou me abraçando apertado, gemendo numa sufocaçao, depois me beijando devagar com os labios quentes e salinos. Colou sua testa na minha, rindo baixinho.
- Nao repare na falta de jeito _ sussurrou _ Sabe que nunca fiz isso...
- Foi maravilhoso _ acariciei seu rosto _ Nao viu como eu gostei?
- Vi _ ele sorriu, constrangido _ Voce sente mais prazer em ser passivo, nao e'? Eu gosto tambem, na verdade gostei muito naquela vez que fizemos... Mas agora gostei demais em ser ativo com voce...
- Que bom! _ sorri com certo alivio _ Nao que eu nao goste tambem, mas... nao tanto, sabe?
- Entendo, claro _ ele suspirou, deitando -se sobre mim _ Devagar a gente ajeita isso...
O CD rodava no tocador, entre batidas dançantes e sons romanticos. Uma bela noite de setembro aquela em que nos reatavamos, apos um jantarzinho na sala de minha casa, comida italiana encomendada do Restaurante Matelli; tudo muito pratico, o meu maluquinho se deliciando em macarrao penne recheado, que nadava em molho vermelho e queijo derretido. Depois um vinho chileno, os beijos dele, poucas palavras sobre meu "termino" com Mauricio, mais vinho e um amasso excitado no sofa. "Namora comigo? ", eu tinha sussurrado ao ouvido dele enquanto nos enroscavamos, e ele fingiu hesitar, me olhando. "Estou sentado em cima do seu pau duro, chupando sua lingua, gemendo de desejo, sorrindo de satisfaçao e alegria e entao... Creio que a resposta serà 'sim', meu querido". Eu ia beijà-lo, numa felicidade, porem ele colocou a mao em minha boca, num olhar severo e fixo sobre o meu. "Mas desenterre outra mumia do seu passado de novo e eu te mato, Nathan... Enforco voce com uma echarpe Chanel ", completou, rindo. "E ainda por cima falsificada".
Na ocasiao do aniversario dele, no final de outubro, foi feita uma recepçao sobria no apartamento de sua familia. Tudo muito serio, quadradissimo, como quiseram seus pais; exigiram traje social, e claro que Luan, Quin, Oliver e eu nos sentimos uns espantalhos tolhidos de qualquer expansividade ali. A porcelana francesa com detalhes em ouro brilhava sobre a mesa ricamente servida, extensa; Fabinho parecia chateado e constrangido, nos falavamos pouco à medida em que eu notava que o pai dele me olhava com desconfiança. "Cuidado com o sogro", caçoou o Quin mais tarde, apos aquele enfadonho jantar.
Mesmo sendo uma ocasiao importante, os dezoito anos do garoto, seus pais nao pararam de falar sobre negocios durante todo o jantar, conversando com os outros convidados "serios" como eles. Sem jeito de recusar a carne, o assado de cordeiro com molho de cerejas me deu nauseas, e comi muito pouco, desconfortavel com todo aquele refinamento austero.
Oliver comia calado, atento ao prato como um garotinho obediente, e alvo dos olhares langorosos de Leticia, claramente encantada por aquela especie de modelo fotografico louro trajando terno Armani na cor grafite.
Houve um momento de tenso constrangimento que envolveu a todos, quando o pai de Fabinho indagou ao americano se este pretendia retornar aos Estados Unidos ou ficar permanentemente no Brasil. Oliver, na sua sinceridade ingenua, respondeu que nao voltaria pois estava "casado" e aqui permaneceria. O homem perguntou, entao, porque a esposa nao viera àquela recepçao; o americano gaguejou, olhando para Quin como a pedir ajuda, mas este apenas encarou o pai de Fabinho nos olhos, num sorriso desafiador: tinha respondido assim, e o silencio chocado e envergonhado em torno da mesa foi total.
Para combinar melhor melhor com a nova idade de Fabinho e numa tentativa de animà-lo de acordo para aquela data tao importante, Quin organizou uma pequena comemoraçao na mansao, na tarde de sabado. Houve um bolo de brigadeiro (que o garoto gostava), docinhos, coxinhas, e bebidas variadas; tudo à beira da piscina, pois a tarde estava no ponto para aquela festinha, umida e tepida. Nuvens repolhudas e azuladas prometiam chuva para breve, mas nem nos importamos e aproveitamos à larga aquela ocasiao.
Alem de nos, vieram apenas para a pequena festa Luan e Junior, e o casal amigo do Quin, Marcos e Alex. Enquanto Luan se refrescava na piscina, notei que Junior olhava muito para o Marquinhos, estendido ao lado do namorado na espreguiçadeira, cochilando, vestido apenas em calçao Speedo verde-limao.
- Um amigo meu andou comendo aquele cara. Faz tempo jà _ ouvi o mulato dizer a Oliver, que perto dele degustava um enorme pedaço de bolo, sentado na cadeira de praia listrada _ Eram da mesma faculdade, e um dia ele me mostrou o garoto na boate, acompanhado desse ai... Disse que era a maior puta na cama... Fiquei morrendo de vontade de comer tambem.
- Aparentemente ele saiu do mercado, meu caro _ disse Oliver espetando um brigadeiro no garfo e o mastigando inteiro.
- Vadia nunca sai de cena, amigo _ sentenciou Junior com uma risada, observando Marquinhos com seu olhar descaradamente predatorio.
Fiquei com nojo e raiva daquele cara que queria, por um desejo sexual puro e vulgar, interferir na relaçao dos outros, sem respeito nenhum. Luan arrumava cada candango às vezes! Ele nao demorou, alias, a perceber o interesse do namorado no carinha. Saiu da piscina de cara feia, foi para dentro se vestir e voltou com a mesma expressao.
- Esta querendo levar um carimbo aos vinte e seis anos, querido? _ falou em voz baixa, sentando-se pertinho dele e ajeitando os oculos de sol num gesto arrogante.
- Do que esta falando, Magrinha? _ era o apelido que Junior lhe dera.
- De voce com esse olhar de tigre em cima daquela passiva _ disse Luan, indignado _ Na minha frente, Junior! Sabia que ele esta "beijado"? A Maligna veio e o pegou hà uns anos, jà... O Quin me contou. Sobreviveu por milagre.
- Foi? _ Junior fez uma cara de surpresa mesclada ao asco, olhando para o Marcos.
- Pra voce ver _ Luan fitou-o, vitorioso _ Controla esse pau ai na sua cueca senao voce leva um sinalzinho fatal, boboca!
Apesar de ser um imbecil de marca maior, Junior encantava com aquele corpo forte, cor de cafe com leite, enfiado na sunguinha branca, provocadora. Fabinho, que nao parava quieto, bebendo, comendo, nadando, entrando e saindo da casa, observou muito bem o Junior se espreguiçando antes do mergulho, e quase tropeçou na cadeira do Oliver.
- Bonito o moreno, hein? _ falei com certa ironia, pegando-o pela cintura e o trazendo para pertinho de mim na espreguiçadeira.
- Desculpa. Foi inevitavel nao olhar _ ele sorriu sem graça.
À noitinha, depois que todos tinham ido embora, ficamos apenas nos quatro, Fabinho e eu junto com o casal Oliver e Quin que brigava na sala. O americano quebrara, "sem querer", um perfume Paco Rabanne novinho do Quin, no banheiro, e alem do evidente prejuizo, o cheiro empestava ate no corredor. Oliver ria da raiva do namorado, tornando-o ainda mais louco de furia.
- Tudo bem! Confesso _ ele disse, se levantando do sofá e se postando perto da escada, como se fosse subir a qualquer momento _ Quebrei de proposito! Odeio aquele cheiro, amor... muito forte... Nao! Espera!...
- Eu mato voce, Oliver! _ gritou Quin jogando uma almofada nele e o perseguindo pela escada acima.
Fabinho começou a rir, e aproveitei aquele momento em que estavamos sozinhos para beijá-lo, sedento daquilo fazia horas. Logo ele estava todo derretido comigo, com a mao dentro da minha calça me masturbando. Daria tempo para alguma coisa? O jantar hoje seria às nove horas, por ser sabado. Subimos uns dez minutos depois.
Realmente, o corredor que levava aos quartos tresandava a Paco Rabanne, num odor insuportavel, obra da tolice do Oliver em se livrar daquele cheiro e impregnando o corredor com ele. Ao passarmos pela suite do Quin, em direçao ao meu antigo quarto, paramos na porta entreaberta, espiando com cuidado e entre risos baixos, o meu querido amigo fazendo um pequeno show de strip-tease à meia-luz para o Oliver, ao som do libertino lançamento de Madonna, "Erotica"; Oliver, sentado num banquinho de penteadeira, ficava olhando o namorado se despir lentamente de uma especie de robe curto de seda preta, bordado, um chicotinho na mao e uma mascara de vinil negra, como a do videoclipe da musica. Dançando sensualmente e sorrindo, ele ia se livrando de todos esses acessorios, permanecendo com uma cueca de tecido transparente, como um veu preto. Nesse momento, com um bote de leopardo, Oliver se ergueu e avançou para ele, despindo-se com impaciencia da camisa polo e do calçao, enquanto o beijava. Fabinho riu, sussurrando algo que nao entendi. Aquele strip-tease devia ter sido programado para mais tarde, porem a briga, que invariavelmente acabava em sexo, o adiantou. Vimos quando a linda bunda branca do Oliver, com marca de sunga, despontou da cueca que ele jogou longe enquanto arrastava o Quin para a cama, entre beijos estalados e risadas. Por cima dele, com o saco delicioso balançando como uma penca rosada suculenta, Oliver fez movimentos pelvicos na altura da boca de meu amigo, por algum tempo, depois descendo, erguendo-lhe as pernas com determinaçao e, um minuto depois o gemido longo do Quin, numa agonia de dor e prazer, encheu o quarto.
- Meu Deus! _ sussurrou Fabinho, rindo.
"Sexo britadeira", era assim que Quin descrevia para nos o modo como Oliver fazia. Quase presenciamos aquela obra-prima da natureza em atividade, porem Quin nos viu na fresta da porta, dando um grito e uma gargalhada.
- Suas safadas! _ exclamou, sem folego.
Oliver olhou por cima do ombro e riu. Piscou para nos, ainda engatado no outro, pegou uma almofada grandona e como se fosse fazer um arremesso de beisebol, a atirou com força contra a porta, fazendo com que ela se fechasse batendo.
Fabinho estava corado de vergonha, mas ria, achando tudo divertidissimo. Abracei-o e o levei ao quarto do final do corredor. Começava a chover grosso là fora, uma chuva forte e poderosa de primavera; alguns poucos granizos estalavam na janela e caiam no gramado, pequenas bolinhas brancas que desapareciam logo, tragadas pela agua.
Deixei apenas o abajur aceso e Fabinho deitou comigo na cama limpa e amarrumada, cheirando à amaciante de roupas. Dividindo o mesmo travesseiro, ele me fitava nos olhos, de pertinho, sorrindo levemente. A chuva engrossou mais, e um relampago iluminou o quarto como o flash duma maquina fotografica gigante.
- Dezoito anos... Jà sou um homenzinho _ murmurou ele, e riu _ Um pouco mocinha às vezes...
- Adoro seu jeitinho _ falei, sorrindo.
- E eu amo voce _ ele sussurrou, passando a ponta do dedo por meus làbios.
- Eu tambem, maluquinho. Muito _ beijei as pontas dos seus dedos finos.
Dezoito aninhos. Nao era nada, nada... Imaginei se daqui a outros dezoitos anos estariamos dizendo as mesmas palavras um para o outro. " I Won't Share You", ele tinha cantalorado para mim na noite passada. "Eu Nao Vou Compartilhar Voce". Cantaria o mesmo daqui há alguns anos? Bem que poderia ser. Mas era outubro, chovia forte do jeito que eu gostava, eramos muito jovens e seria tolice se preocupar com isso agora.
Trovejou. Um som comprido e profundo que pareceu abarcar a cidade toda. Fabinho se aconchegou a mim, e o abracei. Que a chuva levasse o passado para bueiros e rios, as frustraçoes, as ilusoes, as preocupaçoes excessivas. Que levasse tudo com ela, de uma vez.
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Bem,chegamos ao final. Digam se gostaram :)
Um abraço gigante em cada um que leu, comentou, a todos que se fizeram presentes!!
Muito obrigada. Sempre!
Ate algum dia, pessoal!!!